Capítulo V

Escolha das provas


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Sobre a escolha das provações, amigos vários falavam conosco. Diante de certas provas, aflitivas e terríveis, seria o próprio Espírito quem as pediria, antes de tomar o corpo terrestre? A pergunta, formulada por um simpatizante da Doutrina Espírita, provocou muitos comentários. No momento mais aceso da nossa conversação fomos convidados à prece em conjunto.

Consultado, deu-nos a questão 259 para estudo, seguindo-se explanações rápidas e expressivas. Ao término da reunião, foi o nosso estimado Cornélio Pires quem nos trouxe a palavra do mundo espiritual.


ASSUNTO DE ACEITAÇÃO

“Se pedimos nossas provas,

— Diz você, Joaquim Paixão —

Como é que se vê do Além

O assunto da aceitação?”


“Se há tanta gente na fuga

Do respeito a compromisso,

Diga, Cornélio, o que há,

Como posso entender isso?”


Compreendo, caro irmão,

Seus raciocínios extremos.

No entanto, saiba!… Nós mesmos

Pedimos o que sofremos.


Nos fatos da delinquência

É que a coisa se complica:

Reparação do infrator

É a pena que se lhe aplica.


Sem essa exceção na regra,

Na verdade vista, a fundo,

Rogamos, antes do berço,

As nossas lições no mundo.


Ao fim de cada existência,

Em conta particular,

O espírito reconhece

Os débitos a pagar.


A gente anota com susto

Quantas faltas ao dever;

Quantos votos a cumprir,

Quanto trabalho a fazer!


Analisando a nós mesmos,

Em claro e justo juízo,

Pede-se a Deus corpo novo

Para o que seja preciso.


Aparece a concessão.

Eis que a pessoa renasce;

Por dentro, as tendências velhas

Sob a luz de nova face…


Aí, começam problemas…

Encontra-se a obrigação.

Entretanto, é muita gente

Nas ondas da deserção.


Se você quer aprender,

Segundo o Reto Pensar,

São muitos os casos tristes

Que podemos relembrar.


Você recorda o Nhô Cássio?

Pediu cegueira comprida:

Ao ver-se na provação,

Matou-se com formicida.


Aninha rogou viver

Com dois filhos mutilados;

Ao ter dois gêmeos em luta

Fez dois anjos enjeitados.


Rogou fraqueza no corpo

Nhô Nico Bartolomeu;

Sentindo-se desprezado,

Revoltou-se e enlouqueceu.


Anita pediu o encargo

De proteger João de Tina;

Ao vê-lo pobre e doente,

Largou-se na cocaína.


Na penúria que pedira

Nosso amigo João 5ilaça,

Em vez de buscar serviço,

Atolou-se na cachaça.


Pediu nervos relaxados

Nhô Sizínio Rapadura;

Ao ver-se em corpo imperfeito,

Jogou-se de grande altura.


Léo rogou prisão no leito

E, tendo paralisia,

Atirou-se na descrença

E acabou na rebeldia.


Joana pediu procissões,

Corpo enfermo e vida em brasa,

Quando entrou na provação,

Desprezou a própria casa.


É isso aí… Paciência

Não vive conosco em vão…

Quem se aceita, espera e serve,

Melhora de condição.


De tudo, aparece um ensino

Que não se deve olvidar:

Dor de quem não se conforma

Tende sempre a piorar.




Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier


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