Sabedoria do Evangelho - Volume 6
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O RICO E LÁZARO
LC 16:19-31
Aqui deparamos outra parábola com ensinos seguros a respeito do plano astral, como consequência imediata da vida neste plano terráqueo. Temos a impressão, por isso, de que as duas foram narradas seguidamente, pois havendo falado nas "casas" (vers.
4) "deste eon" (vers.
8) e nas "tendas do (outro) eon" (vers. 9), era interessante, e até conveniente, que o ensino prosseguisse no esclarecimento das realidades ocorrentes em uma e outra "localização" das criaturas.
Alguns "pais da igreja" julgaram tratar-se de fato verídico, como se depreende da versão copta saídica e de um escólio do grego, que dão o nome de Níneve ao rico, denominado Píneas por Prisciliano ("Tractatus" IX) e pelo pseudo-Cipriano ("De Pascha Comp. ", 17). A dedução é feita em virtude de constar o nome Lázaro, pois não é da técnica parabólica a citação de nomes próprios. No entanto, justificase o aparecimento do nome, já que não poderia mais designar-se por "o mendigo", quando este tivesse chegado à nova situação "no seio de Abraão".
Destaca o ensino, o contraste entre a grande riqueza e a extrema miserabilidade. O manto de púrpura e as túnicas de linho fino (byssos) eram a roupa normal dos grandes ricos da época. E o "banquetear-se alegremente" (euphraínô) confirma o padrão elevado de vida.
Ao lado disso, aparece o pobre, com o nome apropriado de Lázaro (diminutivo de Eleazar, que signific "Deus ajuda"). Descrito como "mendigo" (ptôchós) que, além de nada possuir, se achava coberto de chagas (eílkôménos) e permanecia deitado, sem poder movimentar-se, de tal forma que nem conseguia afastar os cães que lhe vinham lamber as úlceras.
O verbo bállô, no mais que perfeito passivo, de sentido continuativo (ebéblêto) indica que ali "fora deitado" e ali continuava sem de lá sair. E disso deduzimos que, quando ele "desejava saciar-se com a sobra da mesa do rico", ele o conseguia. Não fora assim, teria buscado outro local. Não corresponde, pois, à realidade o acréscimo da Vulgata Clementina: et nemo illi dabat ("e ninguém lho dava"), sem nenhum apoio nos códices gregos. Provavelmente foi para aí trazido da parábola do "filho pródigo" (LC
Lázaro, afinal, larga seu corpo chagado e é conduzido pelos espíritos protetores ao "seio de Abraão".
Mais tarde também o rico abandona o corpo nédio, que é sepultado com as honras de praxe. Aqui tamb ém a Vulgata trouxe, por paralelismo, o início do vers. 23 para o final do vers. 22, sublinhando a oposi ção entre "o pobre no seio de Abraão" e "o rico sepultado no inferno". Mas não há justificativa em nenhum original grego. Inclusive o tratamento trocado entre Abraão, que chama o rico de "filho" (tékna) e este que a ele se dirige respeitosamente como "pai", demonstra que o rico não estava no "inferno".
A crença israelita da época dizia que todos os desencarnados se localizavam num só sítio, o cheol (em grego hades, que é o termo aqui empregado), que se dividia em vários planos, pois lá se encontravam bons e maus, santos e criminosos, patriarcas e ladrões e todos se viam e podiam comunicar-se. Não era, portanto, em absoluto, a ideia de "céu" e "inferno" que posteriormente se formou em muitas seitas cristãs. A expressão "seio de Abraão", isto é, "regaço de Abraão" era o plano mais elevado, dirigido pelo patriarca fundador e "pai" de todos os israelitas. Mas não se pense que os espíritos desencarnados eram literalmente "carregados no colo", pelo velho patriarca...
Conforme vemos, a descrição feita por Jesus do mundo astral é muito mais conforme aos ensinos espiritistas que a outras teorias: o plano é o mesmo, só existindo, entre os diversos níveis, uma distância vibratória; elevada e trazendo bem-estar aos que haviam descarregado na vida física, pela catarse, todos os fluidos pesados agregados ao corpo astral; e trazendo sofrimento, por sua vibração baixa e portanto carregada de calor e queimante com o fogo purificador, aos que haviam transcorrido vida viciada no plano físico.
Permanecendo, pois, no hades, em provação (básanos, o lápis Lydius dos latinos, era uma "pedra de toque", com a qual se reconhecia o ouro. Trata-se, portanto, da "experimentação" ou provação a que são submetidos os desencarnados que necessitam purificar-se) sofria a dor da limpeza pelo fogo purificador que queima os agregados do corpo astral. É quando levanta os olhos e vê Abraão e, no círculo por ele governado, o ex-mendigo Lázaro. Lembra-se de que, na Terra, ele o favorecia com os restos de sua mesa e lhe permitia ficar deitado junto ao portão de sua casa. Suplica, então, que Abraão lhe envie Lázaro, após mergulhar o dedo na água, a fim de trazer-lhe um pouco de refrigério, pois o que mais o martiriza é a sede. Pede pouco (uma gota d’água) porque também dera pouco (as sobras apenas).
Responde Abraão a seu "filho" que sofre, explicando-lhe o mecanismo da Lei de causa e efeito. O rico recebera todas as facilidades, e delas se servira abusivamente, não cogitando de, com ela, servir generosamente.
Agora tinha que suportar a dor da limpeza, para purificar-se e evoluir. No entanto, essa fase já fora superada por Lázaro, que fizera sua purificação através da mesma dor na vida terrena. Já pronto, achava-se agora reconfortado. Ambos tinham que sofrer as mesmas operações. Mas enquanto Lázaro as suportara no corpo, o rico preferira aproveitar sua existência em gozos e prazeres, adiando a limpeza para o plano astral - Tivesse, pois, paciência.
Completando a ilustração, explica-lhe que "’em todas aquelas regiões" (en pãsi toútois) há verdadeiros abismos vibratórios entre um plano e outro, tirando qualquer possibilidade de transitar-se de um a outro: o rádio de onda longa não tem possibilidade de sintonizar a onda curta, nem vice-versa; há entre as duas frequências. verdadeiro abismo.
O rico compreende a lição e conforma-se. Mas, possuidor de bons sentimentos, recorda-se de que deixou encarnados no planeta mais cinco irmãos, que moram com seu pai. E preocupa-se com o futuro estado deles. Se a dificuldade de ele receber o alívio reside na distância vibratória imensa, certamente esse empecilho não existirá entre o hades e o plano físico. Lázaro não poderia aparecer na casa de seu pai terreno para avisar a seus irmãos?
Abraão faz-lhe ver que, na Terra, seus irmãos já receberam toda a elucidação possível da parte de Mois és e dos profetas, cujas obras costumam ouvir lidas aos sábados nas sinagogas. Essa orientação é-lhes suficiente para dirigir corretamente suas vidas. Mas o rico, que desencarnara havia pouco, lembra-se bem de que também ele não dera atenção a Moisés e aos profetas: a leitura daqueles textos consistia simplesmente numa rotina tradicional, sem qualquer influência maior na prática da vida. E se algu "defunto" aparecesse causaria tamanha sensação, que certamente eles ficariam alertados e acertariam o rumo de suas existências, pois "mudariam a mente", renovando suas crenças.
Mas Abraão conhece bem a humanidade. E sabe que, mesmo depois de 2. 000 anos. ainda continuará igual: de nada adiantará o aparecimento de "fantasmas", por mais comprovado que seja: todos quase continuarão descrentes, duvidando de tudo. Não será a aparição de espíritos que os persuadirá (como até hoje ocorre). Terão que modificar-se de dentro para fora, e não com acontecimentos exteriores, por mais sensacionais que sejam.
Verificamos, pois, que o rico não é condenado pelo fato de não haver atendido ao pobre - porque, embora minimamente, ele o atendeu - mas é ensinada, apenas, através do contraste chocante de situações na terra e no plano astral, a lei de causa e efeito, que age nos dois planos (físico e astral) que são interligados e interpenetrantes.
A lição é por demais preciosa, sobretudo por vir trazer confirmação de muitas obras espiritualistas (Antonio Borgia, Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira e muitos outros) que são recusadas pelas igrejas ortodoxas.
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Lucas 16:19
Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente.
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Lucas 16:20
Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele.
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Lucas 16:21
E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas.
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Lucas 16:22
E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio d?Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.
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Lucas 16:23
E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.
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Lucas 16:24
E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.
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Lucas 16:25
Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado;
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Lucas 16:26
E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tão pouco os de lá passar para cá.
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Lucas 16:27
E disse ele: Rogo-te pois, ó pai, que o mandes a casa de meu pai.
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Lucas 16:28
Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.
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Lucas 16:29
Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.
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Lucas 16:30
E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.
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Lucas 16:31
Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.
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Lucas 15:16
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
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