Dicionário de Sinônimos
Fonte: Dicio
Abalizado: assinalado, distinto, notável, ilustre, nobre, digno, famoso, afamado, famigerado, célebre, insigne, preclaro, conspícuo, eminente, egrégio, exímio, consumado, ínclito, grande. – Abalizado – dizemos de um profissional ou de um artista que se fez completo na sua profissão ou na sua arte. “F. é um escritor abalizado”; “F. é mestre abalizado no seu ofício”. – Assinalado é o que se destacou por alguma prova brilhante no seu ofício, o que se distinguiu por alguma grande ação. “Não arrefeceu nunca em Vieira aquele assinalado heroísmo da sua imensa fé”; “As armas e os varões assinalados” (Cam.). – Distinto é aquele que, por algum mérito ou aptidão, se destaca do comum e se põe em relevo. “Não se trata de um tipo qualquer, mas de um moço distinto.” – Notável diz mais que distinto: designa o que se pôs, não apenas em simples destaque, mas em tal evidência que se fez digno de ser notado, e tido como exemplo. “F. era um jornalista distinto; mas que fosse um escritor notável ninguém sabia”. – Ilustre é um desses vocábulos que parecem gastos pelo uso. 12 Rocha Pombo No seu sentido próprio, é de assinalado que mais se aproxima: ilustre quer dizer – “conhecido e brilhante por si mesmo, destacado por ações, ou feitos, ou qualidades que dão lustre”. “Entre os políticos ilustres de Itália, nenhum excede a Cavour pela função histórica”... – Digno é um epíteto mais modesto do que todos os precedentes: digno se diz daquele que “se porta discretamente no seu cargo, ofício, missão, função, ou mesmo nas vicissitudes da vida”; e que por isso mesmo é merecedor de alguma coisa mais que o comum. “F. é um digno funcionário”; “Aquela criatura, pela sua grandeza moral, é digna de respeito”. – Nobre, porque conserve uns laivos da antiga acepção, diz menos que ilustre; e hoje é termo de que só se usa na oratória parlamentar, ou então em frases enfáticas. “O nobre ancião falou solene”; “Nada tenho a dizer ao nobre senador”. Aplicado a qualidades, ou a coisas, significa “digno e excelente”. “Que nobre alma a daquela dama tão obscura e tão desventurada.” “A nobre altivez daquela criança salvou-nos a todos”. – Famoso e célebre, como nota Lafaye, “tocam-se de perto; mas, afastando- -nos um pouco do autor, observaremos que: famoso é vocábulo menos nobre, e deve aplicar-se a um fato ou a uma vida “que fez grande ruído no mundo”, podendo até ser a de um bandido; célebre enuncia não fama ruidosa, mas “grandeza que tem alguma coisa de solenidade e de esplendor na história, e no seu lugar, ou na sua condição própria”. Há capitães ao mesmo tempo célebres e famosos como Alexandre; mas a raríssimos grandes poetas ou grandes artistas chamaríamos com propriedade famosos. – Afamado diz muito menos que famoso; e segundo observa Bruns., com razão, só se pode aplicar a pessoas vivas, ou a coisas subsistentes. Afamado é quem ou o que tem fama, ou “está tendo fama no seu tempo, e no meio em que vive, ou onde aparece”. É ainda preciso notar que tanto se aplica a pessoas como a coisas, mas melhor a coisas. “F. é um médico afamado” (isto é – que tem bom nome ou boa fama de profissional na cidade onde clinica); “Os afamados charutos da Bahia”... “As afamadas laranjas da Argélia”... Não seria muito próprio, apesar do que diz Bruns., chamar – famoso a um médico que se fizesse conhecido e ilustre fora do seu meio: diríamos antes – notável, eminente, ou melhor – célebre, ou mesmo – grande... conforme o caso. Charcot é célebre, é grande... mas decerto que não diríamos dele – o famoso Charcot. – Famigerado quase sempre se toma em sentido pejorativo: designa indivíduo cuja fama, boa ou má (em regra – má) “se espalha num dado círculo e com aparato”. Diremos: “famigerado bandido”; “famigerado desordeiro”; “famigerado conspirador... de aldeia”... (porque, tratando-se de um conspirador de alta raça, já lhe não caberia bem o epíteto). Só por menoscabo diríamos: “famigerado cultor das musas”. – Preclaro e insigne aproximam-se de ilustre. Mas preclaro diz mais e é mais nobre: exprime – “excelente, belo, brilhante”. Nem todos os ilustres são preclaros; mas os preclaros são ao mesmo tempo ilustres. Diríamos: “O preclaro Tácito”; “O preclaro varão que ilustrou o seu tempo”; “A preclara majestade de d. Henrique, o grande Infante, mais do que rei no seu império do mundo”... Mas rarissimamente poderíamos dizer sem flagrante absurdo, por exemplo: “preclaro representante da nação”, ou “preclaro ministro”, só porque se trata de homens ilustres. – Insigne é quem, ou o que “se assinala por algum grande mérito, ou alguma grande qualidade ou aptidão.” Difere de assinalado em que este “chama atenção mais para os feitos do indivíduo que se assinalou”; e insigne exprime “qualidade inerente à pessoa ou coisa insigne”. Diríamos: “Job foi um varão insigne pela virtude da resignação” (e não – “um varão assinalado)”; “Este Dicionário de Sinônimos da Língua Portuguesa 13 homem, sem ser insigne, tornou-se naquele momento figura assinalada pelo heroísmo com que fez frente ao inimigo”. Um favor, ou um serviço assinalado é não como entendem Bourg. Berg., um favor ou serviço que se manifesta, ou de que se tem sinais evidentes, mas um favor que no momento assumiu proporções que não teria em ocasião normal”: um favor insigne, sim – é “um favor grande, excepcional, notável de si mesmo”. – Eminente e conspícuo diz mais do que ilustre: eminente é o que “excede à estatura moral, ou às proporções de grandeza dos seus pares”; e, tratando de coisas – a que “se eleva acima de outra coisa e se põe muito alto”; conspícuo é o que se faz “tão ilustre e eminente que dá nas vistas de todo mundo”. Qualquer dos dois termos só pode ser, tratando-se de pessoas, aplicado a pessoas ilustres. Não poderíamos dizer, mesmo referindo-nos aos mais abalizados no seu ofício: “F. é um conspícuo marceneiro”; ou “F. é um artesão eminente”. Mas diríamos: escritor, magistrado, artista eminente; “F. é figura conspícua da nossa política, ou das nossas letras”. – Exímio exprime a “qualidade de superexcelência”, e se diz daquele que na sua arte, ou na sua profissão (principalmente na sua arte) “excede, sobreleva aos mais hábeis”. Há exímios poetas, como há jogadores exímios. – Consumado aproxima-se de abalizado; e tanto um como outro exprimem mais do que exímio quando se quer marcar precisamente elevação pela capacidade e pelo mérito. Consumado significa – “subido à perfeição, a uma profunda e acabada perícia na sua ciência ou na sua arte”, e por isso “posto no pináculo entre os da mesma classe”. Tanto podemos dizer – “um artista”, como – “um filósofo consumado”. Egrégio é “honrado e ilustre, digno de respeito pela compostura e gravidade na sua conduta, ou no desempenho de algum alto cargo”. Dizemos: “O egrégio tribunal”; “egrégio pastor de almas”; “F. é verdadeiramente o egrégio e venerável patriarca daquela família”. “Ínclito”, segundo Roq. – “é o que chega ao último grau da glória”; o que é “muito falado, que tem nome ruidoso e brilhante”. Há ínclitos generais, como há ínclitos poetas. – Grande é um genérico que se não confunde entre os do grupo. Só é grande o homem “excepcionalmente notável que foi consagrado pelo culto das gerações”; ou o fato, ou acontecimento extraordinário, ou o feito de proporções fora do comum “– que se incorporaram definitivamente na história humana”. Dizemos: “o grande Infante”; “o grande Vieira”. Entre todos os vocábulos deste grupo, muito raros outros caberiam nos dois exemplos.