Sabedoria do Evangelho - Volume 1

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CAPÍTULO 27

OS PRIMEIROS DISCÍPULOS

LC 3:23

23. Ora, o mesmo Jesus, ao começar seu ministério, tinha cerca de trinta anos.


JO 1:35-42

35. No dia seguinte João estava outra vez com dois de seus discípulos


36. e, olhando para Jesus que passava., disse: "eis ali o Cordeiro de Deus".


37. Ouvindo-o dizer isto, os dois discípulos seguiram a Jesus.


38. Voltando-se Jesus e vendo-os a seguí-lo, perguntou-lhes: "Que buscais"? Disseramlhe: "Rabbi (que quer dizer Mestre) onde moras"?


39. Respondeu ele: "Vinde e vereis". Foram, pois, e viram onde morava, e ficaram aquele dia com ele; era mais ou menos a hora décima.


40. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar e que seguiram a Jesus.


41. Ele procurou ao alvorecer seu irmão Simão e lhe disse: "encontramos o Messias" (que quer dizer Cristo).


42. E o levou a Jesus. Olhando para ele, disse Jesus: "Tu és Simão, o filho de Jonas: tu serás chamado Cefas (que significa. Pedro).

A primeira frase de Lucas dá-nos conta da idade de Jesus ao iniciar seu ministério: "cerca de trinta anos".

Estávamos nos primeiros meses do ano 29 de nossa era, isto é, 782 de Roma, e Jesus, que nasceu em 7 A. C. (747 de Roma), contava precisamente 35 anos. A anotação de Lucas visava apenas a esclarecer que Jesus já tinha a idade "legal" para sua vida pública, quer civil, quer religiosa.

No trecho de João, volta.como primeiras palavras, a expressão: "no dia seguinte". Se começarmos a contar partindo do primeiro episódio (as respostas de João aos emissários do Sinédrio), o fato aqui narrado situa-se no 3. º dia. Será interessante notar que a sequência prosseguirá até o 7. º dia.

Observemos a cena. Trata-se dos dois primeiros discípulos que Jesus aceita (segundo a narrativa evang élica) e portanto da inauguração oficial de seu magistério na Palestina.

O evangelista foi testemunha ocular: dá-nos os pormenores. João, meio afastado, conversava com dois discípulos seus, quando viu Jesus passar a distância. Num desabafo de admiração, repete a frase da véspera: "vejam ali o Cordeiro de Deus"! Essa repetição constituiu um impacto no espírito dos dois que, apressadamente, se afastaram do Batista, fascinados pelo anseio de encontrar o melhor Mestre. E se o próprio mestre deles O indicava, podiam confiar com total segurança. Além disso, a Força Interna deles os impelia, e a de Jesus os atraía irresistivelmente.


Jesus volta-se espontâneo e, fixando-os com olhar penetrante que lhes perscruta o coração, pergunta:

—Que desejais?

Os dois entreolham-se. Que dizer? A primeira ideia é enunciada, daí subentendendo-se o resto: - Mestre, onde moras?

O título "Mestre", dito em hebraico-talmúdico, RABBI, era o título oficial reservado aos Doutores da Lei. Mas também se aplicava por delicadeza ou para demonstrar admiração por alguém mais sábio.

A resposta de Jesus: "vinte e vereis" correspondia à aceitação tácita dos dois novos discípulos. O narrador, que era um deles, continua com simplicidade: "eles foram e viram, e ficaram aquele dia com ele". E para firmar que não foi uma conversa rápida e cerimoniosa, acrescenta o pormenor da hora do encontro: "era mais ou menos a hora décima ", isto é, dezesseis horas. Essa anotação da hora é comum em João (cfr. 4:52; 18:28; 19:14 e 20:19), o que nos revela, ainda uma vez, a preocupação de João com a numerologia, que atinge o clímax no Apocalipse.

Como se julgava inadmissível e desrespeitoso chegar a essa hora da tarde em casa de alguém e retirarse para pernoitar em outro local, deduz-se que os dois passaram a noite entretendo-se com o Rabbi, de lá saindo só depois do nascer do sol.

Mas, quem eram os dois? De um, o narrador dá o nome: André (nome tipicamente grego, o que era comum na Galileia "dos gentios") e acrescenta para identificá-lo melhor: "irmão de Simão Pedro".

Simão é a helenização do hebraico Shim’on ("YHWH ouviu"). Eram ambos naturais da cidade de Bethsaida-Júlia (hoje El-Tell) a nordeste do Tiberíades (cfr. vers. 44). E o outro? Reza a tradição tratarse do próprio evangelista João, em vista dos pormenores narrados (é o único a documentá-los). E em todo o seu Evangelho, ele jamais se cita.


Ao "despontar do dia" (em grego πρωι), André e João retiram-se. E o primeiro corre a buscar seu irm ão Simão, anunciando-lhe o encontro do Messias.
Há três lições nos manuscritos:
1) Veronese (5. º séc.), Palatino (4. º-5. º séc.), a versão siríaca curetoniana e a sinaítica (3. º-4. º séc.) trazem πρωι (ao despontar do dia);
2) Vaticano (4. º séc.) Alexandrino (5. º séc.) , Korodethi (7. º-9. º séc.), a "família" 1 e 13 e a Vulgata trazem πρωτον (em primeiro lugar).
3) Sinaítico (8. º séc.), Régio (8. º séc.), Freer III (4. º-6. º sec.) e o Sangaliense (9. º sec.) trazem: πρωτος (foi o primeiro).
Seguindo L. Pirot ("La Sainte Bible", vol. 10, pág.
325) preferimos a primeira lição, por dois motivos:
# 1 - como acertadamente anota Pirot, é mais fácil a corrupção d e ПРΏІТΟΝΑΔΕΔΦΟΝ para ПРΏΤΟΝΤΟΝΑΔΕΔΦΟΝ ou para ΠΡΏΤΟΣΤΟΝΑΔΕΔΦΟΝ do que vice-versa. 2 - porque temos, com a primeira leitura, a sequência dos acontecimentos: I - Testemunho de João aos emissários do Sinédrio (1. º dia) II - No dia seguinte a apresentação de Jesus aos discípulos (2. º dia) III - No dia seguinte a adesão de André e João a Jesus (3. º dia) IV- No dia seguinte o encontro com Simão Pedro (4. º dia) V - No dia seguinte Jesus parte para a Galileia (5. º dia) VI - No 3. º dia (dois dias depois) as bodas de Caná (7. º dia).

E essa sequência revela ensinamentos simbólicos de valor inestimável, e João não podia perder a oportunidade de ensiná-los aos leitores de seu Evangelho.

O anúncio de André a Pedro é taxativo: "encontramos o Messias".


A palavra Messias (µεσσιας, helenização do hebraico π מש׳ mashiah) só é empregada em o Novo Testamento duas vezes, e ambas por João o evangelista, neste passo e em 4:25. Em ambos, o evangelista se apressa em explicar que "Messias" se traduz por "Cristo". Realmente.
Do verbo משװ (mosha - cfr. Moshe Moisés) que significa "ungir", vêm o adjetivo e substantivo משיח (mashiah) que significa "o ungido" (para uma missão), ou seja, o Messias. Em grego, do verbo Χριω, significando "ungir" (com óleo ou perfume) - provém o adjetivo Хριστος, η, ον, com o sentido de "ungido, untado"; e daí o substantivo o Хριστος, "o ungido" com significação iniciática e simbólica: "o impregnado de divindade". Assim como o óleo impregna e embebe os tecidos, assim o Cristo é o embebido de Deus, aquele cujas células todas estão permeadas da Divindade.
Simeão deixa-se levar a Jesus, que olha para ele com a mesma penetração (θεσαµενος) e pronuncia suas primeiras palavras mudando-lhe o nome. O fato de mudar o nome de alguém revela autoridade e representa o inicio de nova função ou situação (cfr. GN 32:28; GN 17:5; GN 22:8; IS 62:2, etc.) . Começa citando o nome antigo completo: "tu és Simão Barjonas (filho de Jonas ou João, já que Jonas" e a abreviatura de "Yohanan"): tu serás chamado Kefas.
A palavra иφάς; é uma helenização do aramaico Kephá. proveniente do caldaico פּיּמּאָ (siríaco ئإؤآ), do hebraico פֿ ٩, que significa "pedra, rocha", e só é usado no plural פמים (JR 4:29 e 30:6).

A exigência dos trinta anos para início da vida pública, baseava-se também num simbolismo numerol ógico: a completação do desenvolvimento da personalidade (3 X 10), embora se houvesse já de há muito esquecido a razão que havia feito escolher essa idade.

Aqui observamos o fato de um mestre indicar a seus discípulos (talvez os melhores que possuía) o caminho de outro mestre: completa ausência de ciúmes! Mas verificamos que é a personalidade (o intelecto iluminado, João) que compreende que, quando o discípulo chegou a determinado grau evolutivo, tem que ser entregue à individualidade (Jesus) para que continue o aprendizado.

Os discípulos percebem a insinuação da personalidade (João) e seu desprendimento, e voltam-se, sem titubear, para a individualidade (Jesus) perguntando-lhe: "Onde moras"? A sede da personalidade, eles bem o sabem, é o intelecto. Também sabem que, para ter esse desprendimento sem ciúme e sem vaidade, o intelecto já está iluminado, esclarecido nas grandes verdades. Dirigem-se pois à individualidade e lhe perguntam "onde mora", porque ainda ignoram qual a sede desse novo plano. A resposta não poderia jamais ser o nome de uma rua nem o número de uma casa (observamos que os Evangelhos jamais disseram onde Jesus residia) porque a individualidade não tem sede no mundo físico. Daí poder Jesus dizer: "as raposas têm seus covis e os pássaros seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça" (MT 8:20). No mundo físico só a personalidade é situada e tem "casa". Então a resposta de Jesus é perfeita: "vinde e vede", isto é, aproximai-vos de mim (individualidade) e vereis qual meu pouso: o Espírito.

E os discípulos foram e viram sua elevação espiritual; penetraram no coração e descobriram o Espírito e "ali permaneceram", em meditação, todo aquele dia.

Era mais ou menos a "hora décima". Essa anotação numerológica não se refere aos novos discípulos, mas a Jesus, à individualidade. Os nove primeiros arcanos referem-se ao desenvolvimento do homem interno. O décimo exprime o início da atividade exterior. Não foi para ele mesmo que o evoluído viveu as etapas do Conhecimento Profundo e triunfou de uma série de provações. Uma vez atingido o ápice e superadas as "tentações", ele precisa aplicar seu saber e sua experiência, levando outros pelo mesmo caminho. A anotação do evangelista, pois, tem todo o cabimento, no momento exato em que Jesus (a individualidade) recebe e aceita os primeiros discípulos, a fim de aplicar seus’ conhecimentos: para ele, soara a décima hora. A João interessava assinalar quais os discípulos que seguiram Jesus. Cita-lhes os nomes. O primeiro, André, representa exatamente o HOMEM; o segundo, que era ele mesmo, é omitido; o terceiro, ao despontar da aurora do outro dia, é Simão (nome que significa: YHWH ouviu", da raiz shama). Mas Jesus lhe muda o nome para Pedro, como representante daqueles que interpretam as Escrituras à letra, levados pela emoção. Ele adere de imediato à individualidade, embora, por falta de intelectualismo e do domínio das emoções, tenha de passar por muitas provas, nem sempre saindo vencedor. No entanto, em vista do desenvolvimento emocional, é escolhido para dirigir o Colégio Apostólico, que está fixado no Raio da Devoção, dirigido por Jesus.

O nome com que Jesus é apresentado corresponde exatamente à realidade: o CRISTO INTERNO, a parte espiritual impregnada da Divindade, ou CRISTO CÓSMICO, da qual a parte material é apenas a contraparte, a condensação ou materialização, dando origem à personalidade visível no plano físico e transitório na dimensão tempo e espaço.



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Gênesis 17:5

E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai da multidão de nações te tenho posto;

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Gênesis 22:8

E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos.

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Isaías 62:2

E as nações verão a tua justiça, e todos os reis a tua glória; e chamar-te-ão por um nome novo, que a boca do Senhor nomeará.

is 62:2
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Jeremias 4:29

Ao clamor dos cavaleiros e dos frecheiros fugiram todas as cidades; entraram pelas nuvens, e treparam pelos penhascos: todas as cidades ficaram desamparadas, e já ninguém habita nelas.

jr 4:29
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Mateus 8:20

E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

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João 1:35

No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos;

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João 1:36

E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus.

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João 1:37

E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.

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João 1:38

E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi, (que, traduzido, quer dizer Mestre) onde moras?

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João 1:39

Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia: e era já quase a hora décima.

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João 1:40

Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João, e o haviam seguido.

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João 1:41

Este achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).

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João 1:42

E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).

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Jó 30:6

Para habitarem nos barrancos dos vales, e nas cavernas da terra e das rochas.

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