Capítulo VIII

Sensações na Outra Vida


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Quais são as sensações da criatura logo após a morte do corpo? Durante os preparativos da nossa reunião pública, trocávamos ideias sobre o assunto. As opiniões divergiam bastante. Um amigo nos escrevera, solicitando que perguntássemos a Cornélio Pires a respeito, sugerindo-lhe alguns apontamentos sobre essa questão.

Encaminhando-nos, no auge das conversações, para as tarefas da noite, os amigos espirituais nos indicaram para estudo a pergunta 155 de , onde se explica que os dois estados se ligam e se confundem.

Nosso amigo Cornélio manifestou-se, por nosso intermédio, com a mensagem em quadras a que denominou Impressões Depois da Morte.


IMPRESSÕES DEPOIS DA MORTE

Recebi sua pergunta,

Meu caro Tito Belém,

Sobre os momentos primeiros

De nossa vida no Além.


A pergunta é pequenina,

No assunto como se aponta.

Mas a resposta, a rigor,

Seria livros sem conta.


A morte é assim, qual a vida:

Renovação sem atraso…

Cada vida — nova história,

Cada morte — novo caso.


Embora o pouco que diga

Naquilo que eu não sabia,

Posso falar, de algum modo,

Sem muita filosofia.


Entre os que deixam a Terra,

Vê-se enorme diferença;

Cada pessoa que parte

Está naquilo que pensa.


Quem viveu para o trabalho,

Sempre em serviço constante,

Estudando e construindo,

Não para, segue adiante…


Entretanto, a maioria

Continua, muitas vezes,

Nos caprichos preferidos,

Por muitos e muitos meses.


Recorde nessa matéria,

O nosso amigo João Pio:

Morreu no abuso da pesca

E vive à beira do rio.


Anita do apego aos ouros,

No Roçado das Giboias,

Sem corpo vive atracada

Em velha caixa de joias.


Finou-se em brasas da ira,

O nosso Adálio Godinho.

Hoje, é um fantasma de casa,

Gesticulando sozinho.


Morreu apostando em bichos

O nosso Cecílio Luz.

Desencarnado ele clama

Por touro, cabra e avestruz…


Atarracado à cobiça

O Antonico do Hemetério,

Sem corpo, enxerga diamantes

Nas pedras do cemitério.


Bebia em caneco grande

Teotônio de Xique-Xique.

Desencarnado, deitou-se

Quase à frente do alambique.


Agarrado a bois de preço

Finou-se Juca Beiral.

Sem corpo, é um rondante aos gritos

Fiscalizando o curral.


Vivendo de sombra e rede,

Morreu Flausina da Granja.

Hoje é um fantasma de leito,

Pedindo prato de canja.


Tiro lá, tiro de cá,

Tombou Lino Santarém.

Desencarnado, quer briga,

Mas já não acha com quem.


Morreu perseguindo a muitos

Nhô Nico de João da Venda.

De tanta culpa ele é hoje

Assombração na fazenda.


Parada em sono e doença

Faleceu Joana Mangaba.

Depois da morte, carrega

Doença que não se acaba.


Sempre fugiu do trabalho

Dona França da Abadia.

Sem corpo, ela própria clama

Que sofre paralisia.


A Lei de Deus, caro amigo,

É clara, simples, segura…

Tudo o que temos na vida

É aquilo que se procura.


Deus nos inspire e nos guarde,

A verdade é isso aí…

Cada qual acha na morte

Aquilo que fez de si.



Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier

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