A semente de mostarda

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Capítulo XII

O instinto e a inteligência


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A controvérsia prosseguia…

Alfredo e Pirilo, dois amigos dedicados ao estudo da filosofia, permaneciam, horas inteiras, dialogando sobre a função da alma humana.

Qual teria sido a primeira força a desdobrar-se na criatura recém-criada pela Sabedoria Divina? A inteligência ou o instinto?

Alfredo admitia que a inteligência teria tido a prioridade, enquanto Pirilo acreditava que o instinto teria sido o começo das tarefas evolutivas da alma humana.

O primeiro exaltava os méritos da razão, filha da inteligência, e o segundo se reportava ao instinto como sendo o agente da natureza que operava lentamente, preparando o caminho para o discernimento e, muitas vezes, Pirilo justificava o seu ponto de vista, acentuando:

— Do instinto para a inteligência, a estrada é longa a percorrer. De forma em forma ou de experiência em experiência, o instinto vai despindo a própria inferioridade, ou perdendo os impulsos selvagens, até conquistar a inteligência que o conduzirá ao discernimento e à razão. Por isso é que devemos usar de muita tolerância e paciência, de uns para com os outros, porque muitos irmãos se fazem delinquentes por excesso de agressividade, pelo estado de evolução deficitária em que se encontram.

Alfredo ouvia, esboçando gestos de incredulidade, até que, um dia, propôs ao amigo:

— Façamos uma experiência em que provarei a você que a educação cultivada pela inteligência dispensa todas as afirmativas que colocam o instinto na base do processo evolutivo. Demonstrarei que basta educar a inteligência e todo o primitivismo do instinto desaparecerá.

E continuou:

— Compraremos juntos um gato comum, em cuja impulsividade o instinto esteja reinando… O gato ficará comigo em minha casa e me disponho a educá-lo esmeradamente. Daqui a um ano, convidarei você para almoçarmos juntos e o animal se portará com as características de um menino carinhosamente preparado para a vida social.

Concordaram ambos com o empreendimento e Alfredo levou o felino para sua própria residência.

Decorrido um ano, Alfredo solicitava a presença de Pirilo para o almoço do dia seguinte e comunicou:

— Você verá o prodígio da educação. O gato assimilou todos os meus ensinos. Tem os hábitos de um rapaz de certo nível intelectual.

Pirilo aceitou o convite com satisfação e na hora aprazada pela manhã do dia imediato, ei-lo com Alfredo na sala de estar. O dono da casa trouxe o gato ao exame do amigo. O visitante ficou encantado. O felino obedecia a todas as ordens do dono. Sentava-se, erguia-se sobre as patas dianteiras e retornava à posição certa, atendendo ao pedido do educador. Ao almoço alimentava-se em um prato especial, levando a comida à boca com a patinha direita.

Terminada a refeição, disse Alfredo, entusiasmado:

— Você viu, Pirilo, a superioridade da inteligência educada sobre o instinto?

— Estou vendo — respondeu o amigo. Foi o momento em que Pirilo voltou à palavra e pediu ao companheiro que fechasse as portas do aposento em que se achavam e pediu licença para ver até que ponto chegaria o experimento do bichano.

Alfredo apoiou a solicitação, e Pirilo, enfiando a mão direita num dos bolsos do paletó, dali tirou uma caixinha da qual escapou um rato pequeno que saltou para a mesa, saltitando e correndo qual se estivesse sedento de liberdade. Bastou isso e o gato pulou apressado, perseguindo o rato e quebrando todas as peças em que o almoço fora servido, até que pegou o animalzinho e pôs-se a devorá-lo à vista dos amigos espantados.

Foi quando Pirilo dirigiu-se a Alfredo, perguntando:

— Você vê, Alfredo, o poder do instinto que antecede a inteligência e a educação? Alfredo sorriu com desapontamento, mas não disse palavra.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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