Alma e Coração

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Capítulo XLIV

Conversa em família


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Quando observares a dificuldade moral de alguém, não te detenhas na superfície das coisas. Aprofunda-te no exame das causas, para que a injustiça não te enodoe o coração.

Recordemos que o médico nem sempre identifica a enfermidade pelo que vê, mas sobretudo por aquilo que não vê, apoiado na cooperação do laboratório.

Raramente, todo o mal é aquele mal que se enxerga no lado visível das circunstâncias.

A Humanidade é constituída de povos; cada povo se baseia em comunidades; cada comunidade é uma coletânea de grupos; cada grupo é uma constelação de almas.

Não opines sobre qualquer acontecimento infeliz, sem apreciar todas as peças que o suscitaram.

Como definir a posição da esposa, imaginada em desvalimento, sem considerar a conduta do esposo, chamado pelos princípios de causa e efeito a prestar-lhe assistência? E como examinar o homem tombado em criminalidade passional, sem analisar a mulher que o levou ao desvario? De que modo interpretar os jovens transviados, sem tocar nos adultos que os largaram à matroca, e de que maneira observar a penúria dos mais velhos, sem anotar o abandono a que foram votados pelos mais moços? Como acusar unicamente os maus, sem perguntar aos bons o que fizeram por eles, na esfera da convivência? E como condenar exclusivamente os pecadores, sem saber que orientação recolheram dos virtuosos que com eles comungam a vida cotidiana? Serão justos ou insensíveis os espíritos nomeados por justos quando relegam seus irmãos aos enganos da injustiça, sem a mínima frase que lhes clareie o raciocínio? E serão corretos ou ingratos os espíritos supostos corretos quando deixam seus irmãos afundados no erro, sem o menor amparo que lhes refaça o equilíbrio?

Irmãos uns dos outros pelos laços da família maior — a Humanidade —, à frente de nossos companheiros caídos, antes de censurá-los será preciso interrogar-nos a nós próprios que espécie de benefício já lhes teremos feito, a fim de que não resvalassem no lodo que lhes desfigura a face divina de filhos de Deus, tão carecedores da bênção de Deus quanto nós.

Reflitamos nisso, porque, atendendo a isso, sempre que impelidos a observar o comportamento de alguém, teremos a misericórdia por inspiração e apoio, a fim de que não falhemos ao imperativo do amor para a glória do bem.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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