Sabedoria do Evangelho - Volume 4

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CAPÍTULO 7

SEGUNDA MUL TIPLICAÇÃO DOS PÃES

MT 15:32-38


32. Então, tendo Jesus chamado seus discípulos, disse: "Tenho compaixão deste povo, porque já há três dias permanece comigo e não tem nada que comer; não quero despedi-los famintos, para que não desfaleçam no caminho".


33. Disseram-lhe os discípulos: "Como encontraremos, neste deserto, tantos pães para fartar tão grande multidão"?


34. E disse-lhes Jesus: "Quantos pães tendes?" Responderam: "Sete e alguns peixinhos".


35. E tendo mandado ao povo que se reclinasse no chão,


36. tomou os sete pães e os peixes e, dando graças, partiu-os e os deu aos discípulos, e os discípulos ao povo.


37. E todos comeram e se fartaram; e apanharam os fragmentos que sobraram em sete certas cheias.


38. Os que comeram eram quatro mil homens, além de mulheres e crianças.


MC 8:1-9


17. Naqueles dias, sendo muito grande a multidão e não tendo nada que comer, Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:


18. "Tenho compaixão deste povo, porque já há três dias permanece comigo e não tem nada que comer;


19. e se eu os mandar para suas casas famintos, desfalecerão no caminho, pois alguns há que vieram de grande distância".


20. E responderam-lhe seus discípulos: "Como poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto"?


21. E perguntou-lhes: "Quantos pães tendes"? Responderam eles: "Sete".


22. E ordenou ao povo que se reclinasse no chão; e tomando os sete pães, dando graças, partiu-os e entregou a seus discípulos para que os distribuíssem; e eles os distribuíram à multidão.


23. Tinham também alguns peixinhos; e abençoandoos disse: "Distribuí também estes".


24. Todos comeram e se saciaram e apanharam dos fragmentos sobrados sete cestas.


25. Eram os que comeram quatro mil homens.

E os despediu.

Alguns críticos pretendem que esta seja simples repetição da primeira multiplicação dos pães (veja vol.

3. º). No entanto, não apenas Mateus 16:9-3 como Marcos 8:19-3 colocam na boca de Jesus a citação expressa das duas multiplicações como dois fatos distintos.

Se alguns pormenores se repetem, pela semelhança das situações, outros diferem frontalmente. Lá os discípulos têm a iniciativa, dando como causa o avançado da hora; aqui é Jesus que lhes chama a atenção para o fato de que a multidão O acompanhava havia três dias, não obstante não ter o que comer; na primeira havia cinco pães e dois peixinhos, neste há sete pães e "alguns" peixinhos; na outra eram cinco mil pessoas, nesta são quatro mil; a anterior realizou-se no território de Filipe, tendo vindo a multid ão de Cafarnaum e arredores; a última ocorreu na Decápole, com o povo do local; lá foram recolhidos doze cestos (kophínos), aqui sete cestas (spurídas), ou seja, recipiente de maior capacidade, segundo atesta João Crisóstomo (Patrol Graeca, vol. 58, col. 527), sendo mesmo citada em Atos (Atos 9:25) como tendo servido a Paulo para descer dos muros de Damasco; na primeira o povo recosta-se na relva", denotando a primavera, mas na segunda acomoda-se "por terra", sinal de que estamos no verão, com o solo ressequido.

A pergunta dos discípulos revela a impossibilidade material de encontrar alimento: póthen tanto pode ser "onde", quanto "como" (lugar ou modo), mas qualquer dos dois exprime falta total de meios para consecução do objetivo desejado. Essa pergunta é citada como falta de confiança naqueles que, pouco antes, haviam presenciado situação semelhante com solução prodigiosa, dada pelo Mestre. Por que não supor gesto semelhante e inculcar-lho? Serve-nos de lição observar que jamais os discípulos sugeriram meios insólitos para auferir vantagens: não requisitaram atravessar o lago a pé, mesmo depois de testemunharem essa possibilidade por parte de Jesus e de Pedro; não pediram outras "pescarias inesperadas" para facilitar-lhes o trabalho e poupar-lhes as energias; não esperam aqui outra multiplicação de pães; e por vezes até procuram afastar os pedintes, queixando-se da amolação que trazem ao grupo, sem nunca supor que serão atendidos por vias extraordinárias.

Limita-se o Mestre a ordenar, como na vez anterior, que o povo se sente organizadamente e, dando graças (aqui Mateus e Marcos usam o verbo eucharistêsas - empregado por João na primeira cena - ao invés de eulógêsen que haviam escrito), partiu os pães e fê-los distribuir juntamente com os peixinhos.

Os evangelistas anotam terem sido quatro mil os convivas, esclarecendo Mateus "sem contar mulheres e crianças". Esse número também comprova a duplicidade de ações; fora criação ou acréscimo, o natural seria vermos a proporção aumentada: 5 pães para 5. 000 pessoas - 7 pães para 7. 000 pessoas. O contrário é que se verifica: aumenta o número de pães e decresce o de convivas.

Tendo-se realizado o prodígio entre não-judeus, observamos que não houve nenhum movimento para colocar uma coroa real na cabeça do taumaturgo.

Mateus e Marcos, que não registaram a aula consequente à primeira multiplicação dos pães - só narrada por João, cap. 16 - apresentam, sob forma de novo simbolismo, o avanço necessário. Observamos, então, que os números variam: sete, em lugar de cinco.

SETE, nos arcanos, significa vitória, exprimindo a "afirmação da Divindade, do Espírito, sobre a matéria; da lei do Ternário sobre o Quaternário a lei do domínio sobre o mundo das causalidades. No plano humano é o caminho bem escolhido, ou seja, o triunfo sobre as provações. No plano físico é o êxito realizador, a vitória sobre os obstáculos criados pela inércia da matéria" (Serge Marco to une, "La Science Secrete des Initiés", pág. 95).

É nesse arcano SETE que está construído o planeta Terra e tudo o que nele habita, porque é neste planeta Terra que a humanidade terá que conquistar a vitória final do Espírito sobre a matéria; aqui vencerá a Divindade. Daí ser esse número considerado cabalístico desde a mais remota antiguidade, com forte vibração e potencialidade insuperável.

Na primeira lição, tivemos CINCO pães para CINCO mil pessoas: é a Vontade ou Providência divina a governar o mundo, sustentando-o e alimentando-o (veja vol. 3. º); nesta segunda aparecem SETE pães para QUATRO mil pessoas, ou seja, é a vitória do Espírito (tríade superior) sobre a matéria (quaternário inferior). Na outra, os discípulos (Espírito) pedem ao Mestre a alimentação; nesta, a iniciativa de dar parte do Mestre, da Individualidade: é que a primeira exprime o primeiro movimento do livre-arbítrio do eu pequeno (personalidade ou personagem) que busca a espiritualização; nesta aparece a resposta espontânea em que o Espírito atende à solicitação anterior.

Outro ponto a considerar é que na primeira são recolhidos DOZE cestos: material que seria distribuído através dos DOZE emissários às multidões famintas (profanos, não-iniciados); mas na segunda o sobejo é recolhido em SETE cestas; não é mais para distribuição do material aos profanos: é o lucro obtido com a vitória do Espírito sobre a matéria. Daí a minúcia da modificação da palavra empregada, de kophínos para spurídas, isto é, de cestos para cestas, de um recipiente menor (menos valia) para um maior (mais valia).

Sob o ponto de vista espiritual, a lição é evidente e fácil: aqueles que aspiram ao Supremo Encontro, têm que passar pela via-purgativa (a fome ou jejum de três dias); depois pela via contemplativa (prece ou meditação, sentados na terra nua); e finalmente pela via unitiva (a assimilação do alimento espiritual), obtendo-se, por fim, o fruto dessa união (as sete cestas). Em poucas linhas simbólicas, os evangelistas Mateus e Marcos resumiram a lição dada, por extenso, pelo evangelista João.




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Mateus 15:32

E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias, e não tem que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho.

mt 15:32
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Mateus 15:33

E os seus discípulos disseram-lhe: Donde nos viriam num deserto tantos pães, para saciar tal multidão?

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Mateus 15:34

E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete, e uns poucos peixinhos.

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Mateus 15:35

Então mandou à multidão que se assentasse no chão.

mt 15:35
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Mateus 15:36

E, tomando os sete pães e os peixes, e dando graças, partiu-os, e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos à multidão.

mt 15:36
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Mateus 15:37

E todos comeram e se saciaram: e levantaram, do que sobejou, sete cestos cheios de pedaços.

mt 15:37
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Mateus 15:38

Ora os que tinham comido eram quatro mil homens, além de mulheres e crianças.

mt 15:38
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Marcos 8:1

NAQUELES dias, havendo mui grande multidão, e não tendo que comer, Jesus chamou a si os seus discípulos, e disse-lhes:

mc 8:1
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Marcos 8:2

Tenho compaixão da multidão, porque há já três dias que estão comigo, e não têm que comer.

mc 8:2
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Marcos 8:3

E, se os deixar ir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho, porque alguns deles vieram de longe.

mc 8:3
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Marcos 8:4

E os seus discípulos responderam-lhe: Donde poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto?

mc 8:4
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Marcos 8:5

E perguntou-lhes: Quantos pães tendes? E disseram-lhe: Sete.

mc 8:5
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Marcos 8:6

E ordenou à multidão que se assentasse no chão. E, tomando os sete pães, e tendo dado graças, partiu-os, e deu-os aos seus discípulos, para que os pusessem diante deles, e puseram-nos diante da multidão.

mc 8:6
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Marcos 8:7

Tinham também uns poucos de peixinhos; e, tendo dado graças, ordenou que também lhos pusessem diante.

mc 8:7
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Marcos 8:8

E comeram, e saciaram-se; e dos pedaços que sobejaram levantaram sete alcofas.

mc 8:8
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Marcos 8:9

E os que comeram eram quase quatro mil; e despediu-os.

mc 8:9
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Atos 9:25

Tomando-o de noite os discípulos, o desceram, dentro dum cesto, pelo muro.

at 9:25
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