O Caminho do Reino

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CAPÍTULO 1
Ilustração tribal

O REINO DOS CÉUS

Todas as operações pertinentes às existências físicas são "negócios" que o Espírito faz em favor de seu desenvolvimento interior, no plano de razão e sentimento conjugados, com um único e supremo objetivo: conquistar o Reino dos Céus.

Esse "Reino" se constitui de valores provados no fogo das provações, e o esforço por sua conquista transforma impulsos primários do instinto em reflexões conscientes, para depois convertê-las em sentimento puro - as virtudes da alma.

O Reino dos Céus, portanto, é a resultante das pelejas reencarnatórias em mundos que oferecem campo para essas operações, assim como a Terra, com seus dois estágios consolidados - o de primitividade, quando a infância do Espírito aprende sobre o meio e é induzida a se reconhecer como indivíduo, e o de expiações e provas, em que as concepções de moral autorizam o Ser a se reconhecer Espírito imortal, regido pela Lei de Causa e Efeito. A Era da Regeneração, que se insinua vertiginosamente a partir das operações de saneamento e depuração cármica que são levadas a efeito nesta hora do Globo, será responsável por consolidar esse reino de virtudes, em que o "novo mandamento" de Jesus ("Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" - JO 15:12) será, efetivamente, a meta, o objetivo supremo das almas já amanhadas em dores e sofrimentos, conscientes do poder de seu livre-arbítrio exercitado sem o pálio da responsabilidade que, então, na Regeneração, se erige por princípio ético de sua jornada.

Os movimentos humanos em torno da proposta de evolução consciente se dão, ainda que uma parcela considerável da Humanidade desconheça sua natureza divina e mesmo donde vêm, o que fazem e para onde vão. Em fluxo e refluxo inestancáveis, migrações de seres asseguram a renovação de valores e propostas, fixando no psiquismo humano os caracteres de vulto, para lucificação das consciências em eclosão no tempo.

Na Parábola da Rede, anotada por Mateus, no 13 de 47 a 52 (MT 13:47-52), identificamos uma das expressões crísticas do Senhor a nos ensejar compreensão da mecânica evolucional que nos prepara o despertamento interior. Jesus cita a "rede" com que buscamos retirar do "mar da vida" todo gênero de peixes. Aí temos o entendimento desse imperativo biológico das experiências, em que a reencarnação, ou seja, a imersão do Espírito em fluidos mais densos, faz com que esse Ser se movimente num plano de ilusões e necessidades aparentes, exatamente para exercer seu poder essencial, os atributos de "Filho de Deus", entre Vontade e Amor, entre Verdade e Comunhão. As experimentações, as vivências capacitam os sentidos humanos ao discernimento, daí a seleção do que é bom (princípios da verdade imortal) daquilo que é deteriorado (mero efeito atrativo, em acordo com as vaidades e ambições da criatura, que estimulam seus movimentos de conquista ou de busca de satisfação, para, em decorrência, fixarem lições da verdade em si mesmos, a partir de desilusões e frustrações de toda ordem).

Todo ciclo de evolução, trabalhado em eras cronológicas na Terra (gerações, civilizações, séculos), libera os "anjos", sinônimo de depuração de princípios, de valores, de virtudes, enquanto os "maus", significando os vícios, os engodos, as deserções e negações do Bem, são retirados do meio dos "justos", isto é, com o advento da Verdade, o discernimento bane a ilusão (satanás, diabo, lúcifer) do contexto evolutivo de quem se projetou na Luz, ao Reino dos Céus.

A ardência da fornalha de fogo, numa alusão ao inferno, ao Hades, configura o báratro das dores e das tormentas conscienciais, que geram desespero, insegurança, infelicidade, mas também consomem as ilusões, por destituir o poder do "ego", estilhaçando-o pelo mecanismo da dor. No plano interno, de realização pessoal, o sofrimento, representando a "fornalha", depura as propostas, o que ocorre com a retomada de consciência ou pelo despertamento espiritual, que, poderoso, torna pó tudo o que até então nutria ou iludia a criatura.

A imagem do "pranto e ranger de dentes" assinala a sensibilização da criatura, por efeito de pressão externa das circunstâncias, quando ocorre a desilusão (o mundo personalista do indivíduo rui).

Se podemos estudar os "escribas" como aqueles que secretariaram os reis de Judá e que fizeram corpo com os fariseus de seu tempo, doutores da Lei que a ensinavam ao povo, quando se fazem verdadeiramente discípulos do Reino dos Céus são "senhores de sua própria casa" interna, pois convertem-se em operários de sua evolução no sentido das revelações (Lei), que conhecem e divulgam. Nesse sentido, reciclam seu aprendizado ancestral e encontram, na sua história de vida - seu tesouro –, coisas novas (conclusões) e velhas (lições que os prepararam para o futuro). Navegando pelo "mar das existências físicas", todos podemos realizar a "pesca maravilhosa" dos valores imperecíveis que permeiam as ilusões e as miragens sugeridas e mantidas por nossa tacanhez moral, a fim de que o Reino dos Céus se reflita por nossa mente, então depurada e desperta.



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