Nos domínios da mediunidade

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Capítulo XXVIII

Efeitos físicos


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Vinte horas haviam soado no relógio terrestre, quando entramos em acanhado apartamento, no qual se realizariam trabalhos de materialização.

Tanto Hilário quanto eu não desejávamos encerrar a semana de estudos sem observar algum serviço dessa natureza, em companhia do Assistente.

De outra feita, acompanháramos experiência dessa ordem, assinalando-a em registro de nossas impressões contudo, os ensinamentos de Áulus eram sempre expressivos e valiosos pelos fundamentos morais de que se revestiam, e suspirei pelo instante de ouvi-lo discorrer sobre os fenômenos físicos que nos propúnhamos analisar.

O recinto destinado aos trabalhos constituía-se de duas peças, uma sala de estar ligada a estreita câmara de dormir.

O aposento íntimo, transformado em gabinete, albergava o médium, um homem ainda moço, e na sala espalhavam-se catorze pessoas, aparentemente bem-intencionadas, das quais se destacavam duas senhoras doentes, que representavam o motivo essencial da reunião, de vez que pretendiam recolher a assistência amiga dos Espíritos materializados.

Indicando-as, falou o orientador, com grave entonação de voz:

— Venho com vocês até aqui, considerando as finalidades do socorro aos enfermos, porque, embora sejam muitas as tentativas de materialização de forças do nosso Plano, na Terra, com raras exceções quase todas se desenvolvem sobre lastimáveis alicerces que primam por infelizes atitudes dos nossos irmãos encarnados. Só os doentes, por enquanto, no mundo, justificam a nosso ver o esforço dessa espécie, junto das raras experiências, essencialmente respeitáveis e dignas, realizadas pelo mundo científico, em benefício da Humanidade.

Quiséramos alongar o entendimento, no entanto, renteando conosco, diversos obreiros iam e vinham, dando a perceber o início dos trabalhos daquela noite.

A higienização processava-se ativa.

O serviço reclamava cuidado.

Segundo apontamentos recolhidos por nós, em outras ocasiões, aqui surgiam aparelhos delicados para a emissão de raios curativos, acolá se efetuava a ionização do ambiente com efeitos bactericidas.

Alguns encarnados, como habitualmente acontece, não tomavam a sério as responsabilidades do assunto e traziam consigo emanações tóxicas, oriundas do abuso de nicotina, carne e aperitivos, além das formas-pensamento menos adequadas à tarefa que o grupo devia realizar.

Atento ao estudo, Áulus recomendou-nos centralizar a atenção no gabinete do médium.

Obedecemos.

Ao redor, laboriosa atividade seguia adiante.

Dezenas de entidades bem comandadas e evidenciando as melhores noções de disciplina, articulavam-se no esforço preparatório.

O instrumento medianímico já havia recebido eficiente amparo no campo orgânico.

A digestão e a circulação, tanto quanto o socorro às vísceras já eram problemas solucionados.

Dispensar-nos-emos de maior rigor descritivo, porquanto, em outras páginas, a materialização, de acordo com as nossas possibilidades de expressão, mereceu-nos meticuloso exame, no que respeita às substâncias, associações, recursos e movimentos do Plano espiritual.


Agora, interessava-nos a mediunidade em si. Intentávamos analisar-lhe o comportamento, em suas relações com o ambiente e as pessoas.

E, para isso, a nosso parecer, nenhuma ocasião melhor que aquela, em que dispúnhamos da colaboração segura de um amigo competente e devotado qual o instrutor que nos acompanhava, solícito.

Apagada a luz elétrica e pronunciada a oração de início, o agrupamento, como de praxe, passou a entoar hinos evangélicos, para equilibrar as vibrações do recinto.

Colaboradores desencarnados extraíam forças de pessoas e coisas da sala, inclusive da Natureza em derredor, que casadas aos elementos de nossa Esfera faziam da câmara mediúnica precioso e complicado laboratório.

Correspondendo à atuação magnética dos mentores responsáveis, desdobrou-se o médium, afastando-se do veículo físico, de modo tão perfeito que o ato em si mais se me afigurava a própria desencarnação, porque o corpo jazia no leito, como se fora um casulo de carne, largado e inerte.

O veículo físico, assim prostrado, sob o domínio dos técnicos do nosso Plano, começou a expelir o ectoplasma, qual pasta flexível, à maneira de uma geleia viscosa e semilíquida, através de todos os poros e, com mais abundância, pelos orifícios naturais, particularmente da boca, das narinas e dos ouvidos, com elevada percentagem a exteriorizar-se igualmente do tórax e das extremidades dos dedos. A substância, caracterizada por um cheiro especialíssimo, que não conseguimos descrever, escorria em movimentos reptilianos, acumulando-se na parte inferior do organismo medianímico, onde apresentava o aspecto de grande massa protoplásmica, viva e tremulante.

Companheiros nossos prestavam carinhosa assistência ao médium separado da vestimenta física, como se ele fora um doente ou uma criança.

À margem da ação, Áulus esclareceu prestimoso:

— O ectoplasma está em si tão associado ao pensamento do médium, quanto as forças do filho em formação se encontram ligadas à mente maternal. Em razão disso, toda a cautela é indispensável na assistência ao medianeiro.

Hilário que ouvia, reverente, indagou:

— Tal cuidado decorre da possibilidade de inconveniente intervenção do médium nos trabalhos?

— Exatamente.

E Áulus prosseguiu:

— Se pudéssemos contar com mais ampla educação do instrumento, decerto menos teríamos a temer, de vez que a própria individualidade do servidor colaboraria junto de nós, evitando-nos preocupações e contratempos prováveis. A materialização de criaturas e objetos de nosso Plano, para ser mais perfeita, exige mais segura desmaterialização do médium e dos companheiros encarnados que o assistem, porque, por mais nos consagremos aos trabalhos dessa ordem, estamos subordinados à cooperação dos amigos terrestres, assim como a água, por mais pura, permanece submetida às qualidades felizes ou infelizes do canal por onde se escoa.

— Isso nos deixa entrever — acentuou meu colega — que o pensamento mediúnico pode influir nas formas materializadas, mesmo quando essas formas se encontrem sob rigoroso controle de amigos da nossa Esfera…

— Sim — confirmou o Assistente —, ainda quando o médium não consiga senhoreá-las de todo, pode perturbar-lhes a formação e a projeção, prejudicando-nos consequentemente o serviço. Daí, o impositivo da completa isenção de ânimo, por parte de quantos se devotam a semelhantes realizações.


Hilário, não obstante satisfeito, continuou ponderando:

— As faculdades de materialização, desse modo, não traduzem privilégio para os seus portadores…

— De modo algum.

E, depois de breve pausa:

— O próprio verbo referente ao assunto, em sentido literal, não encoraja qualquer interpretação em desacordo com a verdade. Materializar significa corporificar. Ora, considerando-se que mediunidade não traduz sublimação e sim meio de serviço, e reconhecendo, ainda, que a morte não purifica, de imediato, aquele que se encontra impuro, como atribuir santidade a médiuns da Terra ou a comunicantes do Além pelo simples fato de modelarem formas passageiras, entre dois Planos?

— Então, essa força…

Meu companheiro não terminou.

Áulus percebeu-lhe o pensamento e atalhou, asseverando:

— Essa força materializante é como as outras manipuladas em nossas tarefas de intercâmbio. Independe do caráter e das qualidades morais daqueles que a possuem, constituindo emanações do mundo psicofísico, das quais o citoplasma é uma das fontes de origem. Em alguns raros indivíduos, encontramos semelhante energia com mais alta percentagem de exteriorização, contudo, sabemos que ela será de futuro mais abundante e mais facilmente abordável, quando a coletividade humana atingir mais elevado grau de maturação.

— Até lá, desse modo…

— Até lá, utilizar-nos-emos dessas possibilidades como quem aproveita um fruto ainda verde, em circunstâncias especiais da vida, suportando, porém, o assédio de mil surpresas desagradáveis ao recolhê-lo, de vez que, em experiências como esta, submetemo-nos a certas interferências mediúnicas indesejáveis, tanto quanto a influências menos edificantes de companheiros encarnados, francamente inaptos para os serviços dessa espécie.

Hilário que escutava, atencioso, a lição, ponderou ainda:

— Imaginemos que o médium esteja possuído de interesses inferiores, seja em matéria de afetividade mal conduzida, de ambição desregrada ou de pontos de vista pessoais, nos diversos departamentos das paixões comuns…

E, depois da alegação reticenciosa, indagou:

— Nessa posição poderá influir nos fenômenos em estudo?

— Sem dúvida alguma — elucidou Áulus, com naturalidade —, consciente ou inconscientemente.

— E os amigos do grupo? se imbuídos de propósitos malsãos conseguem perturbar-nos?

— Certamente!

— E por que nos sujeitarmos a fatores incapazes, assim?

Os olhos do Assistente brilharam, expressivos.

E, afagando o meu colega, Áulus falou, com sensatez:

— Não diga “fatores incapazes”. Digamos “fatores insipientes”. Simbolizemos a necessidade como sede escaldante e a mediunidade imperfeita ou mal comandada como sendo a água menos limpa. À falta do líquido puro, não podemos hesitar. Utilizamo-nos da água nas condições em que a encontramos. E, em seguida, que fazer? Teremos paciência com a fonte, decantando-lhe, pouco a pouco, a corrente poluída. A mediunidade sublimada, através de instrumentos dignos e conscientes no mandato que lhes corresponde, é algo de eterno e divino que a Humanidade está edificando. Isso não é obra de afogadilho. A improvisação não é alicerce para os santuários da sabedoria e do amor que desafiam o tempo.

Meu colega e eu sorrimos, encantados com aquele monumento de compreensão e tolerância.


Em derredor, grande massa de substância ectoplásmica leitosa-prateada, da qual se destacavam alguns fios escuros e cinzentos, amontoava-se, abundante.

Técnicos de nosso Plano manipulavam-na, com atenção.

Áulus fixou a paisagem de trabalho ativo e explicou-nos:

— Aí temos o material leve e plástico de que necessitamos para a materialização. Podemos dividi-lo em três elementos essenciais, em nossas rápidas noções de serviço, a saber — fluidos , representando as forças superiores e sutis de nossa Esfera, fluidos , definindo os recursos do médium e dos companheiros que o assistem, e fluidos , constituindo energias tomadas à Natureza terrestre. Os fluidos podem ser os mais puros e os fluidos podem ser os mais dóceis; no entanto, os fluidos , nascidos da atuação dos companheiros encarnados e, muito notadamente, do médium, são capazes de estragar-nos os mais nobres projetos.

Nos círculos, aliás raríssimos, em que os elementos encontram segura colaboração das energias , a materialização de ordem elevada assume os mais altos característicos, raiando pela sublimidade dos fenômenos; contudo, onde predominam os elementos , nosso concurso é consideravelmente reduzido, porquanto nossas maiores possibilidades passam a ser canalizadas na dependência das forças inferiores do nosso Plano, que, afinadas aos potenciais dos irmãos encarnados, podem senhorear-lhes os recursos, invadindo-lhes o campo de ação e inclinando-lhes as experiências psíquicas no rumo de lastimáveis desastres.

As elucidações não poderiam ser mais claras.


Dispúnhamo-nos a prosseguir no entendimento, todavia, Garcez, um dos técnicos espirituais do serviço, veio até nós, invocando o auxílio magnético de Áulus.

O campo fluídico na sala se fizera demasiado espesso. Os pequenos jatos de força ectoplásmica, arremessados até lá, em caráter experimental, tornavam ao gabinete, revelando forte teor de toxinas de variada classificação.

As catorze pessoas assembleadas no recinto eram catorze caprichos diferentes.

Não havia ali ninguém com bastante compreensão do esforço que se reclamava do mundo espiritual e cada companheiro, ao invés de ajudar o instrumento mediúnico, pesava sobre ele com inauditas exigências.

Em razão disso, o médium não contava com suficiente tranquilidade. Figurava-se-nos um animal raro, acicatado por múltiplos aguilhões, tais os pensamentos descabidos de que se via objeto.

— Não atingiremos, então, a materialização de ordem superior… — falou o Assistente, algo preocupado.

— De modo algum — informou Garcez com desapontamento.

— Teremos tão só o médium desdobrado, incorporando a nossa enfermeira para socorro às irmãs doentes. Nada mais. Não dispomos do concurso preciso.

Áulus atendeu à solicitação que lhe era dirigida e auxiliou magneticamente a transferência de certo coeficiente de energias do vaso físico ao corpo perispiritual que se mostrou vivamente reanimado.

O veículo de matéria densa, no leito, desceu à mais funda prostração, mas o médium, em seu perispírito, evidenciava maior vitalidade e maior lucidez.

Amigos espirituais envolveram-no em extenso roupão ectoplásmico e a enfermeira uniu-se a ele, comandando-lhe os movimentos.

O médium, não obstante ausente do corpo carnal, achava-se controlado pela benfeitora, à maneira de um médium psicofônico, diferenciado apenas pela roupagem singular, estruturada com apetrechos ectoplásmicos imprescindíveis à permanência dele no recinto, onde explodiam pensamentos perturbados e inquietantes.

Vendo-o caminhar, inseguro, abraçado pela enfermeira que o movimentava para o serviço assistencial, Hilário, ciciante, falou para o nosso orientador:

— O médium está consciente durante o fenômeno?

— Fora do corpo sim, mas, possivelmente, não guardará qualquer lembrança, logo regresse ao campo físico.

Meu colega ainda aventurou:

— Vemo-lo avançar com indumentos materializados e sob a orientação da enfermeira amiga. Entretanto, caso alimente, nessas condições, qualquer desejo menos digno, pode interferir no trabalho, prejudicando-o?

— Perfeitamente — disse Áulus —, ele está sob controle, mas controle não significa anulação. Qualquer impulso infeliz do nosso companheiro correrá por conta do serviço. Daí, a inconveniência das atividades dessa espécie, sem alto objetivo moral.

O medianeiro das curas, enlaçado pela entidade generosa, alcançou o estreito aposento, exibindo a roupagem delicada, semelhante a uma túnica de luar, emitindo prateada luz. No entanto, à medida que varava a atmosfera reinante no recinto, a claridade esmaecia, chegando a apagar-se quase de todo.

Diante do nosso olhar indagador, o Assistente esclareceu:

— A posição neuropsíquica dos companheiros encarnados que nos compartilham a tarefa, no momento, não ajuda. Absorvem-nos os recursos, sem retribuição que nos indenize, de alguma sorte, a despesa de fluidos laboriosamente trabalhados.

A convite do orientador, penetramos a sala.

Efetivamente, escuras emissões mentais esguichavam contínuas, entrechocando-se de maneira lastimável.

Os amigos, ainda na carne, mais se nos figuravam crianças inconscientes.

Pensavam em termos indesejáveis, expressando petições absurdas, no aparente silêncio a que se acomodavam, irrequietos.

Exigiam a presença de afeições desencarnadas, sem cogitarem da oportunidade e do merecimento imprescindíveis, criticavam essa ou aquela particularidade do fenômeno ou prendiam a imaginação a problemas aviltantes da experiência vulgar.

O concurso dos amigos espirituais era ali recebido, não como gentileza de benfeitores, mas como espetáculo fútil a ser obrigatoriamente elaborado por servos ínfimos.

Ainda assim, os obreiros do nosso Plano ofereciam o melhor pelo êxito da tarefa.

A enfermeira devotada socorreu as doentes, aplicando-lhes raios curativos. Várias vezes, deixou o recinto e tornou a ele, porquanto, à simples aproximação dos pensamentos inadequados que lhe senhoreavam as vibrações, toda a matéria ectoplásmica se ressentia, obscurecendo-se ao bombardeio das formações mentais nascidas da assistência.


Terminado que foi o trabalho medicamentoso, um risonho companheiro de nossa Esfera tomou pequena porção das forças materializantes do médium sobre as mãos e afastou-se para trazer, daí a instantes, algumas flores que foram distribuídas com os irmãos encarnados, no intuito de sossegar-lhes a mente excitadiça.

Calmando-nos a curiosidade, Áulus esclareceu:

— É o transporte comum, realizado com reduzida cooperação das energias medianímicas. Nosso amigo — e designou com a destra o emissário das flores — apenas tomou diminuta quantidade de força ectoplásmica, formando somente pequeninas cristalizações superficiais do polegar e do indicador, em ambas as mãos, a fim de colher as flores e trazê-las até nós.

— É importante observar — disse Hilário — a facilidade com que a energia ectoplásmica atravessa a matéria densa, porque o nosso companheiro, usando-a nos dedos, não encontrou qualquer obstáculo na transposição da parede.

— Sim — comentou o instrutor —, o elemento sob nossa vista é extremamente sutil e, aderindo ao nosso modo de ser, adquire renovada feição dinâmica.

— E se fosse o médium o objeto do transporte? traspassaria a barreira nas mesmas circunstâncias?

— Perfeitamente, desde que esteja mantido sob nosso controle, intimamente associado às nossas forças, porque dispomos entre nós de técnicos bastante competentes para desmaterializar os elementos físicos e reconstituí-los de imediato, cônscios da responsabilidade que assumem.

E sorrindo:

— Você não pode esquecer que as flores transpuseram o tapume de alvenaria, penetrando aqui com semelhante auxílio. De idêntica maneira, caso encontrássemos utilidade num lance dessa natureza, o instrumento que nos serve de base ao trabalho poderia ser removido para o exterior com a mesma facilidade. As cidadelas atômicas, em qualquer construção da forma física, não são fortalezas maciças, qual acontece em nossa própria Esfera de ação. O espaço persiste em todas as formações e, através dele, os elementos se interpenetram. Chegará o dia em que a ciência dos homens poderá reintegrar as unidades e as constituições atômicas, com a segurança dentro da qual vai aprendendo a desintegrá-las.

Logo após, os amigos presentes, sempre interessados em acordar os irmãos encarnados para as realidades do espírito, acomodaram o médium, religando-o ao corpo carnal.

O rapaz esfregou o rosto, estremunhado; contudo, sob a atuação de passes calmantes, arrojou-se, de novo, à hipnose profunda.

Forças ectoplásmicas recomeçaram a surgir das narinas e dos ouvidos, revitalizadas e abundantes.

Alguns companheiros passaram a compartimento vizinho, seguidos por nós.

Nesse aposento, sobre pequeno fogão elétrico grande balde de parafina fervente requisitava-nos a atenção.

Um amigo de semblante simpático cobriu a destra com a pasta dúctil que manava fartamente do médium e materializou-a com perfeição, mergulhando-a, logo após, na parafina superaquecida, deixando aos componentes da reunião o primoroso molde como lembrança.

Uma jovem que nos saudou, cordial trabalhou igualmente o ectoplasma, modelando três flores que, submersas no vaso, ficaram, depois, em mesa próxima para os assistentes, à guisa de doce recordação daquela noite de tolerância e carinho.

Afeiçoados da casa trouxeram do exterior diversas conchas marinhas, em que se viam delicados perfumes que se volatilizaram no recinto em vagas deliciosas.


Reparando que os tarefeiros espirituais submetiam o instrumento medianímico a complicadas operações magnéticas, através das quais a substância materializante era restituída ao corpo físico, inteiramente purificada, crivamos o instrutor de questões e perguntas.

Realmente todas as pessoas, na Terra, possuíam consigo a energia que examinávamos? seria lícito esperar no futuro mais amplas manifestações dela? essa força era invariavelmente influenciável ou, em alguma circunstância, conseguia organizar-se por si?

Áulus deixou aos demais obreiros as medidas atinentes à fase terminal dos trabalhos e elucidou:

— O ectoplasma está situado entre a matéria densa e a matéria perispirítica, assim como um produto de emanações da alma pelo filtro do corpo, e é recurso peculiar não somente ao homem, mas a todas as formas da Natureza. Em certas organizações fisiológicas especiais da raça humana, comparece em maiores proporções e em relativa madureza para a manifestação necessária aos efeitos físicos que analisamos. É um elemento amorfo, mas de grande potência e vitalidade. Pode ser comparado a genuína massa protoplásmica, sendo extremamente sensível, animado de princípios criativos que funcionam como condutores de eletricidade e magnetismo, mas que se subordinam, invariavelmente, ao pensamento e à vontade do médium que os exterioriza ou dos Espíritos desencarnados ou não que sintonizam com a mente mediúnica, senhoreando-lhe o modo de ser. Infinitamente plástico, dá forma parcial ou total às entidades que se fazem visíveis aos olhos dos companheiros terrestres ou diante da objetiva fotográfica, dá consistência aos fios, bastonetes e outros tipos de formações, visíveis ou invisíveis nos fenômenos de levitação, e substancializa as imagens criadas pela imaginação do médium ou dos companheiros que o assistem mentalmente afinados com ele. Exige-nos, pois, muito cuidado para não sofrer o domínio de Inteligências sombrias, de vez que manejado por entidades ainda cativas de paixões deprimentes poderia gerar clamorosas perturbações.


E, apontando o mediador que despertava sonolento, enunciou:

— Nosso amigo, polarizando as energias do nosso Plano, funciona como entidade maternal, de cujas possibilidades criativas os Espíritos materializados totalmente, ou não, retiram os recursos imprescindíveis às suas manifestações, sendo, a prazo curtíssimo, autênticos filhos dele.

Assinalando a conceituação, Hilário falou entusiástico:

— Isso dá a entender que nas forças geradoras extravasadas do médium e dos cooperadores de nossa Esfera poderemos surpreender igualmente os princípios fundamentais da genética humana, em figurações que a ciência terrena ainda não conhece…

— Sim, sem dúvida — confirmou o Assistente —, os princípios são os mesmos, embora os aspectos sejam diferentes. O futuro nos reserva admiráveis realizações nesse ponto. Trabalhemos e estudemos.

Nossas disponibilidades de tempo, contudo, haviam terminado. E, por isso, Áulus encerrou a notável conversação, convidando-nos a voltar.




“” — (Nota do Autor espiritual.)


“” — (Nota do Autor espiritual.)



André Luiz
Francisco Cândido Xavier

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