As Chaves do Reino

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CAPÍTULO 35

EU TE DAREI AS CHAVES DO REINO - O QUE VIVO E FUI MORTO - O IRMÃO ENTREGARÁ À MORTE O IRMÃO

Na continuidade de esforços pela apropriação de conteúdos morais do Evangelho, vamos alcançando a geratriz da Verdade, que já nos tange o plano das percepções íntimas, assegurando-nos um material de ordem subjetiva, que passa a nortear nossos passos objetivos na existência. Seria como o sol, que deixa irradiar de si suas claridades as quais alcançam diferentes pontos do globo de modo diverso, uma vez que, se não há nuvens, ocorre o contato direto, mas, havendo empecilhos, a luz solar chega por tabela, de modo indireto. Temos aprendido as lições de Jesus por mecanismos de fuga do foco objetivo mas a Doutrina Espírita recoloca Jesus e Sua Mensagem no centro dos interesses doutrinários, para esse efeito de afinização, quando nos aproximamos diretamente da vibração crística, sorvendo-lhe os valores essenciais.

Num passo à frente do que já trabalhamos sobre a confissão de Pedro quando esse discípulo alcança a clara compreensão espiritual da natureza divina do Mestre, identificando-O como aquele que "reflete" com segurança e pureza, a "imagem" do Criador e Pai - por isso é o "Cristo", produto direto e dinâmico do Altíssimo –, vamos focar nossa atenção no significado da resultante dessa percepção de Pedro: "Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (MT 16:18). Vamos entender que a projeção mental de Simão, no plano da intuição genuína, o remete ao âmago da Verdade Divina, e isso o potencializa, porque tira a sua individualidade do personalismo do acanhamento moral em que respirava até aquele momento, seja por ignorância ou por acomodação moral. Esses fatos, promovendo na intimidade das criaturas aqueles insights vigorosos, representam o "retorno" do Espírito à sua origem, em Deus. É o rompimento do "casulo" ou da "cristalização" mental, em que a alma se detém para efeito de saturação vibracional, em nome das recomposições cármicas (expiações) ou de testemunho moral, para fixação de valores. Não é por outro motivo que o Alto nos concita permanentemente ao estudo e à reflexão de ordem superior, tendo em vista a implantação da Boanova de Jesus nos corações. "E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus" (MT 16:19). Podemos compreender, dessa forma, que este texto refere-se às "chaves" que expressam o grande ganho de Pedro, para que tenha acesso ao "Reino", e possa "ligar e desligar na terra", para que o efeito se dê nos "céus". Esse o grande significado do processo evolutivo de ordem íntima, quando o indivíduo alcança níveis superiores de compreensão e confiança, alterando decisivamente seus padrões morais vigentes, no mecanismo das transformações indispensáveis ao progresso.

Essas "chaves" são, em verdade, o precioso patrimônio moral das almas, porque elas sintetizam o "domínio" que a criatura passa a ter sobre ângulos dos acontecimentos do fluxo inestancável da vida, seja na Terra ou no Além. A consciência desperta é a grande chave da evolução, mas existem "chaves" específicas, que permitem à criatura um trânsito mais harmônico no trato com os semelhantes e em situações de prova e aferição. Por exemplo, o perdão é uma chave poderosa, porque ele liberta a criatura das subjugações emocionais psicológicas, espirituais; a humildade é outra chave divina, porque ela permite ao indivíduo a continuidade de sua caminhada, ainda que tenha de se flexionar, realizando o que Paulo escreve às comunidades: "Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns" (I Coríntios 9:22).

Note-se, ainda, que o processo de libertação mental, alcançando padrões de competência espiritual diante da Criação, passa por leis inderrogáveis, que ensejam o triunfo moral em circuitos fechados, os quais a reencarnação define para os seres. Não é por outro motivo que Jesus, a respeito das chaves legadas a Pedro, num primeiro momento refere-se a "tudo o que ligares na terra", para somente depois dizer a respeito de "tudo o que desligares na terra". A própria experiência de cada um de nós vai demonstrando a sabedoria desse processo de libertação dos corações humanos de vícios ou limitações ancestrais.

Para nos vermos livres de atavismos e condicionamentos herdados de muitas existências, temos de usar as chaves do conhecimento superior e, primeiramente, "ligar" na terra, que é o campo operacional e prático das experiências salvadoras, significando isso "acionar" os novos padrões depreendidos da Mensagem cristã ou dos propósitos de amor e sabedoria alcançados. Só depois de "ligar" é que vamos "desligar" o que não mais nos interessa. Resumindo, o "Filho do homem" precisa surgir para desativar o "homem velho", e isso é o que está registrado em MC 13:12: "E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e os farão morrer". Esse processo está descrito no Apocalipse, que é um livro extraordinário, o qual apresenta não a destruição do mundo, como geralmente se considera, a partir das imagens fortes utilizadas por João Evangelista, mas, de outra forma, propõe a reeducação dos seres com base no justo entendimento do Evangelho. O texto referido diz assim: "E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno" (Apocalipse 1:18). Nos estudos do Evangelho, a "morte" é condição dinâmica da vida, em padrões superiores. Se não "morrer", não "ressuscita", num tom acima. Devemos analisar o assunto dentro de um prisma todo especial, levando em conta que, após as provas e os resgates dolorosos nos quais nos sentimos morrer internamente, após favorecimentos do tempo, por meio de circunstâncias que nascem da Providência Divina renascemos mais amadurecidos e mais conscientes do que antes, e, a partir daí, a vida estua, porque nos libertamos de amarras e débitos de retaguarda. Por isso a expressão "o que vivo e fui morto", devendose notar que o exemplo é de Jesus, que se imolou por nós, a fim de manifestar, com Seu exemplo de amor, não somente a imortalidade, mas o triunfo dessa imortalidade no sentido de nos projetar a níveis sempre maiores de percepção e realização. Passamos a compreender, desse modo, o poder da criatura que supera os processos reencarnatórios e provacionais, sendo beneficiada pelas "chaves da morte e do inferno" ou seja, após testemunhar, em humildade e paciência, renúncia e fé amor e perdão, domina conscientemente todas as situações que podem insinuar queda moral, desvio da rota, comprometimento espiritual. A conquista dessas chaves por Pedro fez com que Jesus o definisse por "pedra" (convicção), sobre a qual edificará a "Sua igreja", e contra a qual "as portas do inferno não prevalecerão". De fato, ensina-nos Paulo que "temos um templo" (I Coríntios 3:16), o que significa que cada coração é um templo de Deus. Realmente, o despertamento espiritual e a entrega da criatura à obra do amor caridoso, sob a custódia da fé raciocinada, não mais permitirá que esse ser caia tão facilmente nas malhas das ilusões, pois a vigilância operosa lhe assegura o fluxo da vida - a vida abundante, que Jesus revelou ao mundo.



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Mateus 16:19

E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.

mt 16:19
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Mateus 16:18

Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;

mt 16:18
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Apocalipse 1:18

E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno.

ap 1:18
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Marcos 13:12

E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e os farão morrer.

mc 13:12
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I Coríntios 9:22

Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.

1co 9:22
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I Coríntios 3:16

Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?

1co 3:16
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