Trigo de Deus
Versão para cópiaERA UM SÁBADO... (Nota)
A sinagoga, ao tempo de Jesus, como ainda hoje, possuía um papel preponderante na vida da comunidade hebreia.
Além de templo religioso, caracterizava-se como núcleo social e escolar, onde se estudava o manuscrito da Tora e se comentava em discursos comovedores o seu conteúdo precioso, depois de desembrulhá-la de um envoltório de linho fino no qual ficava guardada.
A religião era a principal paixão de qualquer judeu e a frequ
̈ência à sinagoga um dever impostergável.
O hazzan — funcionário do serviço, que se encarregava de soprar com força o chifre de carneiro para anunciar o sábado — coqduzia a Tora, que era tida como a fonte fértil de toda a sabedoria.
As pessoas se distribuíam pelo recinto conforme os espaços e, defronte da quarta parede — a que se erguia na direção frontal de Jerusalém — tremeluziam as chamas débeis na menorah, ou candelabro, de sete braços, inspirada na planta Sálvia judaica.
A Tora era copiada em folhas de pergaminho, costuradas umas às outras e enroladas em talas de madeira, chamadas árvores da vida.
Lida em altas vozes por qualquer pessoa, constituía uma ventura para quem o fizesse.
Jesus teve ocasião de fazê-lo, e interpretá-la sob a admiração geral, quando declarou, na primeira vez, que naquele dia se cumpria nEle o que estava escrito...
A sinagoga era, portanto, o núcleo central e relevante da comunidade.
O sábado fora eleito como o dia do descanso. A Lei e a tradição haviam estabelecido com rigor o que se podia, ou não, fazer, sob rigorosa limitação. A observância, no entanto, era mais formal do que real, porquanto na dependência do interesse de cada um.
A criatura humana, porém, que se compraz com as mesquinharias, demorando-se no atendimento das formas sem preocupação com o conteúdo, estabelecera quanto se podia caminhar, o volume e o peso a carregar, qual o serviço a executar. Minudente no estabelecer preceitos, não cuida do aprofundamento do significado, perdendo-se em aparência, sem a correspondente da realidade.
Era o dia dedicado ao formalismo, ao descanso, à ociosidade, também à religião.
Em um sábado Jesus ensinava na sinagoga.
Desde cedo os jovens se adestravam na leitura e na interpretação dos textos sagrados e Ele já se revelara, mais de uma vez, portador da excelente virtude do discurso.
Nesse dia, porém, lá estava também uma mulher possessa, que um espírito tornara enferma havia dezoito anos. Andava curvada e não podia endireitar-se.
A interferência das entidades perversas na vida humana é de grande intensidade. Doenças físicas, emocionais, psíquicas, multiplicam-se, afligindo multidões que teimam por ignorar-lhes a gênese obsessiva, de natureza espiritual atormentadora.
Não se interrompendo a vida ante o fenômeno da morte, o intercâmbio mental prossegue natural, mediante sintonia e afinidade entre os seres.
Esse fenômeno está presente em todas as épocas, culturas e povos da humanidade, e era muito comum nos dias de Jesus. Ele o enfrentou com elevação e terapia libertadora ímpar, graças à Sua autoridade moral e perfeição espiritual.
A Sua acuidade para penetrar na causalidade das ocorrências facultava-Lhe a sabedoria para distinguir o momento quando deveria interferir a favor dos padecentes.
Ele conhecia o drama da desafortunada paciente obsessa. Vendo-a, chamou-a e disse-lhe: "Mulher, estás livre da tua enfermidade!", impondo-lhe as mãos.
O momento foi grandioso, impactante. O inesperado a todos colheu de surpresa.
A enferma endireitou-se e pôs-se a dar glória a Deus.
O sol da saúde penetra as sombras do sofrimento e logo reina a alegria na paisagem antes triste.
A libertação rompe as algemas e o escravo exulta.
A autoridade afasta o delinqu
̈ente, facultando o equilíbrio da sua vítima.
O amor sobrepõe-se ao ódio e alivia as aflições.
Jesus é o Poder que vem de Deus e o mundo é-lhe o grande cenário para a realização.
Fonte da vida Ele é a Vida plena, que toma e deixa o corpo quando Lhe apraz.
Conhecendo a origem, interpreta os fenômenos e altera-lhes a rota.
A verdade e o bem sempre defrontam opositores: os invejosos, os pigmeus, os homens-sombra, vazios de realização interior, doentes da alma.
Ante a estupefação geral, o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia curas ao sábado, disse à multidão: "Seis dias há durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para serdes curados e não em dia de sábado. " A astúcia estabelece normas que são ultrajes à razão.
Impossibilitada de produzir e fomentar o progresso, tenta obstar-lhe a marcha, o avanço.
A Natureza é um poema de equilíbrio, enquanto o ser humano entre os conflitos, nos quais estertora, é um paradoxo.
Não segue o fluxo do amor, porque ainda primário nos sentimentos, é egocêntrico nas aspirações.
Corroído pelas mazelas, combate o que não tem condições de realizar e maldiz aquilo de bom que o afeta negativamente.
Jesus, no entanto, conhecia o homem profundo, sua realidade, seus limites.
Fita, então, apiedado, o infeliz e educa-o com severidade.
Nunca se deve deixar espaço bom, aberto aos maus.
A técnica de correção é conforme o deslize. A terapia de acordo com a enfermidade.
— Hipócritas! — enuncia com rigor e serenidade.
A palavra vigorosa é um relho que açoita e adverte, para logo prosseguir com a lógica de bronze:
— Não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e o leva a beber?
Os egoístas justificam os seus atos. Quando em jogo os seus interesses, tudo é factível e legal. Não, porém, o são as ações do seu próximo, mesmo quando legitimadas pela necessidade superior.
Estão atentos sempre contra os outros; elegem-se sicários do próximo, em cuja função infeliz comprazem-se.
E Ele prossegue:
— E esta mulher que é filha de Abraão, presa por Satanás há dezoito anos, não devia libertar-se desse jugo em um sábado?
A interrogação aturde a massa e o chefe da sinagoga se desconcerta. Sua consciência obliterada é sacudida pela veemência do amor espontâneo.
Não há contradita à verdade. Ela sobrenada na corrente dos sofismas, negações e desvios de rota.
Vale mais um ser humano do que um animal de carga, sem dúvida. Quem o contesta?
A demorada sujeição deveria terminar. A saúde é o estado natural, e não a doença, a desdita.
Ele estava ali naquele dia, não em outro, não depois. Aquela, portanto, a oportunidade; o dia era secundário.
A ação do bem tem o seu momento, ninguém o determina. Ele esplende e acontece. Quem o desperdiça, não o reencontra nas mesmas condições.
Dezoito anos sob a ação do satânico obsessor, constituíam purgação santificadora suficiente para o resgate que terminava.
Escrava, sofria. Livre, exultava.
No cativeiro reabilitara-se. Na liberdade iria ser agente multiplicadora de vida e de esperança.
A hora soara-lhe propícia; quisessem ou não os indiferentes, ela estava curada, o que, realmente era importante.
Ninguém que detenha a vitória da luz.
Os adversários ficaram envergonhados e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele fazia.
Jesus é a Porta de libertação, que auspicia ventura.
Naquele sábado dedicado ao repouso, estuaram o amor, a saúde, a liberdade, a vida.
Haverá sempre um sábado de luz para quem chora nas sombras, nas sinagogas do mundo hostil.
Carregando aflições e vergado sob injunções penosas, debatendo-se nas garras das obsessões pertinazes, a criatura busca Jesus, mesmo sem o saber, até o momento de encontrá-10.
Nunca desistir, é o desafio, avançando sempre.
A sinagoga era um centro comunitário de ação social, religiosa e humana.
E aquele era um sábado... (Nota) Lucas
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Lucas 10:17
E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam.
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Lucas 13:12
E, vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade.
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