Sabedoria do Evangelho - Volume 4
Versão para cópiaO CEGO DE BETSAIDA
22. E ele chegou a Betsaida. E trouxeram-lhe um cego, e solicitaram-lhe que o tocasse.
23. E tendo segurado a mão do cego, levou-o para fora da aldeia; e cuspindo-lhe nos olhos, pôs as mãos sobre ele e perguntou-lhe: "Vês alguma coisa"?
24. Este, começando a ver, disse: "Vejo os homens, porque, como árvores, os vejo andando".
25. Então de novo lhe impôs as mãos sobre os olhos e ele enxergou em redor e foi curado e discerniu tudo nitidamente mesmo ao longe.
26. E mandou-o para sua casa, dizendo: "Nem entres na aldeia".
Novamente na margem oriental, em Betsaida-Júlias (el Tell), a 3 km ao norte do lago de Genesaré e a 300 m a leste do Jordão; cidade construída por Filipe o tetrarca. Não deve admirar que Marcos lhe aplique o epíteto de kómê (aldeia), pois assim o fez também Josefo (Ant. Jud. 18, 2, 1). E o Novo Testamento não leva à risca a classificação: João (João
4) a eleva à categoria de cidade (pólis).
Ao desembarcar, os habitantes levam a Jesus um cego, a primeira cura desse tipo narrada por Marcos, e privativa deste Evangelho, tal como a do surdo-gago. A solicitação é sempre a mesma: "que o toque" (ou "que lhe imponha as mãos"). O gesto, hoje denominado "bênção" pelos católicos ou "passe" pelos espiritistas é idêntico: lançamento de fluidos curadores, mediante expressivo gesto da mão, com ou sem contato físico.
Ao invés disso, o Mestre segura a mão do cego e o leva para fora da cidade, tal como fizera com o surdogago. Aí recomeça o ritual mágico de colocar saliva nos olhos. Após isso pergunta-lhe se está vendo.
A resposta é, talvez, desconcertante: "vejo os homens (blépô tous anthrópous) porque (hóti) como árvores (hôs déndra) os vejo andando (horô peripatoúntes).
Dividem-se os exegetas, discutindo se o cego o era de nascença ou não. O fato que transparece claro é que, em sua cegueira, ao ouvir o farfalhar das frondes, ele tinha a impressão de que as árvores "caminhavam em redor"; e a visão ainda deficiente fazia-lhe ver os homens grandes como ele imaginava serem as árvores.
A cura não estava completa. Mister havia de nova intervenção taumatúrgica, embora de menor intensidade: serão utilizados os fluidos magnéticos das mãos, sem mais necessidade do emprego da saliva.
Após impor as mãos sobre os olhos, nova verificação para confirmar se a cura estava realmente terminada com êxito.
Interessante notar que Marcos diferencia as nuanças, utilizando-se dos compostos e sinônimos. Vejamos os versículos
Observe-se que anablépô é o verbo usado em MT
18) quando é narrado o episódio do cego de nascença.
O último advérbio têlaugôs, que só aparece aqui em todo o Novo Testamento, é composto de têle (ao longe) e augê (brilho, nitidez). Daí o termos traduzido por "nitidamente mesmo ao longe".
Vale salientar a ordem de recolher-se imediatamente a sua casa, nem sequer entrando na aldeia" para não sucumbir à tentação de divulgar o ocorrido.
Já vimos que Betsaida significa "casa dos frutos", e sabemos o significado simbólico da cegueira espiritual: o homem que não compreende, que não vê, que não percebe intelectualmente. E muitos são assim.
Quando isso ocorre, pode acontecer que a individualidade, por solicitação de intercessores (encarnados ou desencarnados) ou mesmo espontaneamente, resolva agir para "abrir" os olhos" e apressar o progresso.
Aí temos a técnica, em poucos versículos. Em primeiro lugar levar a personalidade para fora da multidão (que importa se Betsaida era aldeia ou cidade?), para o isolamento, no qual o Mestre (Cristo Interno) e os discípulos (os veículos dessa personalidade) poderiam agir a sós na meditação.
A seguir, colocar "saliva nos olhos", ou seja, tirar da essência divina e profunda de seu próprio ser os fluidos indispensáveis para abrir os canais do intelecto, a fim de que, por meio deles (a intuição) a criatura possa ver. Verificamos anteriormente que já abrira os canais dos ouvidos, para que ouvisse Sua voz, e da língua, para que se manifestasse. Abre agora os olhos para que veja e compreenda a lição do Eu Superior.
Aqui o ensino se desdobra em minúcias: não é de uma vez que conseguimos compreender tudo. Há etapas sucessivas. Inicialmente surgem confusões, que talvez durem vidas, seguindo a criatura doutrinas que, apesar de belezas e esplendores, não revelam a verdade real e espiritual.
Mas quando finalmente a misericórdia suprema do Cristo percebe que começamos a entrever a Verdade, novamente coloca Sua mão bendita e estabelece o contato definitivo. É então que começamos a ver (anablépô) ou "levantamos os olhos" (outro sentido do mesmo verbo), e enxergamos em redor (diàblépô), sendo curados por fim, e discernindo (emblépô) tudo com nitidez, mesmo ao longe (têlaugôs), isto é, no futuro distante, que se perde no infinito do espaço e na eternidade do tempo.
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Marcos 8:22
E chegou a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego, e rogaram-lhe que lhe tocasse.
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Marcos 8:23
E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa.
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Marcos 8:24
E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens; pois os vejo como árvores que andam.
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Marcos 8:25
Depois tornou a pôr-lhe as mãos nos olhos, e ele, olhando firmemente ficou restabelecido, e já via ao longe e distintamente a todos.
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Marcos 8:26
E mandou-o para sua casa, dizendo: Não entres na aldeia.
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João 7:42
Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia donde era Davi?
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Mateus 11:5
Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.
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