O Caminho do Reino

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CAPÍTULO 3

JESUS ENTROU E SAIU

A missão precípua do Espiritismo é o resgate da mensagem de Jesus para incremento de uma nova era para a Humanidade - o surgimento do "Filho do Homem".

Temos navegado nas águas bonançosas e fecundas da Terceira Revelação utilizando nossas embarcações psíquicas, eivadas de velhos hábitos e duvidosos conceitos, imprimindo, pela leitura tendenciosa e periférica que habitualmente fazemos do Consolador, nossos vícios morais ao movimento espírita, mesclando-o das notas personalistas e utilitárias de nosso modus vivendi.

Em declarado respeito do Criador ao nosso livre-arbítrio, Jesus Cristo - que enfeixa os conteúdos de Verdade e Amor do Pai para nossa Terra - "entra" e "sai" de nosso contexto evolucional, em movimentos oscilatórios que obedecem às circunstâncias formalizadas por nossas escolhas pessoais (AT 1:21). O estudo da mente, tal como apresentado por André Luiz pela via medianímica de Chico Xavier na obra No Mundo Maior, nos auxilia a compreender o real sentido de "céu", tanto quanto o termo utilizado em At - "dentre vós" (AT 1:11). O superconsciente é permanentemente acionado por forças de natureza cósmica, divina, e, por ele, Jesus e seu Evangelho se fazem sentir, como luz radiosa e fecunda. São os instantes de lucidez e discernimento, promovendo a desmontagem que as emoções tumultuárias estabelecem por associações do desejo com a imaginação. Ainda em Atos, no capítulo 1, versículo 10, quando Pedro e os discípulos observam, com os olhos fitos ao céu, a elevação do Senhor, dois varões trajados de branco os advertem sobre o retorno do Cristo em circunstâncias iguais: representam eles a ponderação e a lógica - coadjuvantes da Verdade estampada na consciência.

Já o termo "dentre vós" dá a dimensão do meio humano, definido pelas reencarnações - condição de despertamento das potências intrínsecas dos Espíritos ainda simples e ignorantes, que necessitam desse vínculo com a matéria mais densa, a fim de aprenderem a "intelectualizar" esse material, sofrendo-lhe, concomitantemente, os estados de tensão, que terminam por liberar valores de sua inteligência e sensibilidade. Todas as pelejas em corpos físicos guardam, em primeiro plano, o objetivo de fazer eclodir o poder cocriador da alma, para, num segundo momento, entre expiações e provas, fazer com que esse poder cocriador se qualifique, quando as expressões morais e éticas se evidenciam, dispondo a criatura em processo evolucional a administrar suas forças em conexão com as Leis de Deus. Nesse contexto de desafios crescentes em aspecto subjetivo, porque morais, é que Jesus "entra" na "casa mental", para sugestionar os valores eternos, as novas bases sobre as quais se erige o "Filho do Homem". O "guia e modelo" da Humanidade terreal "entra" e "sai", uma vez que, como potência divina, respeita os movimentos da alma, dentro do que aprendemos: "Deus usa o tempo e não a violência" (Estantes da Vida, capítulo 25).

Compreendendo a interação das forças educativas das circunstâncias existenciais, lançamos mão do que se registra em Atos, no capítulo 1, versículo 22: "Começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima". Sem a clara noção de Justiça (que se elabora no período de expiação e provas, quando o "senso moral" se projeta no campo da mente), as operações de elevação que o Evangelho de Jesus leva a efeito com harmonia na intimidade do Ser não teriam vez. João, o Batista, expressa a culminância de um processo de aprendizado que pode ser definido por um adágio conhecido na Antiguidade: "Não faças a teu próximo o que não desejas que teu próximo te faça". Esse princípio de posição defensiva antecede as ações do amor e da caridade, que chegariam com Jesus ao nosso Mundo.

O Cristo evidencia esse respeito às conquistas individuais da criatura humana quando afirma: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus" (MT 5:43-45). Há uma ordem no mecanismo de conquistas evolutivas que o Alto respeita e pela qual zela através das Leis Universais, sempre harmônicas e justas. Quando a criatura persiste no erro - estando este já confirmado e inconveniente em seu campo mental –, o sofrimento surge, para estiolamento das arcaicas e indevidas estruturas conceituais, mantidas pelo desejo malconduzido, geralmente entre inconformação e resistência.

Curiosamente, esse processo de Jesus "entrar" e "sair" assinala a didática misericordiosa do Pai e Criador, pois, ao "entrar", permite que os valores da pureza surjam entre as iniquidades humanas, para que aqueles interajam com estas sem se macular, em profundo respeito aos limites e às escolhas dos homens. Note-se que Jesus "entra" sem tumultuar, sem violentar, mostrando-se solidário, compreensivo, amoroso, em sentido incondicional. Quando "sai" - o texto de Atos diz "até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima" –, Jesus se dilui em sua proposta de amor puro e desinteressado e se deixa "evolar", para não ferir a ordem de trabalho e de escolhas pessoais daquela criatura que o acolhe pelo superconsciente. Toda a operação se dá em respeito às escolhas da individualidade em evolução, no piso da espontaneidade, porque Evangelho é adesão, é comunhão, nunca imposição, constrangimento. E, para referendar esse movimento de regeneração que nos alcança na Terra, pincelamos do diálogo de Nicodemos com Jesus (JO 3:13): "Ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu". Para merecer os estados dadivosos do "céu" consciencial, necessitamos transformar tudo o que nos constitui como homens e mulheres na Terra através da convivência com Jesus, o mais puro Espírito que já pisou o solo terreno, cuja moral é a mais elevada e mais pura que o Mundo já recebeu.



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Atos 1:11

Os quais lhe disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.

at 1:11
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Mateus 5:43

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo.

mt 5:43
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Mateus 5:44

Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem;

mt 5:44
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Mateus 5:45

Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.

mt 5:45
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