Roteiro de Libertação
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RELIGIÃO ESPÍRITA
& matando com sadismo exagerado; orientando a educação, asfixiavam o conhecimento e puniam com a prisão e a morte aqueles que se não submetiam ao seu talante intelectual; reverenciando Deus, impunham-se acima dEle, como se quanto faziam, em Seu nome, Ele devesse concordar; cultivando a esperança, infundiam o medo e a temeridade...
A obra de evangelização dos povos, se conheceu mártires e santos, não esqueceu os terríveis fanáticos que, destruindo povos e nações, acabaram a cultura ancestral e exigiram submissão aos seus impositivos doutrinários, que os conversos não entendiam nem amavam, impossibilitados dos seus cultos e suas tradições...
Rivalizaram-se na intriga, na rapina, na astúcia, na impiedade com uma frieza de que a História desconhece similar nos seus fastos.
O fanatismo, sob qualquer rótulo, é absurdo e criminoso, o religioso, porém, de que o passado ofereceu ampla mostragem e o presente consigna, é muito pior.
O homem, obstinado pela prosápia da própria salvação, perde qualquer medida de equilíbrio e se destaca, na alucinada presunção, desprezando o próximo ou desejando salvá-lo, nem que, para tanto, seja necessário matar-lhe, com requintes de crueldade, o corpo, numa incrível determinação que comprova a ilegitimidade da sua doutrina.
Isto, porém, são os homens, nas religiões.
No sentido inverso, plainaram, acima dos seus coetâneos e vivem até hoje, os mártires, os apóstolos e os santos da renúncia e da abnegação, que escreveram com o sangue e a vida páginas de épica beleza, iniciando o período do amor e continuando-o em plenitude total com devotamento íntimo aos seus semelhantes.
Esqueceram-se de si mesmos, entregaram-se à caridade; olvidaram quaisquer prazeres, a fim de que não sofressem carência os seus irmãos; romperam com as sombras da ignorância, acendendo as estrelas da educação e colocando sol nas almas...
Temem, os que reagem ao verbete religião Os que procuram substituir por ética, moral ou equivalente —, que o suceder dos tempos venha a transformar o Espiritismo num movimento de massas, quantitativo, portanto, e os seus trabalhadores, arvorando-se a líderes, ou tomados por zelos exagerados, ou acreditando-se predestinados pela Divindade, ou atribuindo-se missões especiais e superiores, ou colocados na posição de administradores de Instituições, não derrapem, pela falsa mística, picados pela mosca azul da vaidade, para os criminosos comportamentos semelhantes àqueles de triste memória...
É um receio compreensível, porque, onde se encontram os homens, aí governam as suas paixões.
Allan Kardec, apoiado e conduzido pelas Vozes, estabeleceu os fundamentos da religião espírita, desvestindo de falsas autoridades os que pretendam ou ambicionem representar, comandar ou atribuir-se direitos de exceção no Espiritismo.
O espírita verdadeiro é o que se doa, cristão autêntico, sem disfarces, cujos frutos morais, de superior qualidade, são apetecíveis ao paladar de todos.
Destituído de qualquer formalismo e ritual, que dá margem a estruturas e hierarquias, o Espiritismo é a doutrina da renovação e progresso moral do homem, a benefício da sociedade na qual se encontra situado.
No convívio com os Espíritos, à margem os problemas da obsessão por fascinação, o espírita percebe a própria dimensão, identifica os riscos dos comportamentos arbitrários,, recebe esclarecimentos e advertências, constatando que segue pela estrada da vida afora, com testemunhas que não receiam e das quais não se subtrairá à presença.
Nesse intercâmbio mediúnico dar-se-á conta de que a vida tem os seus códigos e padrões inalteráveis, que ninguém conseguirá desvirtuar ou submeter, adquirindo paciência e equilíbrio para o serviço sem pressa ou tardança e para a própria transformação interior que a si se deverá impo O Espiritismo é religião, por força dos seus pontos bases terem a mesma estrutura filosófica que se encontra presente em todas religiões, estando, porém, acima das formas e fórmulas ancestrais, por firmar-se nos fatos que comprovam a imortalidade do ser espiritual, a anterioridade da alma ao corpo, a legitimidade da divina justiça e os seus postulados morais, hauridos no Evangelho, constituírem a sua ética a de comportamento salutar, guiando o homem c om segurança a, aprimorando-o e apaziguando-o.
VIANNA DE CARVALHO
Milão, Itália, 11/09/80
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