Ação e Reação
Versão para cópiaNo círculo de oração
Na terceira noite de nossa permanência na casa, o Instrutor Druso convidou-nos para o círculo de oração.
Silas explicava-nos, generoso, que teríamos oportunidade para interessantes estudos.
O serviço da prece em conjunto, duas vezes por semana, era realizado na Mansão em local próprio e, no decurso das atividades que lhe eram afetas, materializavam-se, habitualmente, um ou outro dos orientadores que, de Esferas mais altas, superintendiam a instituição.
Nessas ocasiões, Druso e os assessores mais responsáveis recolhiam ordens e instruções variadas, atinentes aos numerosos processos de serviço em movimento. Questões eram respondidas, providências de trabalho eram, com segurança, indicadas. E, decerto, mesmo nós, adventícios no estabelecimento, poderíamos apresentar qualquer dúvida ou indagação para esclarecimento oportuno.
Regozijei-me.
Hilário, algo preocupado, inquiriu se devíamos obedecer a algum programa especial, informando o Assistente que nos cabia apenas manter no santuário próximo o coração e a mente escoimados de quaisquer ideias ou sentimentos indignos da reverência e da confiança que nos compete dedicar à Providência Divina e incompatíveis com a fraternidade que devemos sinceramente uns aos outros.
Vali-me de alguns instantes rápidos e roguei a inspiração de Jesus para que a minha presença não fosse motivo de perturbação no ambiente amigo que se propunha acolher-nos.
Logo após, seguindo o companheiro, Hilário e eu tivemos acesso a uma sala simples, em que Druso nos recebeu, sorridente e bondoso.
Vasta mesa, ladeada de poltronas modestas em que se acomodavam dez pessoas simpáticas, sete mulheres e três homens, apresentava cabeceira ampla, pondo em destaque a grande poltrona em que o diretor da casa se sentaria.
Do outro lado, à nossa frente, surgia larga tela translúcida, medindo aproximadamente seis metros quadrados.
Fora do círculo de pessoas que evidentemente emprestariam cooperação mais ampla à tarefa em perspectiva, achavam-se três Assistentes, cinco Enfermeiros, duas senhoras de aspecto humilde, Silas e nós.
Dispúnhamos, ainda, de tempo para a conversação edificante e discreta.
Aproveitei o ensejo para indagar do prestimoso amigo quanto às funções dos dez companheiros que se formalizavam, em derredor do chefe da casa, como a lhe robustecerem o pensamento.
Silas não se fez rogado e aclarou, de pronto:
— São amigos nossos que aprimoraram condições mediúnicas favoráveis à realização dos serviços a se desdobrarem aqui. Colaboram com fluidos vitais e elementos radiantes, altamente sublimados, de que os nossos 1nstrutores se servem com eficiência para se manifestarem.
Admirado, meu colega considerou:
— Podemos interpretá-los como sendo santos em atividade na Mansão?
— De modo algum — obtemperou Silas, bem-humorado. — São trabalhadores prestimosos. Tanto quanto nós, padecem ainda a pressão de reminiscências perturbadoras do plano físico, carreando consigo as raízes dos débitos que adquiriram no passado, para o justo resgate em porvir talvez próximo, na reencarnação. Ainda assim, pela disciplina a que se afeiçoam no devotamento aos semelhantes, conquistam simpatias providenciais que funcionam à maneira de valores expressivos a lhes atenuarem dificuldades e provas nas lutas porvindouras.
— Isto quer dizer…
A palavra reticenciosa de Hilário, no entanto, ficou no ar, de vez que o nosso amigo, apreendendo-lhe a inquirição, asseverou, otimista:
— Sim, isso quer dizer que, nas zonas infernais, também dispomos de preciosas oportunidades de trabalho, não somente vencendo as aflições purgatoriais que estabelecemos em nós mesmos, como também preparando novos caminhos para o céu interior que devemos edificar.
O ensinamento resumia imensas consolações para nós.
A essa altura do entendimento, Hilário centralizou a atenção nas duas damas presentes, cuja apresentação exterior demonstrava singular diferença do meio a que nos ajustávamos, pela extrema tristeza que lhes senhoreava a fisionomia, e perguntou, respeitoso:
— Meu caro Silas, quem são essas irmãs nossas que, francamente, se distanciam do tom psíquico aqui reinante?
O interpelado sorriu e informou:
— São irmãs que, por mérito em serviço, receberam o direito de partilhar a reunião de hoje, de modo a suplicarem auxílio na solução dos problemas que lhes tocam a alma de perto. Conheço-as pessoalmente. São mulheres desencarnadas que primam pela abnegação, atuando em socorro de Espíritos familiares que sofrem nestas regiões as duras consequências dos delitos a que se entregaram, imprevidentes.
Após lhes dirigir um olhar fraterno, aduziu:
— Madalena e Sílvia desposaram na existência última dois irmãos consanguíneos que se odiaram terrivelmente, desde a mocidade até a morte e, em razão dessas desavenças, cometeram erros deliberados e clamorosos nos setores da política regional em que estiveram situados. Nutriram vastas sementeiras de egoísmo e discórdia, impedindo o progresso da coletividade que lhes cabia servir e alimentando a cizânia e a crueldade entre os companheiros que lhes abraçavam os pontos de vista. Muitos crimes foram postas em execução, incitados por eles ambos, que estimavam acalentar a discórdia incessante entre os consócios de arregimentação partidária, e, por essa razão, expiam nas linhas inferiores do sofrimento os delitos de lesa-fraternidade que praticaram contra si próprios.
Pretendia indagar em que consistiam as provações dos amigos infortunados a que nos referíamos, mas a palavra de Druso se fez ouvida, concitando-nos à necessária preparação.
Certamente ajuizando quanto às faltas involuntárias em que poderíamos incorrer, pediu para que nós outros, os que partilhávamos a prece, ali, pela primeira vez, guardássemos plena abstenção de pensamentos menos dignos, abolindo quaisquer recordações desagradáveis, para que não se verificassem interferências na câmara cristalina, nome pelo qual designou o grande espelho à nossa frente, durante a manifestação do venerável mensageiro, cuja visita aguardava.
Explicou que as forças associadas dos médiuns presentes se caracterizariam por extremo poder plástico e que uma simples ideia nossa, incompatível com a dignidade do recinto, poderia materializar-se, criando imagens impróprias, não obstante temporárias, na face do aparelho sob nossa vista.
Convidados finalmente pelo generoso diretor a externar qualquer dúvida ou preocupação que nos assomassem à mente, perguntei se poderíamos apresentar uma ou outra indagação ao emissário prestes a chegar, ao que ele assentiu plenamente, recomendando-nos, porém, conservar em qualquer assunto a nobreza espiritual de quem se consagra ao bem de todos, sem se deter em perquirições ociosas, alusivas às estreitas inquietações da esfera particular.
Logo após, avisou que, através de dispositivos especiais, todos os recursos dos medianeiros presentes seriam concentrados na câmara que, daquele minuto em diante, estaria sensibilizada para os misteres da hora em curso.
Brando silêncio passou a reinar sobre nós.
Em atitude respeitosa e expectante, o diretor da instituição ergueu-se e orou comovidamente:
“Mestre Divino, digna-te abençoar-nos a reunião nesta casa de paz e serviço.
“Por tua bondade, em nome do Infinito Amor de Nosso Pai Celeste, recebemos a sublime dádiva do trabalho regenerador.
“Somos, porém, nestas regiões atormentadas, vastas falanges de Espíritos extraviados no sofrimento expiatório, depois dos crimes impensados em que chafurdamos a nossa consciência.
“Apesar de prisioneiros, agrilhoados às penas que geramos para nós mesmos, saudamos-te a glória divina, tocados de reconforto.
“Concede-nos, Senhor, a assistência de teus abnegados e sublimes embaixadores, a fim de que não desfaleçamos nos bons propósitos.
“Sabemos que, sem o calor de tuas mãos compassivas, nos fenece a esperança, à maneira de planta frágil sem a bênção do Sol!…
“Mestre, somos também tutelados teus, embora permaneçamos no cárcere de clamorosas defecções, suportando as lamentáveis consequências de nossos crimes.
“Destes lugares tenebrosos partem angustiosos gemidos, em busca de tua piedade incomensurável… Somos nós, os calcetas da penitência, que, muitas vezes, soluçamos desarvorados, suspirando pelo retorno à paz… Somos nós, os homicidas, os traidores, os ingratos e perversos trânsfugas das Leis Divinas que recorremos à tua intercessão, para que as nossas consciências, em purgação dolorosa, se depurem e reergam ao teu encontro!
“Compadece-te de nós, que merecemos as dores que nos retalham os corações! Ajuda-nos para que a aflição nos seja remédio salutar e socorre os nossos irmãos que, nas trevas destes sítios, se entregam à irresponsabilidade e à indisciplina, dificultando sua própria regeneração, por multiplicarem as lavas de desespero que vertem, arrasadoras, de suas almas!…”
Nesse ponto da rogativa, Druso fez longa pausa para enxugar as lágrimas que lhe transbordavam dos olhos.
A inflexão de suas palavras, repletas de dor, como se ele próprio fosse ali um Espírito recluso em padecimentos amargos, impressionava-me vivamente. Não conseguia desviar dele a atenção. Incoercível emotividade constringia-me o peito e o pranto jorrou-me, irresistível.
“Confiaste-nos, Senhor — prosseguiu ele, compungido —, a tarefa de examinar os problemas dos irmãos desventurados que nos batem à porta… Somos, assim, compelidos a sondar-lhes o infortúnio para, de algum modo, encaminhá-los ao reajuste. Não permitas, ó Eterno Benfeitor, que nosso coração se enrijeça, ainda mesmo diante da suprema perversidade!… Não desconhecemos que as moléstias da alma são mais aflitivas e mais graves que as doenças da carne… Enche-nos, desse modo, de infatigável compaixão para que sejamos fiéis instrumentos de teu amor!…
“Permite que teus prepostos nos amparem as decisões nos compromissos por assumir.
“Não nos relegues à fraqueza que nos é peculiar. Dá-nos, Cristo de Deus, a tua inspiração de amor e luz!…”
Nesse instante, ainda mesmo que o tom de voz não anunciasse o fim da oração, o generoso amigo não conseguiria continuar, porque a emoção lhe estrangulava a prece na garganta.
Todos chorávamos, contagiados por suas lágrimas abundantes…
Quem era Druso, afinal, para entregar-se daquele modo à oração, como se ele próprio fosse, entre nós, o maior dos torturados?
Não tive tempo para estender qualquer consideração, porquanto, respondendo ao apelo ardente que ouvíramos, extensa massa de vaporosa neblina cobriu a face do espelho próximo. Fixei-a, admirado, e pareceu-me identificar largo floco de névoa primaveril a distender-se, alva e móvel.
Extáticos e felizes, vimos emergir da leitosa nuvem a figura respeitável de um homem aparentemente envelhecido na forma, revelando, porém, a mais intensa juvenilidade no olhar.
Vasta auréola de safirino esplendor coroava-lhe os cabelos brancos que nos infundiam inexcedível respeito, a derramar-se em sublimes cintilações na túnica simples e acolhedora que lhe velava o corpo esguio. No semblante nobre e calmo, vagava um sorriso que não chegava a fixar-se. Após um minuto de silenciosa contemplação, levantou a destra, que despediu grande jorro de luz sobre nós, e saudou:
— A paz do Senhor seja conosco.
Havia tanta doçura e tanta energia, tanto carinho e tanta autoridade naquela voz, que procurei manter o melhor governo das emoções para não cair de joelhos.
— Ministro Sânzio — exclamou Druso, reverente —, bendita seja a sua presença entre nós.
A claridade a irradiar-se do venerável visitante e a dignidade com que se nos revelava impunham-nos fervoroso respeito; entretanto, como querendo desfazer a impressão de nossa inferioridade, o Ministro, surpreendentemente materializado, mantendo o campo vibratório em que nos encontrávamos, avançou para nós, estendeu-nos as mãos num gesto paternal e colocou-nos à vontade.
Não desejava cerimônias — acrescentou, entre afetuoso e convincente.
Em seguida, demonstrando o valor das horas, recomendou ao diretor apresentasse os processos em estudo.
Com admiração, vi Druso exibir os documentos solicitados: vinte e duas fichas de largo tamanho, cada qual condensando a síntese das informações necessárias ao socorro de vinte e duas entidades, recentemente internadas na instituição.
Naquele momento, não pude ensaiar qualquer pergunta direta; todavia, mais tarde, Silas me esclareceu que Sânzio, investido nas elevadas funções de Ministro da Regeneração, tinha grandes poderes sobre aquela casa de reajuste, com o direito de apoiar ou determinar qualquer medida, referente à obra assistencial, em benefício dos sofredores, podendo homologar e ordenar providências de segregação e justiça, reencarnação e banimento.
O emissário, atento, examinou todos os autos ali expressos em rápidas súmulas, das quais transpareciam, não apenas informes escritos, mas também microfotografias e recursos de identificação que lembram os elementos dactiloscópicos da Terra, aceitando ou não as sugestões de Druso, depois de ligeiras considerações, em torno de cada caso particular, apondo em cada ficha o selo que lhe assinalava a responsabilidade das decisões.
Adventícios no ambiente, sentíamo-nos estranhos a todos os estudos e deliberações efetuados, menos, porém, quanto ao derradeiro processo em lide, que se reportava justamente a Antônio Olímpio, o internado da véspera, a cujo despertar assistíramos.
A presteza com que os dados do ex-fazendeiro haviam sido relacionados era de causar o maior espanto.
Convidados pelo Instrutor a compulsá-los, porque percebia ele a importância de que o assunto se revestia para nós, Hilário e eu reconhecemos-lhe o retrato e a legitimidade das declarações que prestara sob a influência magnética a que fora submetido.
Interessando-nos vivamente pela solução do problema, ouvimos a palavra do Ministro, que concordava com o parecer da casa quanto à conveniência de socorro imediato ao irmão infeliz e breve reencarnação dele no círculo em que delinquira, a fim de restituir, aos irmãos espoliados, os sítios de que haviam sido expulsos. Acentuou, contudo, que o criminoso, conforme as alegações dele mesmo, não desfrutava qualquer atenuante das culpas que lhe eram imputadas.
Antônio Olímpio — concordou o dirigente da casa vivera para si, entregue a desvairada egolatria. Não conhecera senão as suas conveniências. Conservara no mundo o dinheiro e o tempo, sem benefícios para ninguém que não fosse ele próprio. Isolara-se em prazeres perniciosos e, por isso, não trouxera ao campo espiritual a gratidão alheia funcionando em seu favor, porquanto, em matéria de apoio afetivo, dispunha somente da simpatia a nascer no quadro diminuto em que se lhe encerrava o estreito mundo familiar. Era, pois, um companheiro realmente complexo, com extremas dificuldades para ser auxiliado no retorno à experiência física.
O magnânimo mensageiro, entretanto, recordou que a esposa e o filho lhe eram devedores de insuperável carinho. Esses dois corações surgiam, ali, segundo a Lei, como valores benéficos para o delinquente, porque todo bem realizado, com quem for e seja onde for, constitui recurso vivo, atuando em favor de quem o pratica.
Resumindo as conclusões suscitadas, notificou à pequena assembleia que pediria o comparecimento da irmã Alzira, para que se manifestasse com alusão às medidas em andamento, abstendo-se de qualquer apelo imediato ao irmão Luís, o filho favorecido pela fortuna indébita, por encontrar-se internado no corpo físico, apelo esse que somente se justificaria em condições excepcionais.
Confiou-se o Ministro à prece silenciosa e, respondendo-lhe à petição, notamos que a tênue matéria justaposta ao espelho se movimentava, de leve, dando passagem agora a uma figura suave de linda mulher.
A irmã Alzira revelava-se-nos ao olhar.
Parecia integrada na experiência da hora em curso, porquanto não demonstrava qualquer surpresa. Saudou-nos com graciosa gentileza e, às primeiras interpelações de Sânzio, respondeu, humilde:
— Venerável benfeitor, compreendo a difícil posição de meu antigo companheiro nos compromissos assumidos e ofereço-me de boa vontade para coadjuvar-lhe o serviço restaurador. Aliás, venho suspirando por essa possibilidade que significa para mim valiosa bênção. Antônio Olímpio terá sido um carrasco dos próprios irmãos, aniquilando-lhes o corpo para usurpar-lhes os haveres; contudo, para meu filho e para mim foi sempre um amigo e um protetor, abnegado e queridíssimo. Ajudá-lo a reerguer-se, para a minha alma não é apenas dever, mas também inexprimível felicidade…
O Ministro fitou-a, satisfeito, como se não lhe esperasse outra resposta, e ponderou:
— Sabes, no entanto, que os irmãos assassinados perseveram no ódio e perseguiram-no, até agora, sem tréguas…
— Sim, sei tudo isso — aclarou a simpática senhora —, conheço-lhes o poder vingador… Arrebataram meu esposo da quietação do túmulo para se saciarem no desforço terrível e nunca me permitiram qualquer aproximação com ele, no vale de trevas em que se demoram por tantos anos… Além disso, ressarcindo meus débitos do passado, sucumbi por minha vez às mãos deles dois, em tremenda obsessão, no mesmo lago em que perderam o corpo físico. Isso, porém, não é motivo para recuo. Estou pronta para o serviço em que possa ser útil.
Meditou Sânzio alguns instantes rápidos e aduziu:
— A recuperação de Olímpio, para a reencarnação, exigirá tempo. Contudo, podes, com o auxílio deste pouso, iniciar a obra socorrista…
E, à frente da atitude expectante da esposa abnegada, continuou:
— As vítimas de ontem, hoje transformadas em verdugos enrijecidos, moram na herdade que lhes foi arrebatada pelo irmão fratricida, alimentando o ódio contra os seus descendentes e conturbando-lhes a vida. É necessário que vás em pessoa suplicar-lhes melhores disposições mentais para que se habilitem ao amparo de nossa organização, preparando-se para o renascimento físico em época oportuna. Conseguida essa fase inicial de assistência, colaborarás na volta de Olímpio ao lar do próprio filho, e, por tua vez, tornarás à carne, logo após, a fim de que de novo te consorcies com ele, em abençoado futuro, para que recebas nos braços Clarindo e Leonel, por filhos do coração, aos quais Olímpio restituirá a existência terrestre e os haveres…
Um sorriso de ventura brilhou no semblante da sublime mulher e, talvez porque enunciasse pensamentos de temor, Sânzio acudiu-a, exclamando:
— Não desfaleças. Serás sustentada por esta Mansão, em todos os teus contatos com os nossos amigos fixados na vingança e atenderemos pessoalmente a todos os assuntos que se refiram à transferência de tuas atividades para este sítio, perante as autoridades a que te subordinas. Nossos irmãos infortunados não estarão insensíveis aos teus rogos… Sofreste-lhes impiedosos golpes nos derradeiros dias de tua permanência no mundo e a humildade dos que sofrem é fator essencial na renovação dos que fazem sofrer…
A digna criatura, em lágrimas de jubiloso reconhecimento, osculou-lhe a destra e afastou-se.
A cena tocante e simples emocionara-nos, fundamente.
Senti o incomensurável amor de Deus alicerçando os fundamentos de Sua Justiça indefectível e, no imo dalma, bradei para os meus próprios ouvidos: — Louvado sejas Tu, Pai de Infinita Bondade, que semeias a esperança e a alegria até nos infernos do crime, como desabotoas rosas de beleza e perfume no seio dos sarçais!.
Autorizadas por Druso, Madalena e Sílvia aproximaram-se do Ministro, implorando-lhe a intercessão para que os esposos fossem atendidos naquele estabelecimento de paz e fraternidade, para a reconstrução do destino à frente do porvir. Sânzio acolheu-lhes as súplicas com benevolência e carinho, determinando o recolhimento de ambos os infelizes no clima do instituto e prometendo facilitar-lhes a reencarnação para breve.
Ligeiro sinal do diretor fez-nos sentir que o instante era agora livre para os entendimentos educativos; assim, impressionados com o que víramos e observáramos, Hilário e eu acercamo-nos do venerável mensageiro, com o propósito de ouvi-lo, a fim de aproveitarmos aquela hora de conversação rara e bela.
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