Sabedoria do Evangelho - Volume 8

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CAPÍTULO 18

OUTRAS NEGAÇÕES

MT 26:71-75


71. Saindo, pois, para o vestíbulo, outra viu-o e disse aos dali: este estava com Jesus o nazoreu.

72. E de novo negou com juramento: "não conheço esse homem".

73. Depois de pouco, chegando, os presentes disseram a Pedro: Realmente também tu és um deles, pois até teu sotaque o faz manifesto

74. Então começou a amaldiçoar e jurar: "Não conheço esse homem". E imediatamente o galo cantou.

75. E lembrou-se Pedro da palavra de Jesus, que disse: "Que antes de o galo cantar, três vezes me negarás". E indo para fora, chorou amargamente.

LC 22:58-62


58. E depois de pouco, vendo-o outro, disse: Também tu és um deles. Mas Pedro disse: Homem, não sou.

59. E tendo passado cerca de uma hora, outro asseverava, dizendo: Em verdade também este estava com ele, pois também é galileu.

60. Mas Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. E imediatamente, ainda falando ele, o galo cantou.

61. E voltando-se o Senhor olhou para Pedro e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe disse: "Antes de o galo cantar hoje, três vezes me negarás".

62. E indo para fora, chorou amargamente.

MC 14:69-72


69. E vendo-o a criada, veio de novo dizer aos presentes: este é um deles.

70. Mas ele de novo negou. E depois de pouco, outra vez os presentes disseram a Pedro: Realmente és um deles, pois também és galileu.

71. E ele começou a amaldiçoar e jurar: "Não conheço o homem de quem falais".

72. E imediatamente pela segunda vez o galo cantou. E lembrou-se Pedro da palavra que lhe disse Jesus: "Antes de o galo cantar duas vezes, três me negarás". E tendo caído em si, chorava.

JO 18:25-27


25. Estava, pois, Simão Pedro em pé, aquecendose. Então lhe disseram: Não és também tu dos discípulos dele? Ele negou e disse: Não sou.

26. Disse um dos servos do Sumo-Sacerdote, parente daquele de quem Pedro cortara a orelha: Não te vi eu no jardim com ele?

27. De novo então Pedro negou: e imediatamente o galo cantou.



Alguns comentadores, ao reunir os textos evangélicos, acharam que Pedro não fizera apenas três negações; chegaram alguns a contar até sete. Cajetan (Comment. in Joannem, 18:
77) escreveu: unde collígitur quinquies ad minus Petrum negasse, ter ad vocem mulíeris, et bis ad minus ad vocem virorum, isto é, "donde se conclui ter Pedro negado pelo menos cinco vezes, três à objeção da mulher e duas, no mínimo, às dos homens" ...

Desenho de Bida, gravura de Édouard Hédouin Não há razão para isso, se considerarmos que as ações se passaram no tumulto das conversas do grupo.

Portanto, temos três atos, cada um isolado do outro, mas considerado uma negação em bloco, embora tivesse havido, no bate-boca, várias objeções e respostas em cada ato. Assim interpretou Agostinho (Patrol. Lat., vol. : 36, col. 1170/71).

Passou-se o primeiro ato com a porteira, com três intervenções: uma à entrada, outra logo a seguir quando ela foi observá-lo no pátio à luz da fogueira; a terceira quando, depois da retirada estratégica de Pedro para o vestíbulo, ela ou outra afirma ao grupo: "este era um deles". As três vezes que Pedro disfarça e nega, constituem UMA NEGAÇÃO, a primeira.

O segundo ato foi mais simples, e só aparece em Lucas: é a acusação de um homem, que não causou muito tumulto: era palavra contra palavra, mas sem provas.

O terceiro ato ocorreu cerca de uma hora depois, como bem assinala Lucas, e desta vez o tumulto foi grande. Em primeiro lugar, a afirmação deduzida pelos presentes diante do sotaque de Pedro, que não aguentou ficar calado; e sua pronúncia do aramaico (idioma então usado entre as classes iletradas, que não assimilaram o grego como as classes média e alta), o traiu: "Sem dúvida és um deles, pois teu sotaque o revela". E, ao negar, outro acrescenta: "Mas eu te vi no grupo". E João, que conhecia os servos do Sumo-Sacerdote (não a própria pessoa dele, como anotamos páginas atrás), o identifica como parente de Malco.

E logo a seguir o galo canta pois já estamos na terceira vigília, denominada justamente alektotophônías, isto é, "o cantar do galo", entre meia-noite e três da manhã (cfr. vol. 7).

Estabelecido o cursus actionum, vejamos outros pormenores.


O sotaque galileu era facilmente identificado pelos judeus, que zombavam e criavam anedotas a esse respeito. Strack e Billerbeck (o. c., t., 1, págs.
157) narra est: "um galileu perguntou a um judeu: -

Quem tem um AMR? Os judeus presentes riram e perguntaram: - Oh! tolo, que queres tu? um asno (hamôr) para montar, vinho (hamar) para beber, lã (hhamar) para vestir, ou um cordeiro (immar) para comer"?

O verbo "amaldiçoar" é dado com um verbo que raramente aparece nos documentos escritos, pois deve ter sido uma corruptela da língua falada: katathematízein, em lugar de katanathematízein.

Jerônimo (Patrol. Lat., vol. 26 col.
201) escreveu em defesa de Pedro: illi fugiunt, iste, quamquam procul, séquitur tamen Salvatorem, ou seja, "eles fogem, mas este, embora de longe, contudo segue o Salvador". Isso apesar de afirmar mais adiante (col.
203) que foi grave o erro de Pedro, não devendo ser procurada atenuante para o caso.

O "canto do galo" ocorre, pela primeira vez, entre meia-noite e duas da madrugada. E pela segunda vez aos primeiros indícios antes que a luz do sol comece a iluminar a região, entre quatro e cinco horas da madrugada. Pedro reforça a negação, porque quer permanecer ao lado do Mestre o mais que puder, e tinha interesse em despistar de si a atenção, em vista de haver ferido Malco.

A essa hora, Jesus devia estar saindo da sala de audiência no primeiro pavimento e descendo para o pátio, ainda algemado, para ser preparado e levado ao Sinédrio, a fim de ser interrogado e julgado, logo que o sol surgisse. Entre todo o grupo, distingue com Seu olhar percuciente o querido discípulo Pedro que, ao ver-Lhe o olhar triste e bom, e ao ouvir os insistentes cantos do galo, se lembra da previs ão do Rabbi amado e se perturba de tal forma, que sai rápido do palácio de Caifás e prorrompe num choro convulsivo, em certo local onde, no 5. º ou 6. º século foi construída uma igreja que recebeu a denominação de "São Pedro in galli cantu".

E ele que dissera que O seguiria até a morte!

Lição dura, mas proveitosa, contra a PRESUNÇÃO que todos temos, de que somos melhores que os outros e de que temos capacidade absoluta de resistir a qualquer prova. Para todos nós é muito fácil depreciar as façanhas alheias, menosprezar a coragem demonstrada pelos outros, ou acusar de covardia uma desculpa que permita a penetração em local proibido, contanto que se acompanhe um amigo na hora do perigo.

Pedro NEGOU conhecer seu Mestre, mas não o RENEGOU: proferiu sons com a boca, mas o coração Lhe permanecia fiel, tanto que ali se meteu, no local do maior perigo, para não abandoná-Lo. Suas negações verbais eram meramente escanteios para conservar-se ao lado de Jesus.

Seu choro vem sendo interpretado há dois mil anos como arrependimento profundo de tê-Lo negado.

Não poderia ter sido antes o choque de ver que não havia sido libertado, mas ao invés era levado a julgamento, sem que ele pudesse acompanhá-Lo? Não poderia ter sido o desespero da impotência de arrancá-Lo das mãos dos captores? Não poderia ter sido pela decepção da certeza de que a força e os poderes de seu Mestre tudo venceriam com facilidade, e que ali falhavam?

Os três sinópticos falam do choro, assinalando que irrompeu depois de ter ouvido Pedro o canto do galo. Lucas acrescenta o pormenor do olhar de Jesus. E Marcos emprega a expressão epibalôn, particípio aoristo segundo, composto de epí ("sobre") e bállô ("lanço"). Interpretamos como o "lançamento sobre si mesmo" ou seja a conscientização das circunstâncias, que tiveram o condão de desSABEDORIA DO EVANGELHO pertá-lo para o fato que se passava, reavivando-lhe a memória da previsão do Mestre, de que ele o negaria.

A sucessão rápida e imprevisível dos acontecimentos dolorosos naquela noite cheia de ocorrências choca profundamente a emotividade de Pedro, cujo corpo astral já se achava saturado de fluidos barônticos de tristeza, desapontamento, mágoa, ansiedade, angústia, medo, desorientação, dúvida e também arrependimento; e quando riscou o ar a física de som e de luz (o canto do galo e o olhar de Jesus), se produziu intensa a centelha eletrolítica que fez arrebentar o dique que represava a emoção, e abriu em catarata suas lágrimas incontroláveis, que borbotaram abundantes, aliviando a pressão interna e purificando o corpo astral. Lágrimas, válvula de escape, de que a natureza dotou o homem, para que pudesse suportar os grandes impactos emotivos.

A negação de Pedro, naquela circunstância, constituiu uma estratégia inteligente não a covardia dos que renegam para vender-se ao partido contrário: negou para afirmar e confirmar sua adesão ao Mestre.

Pedro NECOU conhecer seu Mestre, mas não o RENEGOU, proferiu sons com a boca, mas o coração Lhe permanecia fiel, tanto que ali se meteu, no local do maior perigo, para não abandoná-Lo. Suas negações verbais eram meramente escanteios para conservar-se ao lado de Jesus.

Seu choro vem sendo interpretado há dois mil anos como arrependimento profundo de tê-Lo negado.

Não poderia ter sido antes o choque de ver que não havia sido libertado, mas ao invés era levado a julgamento, sem que ele pudesse acompanhá-Lo? Não poderia ter sido o desespero da impotência de arrancá-Lo das mãos dos captores? Não poderia ter sido pela decepção da certeza de que a força e os poderes de seu Mestre tudo venceriam com facilidade, e que alí falhavam?

Os três sinópticos falam do choro, assinalando que irrompeu depois de ter ouvido Pedro o canto do galo. Lucas acrescenta o pormenor do olhar de Jesus. E Marcos emprega a expressão epibalôn, particípio aoristo segundo, composto de epí ("sobre") e bállô ("lanço"). Interpretamos como o "lançamento sobre si mesmo" ou seja a conscientização das circunstâncias, que tiveram o condão de despertálo para o fato que se passava, reavivando-lhe a memória da precisão do Mestre, de que ele o negaria.

A sucessão rápida e imprevisível dos acontecimentos dolorosos naquela noite cheia de ocorrências choca profundamente a emotividade de Pedro, cujo corpo astral já se achava saturado de fluidos barônticos de tristeza, desapontamento, mágoa, ansiedade, angústia, medo, desorientação, dúvida e também arrependimento; e quando riscou o ar a faísca de som e de luz (o canto do galo e o olhar de Jesus), se produziu intensa a centelha eletrolítica que fez arrebentar o dique que represava a emoção, e abriu em catarata suas lágrimas incontroláveis, que borbotaram abundantes, aliviando a pressão interna e purificando o corpo astral. Lágrimas, válvula de escape, de que a natureza dotou o homem, para que pudesse suportar os grandes impactos emotivos.

A negação de Pedro, naquela circunstância, constituiu uma estratégia inteligente, não a covardia dos que renegam para vender-se ao partido contrário: negou para afirmar e confirmar sua adesão ao Mestre.




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Mateus 26:71

E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o nazareno.

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Mateus 26:72

E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem.

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Mateus 26:73

E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia.

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Mateus 26:74

Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.

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Mateus 26:75

E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou amargamente.

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Lucas 22:58

E, um pouco depois, vendo-o outro, disse: Tu és também deles. Mas Pedro disse: Homem, não sou.

lc 22:58
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Lucas 22:59

E, passada quase uma hora, um outro afirmava, dizendo: Também este verdadeiramente estava com ele, pois também é galileu.

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Lucas 22:60

E Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo.

lc 22:60
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Lucas 22:61

E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.

lc 22:61
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Lucas 22:62

E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.

lc 22:62
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João 18:25

E Simão Pedro estava ali, e aquentava-se. Disseram-lhe pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.

jo 18:25
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João 18:26

E um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no horto com ele?

jo 18:26
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João 18:27

E Pedro negou outra vez, e logo o galo cantou.

jo 18:27
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Marcos 14:69

E a criada, vendo-o outra vez, começou a dizer aos que ali estavam: Este é um dos tais.

mc 14:69
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Marcos 14:70

Mas ele o negou outra vez. E pouco depois os que ali estavam disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também galileu.

mc 14:70
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Marcos 14:71

E ele começou a imprecar, e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.

mc 14:71
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Marcos 14:72

E o galo cantou segunda vez. E Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás tu. E, retirando-se dali, chorou.

mc 14:72
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