Almas em Desfile

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Capítulo XXIV

Feliz sem saber


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O médium João Luna estava doente, cansado.

Lavador de carros, ganhando pouco, afligia-se ao ver a esposa e os quatro filhinhos, descalços e mal vestidos, no barraco suburbano, constituído por dois cômodos pequeninos, quase que totalmente remendados por fragmentos de zinco.

Preocupados, alguns amigos conduziram-no à residência de Dona Augusta de Lima, conhecida médium no centro da cidade.

Como fazia com todos, a bondosa senhora recebeu o grupo amavelmente, abrindo as portas da moradia.

Embora arrasado pelo desânimo, João admirava o interior doméstico.

A mobília inglesa emoldurava-se de telas custosas, de esculturas gregas, de copiosa alfaia italiana e de belos tapetes em que sobressaíam os gobelins na talagarça unida.

Enquanto conversavam, refrescos eram servidos em cristais da Boêmia.

Findo o repasto, a médium convidou os circunstantes à oração.

Bastava a prece para que João se recuperasse.

E Dona Augusta transmitiu o passe e orou.

E pediu a Deus se compadecesse dela, afirmando-se a mulher mais sofredora do mundo. Dizia-se exausta de provações, fatigada, abatida, sem coragem de prosseguir. E chorava. E rogava a compaixão divina para a sua existência, verdadeiro “vale de lágrimas”, segundo a sua própria expressão.

Quando terminou, João parecia realmente melhor. Sorria.

Os visitantes apresentavam despedidas.

Luna, muito comovido, exclamou para a dona da casa:

— Dona Augusta, Deus lhe pague o que a senhora fez por mim.

— Como assim, meu irmão? — disse a médium — eu nada fiz.

E Luna observou, reanimado, sem qualquer intenção de ferir:

— Recebi muito em sua prece, pois, se a senhora no conforto que Deus lhe deu afirma que é a mulher mais sofredora da Terra, eu, na minha casa de zinco, devo ser feliz sem saber.



(Psicografia de Francisco C. Xavier)



Hilário Silva
Francisco Cândido Xavier

FELIZ SEM SABER

O médium João Luna estava doente, cansado.

Lavador de carros, ganhando pouco, afligia-se ao ver a esposa e os quatro filhinhos, descalços e mal vestidos, no barraco suburbano, constituído por dois cômodos pequeninos, quase que totalmente remendados por fragmentos de zinco.

Preocupados, alguns amigos conduziram-no à residência de Dona Augusta de Lima, conhecida médium no centro da cidade.

Como fazia com todos, a bondosa senhora recebeu o grupo amavelmente, abrindo as portas da moradia.

Embora arrasado pelo desânimo, João admirava o interior doméstico.

A mobília inglesa emoldurava-se de telas custosas, de esculturas gregas, de copiosa alfaia italiana e de belos tapetes em que sobressaíam os gobelins na talagarça unida.

Enquanto conversavam, refrescos eram servidos em cristais da Boêmia.

Findo o repasto, a médium convidou os circunstantes à oração.

Bastava a prece para que João se recuperasse.

E Dona Augusta transmitiu o passe e orou.

E pediu a Deus se compadecesse dela, afirmando-se a mulher mais sofredora do mundo.

Dizia-se exausta de provações, fatigada, abatida, sem coragem de prosseguir. E chorava.

E rogava a compaixão divina para a sua existência, verdadeiro "vale de lágrimas", segundo a sua própria expressão.

Quando terminou, João parecia realmente melhor. Sorria.

Os visitantes apresentavam despedidas.


Luna, muito comovido, exclamou para a dona da casa:

—Dona Augusta, Deus lhe pague o que a senhora fez por mim.

—Como assim, meu irmão? – disse a médium – eu nada fiz.


E Luna observou, reanimado, sem qualquer intenção de ferir:

—Recebi muito em sua prece, pois, se a senhora no conforto que Deus lhe deu afirma que é a mulher mais sofredora da Terra, eu, na minha casa de zinco, devo ser feliz sem saber.







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