Sabedoria do Evangelho - Volume 7

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CAPÍTULO 18

INCREDULIDADE DOS JUDEUS

JO 12:37-43


37. Apesar de tantos sinais realizados diante deles, não lhe eram fiéis,

38. para que se cumprisse a palavra que disse Isaías, o profeta: Senhor, quem acreditou no que ouviu de nós? e a quem foi revelado o braço do Senhor?

39. Por isso não podiam crer, porque de novo disse Isaías:

40. Cegaram-se os olhos deles e endureceu-se o coração deles, para que não vejam com os olhos nem entendam no coração, nem se voltem e eu os cure.

41. Isso disse Isaías porque viu a doutrina dele e falou sobre ele.

42. Contudo, apesar disso, muitos até dentre as autoridades acreditaram nele mas, por causa dos fariseus, não se uniam a ele, para que se não tornassem excomungados,

43. pois amavam a doutrina dos homens mais que a doutrina de Deus.



Terminadas as palavras reveladoras aos gregos, não deu o evangelista o resultado dessa entrevista.

Mas, pelo comentário escrito a respeito da descrença dos judeus, com os quais o Mestre convivera alguns anos, e diante dos quais realizara tantos sinais inequívocos da Sua missão superior, temos a nítida impressão de que os gregos Lhe protestaram fidelidade incondicional. E foi isso o que mais deve ter impressionado o discípulo amado: como é que aqueles estrangeiros haviam bebido em rápida entrevista os ensinos de Jesus, e os judeus... "apesar de tantos sinais (e aqui João emprega o termo iniciático sêmeion) não acreditavam nele"?

A única explicação desse fato incrível, vai buscá-lo o narrador na profecia de Isaías (Isaías 53:1). A esse respeito, Agostinho (Patrol. Lat. vol. 52, col. 1
276) avisa-nos prudentemente que "A profecia não é a causa do fato, mas simplesmente vê antes, tanto quanto a memória vê depois. Mas o fato é independente da profecia, tanto quanto da memória que o relembra".

Isaías pergunta ao Senhor Deus dele (a "Seu Guia"), em tom de queixa: "quem acreditou no que ouviu de nós? E a quem foi revelado o braço do Senhor"? - ou seja, a quem se tornou manifesto o poder superior?

A explicação do fato de não acreditarem nem serem fiéis, o próprio Isaías o revela em outro passo 6:9-3, já citado em MT 13:14-15 e em MC 4:12, quando é explicada a razão de Jesus falar em parábolas (cfr. vol. 3). Como lá escrevemos, não se trata de poderes superiores que impeçam a evolução dos homens, cegando-os, mas, ao contrário: são os homens que NÃO QUEREM voltar-se e ser curados, e por isso fecham os olhos (cegam) e endurecem o coração.

Até aqui tudo regular e compreensível. Mas João lança uma afirmativa séria: "Isaías (Esaias) disse (eípen) isso (taúta) porque (hóti) (1) viu (eíden) a doutrina (dóxan) dele (autoú) e falou (kai elálêsen) a respeito dele (perì autoú)".


(1) hóti ("porque") nos papiros 66:75; códices sinaítico, A, B, L, X, theta, psi, f. 1, 33, 1071, 1546, ítala "e", siríaca palestiniana, copta saídica, boaírica, achmimiana 2, armênia, Orígenes latino, Ambrosiaster, Hilário, Dídimo, Epifânio, Crisóstomo, None, Cirilo; hóte ("quando") em D, K, delta, pi, f. 13 565:700-892, 1009, 1079, 1195, 1216, 1230, 1241,

1242, 1344, 1365, 1646, 2148, 2174, ítala a, aur. b; c; d; f; ff2; q, r1; vulgata, siríaca peschitto, harcleense, gótica, etiópica, georgia (?), Diatessáron, Orígenes latino, Eusébio, Ambrosiáster, Hilário, Basílio, Dídimo, Crisóstomo.

Como vemos, a preferência por "porque", em lugar de "quando", é baseada apenos nos códices mais antigos (Sinaítico e Vaticano) e nos dois papiros do segundo século: 66 e 75.


Ainda uma vez - perdoem-nos os leitores se os castigamos com repetições - as traduções correntes traze "glória", e assim escrevem: "porque (ou quando) viu a glória dele". Já vimos o sentido de dóxa (vol. 1 e vol. 3). E perguntamos. apenas: como é que vendo a "glória", descobriu o profeta, na realidade, a derrota, por não ter ele conseguido a conversão dos homens? No entanto, se interpretarmos dóxa como "doutrina", há perfeita sequência lógica: vendo Isaías a doutrina, percebeu claramente que muitos homens não na entenderiam e feçhariam olhos, ouvidos e coração. Não é o que ocorre ainda hoje, quando ensinamos que não se deve resistir ao homem mau, que devemos dar a face esquerda quando nos batem na direita, que devemos andar dois mil passos a quem nos obriga a andar mil, que temos que dar a capa a quem quer tirar-nos a túnica? Os próprios homens que se dizem cristãos, espiritualistas e espíritas não reagem com a frase: "Tanto assim, não!" E não brigam na justiça por seus direitos? E não respondem quando criticados? E não reagem quando atacados? E não brigam, até ficar zangados, chegando mesmo a reçusar receber em seu centro os que eles acusaram injustamente, e que desejavam humildemente pedir-lhes perdão? Já vimos médiuns considerados grandes e formidáveis agirem assim

... E quantos padres e pastores têm o mesmo comportamento! Fácil, portanto, a previsão de Isaías.

Isaías viu a doutrina dele e verificou que era elevada demais para a humanidade terrena. Mas como pode Isaías ver a doutrina de Jesus? Logicamente lhe foi revelada por Ele mesmo em Espírito, antes de encarnar, pois era o própria Guia de Isaías, e se apresentava aos médiuns de então com o nome de YHWH. E Sua doutrina era a mesma ensinada nas Escolas de Médiuns (ou de "profetas"), que as havia, como vimos (cfr. vol. 4, nota).

No entanto, João acrescenta que até mesmo "muitas autoridades" aceitaram a doutrina de Jesus, embora às ocultas, achando-a bela, mas "não se uniam a ele", e isso pelo "respeito humano", isto é, pelo temor de serem excomungados pelas autoridades eclesiásticas das sinagogas. Com efeito "amavam a doutrina (dóxa) dos homens mais que a doutrina de Deus".

Isso ocorre ainda hoje... E mais uma vez perguntamos: por que também aqui dóxa é traduzida po "glória" nas edições vulgares? Interessante observar que as traduções correntes dizem: "prezavam mais a glória que vem dos homens, do que a glória que vem de Deus". Alguém já viu Deus vir à Terra para glorificar algum homem? Nem com Jesus ocorreu isso! ... O que dizem certos autores, de glórias recebidas de Deus, são teorias subjetivas e opiniões de criaturas, em seus julgamentos pessoais.


Este trecho do Evangelho de João salienta de forma impressionante as grandes diferenças claramente observáveis entre três tipos de criaturas:

a) as fanatizadas por doutrinas religiosas dogmáticas que, mesmo diante da evidência dos fatos, se recusam a renunciar às suas convicções pessoais: preferem de longe as doutrinas em que aprisionaram seus intelectos, e nada vêem além disso, mesmo diante de provas convincentes ("não acreditaram nele");

b) as educadas em doutrinas religiosas dogmáticas mas que, ou já adquiriram certa capacidade intelectual para raciocinar por si, ou possuem certo grau de intuição; estas, diante de provas irrefutáveis e de fatos incontestáveis, cedem. Mas de tal forma se acham condicionadas ao que lhes foi ensinado desde a infância, que têm medo de afastar-se da trilha que lhes foi dada, ainda que na prática também não na adotem plenamente, pois limitam-se à frequência corporal externa dos ritos, sem que sua mente os compreenda nem aceite ("não se uniam a ele para não serem excomungados");

c) as que se acham totalmente libertas de dogmas religiosos criados pelos homens, quer porque seu intelecto já os repeliu definitivamente, quer porque suas dúvidas racionais os deixaram tão incrédulos, que se acham prontos a aceitar aquilo que lhes chegue apoiado em provas de razão e em fatos indiscutíveis. São os "maduros" para "receber o Reino de Deus". E quando encontram a verdade, ainda que fora dos rebanhos em que foram criados, sabem discernir o falso do certo, e acompanham os Emissários divinos que lhes venham revelar novos caminhos ("quem me tem fidelidade, não é a mim que a tem, mas a Quem me enviou").


Ainda hoje encontramos essas três espécies de criaturas, bem definidas, além de uma quarta, que fica fora de cogitação: a) os religiosos fanáticos que nem querem ouvir falar de espiritualismo; b) os que de manhã "vão à missa", e de noite vão buscar sua receita no Centro Espírita, c) os que, sendo superiores em perceção espiritual, não temem abandonar o redil, porque reconhecem a "voz do pastor" verdadeiro fora dele; d) os que, ainda demasiadamente materializados e animalizados, nada querem com o Espírito, permanecendo agarrados somente às sensações físicas e às emoções de baixo teor vibratório .

Um dia tornar-se-á realidade geral a verdade de que nenhum ser humano deverá ser escravizado pelo temor moral de castigos, quer se digam falsamente de origem divina, coma o inferno eterno, quer sejam impostos por "guias" (?) de grande atraso evolutivo, que ainda ameaçam desastres aos que os abandonarem para buscar outros "Centros".

A Divindade está dentro de todas as Suas criaturas e envolve-as por todos os lados, deixando-lhes liberdade de escolha, pois só aprenderá a escolher o certo, quem tiver sofrido as dores cruciais de seu equívoco ao escolher o errado: um aprendizado de experiências pessoais conscientes cujo professor é o Sofrimento.

Então, se a Divindade nos deixa livres, qual é o homem ou o espírito desencarnado que seja tão ignorante a ponto de julgar-se com direitos e sabedoria superiores aos de Deus?

O grande caso triste nas tarefas iluminativas do Espírito, é que a grande massa humana ainda se encontra nos primeiros degraus do estágio hominal, só há muito pouco tempo saída, e não de todo, da irracionalidade animal, e não tem capacidade para vislumbrar a verdade espiritual. Pouquíssimos conseguem realmente perceber as vibrações puras e elevadas dos Mestres de Sabedoria, e são ainda em menor número os que deixam tudo para seguí-Los, "muitos são os chamados, poucos os escolhidos" (MT 20:16 e MT 22:14).

Então ocorre exatamente o que disse Isaías: têm olhos e não vêem, têm ouvidos e não ouvem, porque seus olhos parece que cegaram, e seu coração se endureceu de maneira que nada entendem e não se voltam da matéria para o espírito a fim de serem curados de suas dores e sobretudo de sua ignorância.


A doutrina de Jesus - que só falou o que recebeu do Pai - é Doutrina Eterna, conhecida desde que o Espírito se manifesta no planeta Terra (para não falarmos em outros mundos habitados). Essa doutrina chegou-nos em diversos pontos, desde as eras mais remotas, por meio de vários sublimes Manifestantes Divinos. Será preciso citar o Tibet, a China, a Índia, a Pérsia, a Caldeia, o Egito, e a própria Grécia, através de Pitágoras, Sócrates e Platão? Não foi a Palestina o único centro da Revelação, embora tenha sido um dos mais recentes no tempo, e a lição tenha sido trazida por um dos seres humanos mais evoluídos e mais intimamente ligados aos componentes da humanidade há milhões de séculos (cfr. vol. 1 e vol. 5, onde estudamos o assunto). Por tudo isso, a doutrina de YHWHYH(

SH)WH - yahweh-yehshwah - era bem conhecida de Isaías e de todos os profetas (médiuns) que a estudavam nas Escolas Iniciáticas de Profetismo e a viviam na prática dos exercícios religiosos mais rigorosos, onde as revelações do oriente mais remoto já haviam chegado, pois a ligação entre as Escolas era fato concreto, não só por meio das viagens dos Mestres encarnados que perambulavam pelas ínvias estradas do mundo de então, como pelas lições trazidas pelos desencarnados que se comunicavam e que, embora tivessem pertencido a um centro iniciático, reencarnavam em outro, a fim de tornar universais as experiências conquistadas, beneficiando a humanidade toda.

Aqui ainda aparece mais uma vez o verbo hômologéô, ao qual atribuímos (vol.
5) o sentido de "sintonizar" e portanto "unir-se", ou talvez melhor "unificar-se", falando no mesmo tom, falando (logéô) no mesmo tom (hômo), vibrando na mesma nota.




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João 12:37

E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele;

jo 12:37
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João 12:38

Para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? e a quem foi revelado o braço do Senhor?

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João 12:39

Por isso não podiam crer, pelo que Isaías disse outra vez:

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João 12:40

Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure.

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João 12:41

Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele.

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João 12:42

Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.

jo 12:42
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João 12:43

Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.

jo 12:43
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Mateus 13:14

E neles se cumpre a profecia d?Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis.

mt 13:14
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Mateus 13:15

Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.

mt 13:15
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Marcos 4:12

Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que se não convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.

mc 4:12
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Mateus 20:16

Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.

mt 20:16
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Mateus 22:14

Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.

mt 22:14
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