Roteiro de Libertação

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CAPÍTULO 37
Ilustração tribal

REMINISCENCIAS

Parte 37


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A mediunidade proporcionou-me, na Terra, as mais puras alegrias.

 

Fez-me descortinar os horizontes infinitos do além-túmulo, auxiliando-me a transpor os penetrais da Imortalidade.

 

Atuando sob a direção dos Bons Espíritos, todas as fadigas da vida física e todas as aflições da existência moral passavam-me atenuadas, graças ao incomparável conforto que defluía dos comunicados e mensagens que, de contínuo, chegavam-me à razão, através do veículo da mediunidade.

 

Por esta ponte psíquica maravilhosa transitavam aqueles que viveram a musa das belas letras, mas, também, os que se santificaram pela vivência do amor, os que professaram o conhecimento e exerceram a filosofia, trazendo-me suas luzes, de forma a clarear a noite que se vivia então, a respeito da vida espiritual.

 

Não me abstive de tratar com a população em sofrimento, deste mundo de realidades, que entorpeceram os sentimentos de elevação e corromperam as aspirações, intoxicando-se com os vapores venenosos das paixões inferiores, com que naufragaram.

 

Contactei com as alegrias extrafísicas que abençoam os justos e tomei conhecimento das dores superlativas que enlouquecem os iníquos.

 

Ao largo dos anos, renovavam-me os ideais e aspirações, sobrepondo a confiança em O eus às lutas e incompreensões de que me tornei objeto sob o açodar das intrigas de adversários ignorados e de pessoas infelizes, que se faziam instrumento de inimigos desencarnados que me dirigiam os seus espículos e gravâ-mes, com o objetivo de desanimar-me a tarefa de demonstrar e fruir a imortalidade da alma.

 

Quanta irrisão, cegueira e obstinação inúteis que o homem acalenta no mundo e de que se não descarta no túmulo!

 

A morte, desvestindo a criatura do seu envoltório carnal, não o despe da sua realidade interior, que o toma, sobrepondo-se às antigas aparências e desvelando cada qual, que já não se engana a respeito de si mesmo, não obstante possa aos humanos ainda ludibriar...

 

Mediante o correto exercício das faculdades medianímicas adquiri amigos valiosos, num como no outro lado da cortina carnal, surpreendendo-me ao constatar, quando eu próprio vadeei o Estiges, na barca de Caronte, que muitos deles me aguardavam, joviais uns e ansiosos outros, para dar-me a notícia da vitória da vida sobre a morte e trazer-me as suas efusivas saudações.

 

Pude avaliar, na sua plenitude, a qualidade do salário que recebem os trabalhadores sensatos e fiéis, após concluído o labor com honra.

 

. Naquele momento de efusão emocional, de encontros e reencontros, pude avaliar o próprio comportamento e lamentar os momentos de humanos desaires, de amarguras, quanto as horas perdidas no báratro dos compromissos de pequena monta, em detrimento dos extraordinários deveres do Espírito.

 

Como o arrependimento merece, apenas, a consideração que propicia a reativação dos valores morais com vistas à retificação de quaisquer erros, passei a utilizar-me do ensejo para crescer, refazendo o caminho onde ficaram os equívocos e aprimorando as atividades que deveriam ser aperfeiçoadas.

 

Não se encerrou, para minha agradável surpresa, com a disjunção cadavérica, o ministério medi único.

 

Desdobrava-se-me o labor, agora, noutra dimensão, sempre no rumo da perfeição espiritual, todavia, em compromissos relevantes, como prosseguimento do trabalho realizado no plano físico.

 

Como se multiplicam as Esferas Espirituais de evolução, próximas e distantes do Orbe terrestre, ampliam-se os afãs fora do círculo material, em intercâmbios contínuos, mediante os quais as diversas dimensões da vida, em vibrações próprias, desvelam-se com os seus habitantes felizes, auxiliando os viventes, nas faixas mais densas, mais primitivas.

 

Nunca cessando a vida, cada vez mais esta se aprimora e diafaniza, aparecendo e ressurgindo em modalidades e impressões, em estados de energia e emoções, por enquanto inabordáveis para a compreensão humana.

 

Nesse ininterrupto crescer e progredir, a ânsia de felicidade se transmuda em plenitude de gozo, em que o amor e a paz assumem proporções não imaginadas.

 

Quando se dilatem, entre os homens, as experiências e atividades psíquicas consciente e responsavelmente — já que as mesmas ocorrem em variada gama, de que somente poucos tomam conhecimento — depurar-se-á a vida planetária ao influxo das aspirações altas e dignificadoras; apressar-se-á o progresso, por libertar os enjaulados nas algemas fortes do egoísmo, da luxúria e da ambição; e fomentar-se-ão a fraternidade e o conhecimento superior, com os quais a vida se tornará mais digna de suportada por todos.

 

Compreendendo a significação grandiloquente de uma vida psíquica consentânea com os padrões cristãos e o exercício da mediunidade sob as diretrizes espíritas, os sensitivos, que são quase a Humanidade toda, unir-se-âo para precipitar o advento do "reino de Deus", a que se referiu o Incomparável Galileu.

 

A mediunidade é porta que se abre na direção das incógnitas do atual conhecimento, projetando estrada no mundo de sombras e deixando ver-se a grande luz que fulgura, atraente, no fim do percurso a vencer.

 

A ela agradeço as venturas que fruí na Terra e as alegrias que experimento no além-túmulo, exercendo-a, em Espírito, na busca do mediumato com que o futuro me acena.

 

FERNANDO DE LACERDA

 

Lisboa, Portugal, 21/09/80

 


FERNANDO DE LACERDA
Divaldo Pereira Franco

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