Mecanismos da mediunidade

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Capítulo XV

Cargas elétricas e cargas mentais


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EXPERIÊNCIA VULGAR — Para examinar as ocorrências do fenômeno mediúnico indiscriminado, referimo-nos, linhas antes, ao fenômeno hipnótico de ordem popular, em que hipnotizadores e hipnotizados, sem qualquer recurso de sublimação do espírito se entregam ao serviço de permuta dos agentes mentais.

Contudo, para gravar as linhas básicas de nosso estudo, recordemos a propagação indeterminada dos elétrons nas faixas da Natureza.

De semelhante propagação, qualquer pessoa pode retirar a prova evidente com vários objetos como, por exemplo, com a experiência clássica da caneta-tinteiro que, friccionada com um pano de lã, nos deixa perceber que as bolhas de ar existentes entre as fibras do pano fornecem os elétrons livres a elas agregados, elétrons que se acumulam na caneta mencionada, por suas qualidades dielétricas ou isolantes.

Efetuada a operação, elementos leves, portadores de cargas elétricas positivas ou, mais exatamente, muito pobres de elétrons, como sejam pequeninos fragmentos de papel, serão atraídos pela caneta, então negativamente carregada.


MÁQUINA ELETROSTÁTICA — Na máquina eletrostática ou indutora, utilizada nas experiências primárias de eletricidade, a ação se verifica semelhante à experiência da caneta-tinteiro.

Os discos de ebonite em atividade rotatória como que esfarelam as bolhas de ar, guardadas entre eles, comprimindo os elétrons que a elas se encontram frouxamente aderidos.

Com o auxílio de escovas, esses elétrons se encaminham às esferas metálicas, onde se aglomeram até que a carga se faça suficientemente elevada para que seja extraída em forma de centelha.


NAS CAMADAS ATMOSFÉRICAS — As correntes de elétrons livres estão em toda a parte.

Nos dias estivais, os conjuntos de átomos ou moléculas de água sobem às camadas atmosféricas mais altas, com o ar aquecido.

Nas zonas de altitude fria, aglutinam-se formando gotas que, em seguida, tombam na direção do solo, em razão de seu peso.

Todavia, as gotas que vertem de cima, sem chegarem ao chão, por se evaporarem na viagem de retorno, são surpreendidas em caminho pelas correntes de ar aquecido em ascensão e, atritando os elementos nesse encontro, o ar quente, na subida, extrai das moléculas d’água os elétrons livres que a elas se encontram fracamente aderidos, arrastando-os em turbilhões para a altura, acumulando-os nas nuvens, que se tornam então eletricamente carregadas.

Quando as correntes eletrônicas aí agregadas tiverem atingido certo valor, assemelham-se as nuvens a máquinas indutoras, em que a tensão se eleva a milhões de volts, das quais os elétrons em massa, na forma de relâmpagos, saltam para outras nuvens ou para a terra, provocando descargas que, às vezes, tomam a feição de faíscas elétricas, em meio de aguaceiros e trovoadas.

Em identidade de circunstâncias, quando o planeta terrestre se encontra na direção de explosões eletrônicas partidas do Sol, cargas imensas de elétrons perturbam o campo terrestre, responsabilizando-se pelas tempestades magnéticas que afetam todos os processos vitais do Globo, — a existência humana inclusive, porquanto costumam desarticular as válvulas microscópicas do cérebro humano, impondo-lhes alterações nocivas, tanto quanto desequilibram as válvulas dos aparelhos radiofônicos, prejudicando-lhes as transmissões


CORRENTES DE ELÉTRONS MENTAIS — Dentro de certa analogia, temos também as correntes de elétrons mentais, por toda a parte, formando cargas que aderem ao campo magnético dos indivíduos, ou que vagueiam, entre eles, à maneira de campos elétricos que acabam atraídos por aqueles que, excessivamente carregados, se lhes afeiçoem à natureza.

Recorrendo a imagem da caneta-tinteiro, em atrito com o pano de lã, e da máquina eletrostática em que os elétrons se condicionam para a produção de centelhas, lembraremos que toda compressão de agentes mentais, através da atenção, gera em nossa alma estados indutivos pelos quais atraímos cargas de pensamentos em sintonia com os nossos.

A leitura de certa página, a consulta a esse ou àquele livro, determinada conversação, ou o interesse voltado para esse ou aquele assunto, nos colocam em correlação espontânea com as Inteligências encarnadas ou desencarnadas que com eles se harmonizem, por intermédio das cargas mentais que acumulamos e emitimos, na forma de quadros ou centelhas em série, com que aliciamos para o nosso convívio mental os que se entregam a ideações análogas às nossas.

Não nos propomos afirmar que o fenômeno da caneta-tinteiro ou do aparelho eletrostático seja igual à ocorrência da indução mental no cérebro.

Assinalamos apenas a analogia de superfície, para salientar a importância dos nossos pensamentos concentrados em certo sentido, porque é pela projeção de nossas ideias que nos vinculamos às Inteligências inferiores ou superiores de nosso caminho.

E para estampar, com mais segurança, a nossa necessidade de equilíbrio, perante a vida, recordemos que à maneira das correntes incessantes de força, que sustentam a Natureza terrestre, também o pensamento circula ininterrupto, no campo magnético de cada Espírito, extravasando-se para além dele, com as essências características a cada um.

Queira ou não, cada alma possui no próprio pensamento a fonte inestancável das próprias energias.

Correntes vivas fluem do íntimo de cada Inteligência, a se lhe projetarem no “halo energético”, estruturando-lhe a aura ou fotosfera psíquica, à base de cargas magnéticas constantes, conforme a natureza que lhes é peculiar, de certa forma semelhantes às correntes de força que partem da massa planetária, compondo a atmosfera que a envolve.


CORRENTES MENTAIS CONSTRUTIVAS — Assim como a Natureza encontra, na distribuição harmoniosa das próprias energias, o caminho justo para o próprio equilíbrio, sustentando-se em movimento contínuo, o Espírito identifica, no trabalho ordenado com segurança, a trilha indispensável para o seu clima ideal de euforia.

Quanto mais enobrecida a consciência, mais se lhe configurará a riqueza de imaginação e poder mental, surgindo portanto mais complexo o cabedal de suas cargas magnéticas ou correntes mentais, a vibrarem ao redor de si mesmo e a exigirem mais ampla quota de atividade construtiva no serviço em que se lhe plasmem vocação e aptidão.

Seja no esforço intelectual em elevado labor, na criação artística, nas obras de benemerência ou de educação, seja nas dedicações domésticas, nas tarefas sociais, nas profissões diversas, nas administrações públicas ou particulares, nos empreendimentos do comércio ou da indústria, no amanho da terra, no trato dos animais, nos desportos e em todos os departamentos de ação, o Espírito é chamado a servir bem, isto é, a servir no benefício de todos, sob pena de conturbar a circulação das próprias energias mentais, agravando os estados de tensão.


CORRENTES MENTAIS DESTRUTIVAS — Os referidos estados de tensão, devidos a “núcleos de força na psicosfera pessoal”, procedem, quase sempre, à feição das nuvens pacíficas repentinamente transformadas pelas cargas anormais de elétrons livres em máquinas indutoras, atraindo os campos elétricos com que se fazem instrumentos da tempestade.

Acumulando em si mesma as forças autogeradas em processos de profundo desequilíbrio, a alma exterioriza forças mentais desajustadas e destrutivas, pelas quais atrai as forças do mesmo teor, caindo frequentemente em cegueira obsessiva, da qual muitas vezes se afasta, desorientada, pela porta indesejável do remorso após converter-se em intérprete de inqualificáveis delitos.

Noutras circunstâncias, considerando-se que o processo da obliteração mental, ou “acumulação desordenada das nuvens de tensão no campo da aura”, se caracteriza por imensa gradação, se as criaturas conscientes não se dispõem à distribuição natural das próprias cargas magnéticas, em trabalho digno, estabelecem para si a degenerescência das energias.

Nessa posição, emitem ondas mentais perturbadas, pelas quais se ajustam a Inteligências perturbadas do mesmo sentido, arrojando-se a lamentáveis estações de aviltamento, em ocorrências deploráveis de obsessão, nas quais as mentes desvairadas ou caídas em monoideísmo vicioso se refletem mutuamente.

E chegadas a semelhantes conturbações, seja no arrastamento da paixão ou na sombra do vício, sofrem a aproximação de correntes mentais arrasadoras, oriundas dos seres empenhados à crueldade, por ignorância — encarnados ou desencarnados — que, em lhes vampirizando a existência, lhes impõem disfunções e enfermidades de variados matizes, segundo os pontos vulneráveis que apresentem, criando no mundo vastas províncias de alienação e de sofrimento.




(Este capítulo foi recebido pelo médium Waldo Vieira.)



André Luiz
Francisco Cândido Xavier

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