A Vida Fala
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O Remédio Imprevisto

O pequeno príncipe Julião andava doente e abatido.
Não brincava, não estudava, não comia.
Perdera o gosto de colher os pêssegos saborosos do pomar.
Esquecera a peteca e o cavalo.
Vivia tristonho e calado no quarto, esparramado numa espreguiçadeira.
Enquanto a mãezinha, aflita, se desvelava junto dele, o rei experimentava muitos médicos.
Os facultativos, porém, chegavam e saíam, sem resultados satisfatórios.
O menino sentia grande mal-estar. Quando se lhe aliviava a dor de cabeça, vinha-lhe a dor nos braços. Quando os braços melhoravam, as pernas se punham a doer.
O soberano, preocupado, fez convite público aos cientistas do País. Recompensaria nababescamente a quem lhe curasse o filho.
—Que todos saibam de minha disposição.
Avisaremos a todos majestade disse seu auxiliar.
Depois de muitos médicos famosos ensaiarem, embalde, apareceu um velhinho humilde que propôs ao monarca diferente medicação.
—Qual será o preço do tratamento ? perguntou o rei.
—Nada quero. . . respondeu o velhinho. Desejo apenas plena autoridade sobre seu filho.
O pai aceitou as condições e, no dia imediato, o menino foi entregue ao ancião.
O sábio anônimo conduziu-o a pequeno trato de terra e recomendou-lhe arrancasse a erva daninha que ameaçava um tomateiro.
—vamos meu filho! Arranque a erva daninha.
— Não posso! estou doente! — gritou o menino.
O velhinho convenceu-o, sem impaciência, de que o esforço era necessário e, em minutos breves, ambos libertavam as plantas da erva invasora.
Antes do meio-dia, Julião disse ao velho que sentia fome, O sábio humilde sorriu, contente, enxugou-lhe o suor copioso e levou-o a almoçar.
—Sirva-se à vontade, Julião. Disse o velho O jovem devorou a sopa e as frutas, gostosamente.
Após ligeiro descanso, voltaram a trabalhar.
No dia seguinte, o ancião levou o príncipe a servir na construção de pequena parede.
—Vamos levantar uma parede disse o velho a Julião.
-Eu não sei
—Quem não sabe aprende, Julião respondeu o velho.
À tarde sua fome era maior.
Novo programa foi traçado para Julião. Após o banho matinal, cavava a terra. Almoçava e repousava.
Ao entardecer, estudava e a noitinha, brincava e passeava com jovens da mesma idade.
Transcorridos dois meses, Julião era restituído à autoridade paternal, rosado, robusto e feliz. Ardia, agora, em desejos de ser útil, ansioso por fazer algo de bom. Descobrira, enfim, que o serviço para o bem é a mais rica fonte de saúde.
O rei, muito satisfeito, tentou recompensar o velhinho.
Todavia, o ancião esquivou-se, acrescentando:
— Grande soberano, o maior salário de um homem reside na execução da Vontade de Deus, através do trabalho digno. Ensina a glória do serviço aos teus filhos e tutelados e o teu reino será abençoado, forte e feliz.
Dito isto, desapareceu na multidão e ninguém mais o viu.
FIM