No mundo maior

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Capítulo XIII

Psicose afetiva


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Seguindo Calderaro, fomos, em plena noite, atender infortunada irmã quase suicida.

Penetramos a residência confortável, conquanto modesta, percebendo a presença de várias entidades infelizes.

O Assistente pareceu-me apressado. Não se deteve em nenhuma apreciação.

Acompanhei-o, por minha vez, até humilde aposento, onde fomos encontrar jovem mulher em convulsivo pranto, dominada por desespero incoercível. A mente acusava extremo desequilíbrio, que se estendia a todos os centros vitais do campo fisiológico.

— Pobrezinha! — Disse o orientador, comovidamente, — não lhe faltará a Divina Bondade. Tudo preparou de modo a fugir pelo suicídio, esta noite; entretanto, as Forças Divinas nos auxiliarão a intervir…

Colocou a destra sobre a fronte da irmã em lágrimas e esclareceu:

— É Antonina, abnegada companheira de luta. Órfã de pai, desde muito cedo, iniciou-se no trabalho remunerado aos oito anos para sustentar a genitora e a irmãzinha. Passou a infância e a primeira juventude em sacrifícios enormes, ignorando as alegrias da fase risonha de menina e moça. Aos vinte anos perdeu a mãezinha, então arrebatada pela morte, e, não obstante seus formosos ideais femininos, foi obrigada a sacrificar-se pela irmã em vésperas de casamento. Realizado este, Antonina procurou afastar-se, para tratar da própria vida; muito cedo, verificou, porém, que o esposo da irmãzinha se caracterizava por nefanda viciosidade. Perdido nos prazeres inferiores, entregava-se ao hábito da embriaguez, diariamente, retornando ao lar, em hora tardia, a distribuir pancadas, a vomitar insultos. Sensibilizada ante o destino da companheira, nossa dedicada amiga permaneceu em casa, a serviço da renúncia silenciosa, aliviando-lhe os pesares e auxiliando-a a criar os sobrinhos e a assisti-los. Corriam os anos, tristes e vagarosos, quando Antonina conheceu certo rapaz necessitado de arrimo, a sustentar pesado esforço por manter-se nos estudos. Identificavam-se pela idade e pela comunhão de ideias e de sentimentos. Devotada e nobre, correspondeu-lhe à simpatia, convertendo-se em abnegada irmã do jovem. A companhia dele, de algum modo, projetava abençoada luz em sua noite de solidão e sacrifício ininterruptos. Repartindo o tempo e as possibilidades entre a irmã, quatro pequenos sobrinhos e o copartícipe de sonhos fulgurantes, consagrava-se ao trabalho redentor de cada dia, animada e feliz, aguardando o futuro. Idealizava também obter, um dia, a coroa da maternidade, num lar singelo e pobre, mas suficiente para caber a felicidade de dois corações para sempre unidos diante de Deus. Todavia, Gustavo, o rapaz que se valeu de sua amorosa colaboração durante sete anos consecutivos após a jornada universitária sentiu-se demasiado importante para ligar seu destino ao da modesta moça. Independente e titulado, agora, passou a notar que Antonina não era, fisicamente, a companheira que seus propósitos reclamavam. Exibindo um diploma de médico e sentindo urgente necessidade de constituir um lar, com grandioso programa na vida social, desposou jovem possuidora de vultosa fortuna, menosprezando o coração leal que o ajudara nos instantes incertos. Fundamente humilhada, nossa desditosa irmã procurou-o, mas foi recebida com escarnecedora frieza. Gustavo, com presunção repulsiva, transmitiu-lhe a novidade, asperamente: Necessitava pôr em ordem os negócios materiais que lhe diziam respeito, e, por isto, escolhera melhor partido. Além disso, declarou, sua posição requeria uma esposa que não procedesse de um meio de atividades humilhantes; pretendia alguém que não fosse operária de laboratório, que não tivesse mãos calejadas, nem fios prateados na cabeça. A moça tudo ouviu debulhada em lágrimas, sem reação, e tornou à residência, ontem, minada pelo anseio de morrer, fosse como fosse. Sente que as esperanças se lhe esvaneceram, esfaceladas pelo golpe inopinado, que a existência se reduz em cinza e poeira, que a renúncia abre as portas da ruína e da morte. Conseguiu certa dose de substância mortífera, que pretende ingerir ainda hoje.

Dando pequeno intervalo às elucidações, recomendou-me:

— Examina-a, enquanto administro os socorros iniciais.


Detive-me em perquirição minuciosa, por longos minutos.

Dos olhos de Antonina, caíam pesadas lágrimas; no entanto, da câmara cerebral partiam raios purpúreos, que invadiam o tórax e envolviam particularmente o coração. Torturantes pensamentos baralhavam-lhe a mente. Registrando-lhe os secretos apelos, compungia ouvir-lhe os gritos de desespero e as súplicas ardentes.

Seria crime, — pensava, — amar alguém com tal excesso de ternura? Onde jazia a Justiça do Céu, que lhe não premiava os sacrifícios de mulher dedicada à paz doméstica? Aspirava a ser alegre e feliz, como as venturosas companheiras de sua meninice; anelava a tranquilidade do matrimônio digno, com a expectativa de receber alguns filhinhos, concedidos pela Bondade Infinita de Deus! Seria aspiração condenável sonhar com a edificação de modesto lar, com a proteção de um companheiro simples e bondoso, quando as próprias aves possuíam seus ninhos? Não trabalhara sempre pela felicidade dos outros? Por que desconhecidas razões a relegara Gustavo ao abandono? Os calos das mãos e os sinais do rosto não lhe roboravam a dedicação ao serviço honesto? Teria valido a pena sofrer tantos anos, perseguindo uma realização que se lhe afigurava, agora, impossível? Não! Não pretendia demorar-se num mundo onde o vício triunfava tão facilmente, espezinhando a virtude! Não obstante a fé que lhe alentava o coração, preferia morrer, enfrentar o desconhecido… Sentia-se desajustada, sem rumo, quase louca. Não seria mais razoável, — inquiria a si própria, — buscar as trevas do sepulcro de que apodrecer num catre de hospício?

Estirada no leito, a infeliz mergulhava o rosto nas mãos, soluçando sozinha, inspirando-nos piedade.

Calderaro interrompeu o serviço de assistência, fitou-me com significativa expressão e comunicou:

— Tenho instruções para impor-lhe o sono mais profundo, logo depois da meia-noite.

E, verificando que o relógio informava não estar distante o momento prefinido, o Assistente começou a ministrar-lhe aplicações fluídicas ao longo do sistema nervoso simpático.

A vasta rede de neurônios experimentou a influência anestesiante. Antonina tentou levantar-se, gritar, mas não conseguiu. A intervenção era demasiado vigorosa para que a enferma pudesse reagir.

O orientador prosseguiu atento, envolvendo-a mansamente, em fluidos calmantes. Dentro em pouco, cedendo à irresistível dominação, a moça recostou-se vencida nos travesseiros, no estado a que o magnetizador comum chamaria “hipnose profunda”.


Manteve-a Calderaro em completo repouso por mais de meia hora. Decorrido esse tempo, duas entidades, aureoladas de intensa luz, deram entrada no recinto. Abraçaram meu instrutor, que mas apresentou cordialmente.

Estavam, agora, junto de nós, Mariana, que fora dedicada genitora de Antonina, e Márcio, iluminado Espírito ligado a ela, desde séculos remotos.

Agradeceram, sensibilizados, a atuação de meu orientador, que passou a doente à direção materna. A simpática senhora desencarnada inclinou-se sobre a filha e chamou-a, docemente, como o fazia na Terra. Parcialmente desligada do envoltório grosseiro, Antonina ergueu-se, em seu organismo perispirítico, encantada, feliz…

— Mamãe! Mamãe! — Gritou, desabafando-se, a refugiar-se entre os braços maternais.

Mariana recolheu-a, carinhosa, estringiu-a de encontro ao peito, pronunciando palavras enternecedoras.

— Mãezinha, ajude-me! Não quero mais viver na Terra! Não me deixe voltar ao corpo pesado… O destino escorraça-me. Sou infeliz! Tudo me é adverso… Arrebate-me daqui… para sempre!

A nobre matrona contemplava-a, triste, quando Márcio se aproximou, fazendo-se visto pela estimada enferma.

A moça abriu desmesuradamente os olhos e ajoelhou-se instintivamente, amparada pela mãe. Parecia esforçar-se por trazer à lembrança alguém que ficara em pretérito longínquo… Observava-se-lhe a extrema dificuldade para recordar com precisão. Contemplava o emissário, banhada em pranto diferente: não vertia as lágrimas lutuosas de momentos antes; tocava-se, agora, de sublime conforto, de júbilo místico, que lhe nascia, inexplicavelmente, das profundezas do coração.

Acercou-se Márcio mais intimamente, pousou-lhe a luminosa destra sobre a fronte e falou com ternura:

— Antonina, porque esse desânimo, quando a luta redentora apenas começa? Olvidaste, acaso, que não somos órfãos? Acima de todos os obstáculos paira a Infinita Bondade. Recusas a “porta estreita”, (Lc 13:24) que nos proporcionará o venturoso acesso ao reencontro?

Talvez porque a interlocutora estivesse de si mesma postulando excessivo trabalho para reavivar paisagens perdidas no tempo, o mensageiro advertiu, fraternal:

— Não forces a situação! Acalma-te! Não nos bastará o presente, cheio de abençoado serviço e renovadora luz? Um dia, reconquistarás o patrimônio da memória total; por ora, contenta-te com as dádivas limitadas. Aproveita os minutos na recomposição do destino, vale-te das horas para reconduzir tuas aspirações a Esferas superiores. Que motivos te sugerem esse crime, que é o provocar a morte? Que razões te conduzem os passos na direção do precipício tenebroso? Tua mãe e eu sentimos, de longe, o perigo, e aqui estamos para ajudar-te…

Fez longa pausa, fixando-a amorosamente, e continuou:

— Ó minha abençoada amiga, como abriste assim o coração aos monstros do desespero? Dize-me! Não te mantenhas silenciosa… Não sou teu juiz, sou teu amigo da eternidade. Não terei o consolo de ouvir-te?

A enferma desejava falar; entretanto, os suaves raios de luz, emitidos por Márcio, cercavam-na toda, sufocando-lhe a garganta, no êxtase daqueles instantes inesquecíveis.

Ele, porém, desejando evidentemente proporcionar-lhe oportunidade a mais amplo desabafa, levantou-a, cuidadoso, e insistiu:

— Fala!…

Animada, Antonina balbuciou, tímida:

— Estou exausta…

— Contudo, jamais foste esquecida. Recebeste mil recursos diversos da Providência, indispensáveis ao valioso serviço de redenção. O corpo terreno, as bênçãos do Sol, as oportunidades de trabalho, as maravilhas da Natureza, os laços afetivos e as próprias dores da experiência humana não serão inestimáveis dons do Divino Suprimento? Ignoras, querida, a felicidade do sacrifício, renegas a possibilidade de amar?

Foi então que vi a jovem mulher contemplá-lo mais confiadamente. Sentindo-se forte, ante a insofismável demonstração de carinho, abriu-se com franqueza fraternal:

— Tenho sonhado com a posse de um lar… desejo viver para um homem que, a seu turno, me auxilie a levar a existência… idealizo receber de Deus alguns filhinhos que eu possa acariciar! Será pecado, celeste mensageiro, anelar tais coisas? Será delinquente a mulher que busca santificar os princípios naturais da vida? Depois de mourejar anos a fio pela felicidade dos que me são caros, noto que o destino escarnece de minhas esperanças. Será virtude viver entre pessoas alegres e felizes, quando nosso coração queda morto?

Márcio ouviu-a fraternalmente, afagando-lhe as mãos, e, evidenciando suas altas aquisições de verdadeiro amor, acrescentou, mais compreensivo e mais terno:

— “Abnegada amiga, não permitas que a sombra de algumas horas te empane a luz dos séculos porvindouros. É possível, Antonina, que te sintas tão lamentavelmente só, quando o Supremo Senhor te concedeu o sublime lar no mundo inteiro? A Humanidade é nossa família, os filhinhos da dor nos pertencem. Reconheço que transitórias humilhações do sentimento te laceram a alma, que desejarias arrimar-te ao carinhoso braço de um companheiro digno e fiel. No entanto, querida, é da Vontade Superior que recebas, por enquanto, as vantagens que podem ser encontradas na solidão. Se há períodos de florescimento nos vales humanos, dentro dos quais nos inebriamos em plena primavera da Natureza, existências se verificam, aparentemente isoladas e desditosas, nas culminâncias da meditação e da renúncia, a cuja luz nos preparamos para novas jornadas santificadoras.

“Não suponhas que a fatal passagem do sepulcro nos abra portas à liberdade: segue-nos a Lei, a toda parte, e o Supremo Senhor, se exerce a infinita compaixão, não despreza a justiça inquebrantável. Dá-nos, invariavelmente, a Eterna Sabedoria o lugar onde possamos ser mais úteis e mais felizes.

“Declaras-te deserdada e infeliz, e, no entanto, ainda não recenseaste as possibilidades sublimes que te rodeiam. Dizes-te incapacitada de abraçar os pequeninos de Deus, mas, porque tamanho exclusivismo para os rebentos consanguíneos? Não enxergaste, até hoje, as crianças abandonadas, nunca viste os filhinhos da miséria e da privação? Se não podes ser mãe de flores da própria carne, por que motivo não te fazes tutora espiritual dos pequenos necessitados e sofredores? Acreditas, Antonina, que possamos ser absolutamente felizes, escutando gemidos à nossa porta? Haverá perfeita alegria num coração que pulsa ao lado de um coro de lágrimas? O mundo não é propriedade nossa. Nós, os filhos do Altíssimo, é que fomos trazidos a cooperar nas obras que nos cercam. É verdadeira infelicidade acreditar-se alguém favorito dos Céus, como se o Pai Compassivo e Sábio não passasse de frágil e parcial ditador! Sacode a consciência adormecida… Lembra-te de que o Todo Poderoso não se adstringe ao nosso particularismo de criaturas falíveis, e não te esqueças de que nos pesam, perante a universalidade d’Ele, inalienáveis deveres de trabalho, exercitando os preciosos recursos que nos concedeu, a fim de alcançarmos, um dia, a perfeição da sabedoria e do amor.

“Sofres em tua organização, que orientaste para o personalismo, porque um homem, cujo padrão psíquico se harmonizou com o teu em muitos aspectos, modificando depois seu rumo de vida, te relegou ao esquecimento. Choras, porquanto esperavas encontrar em sua companhia algo da Divina Presença, que traria serenidade às tuas angustiosas esperanças de mulher delicada e sensível… As inquietações do sexo tomaram vulto na intimidade do teu santuário, e padeces longo assédio de tribulações. Mas… dar-se-á que presumas no sexo a fonte exclusiva do amor? Serás também vítima desse fatal engano? O amor é sol divino a irradiar-se através de todas as magnificências da alma.

“Por vezes, somos privados de sensações que ansiáramos, inibidos de usar as energias criadoras das formas físicas, a fim de buscarmos patrimônios mais altos do ser; nem por isso, contudo, tais percalços nos impedem a exteriorização do sublime sentimento; represar-lhe o curso redundaria em extinguir o Universo. O que tortura a mente humana, em tais ocasiões é o clima do cárcere organizado por nós mesmos; amurados no egoísmo feroz, não sabemos perder por alguns dias, para ganhar na eternidade, nem ceder valores transitórios, para conquistar os dons definitivos da vida.”

Ante a moça que o contemplava, embevecida, através de espesso véu de lágrimas, o mensageiro prosseguiu:

— “Efetivamente, se não podes partilhar a experiência do homem escolhido, em face das circunstâncias que te compelem à renúncia, porque não lhe consagrar o puro amor fraternal, que eleva sempre? Estaríamos, acaso, impedidos de transformar em irmãos os seres que admiramos? Não deves outrossim esquecer que o noivo perjuro, atualmente belo na figura fisiológica, vestirá também, mais tarde, o puído traje do cansaço e da velhice, se em breve não afivelar ao rosto a máscara da enfermidade e da morte. Conhecerá o desencanto da carne e estimará no silêncio a procura do espírito. Se o amas, em verdade, porque torturá-lo com o sarcasmo do suicídio, ao invés de cobrar forças para esperá-lo, ao fim do dia da existência mortal? Se não podes ser o cântaro de água pura para o viajor querido, porque não ser o oásis que o aguardará no deserto das desilusões inevitáveis? Além disto, como chegaste a sentir tão clamoroso desamparo, se também te aguardamos, ávidos aqui de tua afeição e de teu carinho?”

Antonina sorriu, em êxtase, a despeito do pranto que lhe rolava a flux.

Observando o salutar efeito de suas palavras animadoras, Márcio acariciou-lhe os cabelos, murmurando:

— “Por que razão esperar os rebentos da carne para exemplificar o verdadeiro amor? Jesus não os teve, e, no entanto, todos nos sentimos tutelados de sua infinita abnegação. Prometes, Antonina, modificar as disposições mentais doravante? A mulher digna e generosa, excelsa e cristã, olvida o mal e ama sempre…”

Comovidos, vimos a interlocutora ajoelhar-se de novo, e exclamar solenemente:

— Comprometo-me a modificar minha atitude, em nome de Deus.


Nesse instante, o emissário espalmou as mãos sobre a fronte da enferma, envolvendo-a em jactos de luz que não tocaram tão somente a matéria perispirítica, mas se estenderam além, até no corpo denso, fixando-se particularmente nas zonas do encéfalo, do tórax e dos órgãos feminis. Logo após, Antonina, empolgada pela mãezinha e pelo companheiro da Espiritualidade superior, afastou-se para agradável e repousante excursão. Incumbiu-se Calderaro de auxiliá-la a retomar o veículo pesado nas primeiras horas da manhã clara.

Edificado com as observações da noite, regressei, em companhia dele, ao quarto da senhorita quase suicida.

Entre as seis e sete horas, a genitora desencarnada trouxe a filha, em cuja fisionomia fulgurava ignota e incompreensível felicidade.

O instrutor ajudou-a reapossar-se do envoltório fisiológico, cercando-lhe o cérebro de emanações fluídicas anestesiantes, para que lhe não fosse permitido o júbilo de recordar, em todas as suas particularidades, a experiência da noite; se guardasse a lembrança integral, disse Calderaro, provavelmente enlouqueceria de ventura. Destarte, as alegrias por ela intensamente vividas seriam arquivadas em seu organismo sob forma de forças novas, estímulos desconhecidos, coragem e satisfação de procedência ignorada.

Com efeito, daí a minutos Antonina despertou, como que outra criatura; sentia-se inexplicavelmente reanimada, quase feliz.

Um dos pequenos sobrinhos penetrou o aposento, chamando-a. A generosa tia contemplou-o, enlevada.

Alguma energia prodigiosa, que lhe não era dado conhecer, religara-a ao interesse pela vida. Achou indizível contentamento no Sol que atravessava a vidraça, bendizia o quarto humilde onde lutava por atender aos desígnios de Deus, e sorria-se de haver, na véspera, pensado em fugir, sem razão, ao aprendizado do mundo. Não fora aquinhoada pela Providência com maravilhoso número de bênçãos? Contemplou a encantadora criança pobremente vestida, a solicitar-lhe a companhia para descerem ao pequeno jardim, onde flores novas desabrochavam. Que importa insignificante malogro do coração diante dos trabalhos sublimes que poderia executar, na sua posição de mulher sadia e jovem? Os filhinhos da irmã não lhe pertenciam igualmente? Não seria mais nobre viver para ser útil, esperando sempre da Inesgotável Misericórdia?

— Titia Antonina! Titia Antonina, vamos! Vamos ver a roseira nova! — Gritava o trêfego menino de cinco anos, em alegre invite à vida.

Observando-lhe a restauração das forças, vimo-la, sinceramente rejubilados, levantar-se a responder, sorrindo:

— Espera! Já vou, meu filho!




André Luiz
Francisco Cândido Xavier

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Lucas 13:24

Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão.

lc 13:24
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