Amor sem Adeus
Versão para cópiaAssistência espiritual aos recém-desencarnados
Com a morte do corpo, o Espírito retorna ao seu mundo normal primitivo, que é chamado, dentre outras denominações, de Mundo Maior, Invisível ou Espiritual.
O término de cada existência terrena representa a liberação do passaporte para a grande viagem de regresso, quando levaremos a bagagem pessoal e intransferível das experiências próprias, adquiridas com os exercícios e lutas de cada dia. O corpo — cela transitória da alma — após cumprir o seu abençoado papel de instrumento da nossa individualidade espiritual, volve, então, ao gigantesco “laboratório da Natureza”.
Inumeráveis indumentárias físicas — doações dadivosas do Criador — já utilizamos nos processos reencarnatórios, atendendo às nossas necessidades de aprimoramento da inteligência e do sentimento, evolução que se realiza nas dois mundos: material e espiritual. E de quantas existências carnais necessitaremos ainda?
A Doutrina Espírita elucida-nos o fenômeno da morte com informações amplas e precisas que, por certo, muito nos auxiliará no momento em que “soar nossa hora”; como também, desde agora, dilatando-nos o horizonte da compreensão de tal evento, ajuda-nos a suportar com mais resignação a separação dos entes queridos, entendimento que reflete beneficamente nos que já nos antecederam na passagem para o Além-túmulo.
Após o desenlace, a alma necessita de um período de adaptação, mais ou menos extenso, à “nova vida”, que palpita em campo vibratório diverso, bem mais sutil. Essa necessidade é natural e compreensível, bastando lembrarmo-nos do longo tempo que a alma dispende, em cada reencarnação, passando pelas fases: intra-uterina, infância e mocidade, até integrar-se na nova jornada em toda a sua plenitude, na fase adulta.
O nascer “aqui” e o nascer “lá” tem muito em comum. Como a Natureza não dá saltos, a alma humana atravessa obrigatoriamente etapas necessárias de ajustamento em cada reingresso nos planas físico e espiritual.
Um estado denominado “perturbação” é a primeira etapa da alma no Mundo Invisível, cuja duração é muito variável; depende do seu grau evolutivo e do gênero de morte; e pode ser rápida, de horas, ou prolongar-se por meses ou anos.
“No momento da morte tudo, a princípio, é confuso. A alma necessita de algum tempo para se reconhecer. Ela se acha como aturdida e no estado de um homem que despertando de um sono profundo procura orientar-se sobre sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam à medida que se apaga a influência da matéria da qual se libertou, e se dissipe a espécie de neblina que obscurece seus pensamentos.
… A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem; é calma e em tudo semelhante à que acompanha, um despertar tranquilo. Para as que não têm a consciência pura, ela é chega de ansiedade e de angústia, que aumentam à medida que ele se reconhece.”
Pela narrativa de Walter, depreende-se que o seu período de “perturbação” foi curto e sem maiores tribulações:
— O meu avô Perrone me recolheu no Pronto Socorro. Dormi com serenidade e só depois de acordar vim a saber que ele me amparava com carrinho e bondade que hoje posso avaliar com noção mais ampla de gratidão e entendimento. A ele se unia a irmã e benfeitora Mariazinha, que me disse tomar de algum modo, o seu lugar junto a mim, até que eu possa ser mais útil e assim, querida mamãe, não há motivo para desespero e aflição.
Se um nascimento na Terra, habitualmente, é aguardado num clima de expectativa feliz, e o nenê é recebido festivamente, não haveria a mesma recepção no Além, pelas nossos seres amados lá domiciliados, quando desencarnamos?
“Sim, eles vêm ao encontro da alma que estimam; felicitam-na como ao retorna de uma viagem, se ela escapou aos perigos do caminho, e a ajudam a livrar dos laços corporais. E um privilégio para os bons Espíritos quando aqueles que estimam vêm ao seu encontro ao passo que aquele que está manchado fica, no isolamento, ou a rodeá-lo tem apenas os que lhe são semelhantes: é uma punição.”
Foi exatamente o que se verificou com o Autor Espiritual, segundo o seu depoimento epistolar. Na grande transição, o seu primeiro sono, de refazimento, transcorreu calmamente com assistência permanente de Entidades afetuosas.
Qual foi o preço desse prêmio?
Só uma consciência tranquila, em harmonia com as leis do Criador, pode favorecer tal privilégio. Uma consciência maculada, isto é, atormentada por paixões, revoltas ou complexos de culpa, dificulta, ou muitas vezes, repele qualquer assistência. Nessa situação, a criatura nunca é esquecida pela Providência, sendo apenas o seu estado íntimo o responsável pelo isolamento temporário em que se coloca face aos seres queridos, que a precederam no Mundo Maior, muitos deles dispostos, quase sempre, a uma aproximação imediata. “.… ou a rodeá-lo tem apenas os que lhe são semelhantes: é uma punição”, considerando os casos de assédio de Entidades infelizes e perturbadoras, pois a lei de afinidade impera em todos os domínios do Universo: o bem atrai o bem, o mal sintoniza com o mal. Esta lei não só rege os relacionamentos entre as homens, como também cria e mantém um vastíssimo intercâmbio entre encarnados e desencarnados através de ondas mentais, com profundos reflexos para a alma, já nos primeiros momentos após o desenlace.
Walter sintetiza toda essa problemática, afirmando:
— Procuremos viver e conformar-nos, sobretudo fazendo o bem que pudermos, porque onde estou, o que se conta é o que se fez.
Ouçamos também o oportuno esclarecimento de Emmanuel sobre tão palpitante tema, ao responder à pergunta: ()
“— Logo após a morte, o homem que se desprende do invólucro material pode sentir a companhia dos entes amados que o precederam no além-túmulo?
— Se a sua existência terrestre foi o apostolado do trabalho e do amor a Deus, a transição do Plano terrestre para a Esfera espiritual será sempre suave.
Nessas condições, poderá encontrar imediatamente aqueles que foram objeto de sua afeição no mundo, na hipótese de se encontrarem no mesmo nível de evolução. Uma felicidade doce e uma alegria perene estabelecem-se nesses corações amigos e afetuosos, depois das amarguras da separação e da prolongada ausência.
Entretanto, aqueles que se desprendem da Terra, saturados de obsessões pelais posses efêmeras do mundo e tocados pela sombra das revoltas incompreensíveis, não encontram tão depressa os entes queridos que os antecederam na sepultura. Suas percepções restritas à atmosfera escura dos seus pensamentos e seus valores negativos impossibilitam-lhes as doces venturas do reencontro.
É por isso que observais, tantas vezes, Espíritos sofredores e perturbados fornecendo a impressão de criaturas desamparadas e esquecidas pela esfera da bondade superior, mas, que, de fato, são desamparados por si mesmos, pela sua perseverança no mal, na intenção criminosa e na desobediência aos sagrados desígnios de Deus.”
Na literatura espírita, encontramos outras elucidações, igualmente valiosas, a respeito da assistência de Benfeitores da Vida Maior a todos que passam pela grande transição, acompanhando as criaturas em todas as fases do processo desencarnatório, ora preparando-as aos poucos, no curso de enfermidades longas, ora socorrendo-as nos casos de progressão mais ou menos rápida.
Nesses momentos importantes de cada um de nós, é frequente a aproximação de Espíritos familiares afetuosos, que mesmo habitando o Mundo Invisível, nunca nos esqueceram, acompanhando os nossos passos aqui na Terra com atenção e carinho. Quando dispõem de recursos, não aguardam, em atitude expectante, o feliz reencontro, mas, estendem os braços operosos, participando das equipes de Entidades, que, sob diretrizes de Planos Espirituais Superiores, encarregam-se de assistir aos recém-libertos do casulo carnal. Foi o caso do amparo carinhoso dispensado ao Walter, no Pronto Socorro, pelo seu avô Perrone.
O trabalho dos Bons Espíritos na Crosta Planetária é gigantesco, desdobrando-se em funções as mais variadas, não só junto à Humanidade, mas a todos os reinos da Natureza.
Em todas as épocas, essas Entidades foram detectadas pelos homens através do dom mediúnico de que todos são portadores em maior ou menor grau — recebendo várias denominações, tais como: guias espirituais, gênios protetores, anjos da guarda, Espíritos do bem. Porém, só em 1857, com o advento de O Livro dos Espíritos, obra fundamental da Terceira Revelação, os fenômenos tidos como sobrenaturais — dentre eles a comunicação dos chamados mortos — foram devidamente explicados, pois o sobrenatural nada mais é do que o natural não esclarecido ou ignorado. Um dos seus capítulos, intitulado “Intervenção dos Espíritos no mundo corporal”, () analisa em profundidade tal influência, incluindo a dos desencarnados de todos os padrões evolutivos.
Nas últimas décadas, novas informações, mais pormenorizadas, da atuação dos Emissários do Senhor sobre a, coletividade terrena — participando ativamente de seus sofrimentos e alegrias, empreendimentos e problemas, enfim de seu progresso moral e intelectual — chegaram até nós, corporificando livros e mais livros, enriquecendo sobremaneira a literatura espírita. Dentre as obras que relatam a vida no Plano Invisível e descrevem com riqueza de detalhes a influência de seus habitantes sobre nós, destacamos as do , recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier (algumas em parceria com o médium Waldo Vieira), constituindo uma autêntica série enciclopédica.
André Luiz, com uma linguagem fluente e acessível, utilizando largamente a forma dialogada, transmite-nos “ao vivo” as suas observações e entrevistas nas Esferas Espirituais mais altas e junto à Crosta Terrestre.
Os trabalhos assistenciais aos encarnados mereceram-lhe meticulosos e instrutivos apontamentos. Quando realizava estudos em companhia do sábio Instrutor Alexandre, teve a oportunidade de presenciar uma intervenção socorrista do grupo de entidades comandadas pelo Irmão Francisco. Após o trabalho, André Luiz entrevistou o abnegado dirigente, obtendo as seguintes informações:
“— Nossa pequena expedição — esclareceu o chefe do agrupamento, depois de trocar comigo palavras muito cordiais — é uma das inumeráveis turmas de socorro que colaboram nos círculos da Crosta. Somos milhares de servidores, nessas condições, ligados a diversas regiões espirituais mais elevadas.
— Seu núcleo — perguntei — procede de nossa colônia?
— Sim. E temos nossas atividades entrelaçadas com as tarefas de vários instrutores de Nosso Lar.
— E há tarefas especializadas para cada grupo dessa natureza?
— Perfeitamente. O nosso, por exemplo — acentuou Francisco, gentil —, destina-se ao reconforto de doentes graves e agonizantes. De modo geral, as condições de luta para os enfermos são mais difíceis à noite. Os raios solares, nas horas diurnas, destroem grande parte das criações mentais inferiores dos doentes em estado melindroso, não acontecendo o mesmo à noite, quando o magnetismo lunar favorece as criações de qualquer espécie, boas ou más. Em vista disso, o nosso esforço há-de ser vigilante. Quase ninguém no círculo de nossos irmãos encarnados, conhece a extensão de nossas tarefas de socorro. Permanecem eles num campo de vibrações muito diferentes das nossas e não podem apreender ou discriminar nosso auxílio. Isto, porém, não importa. Outros benfeitores, muito mais elevados que aqueles dos quais podemos guardar conhecimento direto, velam por nós e inspiram-nos, devotadamente, no campo das obrigações comuns, sem que vejamos a sua forma de expressão nos trabalhos referentes aos divinos desígnios.
E talvez porque eu sorrisse, admirando-lhe o ideal de renúncia serena e santificante, o interlocutor também sorriu e acrescentou:
— Sim, meu amigo, reclamar compreensão e resultado de criaturas e situações, ainda incapacitadas para no-los dar, constitui exigência mais cruel que a solicitação de recompensas imediatas.
Era bem a verdade convincente. Mantinha-se o Irmão Francisco dentro da lógica mais elevada. Os que auxiliam alguém, interessadas no reconhecimento ou na compensação, quase sempre permanecem de olhos cerrados para o concurso divino e invisível que de Mais Alto recebem. Exigem que outros lhes identifiquem a posição de benfeitores, mas nunca se recordam de que amigos sábios e desvelados lhes oferecem a melhor cooperação de planos superiores, sem deles reclamarem a mínima nota de gratidão pessoal.
— São muitos os irmãos afins — continuou o meu interlocutor, interrompendo-me as reflexões íntimas — que se reúnem, depois da morte do corpo, em tarefas de amparo fraternal, quando já alcançaram os primeiros degraus da escada de purificação: Do que é possível ajuizar, semelhantes trabalhos são dos mais eficientes e dignos, em favor dos homens. Raramente os companheiros encarnados, quando em excelentes condições de saúde física, podem compreender as aflições dos enfermos em posição desesperadora ou dos moribundos prestes a partir. Nós outros, porém, no quadro de realidades mais fortes, sabemos que, muitas vezes, é possível efetuar, realizações deveras sublimes, de natureza espiritual, em poucos dias, nessas circunstâncias, depois de largos anos de atividades inúteis. No leito da morte, as criaturas são mais humanas e mais dóceis. Dir-se-ia que a moléstia intransigente enfraquece os instintos mais baixos, atenua as labaredas mais vivas das paixões inferiores, desanimaliza a alma, abrindo-lhe, em torno, interstícios abençoados por onde penetra infinita luz. E a dor vai derrubando as pesadas muralhas da indiferença, do egoísmo cristalizado e do amor-próprio excessivo. Então, é possível o grande entendimento. Lições admiráveis felicitam a criatura que, palidamente embora, percebe a grandeza da herança divina. Acentua-se-lhe o heroísmo e gravam-se-lhe no coração, para sempre, mensagens vivas de amor e sabedoria. Na noite espessa da agonia começa a brilhar a aurora da vida eterna. E aos seus clarões indistintos, nossos princípios são facilmente aceitos, a sensibilidade demonstra características sublimes, e a luz imortal lança fontes de infinito poder nos recessos do espírito.
O interlocutor fez longa pausa e rematou:
— Desse modo, conseguimos efetuar um serviço de assistência eficaz, carreando novos valores no campo da fraternidade e do bem legítimo. Nunca observou a paciência inesperada de doentes graves, a calma de certos enfermos incuráveis e a suprema conformação da maioria dos moribundos? Muitas vezes, semelhantes edificações, incompreensíveis para os encarnados que os cercam, constituem o fruto do esforço de nossas grupos itinerantes de socorro.
Francisco enunciara sublimes verdades. De fato, a serenidade dos enfermos em condição desesperadora e a resignação inexplicável dos agonizantes, absolutamente distanciados da fé religiosa, não poderiam guardar outra origem. A bondade divina é infinita e, em todos os lugares, há sempre generosas manifestações da Providência Paternal de Deus, confortando os tristes, acalmando os desesperados, socorrendo os ignorantes e abençoando os infelizes.”
Algum tempo depois, André Luiz, mais experiente, participou de uma equipe socorrista, sob a direção do Assistente Jerônimo, com a missão de preparar cinco criaturas fiéis ao bem que viviam os seus últimos dias na condição de encarnados.
A tarefa se desdobraria em várias atividades de auxilio. Contariam com o apoio da “Casa Transitória de Fabiano”, grande instituição localizada no Plano Espiritual, nas cercanias da Crosta Terrestre, que se dedica, entre outras finalidades, a abrigar almas recém-desencarnadas. A essa organização, a equipe conduziria os assistidos, nos momentos de sono físico, para se habituarem, aos poucos, com a ideia de desligamento definitivo do corpo material.
Ao observar, logo de início, os cuidados da missão, André Luiz interrogou:
“— Meu caro Assistente, todas as mortes se fazem acompanhar de missões auxiliadoras? cada criatura que parte da Crosta precisa de núcleos de amparo direto?
O amigo sorriu com indulgência, na superioridade legítima dos que ensinam sabiamente, e esclareceu:
— Absolutamente. Reencarnações e desencarnações, de modo geral, obedecem simplesmente à lei. Há princípios biogenéticos orientando o mundo das formas vivas ao ensejo do renascimento físico, e princípios transformadores que presidem aos fenômenos da morte, em obediência aos ciclos da energia vital, em todos os setores de manifestação. Nos múltiplos círculos evolutivos, há trabalhadores para a generalidade, segundo sábios desígnios da Eterno; entretanto, assim como existem cooperadores que se esforçam mais intensamente nas edificações do progresso humano, há missões de ordem particular para atender-lhe as necessidades.
Sentindo-me a estranheza, Jerônimo prosseguiu: — Não se trata de prerrogativa injustificável, nem de compensações de favor. O fato revela ordenação de serviços e aproveitamento de valores. Se determinado colaborador demonstra qualidades valiosas na curso da obra, merecerá, sem dúvida, a consideração daqueles que a superintendem, examinando-se a extensão do trabalho futuro. No Plano espiritual, portanto, muito grande é o carinho que se ministra ao servidor fiel, de modo a preservar-lhe o devotado Espírito da ação maléfica dos ele mentos destruidores, com o desânimo e a carência de recursos estimulantes, permitindo-se, simultaneamente, que ele possa ir analisando a magnitude de nosso ministério na verdade e no bem, em face do Universo Infinito.”
Mais tarde, após vencida mais uma etapa do empreendimento fraterno junto aos assistidos, o Instrutor Jerônimo teve ensejo de ampliar as suas elucidações quanto ao amparo espiritual aos desencarnantes, afirmando:
“— Há, contudo, observação valiosa a destacar. Como vemos, não é a rotulagem externa que socorre o crente nas supremas horas evolutivas. É justamente a sementeira do esforço próprio, nos serviços da sabedoria e do amor, que frutifica, no instante oportuna, através de providências intercessórias ou de compensações espontâneas da lei que manda entregar as respostas do Céu “a cada um por suas obras.” Todo lugar do Universo, portanto, pode ser convertido em santuário de luz eterna, desde que a execução dos Divinos Desígnios seja a alegria de nossa própria vontade.”
— Não chore mais, querida mãezinha, suas lágrimas chegam a mim e me transtornam.… quando a vejo reconstituindo mentalmente aqueles quadros todos… Querido papai, o senhor me sente sim, a presença, quando está pensando em casa ou em nosso trabalho da Rua Vilela. Estou ainda muito ligado a todos.
Estas expressões de Walter, escritas seis meses após o seu desenlace, mostram-nos que depois da morte física, superando a fase inicial de “perturbação” a criatura apenas paulatinamente se adapta à sua nova condição, ao seu novo habitat, liberada da matéria grosseira, mas imantada mentalmente ao mundo que deixou.
Não deixa de ser uma experiência pessoal, mas é o que ocorre, em maior ou menor grau, à grande maioria das criaturas.
Mesmo detendo condições e merecimento para instalar-se em Esferas espirituais mais altas, o Espírito, impregnado das vivências terrenas, mantém-se em contato com tudo o que mais o preocupava, principalmente com os seus entes queridos através das correntes mentais.
Isto ocorre, em virtude de os seres, presos ou libertos da vestimenta física, viverem em regime de comunhão mental, com base nas leis da afinidade. O pensamento é produto da mente, que é imortal, não sendo, portanto, segregação do cérebro perecível. O nosso mundo mental pode ser comparado a um espelho, pelo qual refletimos as imagens, que nos chegam, e lançamos na direção dos outros as imagens que criamos.
Ao confirmar as sensações de seu progenitor, Walter deixou claro que não só estava, à distância, ligado mentalmente a todos os familiares, mas também, se aproximava com o seu corpo espiritual. É interessante recordar que o médium desconhecia tais fatos íntimos, e o pai de Walter não estava presente à reunião pública de Uberaba, quando a mensagem foi psicografada. Esta é uma das muitas positivações cristalinas da continuidade da vida além-túmulo com as quais deparamos na carta mediúnica.
Apesar do amparo dos Benfeitores Espirituais aos recém-desencarnados — não só nas primeiras horas ou dias após a morte, mas também, em muitas casos, durante meses ou anos depois — a compreensão dos que permanecem no plano terreno é muitíssimo valiosa, refletindo beneficamente no estado mental dos entes amados. O Autor Espiritual chega a exclamar, após assegurar que estava muito ligado aos seus: — Ajudem-me. É um ensinamento muito sério endereçado à Humanidade, pois todos estamos sujeitos a esses transes naturais da vida
A assistência que Walter vinha recebendo, embora narrada resumidamente, era bem significativa. Contava com a proteção da benfeitora Mariazinha, que me disse tomar de algum modo, o seu lugar junto a mim, até que eu possa ser mais útil. O avô Perrone continuava também assistindo-o:
— Papai, abençoe-me e creia que seu filho, ao lado de meu avô, pede a Jesus o recompense.
Sabemos que ninguém está desamparado pela Paternidade Divina em qualquer ponto do Universo. Mas, os recursos dispensados às pessoas nunca fogem ao preceito “a cada um segundo o seu merecimento.”
Uma criatura, que do Outro Lado da Vida, embora convalescente, está sempre pronta a auxiliar e reflete o que se passa em seu íntimo, ao empregar os verbos, tais como: lutar, esperar, estudar, trabalhar, amar, orar, sorrir e viver, só pode atrair almas afins, facilitando, sobremaneira, a doação de qualquer auxílio que lhe esteja destinado pela Celeste Misericórdia.
Poucos dias antes de completar um ano do recebimento da 1ª mensagem, Walter voltou a comunicar-se através do médium Francisco Cândido Xavier, com a sua mãe D. Maria D. Perrone, presente à reunião pública do “Grupo Espírita da Prece”, em Uberaba (MG), no dia 9 de agosto de 1975.
Para D. Maria foi um longo ano de expectativa, aguardando sempre novas missivas de seu inesquecível filho. Nesse período, esteve na referida cidade mineira várias vezes, frequentando as reuniões espíritas. Contudo, nessas sessões, teve a felicidade de receber pela mediunidade de Chico Xavier duas mensagens de conforto e esclarecimento do Espírito do Dr. Bezerra de Menezes. A primeira, em maio de 1975, que se segue:
“Nosso caro companheiro Walter Perrone abraça o coração materno e declara-se contente com as soluções havidas em família.
Agradece à mãezinha o esforço que fez com tanta boa vontade para liberar-se dos tranquilizantes desnecessários e roga a ela, nossa estimada companheira Maria Perrone, calma e confiança positiva na proteção de Jesus.
Ele se afirma sempre melhor e está confiante no futuro, agradecendo aos pais queridos quanto vão fazendo em favor da família que deixou na Terra.”
E, a segunda mensagem, na véspera do recebimento da Segunda Carta do Autor Espiritual:
“Filha, nosso caro Walter está cooperando em seu favor e falará na primeira oportunidade, explicando que o seu tratamento pode ser feito no próprio lar.
Confiemos no amparo de Jesus, hoje e sempre.”
Vejamos, no próximo capítulo, a 2ª comunicação psicográfica de seu filho.
KARDEC, Allan — . q. 165.
KARDEC, Allan — , q. 289.
XAVIER, Francisco Cândido — . Pelo Espírito Emmanuel, q. 149.
Colônia de que trata o primeiro livro de André Luiz, com esse mesmo nome — Nosso Lar — obra publicada pela mesma Editora. (Nota da FEB).
XAVIER, Francisco Cândido — . Pelo Espírito André Luiz. 9ª ed.. Rio de Janeiro. FEB [1973] p. 76-79.
XAVIER. Francisco Cândido — . Pelo Espírito André Luiz. 9ª ed., Rio de Janeiro. FEB [1975] p. 172-173.
, p. 197.
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