Almas em Desfile

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Capítulo XXVI

Ao pé do ouvido


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, o apóstolo do Espiritismo na capital paulista, instalara o seu grupo de estudo e caridade na Rua do Lavapés, quando numa reunião social foi abordado pelo Dr. Cesário Motta, grande médico e higienista, então Deputado Federal, com residência no Rio.

Conversa vai, conversa vem, disse-lhe o Dr. Cesário ao pé do ouvido:

— Você, meu amigo, precisa precaver-se. Não sou espírita, mas admiro-lhe a sinceridade. E tenho ouvido lamentáveis opiniões a seu respeito. Dizem por aí que você adota o nome de médium para explorar a bolsa pública; que você está rico de tanto enganar incautos e dizem também que você se isola com mulheres, em gabinetes, para seduzi-las, em nome da prece. Tudo calúnias, bem sei…

— E que sugere o senhor? — perguntou o amigo, sereno.

— É importante que você se abstenha do Espiritismo…

— Mas, doutor — falou Batuíra, com humildade —, o senhor é médico e tem sido o nosso protetor na extinção da febre amarela e da varíola em São Paulo… Já vi o senhor tocar as feridas de muita gente… Enfermos para quem pedi seu amparo receberam a sua melhor atenção, embora vomitassem lama em forma de sangue… Nunca vi o senhor desanimar… Pelo fato de o senhor encontrar tanta podridão nos corpos, poderia desistir da medicina?

O Dr. Cesário sorriu, satisfeito, e falou:

— Sim, sim… Não seria possível… Você tem razão… Esquecia-me de que há podridão também nas almas…

E, batendo nos ombros do velho amigo, encerrou a questão, afirmando, alegre:

— Vamos continuar…



(Psicografia de Francisco C. Xavier)



Hilário Silva
Francisco Cândido Xavier

AO PÉ DO OUVIDO

Batuíra, o apóstolo do Espiritismo na capital paulista, instalara o seu grupo de estudo e caridade na Rua do Lavapés, quando numa reunião social foi abordado pelo Dr. Cesário Motta, grande médico e higienista, então Deputado Federal, com residência no Rio.


Conversa vai, conversa vem, disse-lhe o Dr. Cesário ao pé do ouvido:

—Você, meu amigo, precisa precaver-se. Não sou espírita, mas admiro-lhe a sinceridade.

E tenho ouvido lamentáveis opiniões a seu respeito. Dizem por aí que você adota o nome de médium para explorar a bolsa pública; que você está rico de tanto enganar incautos e dizem também que você se isola com mulheres, em gabinetes, para seduzi-las, em nome da prece. Tudo calúnias, bem sei. . .

—E que sugere o senhor? – perguntou o amigo, sereno.

—É importante que você se abstenha do Espiritismo. . .

—Mas, doutor – falou Batuíra, com humildade -, o senhor é médico e tem sido o nosso protetor na extinção da febre amarela e da varíola em São Paulo. . . Já vi o senhor tocar as feridas de muita gente. . . Enfermos para quem pedi seu amparo, receberam a sua melhor atenção, embora vomitassem lama em forma de sangue. . . Nunca vi o senhor desanimar. . .

Pelo fato de o senhor encontrar tanta podridão nos corpos, poderia desistir da medicina?


O Dr. Cesário sorriu, satisfeito, e falou:

—Sim, sim. . . Não seria possivel. . . Você tem razão. . . Esquecia-me de que há podridão também nas almas. . .


E, batendo nos ombros do velho amigo, encerrou a questão, afirmando, alegre:

—Vamos continuar. . .








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