TESOUROS LIBERTADORES

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CAPÍTULO 7

JUSTIÇA E AMOR

As leis antigas inviavelmente conduziam o sentimento primitivo do desforço, em sórdidos espetáculos de vingança doentia.

Confundia-se a necessidade de retificação do erro com o impositivo da punição perversa, pois que não se tinha em conta que o infrator perdera o endereço de si mesmo e caminhava emocionalmente por vias tortuosas.

Recorrendo-se ao Velho Testamento, por exemplo, em breve reflexão, podemos ler em Lameque, no 4 23 e 24, a triste conceituação de justiça exarada na vingança ilimitada.

Lameque, segundo o mito bíblico, era bisneto de Caim, de tormentosa memória.

Em diálogo mantido com as duas mulheres com as quais convivia, vangloriava-se, ao explicar: — (...) Pois matei um homem por me ferir e um mancebo por me pisar. Se Caim há de ser vingado sete vezes, com certeza Lameque o será setenta e sete vezes...

Ante conceito arbitrário desse porte em torno de uma justiça lavrada no ódio e no espírito de vingança contra o outro, mais tarde, Moisés, através do Decálogo, fixando-se de alguma forma na Lei de Talião, refunde-a, limitando a justiça ao nível da ofensa, à cobrança legal de acordo com o delito perpetrado: olho por olho, dente por dente, braço por braço...

Embora a severidade que nela se acerca da crueza do sentimento, vige a diminuição da desforra primitiva, em não liberar o criminoso de qualquer natureza, ao mesmo tempo facultar-lhe qualquer tipo de privilégio.

Desde que o indivíduo haja cometido um delito, automaticamente se lhe inscreve no íntimo a necessidade retributiva, a fim de resgatar conscientemente de acordo com a ação deletéria praticada.

Sem dúvida, a legislação de tal e qual representa ainda ausência do sentimento de humanidade.

Coube, porém, ao incomparável Rabi galileu a legislação trabalhada na indefectível Lei de Amor, na qual a misericórdia compadece-se do infrator e faculta-lhe a reabilitação moral.

Ínsito na consciência o amor, quando asselvajado, responde pelos dislates a que a criatura se permite, e deixa-se minar pela soberba e prepotência, que andam juntas, em olvido da própria fragilidade de que se constitui.

Na larga viagem do instinto para a razão há predomínio dos automatismos primários que se corrigem com as experiências, enquanto se abrem as possibilidades para a conquista da angelitude.

Em razão de haver sido muito longo o período inicial para o desenvolvimento moral, é compreensível que se haja fixado o hábito de reagir, para depois tornar-se ação com os componentes da razão e do sentimento que desabrocham em forma de afabilidade.

A partir daí, torna-se mais factível e rápido o processo transformador e iluminativo.

A matéria que predomina na conduta psicológica cede passo ao sentimento ético que proporciona harmonia emocional e, por consequência, saúde integral.


* * *

Jamais te coloques na condição doentia do prepotente Lameque, credor de valores que realmente não possuía.


A ninguém é concedido o direito de ceifar uma existência

humana sob qualquer justificativa em que se apoie, que será sempre filha do egoísmo.

Considera a insignificância do fato de alguém pisar no pé de outrem ou no teu, e constatarás que esse não é um motivo para que se use a adaga mortífera.

A terra hospeda enfermos de variada gênese, especialmente portadores do primarismo que neles predomina com vigor.

Quando luz a claridade do amor no âmago do ser, a ofensa, mesmo grave, transforma-se em catarse de desespero na faixa em que ele estagia.

Quando te escasseie o sentimento do amor pleno como terapia de emergência, que te utilizes da misericórdia, compreendas a situação inglória do outro e tentes perdoá-lo. No entanto, se o gravame apresentar-se superior à tua capacidade de imediato perdão, recorre à compreensão, desculpa o agressor infeliz que se encontra em surto de loucura e não se dá conta.

Nunca, porém, permitas, quando agredido, direitos e privilégios que Jesus, que era justo e inocente, não se arrogou como precedente.

Certamente não advogamos em favor da agressividade, da ingratidão, dos disparates, dos comportamentos arbitrários que deverão passar pelos códigos que facultam o equilíbrio do cidadão conforme as conquistas ético-morais já alcançadas por alguns segmentos sociais.

Dia chegará em que o amor soberano legislará com igualdade para todos, suprindo-os com os requisitos elevados do dever direcionado à sociedade saudável.

Buscar desculpas legais para a vingança, jamais!

Pessoa alguma foge da consciência e, por extensão, da Justiça Divina, que a tudo e a todos observa, controla e direciona.


A jornada poderá, não poucas vezes, parecer áspera, mas será

assim que se alcançará o acume da montanha da evolução.


* * *

No Código penal da vida futura, o egrégio codificador do Espiritismo propõe um projeto de justiça equânime e cristã, apoiada na Lei de Causa e Efeito, iluminada pelo amor no seu significado ético mais elevado.

Desse modo, busca ser justo e afável, estabelecendo, desde hoje, os pródromos da era de justiça com caridade e misericórdia, atenuando ou mesmo eliminando a vingança.



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Gênesis 4:24

Porque sete vezes Caim será vingado; mas Lameque setenta vezes sete.

gn 4:24
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