Marcos, joão

Quem é quem na Bíblia?

Autor: Paul Gardner

Marcos, joão:

Referências no Novo Testamento

A primeira referência a este Marcos no Novo Testamento aparece no relato da libertação miraculosa de Pedro da prisão em Jerusalém, onde fora colocado por ordem de Herodes Agripa (44 d.C.; At 12:6-11). Após ser liberto pelo anjo, este apóstolo dirigiu-se “à casa de Maria, mãe de João, que tinha por sobrenome Marcos” (v. 12). Como muitos outros judeus daquela época (como Saulo, também chamado de Paulo; At 13:9), ele tinha um nome hebraico (João, que significa “Deus é gracioso”) e um romano (Marcos, que significa “grande martelo”). O fato de seu pai não ser mencionado em conexão com a família e a casa provavelmente significa dizer que já havia falecido. Sua residência possivelmente era um local de reuniões regulares da Igreja. Por isso, Pedro dirigiu-se até lá assim que foi solto pelo Senhor. Tratava-se também de uma casa de considerável importância na comunidade.

A seguir, Marcos é associado com Barnabé e Paulo, os quais levaram uma ajuda financeira da igreja em Antioquia para os cristãos da Judéia que passavam necessidades devido à fome na região (46 d.C.; At 11:29-30). De acordo com Colossenses 4:10, Marcos era sobrinho de Barnabé. Sem maiores detalhes, a narrativa de Atos registra: “Barnabé e Saulo, havendo terminado aquele serviço, voltaram de Jerusalém, levando consigo a João, que tem por sobrenome Marcos” (At 12:25).

Em Antioquia, outra missão foi confiada aos três. Barnabé e Saulo foram designados pela Igreja a realizar uma viagem missionária (47 d.C.), a qual começou em Chipre, onde Barnabé havia morado (At 4:36). Eles, porém, levaram Marcos na companhia deles. “Chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus, e tinham a João como auxiliar” (At 13:5). A palavra “auxiliar”, usada para descrever o papel de Marcos na missão, é usada por Lucas em outros textos, para referir-se aos que eram “ministros da palavra” (Lc 1:2). O termo é aplicado também ao assistente na sinagoga judaica (Lc 4:20), cujo trabalho incluía o ensino das crianças. Embora João Marcos fosse um assistente de trabalhos gerais, provavelmente um dos aspectos de sua contribuição na equipe missionária era a participação em alguma forma de ensino.

Sua participação, entretanto, nessa primeira viagem missionária aparentemente teve curta duração. Depois de ministrar em Chipre, os três navegaram para Perge da Panfília (At 13:13). Quando chegaram lá, João Marcos decidiu abandonar a equipe. O relato de Atos não informa o motivo de sua decisão. O nome dele é mencionado novamente quando Paulo e Barnabé planejaram uma segunda viagem para visitar todas as igrejas fundadas na primeira viagem (At 15:36). Barnabé queria incluir João Marcos novamente, “mas a Paulo não parecia razoável que levassem aquele que desde Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra” (v. 38). A disputa sobre a questão causou a separação dos dois, e Paulo escolheu Silas como companheiro para a segunda viagem (48 d.C.;
v. 40). Barnabé, por sua vez, “levando consigo a Marcos, navegou para Chipre” (v. 39), a área onde seu sobrinho servira tão bem na vez anterior.

Alguém talvez julgue que a firmeza de Paulo em não permitir a participação de João Marcos na segunda viagem missionária significaria o fim de qualquer ministério juntos no futuro. O caso, porém, não foi esse. Em duas de suas cartas (60 a 62 d.C.), provavelmente escritas enquanto aguardava o primeiro julgamento em Roma, depois de completar sua terceira viagem missionária, o apóstolo refere-se a ele de forma apreciativa. Na carta aos Colossenses, Marcos é mencionado com outros cooperadores de Paulo como alguém que fora “uma consolação” para ele (Cl 4:10-11). Na carta a Filemom, novamente é descrito (junto com Lucas e outros) como “cooperador” (Fm 24). Finalmente, em sua última carta, escrita a Timóteo (c. 64 d.C.), Paulo lhe dá instruções: “Toma a Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério” (2Tm 4:11).

A referência final a João Marcos no Novo Testamento ocorre numa das cartas de Pedro. Ele foi mencionado pela primeira vez em conexão com a libertação deste apóstolo da prisão em Jerusalém. Pedro encontrava-se em “Babilônia” [não se sabe ao certo se era uma região ou uma cidade] (64 d.C.) e Marcos estava com ele. A proximidade da comunhão entre ambos é indicada pelo tratamento do apóstolo: “meu filho” (1Pe 5:13).

De acordo com Papias de Hierápolis (130 d.C.; citado por Eusébio na História Eclesiástica 3:39.15), Marcos prosseguiu no ministério com Pedro em “Babilônia”, como seu “intérprete” e compilador de seu ensino sobre “as coisas ditas e feitas pelo Senhor”. Esta última frase é uma descrição resumida do evangelho de Marcos. O testemunho de Papias serve para validar a utilidade e a autoridade do relato de Marcos para a Igreja primitiva.

Marcos também está relacionado com o estabelecimento de igrejas em Alexandria (Eusébio, H.E., 2:16.1). Segundo a tradição, foi martirizado lá (A Crônica Pascal), e seus restos mortais posteriormente foram transportados para Veneza, Itália.

Características e teologia do evangelho de Marcos

Embora todos os evangelhos compartilhem um propósito similar, ou seja, proporcionar aos leitores um relato sobre o ensino e o ministério de Jesus, os escritores que escreveram cada evangelho também trouxeram à obra conceitos e pontos de vista particulares, tanto pastorais como teológicos. Neste aspecto o relato sobre a vida e obra de Cristo é como um quadro pintado, que não somente reproduz o modelo, mas também revela algo sobre a pessoa que o compôs. Lido com isso em mente, algumas das características do evangelho de Marcos são entendidas à luz do breve esboço de sua vida, proporcionado pelas referências a ele no Novo Testamento (citadas acima).

O fracasso dos discípulos

Embora os evangelhos, cada um à sua maneira, relatem a luta dos discípulos com o entendimento da mensagem e do ministério de Jesus, o retrato de Marcos do fracasso e da falta de entendimento demonstrada constantemente pelos seguidores de Cristo é pintado de maneira mais contundente do que os outros. Ele mostra que os discípulos invariavelmente não entendiam as parábolas de Jesus (Mc 4:13; Mc 7:18), suas declarações (10:
10) e suas predições sobre sua morte iminente (9:10,32). Falharam em entender o significado de suas obras poderosas, como acalmar o mar (4:40,41), andar sobre a água (6:49-52) e finalmente o abandonaram em sua maior angústia e dor (14:50).

Marcos inclusive concluiu seu evangelho com uma nota de fracasso. As mulheres que foram ao túmulo de Jesus e o encontraram vazio receberam a seguinte instrução: “Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galiléia” (Mc 16:7). Marcos, porém, escreveu: “Tremendo e assombradas, as mulheres saíram, e fugiram do sepulcro. Nada disseram a ninguém, porque temiam” (v. 8). Esse estranho final levou os copistas posteriores a providenciar uma conclusão mais semelhante aos outros evangelhos (isto é, vv. 9-20); mas a abrupta conclusão de Marcos é coerente com o triste quadro dos seguidores de Jesus que caracterizou toda sua apresentação do evangelho.

Em parte, a ênfase de Marcos serve como um lembrete salutar de que os propósitos de Deus são realizados por pessoas falíveis. O próprio evangelista decepcionou na primeira viagem missionária, ao deixar Paulo e Barnabé sozinhos na Panfília. Embora não se saiba o motivo, a indisposição de Paulo em levá-lo novamente sugere que no mínimo considerava a atitude de Marcos indesculpável. Mesmo assim, as referências posteriores do apóstolo sobre ele demonstram que houve uma reconciliação e que Paulo não só aceitou seu envolvimento no ministério como o solicitou.

O avanço do reino

Marcos resumiu a mensagem de Jesus no início de seu evangelho: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1:15). Como os outros evangelistas, ele mostra que o reino tem ambos os aspectos, tanto presente como futuro, correspondentes às suas dimensões espiritual e universal. A salvação e a soberania de Deus são experimentadas por todos os que respondem à mensagem de Cristo. O Evangelho e o Reino são comparados a sementes que são espalhadas sobre a terra (Mc 4:14-26). Seu início dificilmente é observado, mas seu final é incomparavelmente notório (4:30-32). A consumação do século está ligada à futura vinda de Jesus “com grande poder e glória” (13:
26) e à antecipação da comunhão com Ele no Reino de Deus (14:25).

Marcos foi testemunha do início da Igreja primitiva, desde seu nascimento em Jerusalém, quando se reunia em sua própria casa, até a extensão dos empreendimentos missionários que alcançaram todo o território do Império Romano. Anos mais tarde, como companheiro de Paulo e Pedro, observou o notável crescimento que resultou da ampla proclamação do Evangelho. Ainda assim, sempre lembrava a seus leitores que isso era obra de Deus. Quando os discípulos perguntaram a Jesus: “Então quem poderá salvar-se?” (Mc 10:26), a resposta foi: “Para os homens é impossível, mas não para Deus; para Deus todas as coisas são possíveis” (v. 27).

O autossacrifício de Jesus e sua vindicação

Marcos não deixa dúvidas aos leitores sobre o principal assunto de seu evangelho, quando declara na primeira linha de seus escritos: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1:1). No curso de seu livro, entretanto, demonstra como o entendimento do significado dessas declarações sobre Jesus diferiam dramaticamente da expectativa popular. Muitos judeus esperavam o advento do Messias que libertaria o povo de Deus de seus opressores. Os discípulos compartilhavam esta esperança e discordavam das declarações de Jesus de que a missão para a qual Deus o chamara o levaria à morte (Mc 8:31; Mc 9:31; Mc 10:23). Quando Pedro tentou dissuadi-lo, Jesus lhe disse: “Não pensas nas coisas de Deus, mas, sim, nas dos homens” (Mc 8:33).

O padrão da vida de Jesus que Marcos coloca diante dos discípulos foi resumido desta maneira: “Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10:45). Cristo, na condição de Filho de Deus, mostrou a vitalidade desse relacionamento, quando seguiu o caminho da obediência que o levou até a cruz. Sua oração submissa a Deus foi: “Não seja, porém, o que eu quero, e, sim, o que tu queres” (Mc 14:36). Da mesma maneira, os discípulos são chamados para tomar a cruz e seguir após Ele (8:34).

Marcos revela que este era o plano de Deus para Jesus por meio da confissão do centurião que estava presente na crucificação: “Verdadeiramente este homem era o filho de Deus!” (Mc 15:39). O relato da ressurreição (16:1-8) torna-se a base para a promessa do retorno glorioso de Cristo (8:38; 13 26:14-62) e a vindicação à vida de abnegação para a qual os discípulos também são chamados (10:28,29). D.K.L.


Dicionário da Bíblia de Almeida

Fonte: Sociedade Bíblica do Brasil

Marcos, joão: Marcos, João Filho de MARIA 5, e primo de Barnabé (Cl 4:10), RA; RC, sobrinho). Acompanhou Paulo e Barnabé até Antioquia (At 12:25) e, depois, na sua primeira viagem missionária, até Perge (13 5:13'>Act 13:5-13). Por causa dele Paulo e Barnabé se separaram (At 15:36-41). Mais tarde, porém, Marcos foi cooperador de Paulo (Cl 4:10); Fm 24; (2Tm 4:11) e trabalhou com Pedro (1Pe 5:13). Segundo a tradição, Marcos fundou a igreja em Alexandri