Trigo de Deus

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CAPÍTULO 9

ELA DORME... (nota)

Os discípulos permaneciam sob o dualismo das emoções que haviam vivenciado, há pouco, em Gadara.

A cura do obsesso, instantânea e comovedora, deslumbrara-os, porém a reação do povo, que perdera a sua vara de porcos, aturdira-os.

Vociférantes e agressivos, os gerasenos pediram que eles se retirassem das suas terras, e não se preocuparam com o enfermo restaurado na saúde.

Eram-lhes mais importantes os suínos do que a criatura e, por isso, expulsaram também o recuperado, acusando-o de intermediário, responsável pelo prejuízo dos porcos que se atiraram ao mar...

A criatura humana sempre defronta opções para agir com segurança correta ou não. E, invariavelmente, elege a perniciosa, por encontrar-se aturdida pelas paixões desgovernadas, a tudo enxergando por lentes com distorções ópticas.

Dispondo do grande momento para o êxito, para a felicidade, prefere o caminho tortuoso da dor e da sombra, não se lhe furtando, no entanto, em definitivo, por não poder fazer estacionar a marcha do progresso.


Retornando às praias queridas de Cafarnaum, ainda não se haviam tranqu

̈ilizado, quando uma multidão ansiosa os cercou, rogando ajuda a Jesus.

O Mestre, impertérrito, amava aquela gente estúrdia, sofredora e ansiosa.

Tinha paciência para com todos e compreendia-lhes as necessidades, as inquietações.

Ainda hoje Ele permanece assim em relação a nós.

Nesse natural tumulto, aproximou-se o chefe da sinagoga, homem honrado que, aflito, prostrou-se-Lhe aos pés e rogou atender à filhinha que enfermara e se encontrava à morte...

Jairo conhecia Jesus, sabia do Seu vínculo com Deus, embora os seus compromissos com a religião que representava.

A cidade era pequena, a região caracterizada pela simplicidade e pureza de costumes, onde todos se conheciam de algum modo.

A notícia da cura do possesso chegara antes dEle, e ali, na multidão, o que fora enfermo louvava-O, narrando o episódio extraordinário da sua libertação.

Havia, portanto, em Jairo, aflição e fé.

A multidão, essa massa informe que se agita de um para outro lado, arrancou-lhe o Mestre da presença e logo todos exclamavam, à frente, com entusiasmo, um novo acontecimento.

Uma mulher hemorroíssa muito conhecida, acabara de recuperar-se após tocá-10.

No meio das alegrias que espocavam, naturais, os conflitos e precipitações cresciam, pois que todos O queriam...

Subitamente Jairo deparou-se novamente com Ele.

O Seu olhar transparente penetrou-o em tons diáfanos.

O pai, emocionado, retornou à rogativa.

Havia ternura e dor na voz quase sumida.

— Vem à minha casa, Senhor! Minha filhinha de doze anos está à morte...

Jesus compreendeu-lhe a extensão do sofrimento e anuiu em acompanhá-lo.


Quando já se encontravam à porta da residência confortável, repleta de parentes aflitos e curiosos, uma pessoa informou ao genitor, em pranto:

— Está morta; não suportou, não incomodes mais o Mestre.

Os gritos e lamentos, o prantear em sinfonia lúgubre, ergueram-se, e muitos em solidariedade choravam.


O pai, trespassado pelo punhal da agonia, pediu-Lhe desculpas, e ia entregar-se ao desespero, quando a voz lúcida e melodiosa afirmou:

— Não temas; crê somente e ela será salva.


Os cépticos, que O ouviram, retrucaram:

— Ela morreu. É tarde!


Imperturbável, Ele adentrou-se no lar sob o infausto acontecimento e repetiu:

— Ela dorme!

Os mortos para a verdade reagiram.

São os mesmos de todas as épocas.

Estroinas emocionais, passam da humildade à violência facilmente, quando se sentem ameaçados, confundidos na sua prosápia.

Ignorando a Vida, transitam nas sombras, nas quais se comprazem.

Os que morrem no corpo estão mais vivos do que eles, que perderam a vida no engodo da matéria e do egoísmo.


Esses mortos rebateram, furibundos, enérgicos:

— Ela morreu!

E desejavam-na morta, a fim de sentirem-se em deleite moral inferior, triunfantes na sua opinião.

Jesus mandou que os frívolos saíssem e permaneceu com o pai, a mãe, Pedro, João e Tiago no quarto onde a jovem dormia.

Pálida, enrijecendo-se, a pequena era a própria morte na sua postura final.


Tocando-a com doçura e imprimindo energia com meiguice à voz, o Senhor falou-lhe, tomando-a pela mão:

— Menina, levanta-te!

Um suave rubor tomou-lhe a face e o Espírito retornou-lhe ao corpo em quase total higidez.

Um doce aroma de anêmonas em flor invadiu o quarto, e o hálito da vida espraiou-se no aposento agora arejado.

A menina ergueu-se, sorrindo, enfraquecida.

— Dêem-lhe de comer — ordenou o Amigo.

Estrondou a alegria, e os hinos de louvor bordaram todos os lábios com melodias festivas.

Jesus — a Vida Abundante — penetrou a família com a Sua vitalidade e alegria.

A movimentação de júbilo percorreu a massa.

E Jairo, o responsável pela sinagoga, após beijar a filhinha que retornara da letargia, ao procurar o Rabi para agradecer, já não O encontrou.

Ele saíra.

A multidão esperava-0 e seguiu-Lhe empós.


No futuro, anciã e feliz, a filha de Jairo, em Cafarnaum, narrava o episódio inesquecível, e procurava definir o indefinível daquela voz que a arrancara das sombras:
— Talitha, Koum! (menina, levanta-te.) No torvelinho das paixões, que predominam ameaçando de morte e de condenação a criatura desatenta Jesus ainda exclama com piedade:

— Ela dorme! (Nota) Lucas 40:42 e Lucas 49:56 (Nota da Autora espiritual)



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Lucas 8:49

Estando ele ainda falando, chegou um dos do príncipe da sinagoga, dizendo: A tua filha já está morta, não incomodes o Mestre.

lc 8:49
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