Almas em Desfile

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Capítulo XXII

Antes de chegar


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Estávamos em tarefa de assistência, na grande nave aérea, que voava tranquilamente.

Lá em baixo, as montanhas mineiras mostravam a exuberância de sua vegetação.

Aqui e ali, uma nuvem a espreguiçar-se, impassível.

Lado a lado, conversavam dois amigos:

— E você, que fará no Rio?

— Vou tratar da saúde.

— Você? O confidente dos “bons Espíritos”?

— Como não? São bons amigos… Mas um amigo não pode apagar nossos débitos.

— Mas, enfim, para que serve o Espiritismo?

— Ajuda-me a viver preparado.

— Para quê? — e sorriu, insolente, o companheiro sarcástico. — Vocês, religiosos, só falam em amanhã e amanhã. Mas a vida é hoje, meu caro… Ateu como sou, vivo muito melhor. Minha fazenda dá de tudo. A corretagem é boa mina. Com ela, estou formando larga frota de caminhões em Brasília! Mas vocês, espíritas, são impressionantes. Pensam somente em sessões e ilusões, com os olhos no outro mundo…

— Não é tanto assim…

— Que faz você, agora?

— Como há dez anos, represento o comércio.

— Muitos patrões?

— Muitos patrões.

— Faça como eu. Nada de dependência. Sou livre, livre. Vou onde quero e faço o que quero. Neste ano, levantarei meu arranha-céu em São Paulo, terei minha casa de repouso, no Eldorado, adquirirei terreno numa das praias de Santos e comprarei novas terras em Goiás. Mas, antes disso, quero visitar New York. Darei uma espiada na América. Já estou providenciando passagem num Caravelle… Nada de outra vida. Quero esta mesma…

Nesse ínterim, a grande cidade, embora ao longe, apareceu de todo…

O Corcovado e o Pão de Açúcar ornavam a natureza da terra carioca.

— Veja a beleza do mundo! — acentuou o viajante materialista. — Isso é para ser desfrutado, gozado, aproveitado. E depressa. Nada de amanhã. Tudo é hoje. Se você quiser esquecer essa história de mortos comunicantes, dê à noite um pulo no meu hotel!…

Nisso, porém, a máquina poderosa começou a jogar.

Parecia um pássaro enorme em convulsões imprevistas.

E, antes que os passageiros dessem conta de si, o grande avião mergulhou no mar, com a desencarnação de todos…



(Psicografia de Francisco C. Xavier)



Hilário Silva
Francisco Cândido Xavier

ANTES DE CHEGAR

Estávamos em tarefa de assistência, na grande nave aérea, que voava tranquilamente.

Lá em baixo, as montanhas mineiras mostravam a exuberância de sua vegetação.

Aqui e ali, uma nuvem a espreguiçar-se, impassível.


Lado a lado, conversavam dois amigos:

—E você, que fará no Rio?

—Vou tratar da saúde.

—Você? O confidente dos "bons Espíritos"?

—Como não? São bons amigos. . . Mas um amigo não pode apagar nossos débitos.

—Mas, enfim, para que serve o Espiritismo?

—Ajuda-me a viver preparado.

—Para quê? – e sorriu, insolente, o companheiro sarcástico. – Vocês, religiosos, só falam em amanhã e amanhã. Mas a vida é hoje, meu caro. . .

Ateu como sou, vivo muito melhor. Minha fazenda dá de tudo. A corretagem é boa mina.

Com ela, estou formando larga frota de caminhões em Brasília!

Mas vocês, espíritas, são impressionantes. Pensam somente em sessões e ilusões, com os olhos no outro mundo. . .

—Não é tanto assim. . .

—Que faz você, agora?

—Como há dez anos, represento o comércio.

—Muitos patrões?

—Muitos patrões.

—Faça como eu. Nada de dependência. Sou livre livre. Vou onde quero e faço o que quero. Neste ano, levantarei meu arranha-céu em São Paulo, terei minha casa de repouso, no Eldorado, adquirirei terreno numa das praias de Santos e comprarei novas terras em Goiás. Mas, antes disso, quero visitar Nova York. Darei uma espiada na América. Já estou providenciando passagem num Caravelle. . . Nada de outra vida. Quero esta mesma. . .

Nesse ínterim, a grande cidade, embora ao longe, apareceu de todo. . .

O Corcovado e o Pão de Açúcar ornavam a natureza da terra carioca.

—Veja a beleza do mundo! – acentuou o viajante materialista. – Isso é para ser desfrutado, gozado, aproveitado. E depressa. Nada de amanhã. Tudo é hoje. Se você quiser esquecer essa história de mortos comunicantes, dê à noite um pulo no meu hotel!. . .

Nisso, porém, a máquina poderosa começou a jogar.

Parecia um pássaro enorme em convulsões imprevistas.

E, antes que os passageiros dessem conta de si, o grande avião mergulhou no mar, com a desencarnação de todos. . .







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