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Capítulo XLIII

O anjo silencioso


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No cimo da cruz, reconhecia o Senhor que, em verdade, no mundo, não havia lugar para Ele…

Sem asilo para nascer, fora constrangido a valer-se do ninho dos animais e, sem pouso para morrer, içavam-no ao lenho dos malfeitores.

Agora, porém, que se isolara mentalmente na gritaria em torno, espraiava-se-lhe a visão…

Fitava, em espírito, os grandes palácios da Terra, ocupados pelos poderosos que se vestiam de púrpura e ouro, cercados de mulheres escravas e servos infelizes, e notou que dominavam os quatro cantos do Globo, prestigiando os verdugos do sangue humano e os falsos profetas que lhes entorpeciam as consciências…

Mas, entre os altos muros que os apartavam, viu também o Senhor os que viviam desajustados quanto Ele mesmo…

Assinalou os mártires da justiça, encarcerados nas prisões;

as vítimas da calúnia, açoitadas em praça pública;

os heróis da fraternidade, em postes de martírio;

os lidadores do bem, cedidos em pasto às feras;

os amigos da educação popular, sob o cutelo de carrascos inconscientes;

os perseguidos, condenados a ferros em região inóspitas;

as mães desamparadas, cujo pranto caía como orvalho de fel sobre a terra seca;

os velhos sem esperança;

os caravaneiros da nudez e da fome;

os doentes sem leito e as crianças sem lar…


Entre os homens igualmente não havia lugar para eles.

Como outrora, à frente de Lázaro morto, Jesus chorou…

Chorou e suplicou a Deus a vinda de alguém que o representasse ao pé dos aflitos… alguém que lenisse chagas sem recompensa, que enxugasse lágrimas sem queixa e servisse sem perguntar…

E o Pai Misericordioso enviou-lhe toda uma coorte de anjos que o louvavam, felizes, transformando o madeiro numa apoteose de luz, com exceção de um deles que, ao invés de adorá-lo, procurou-lhe, respeitoso, os lábios trementes, como quem lhe buscava as derradeiras ordenações.

Não percebeu a multidão desvairada o que se passou entre o Cristo agonizante e o mensageiro sublime; no entanto, de imediato, o nume celeste, sereno e compassivo, desceu do monte para os vales humanos, nos quais, desde então, até hoje, converte o ódio em amor, a expiação em ensinamento, a dor em alegria, o desespero em consolo e o gemido em oração…

Esse anjo silencioso é o Anjo da Caridade.

Por isso, toda vez que lhe ouvis a inspiração divina, abraçando os sofredores ou amparando os necessitados, ainda mesmo através da mais leve migalha de pão ou de entendimento, é a Jesus que o fazeis.




(Psicografada em 11/1/1959 no Lar Espírita Bezerra de Menezes, na cidade de Uberaba, M. G.)



Eurípedes Barsanulfo
Francisco Cândido Xavier


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