1 Então falou Jesus às turbas e aos seus discípulos.
Até aqui vimos o Mestre ensinando quais as regras que devem ser postas em prática, pelos que, verdadeiramente, procuram a elevação espiritual. Agora Jesus inicia a censura aos escribas e aos fariseus, isto é, a todos os que se arvoram em guias religiosos dos homens. Nestas censuras, Jesus enumera os erros em que não devem incidir os ministros do Senhor. Aos espíritas, aos quais, nos tempos atuais, foi outorgado o trabalho máximo de reacender na terra a chama sagrada do Cristianismo, e de reviver a era apostólica, oferecem estas censuras ensejo para profunda meditação. Impõe-se aos espíritas, mormente aos de responsabilidades definidas no campo do Espiritismo, muita vigilância para não incidirem nos mesmos erros dos escribas, fariseus e seus modernos seguidores e tão asperamente censurados por Jesus. Este Capítulo patenteia a nossos olhos a hipocrisia dos supostos guias religiosos da humanidade, não importa a que credo pertençam.
2 Dizendo: Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus.
O povo hebreu foi monoteísta desde sua origem. A missão sublime dessa raça foi a de trazer à terra o culto de um Deus único, Supremo Criador do Universo.
A crença num Deus Uno constituiu a base da religião dos israelitas. Moisés assenhoreou-se dessa crença, deu-lhe forma, estabeleceu leis, e fundou o Mosaísmo, que se tornou a religião oficial de Israel.
Moisés deu a seu povo duas espécies de leis: as leis espirituais, que tratavam das relações do culto devido a Deus; e as leis materiais, que regiam a nação politicamente.
Aos poucos, as leis espirituais foram esquecidas e substituidas por um sistema de práticas exteriores, em que não trans parecia mais o antigo espírito religioso. Os escribas e os fariseus, encarregados de zelarem pela lei, isto é, pela religião de Moisés, moldaram-na de acordo com suas conveniências, de sorte que a lei existia para os outros, que não para eles.
Tal sucede com o catolicismo, que sobrecarregou o Cristianismo de tanta materialidade, apagando dele até o mais leve traço dos ensinamentos simples e puros de Jesus.
É mister que os Espíritas vigiem sem cessar, e zelem muito bem pela Doutrina Espírita, a fim de que ela prossiga sempre iluminando as consciências e purificando os corações, segundo o Evangelho, jamais deixando que nela se imiscuam práticas que lhe alterem a pureza e a simplicidade primitivas.
3 Observai pois, e fazei tudo quanto eles vos disserem; porém não obreis segundo a prática das suas ações; porque dizem e não fazem.
Jesus nos previne contra os eloquentes pregadores do Evangelho, cujas palavras facilmente fluem de seus lábios, mas cujo comportamento não confirma o que pregam. Daí deriva a grande responsabilidade dos que pregam: é bom pregar pela palavra, porém, sempre secundada pelo exemplo.
4 Porque atam cargas pesadas e incomportáveis, e as põem sobre os ombros dos homens; mas nem com o seu dedo as querem mover.
É grande o número dos que ditam deveres aos outros; reduzidíssimo o número dos que traçam normas de boa conduta para si próprios.
Há muitos que pregam e se esquecem de viver conforme pregam.
O essencial para que cada um consiga o seu progresso espiritual é cumprir rigorosamente seus deveres, e observar os preceitos divinos, consubstanciados no Evangelho, que tão bem sabem pregar aos outros.
5 E fazem todas as suas obras para serem vistos dos homens por isso trazem as suas largas tiras de pergaminho, e grandes franjas.
Não é a prática de uma caridade espetacular, nem o uso de distintivos ou de trajes religiosos, o que demonstra aos olhos de Deus um homem verdadeiramente religioso.
O homem verdadeiramente, religioso traz por único distintivo um coração puro e uma consciência tranquila. Tolera o modo de pensar dos outros, por não se julgar o único detentor da verdade. Cultiva a pureza de pensamentos, de palavras e de atos. Exteriormente não usa distintivos, nem fardamentos ou vestes que indiquem a religião que professa.
Ao passo que poderá passar por religioso aos olhos dos homens, mas não o é aos olhos de Deus, quem não tem o coração puro nem a consciência tranquila; quem faz o bem por calculado interesse; quem não cultiva a pureza de pensamentos nem de palavras nem de atos; quem é intolerante; para estes, não adianta o uso de emblemas ou de vestes religiosas; enganam os homens, mas não enganam a Deus.
6 E gostam de ter nos banquetes os primeiros lugares, e nas sinagogas as primeiras cadeiras.
7 E que os saúdem na praça, e que os homens os chamem mestres.
Os ministros religiosos, esquecidos de que seus lugares são junto dos sofredores que enxameiam pela terra, procuram aliança com os grandes e com os poderosos, e se esforçam por tirar o máximo proveito material do cargo que ocupam. Evidentemente não são mais ministros do Senhor, mas ministros das coisas da terra.
A verdadeira religiosidade se expressa pela humildade posta a serviço do próximo, e não pelo orgulho, o qual exige ser servido. É prova de orgulho e presunção querer alguém intitular-se mestre das coisas divinas. Mesmo os que desempenham cargos religiosos, qualquer que seja a religião a que• pertençam, são simples espíritos em aprendizado na escola terrena.
8 Mas vós não queirais ser chamados mestres; porque um só é o vosso Mestre, e vós todos sois irmãos.
9 E a ninguém chameis pai vosso sobre a terra; porque um só é vosso Pai, que está nos céus.
10 Nem vos intituleis mestres; porque um só é vosso Mestre, o Cristo.
Aqui Jesus nos ensina a lei da fraternidade universal: temos por Pai, Deus; e por irmãos, a humanidade, da qual fazemos parte, constituínck uma grande e única família, cujos membros se encontramem diversos graus de evolução. E nesta nossa escola milenária, temos por Mestre a Jesus. É um erro, por conseguinte, dar-se o título de Mestre ou de pai a ministros religiosos.
11 O que dentre vós é o maior, será vosso servo.
Servir, tornar-se servo dos outros para poder ser o maior aos olhos de Deus, é não poupar esforços para facilitar a todos a conquista da felicidade espiritual, dando provas de renúncia e desprendimento. Tal é o médium que não poupa sacrifícios para levar o socorro de sua mediunidade aos sofredores, que o solicitam.
12 Porque aquele que se exaltar será humilhado; e o que se humilhar será exaltado.
O indivíduo que se orgulha das altas posições que ocupa na terra, desperta humilhado no mundo espiritual, porque honras, títulos, fortuna, tudo aqui fica.
Ao passo que o indivíduo que viveu sem orgulho e sem vaidades, cultivando a mais doce fraternidade, ao desencarnar é bem recebido no mundo espiritual, onde nada terá do que se envergonhar.
As moedas terrenas, que tanto orgulho alimentam nos corações da maioria de seus possuidores, não têm curso no mundo espiritual. Nesse mundo, para o qual seremos transladados mais cedo ou mais tarde, a única moeda corrente são as boas ações, as virtudes da alma. Logo, é tolice alguém se orgulhar dos bens materiais que possui, e cuja perda pelo desencarne o poderá humilhar. É sabedoria praticar boas ações, ser humilde de coração, manso, compassivo, fraterno, não se ensoberbecer pelo que possui na terra, nem pelos seus talentos, a fim de não sofrer decepções ao passar para o estado de espírito, livre da matéria, em que cada um será exaltado ou humilhado, segundo o bom ou mau emprego do tempo e dos bens, que lhe forem confiados na terra.
13 Mais ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; que fechais o reino dos céus diante dos homens; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam deixais entrar.
14 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; porque devorais as casas das viúvas, fazendo largas orações; por isso levareis um juízo mais rigoroso.
Todas as religiões têm os seus escribas e fariseus hipócritas que fecham a porta dos céus a si e aos outros. São aqueles que, vivendo em completo desacordo com a doutrina que professam e pregam, contribuem para que a descrença se espalhe entre os homens, fazendo da religião um meio de explorar o próximo, e não o de encaminhá-lo para Deus.
15 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; porque rodeais o mar e a terra, por fazerdes um prosélito; e depois de o terdes feito, o fazeis em dobro mais digno do inferno do que vós.
Jesus clama contra as religiões organizadas, cujos sacerdotes, por quaisquer meios, procuram atrair adeptos, não para esclarecê-los, ampará-los e indicar-lhes o reto caminho que os conduziria a Deus; mas para conservá-los na ignorância e ainda aumentá-la, com o único fito de explorá-los materialmente.
Este versículo é digno de ser bem meditado pelos espíritas ansiosos de proselitismo. Dada a grande responsabilidade que há em fazer prosélitos, é bom que os espíritas se abstenham de insistir neste ponto. Quando procurados, deverão ajudar em tudo o que lhes for possível, e pregarem a Verdade, sempre que houver oportunidades favoráveis; mas nunca deverão insistir para com alguém que siga o Espiritismo. Muitas vezes, os espíritas são procurados por irmãos, os quais necessitam de um auxílio, recebem o que pedem e se afastam. Isto acontece porque são irmãos que ainda não estão suficientemente preparados para assimilarem ensinamentos mais adiantados sobre espiritualidade.
16 Ai de vós, condutores cegos, que dizeis: Todo o que jura pelo templo, isso não é nada; mas o que jurar pelo ouro do templo fica obrigado ao que jurou.
17 Estultos e cegos; pois qual é mais: o ouro ou o templo. que santifica o ouro?
18 E todo o que jurar pelo altar, isso não é nada; mas qualquer que jurar pela oferenda que está sobre ele, está obrigado ao que jurou.
19 Cegos; pois qual é mais, a oferenda ou o altar que santifica a oferenda?
20 Aquele pois que jura pelo altar, jura por ele e por tudo quanto sobre ele está.
21 E todo o que jurar pelo templo, jura por ele e pelo que habita nele;
22 E o que jura pelo céu, jura pelo trono de Deus, e por aquele que está sentado nele.
Há indivíduos que, sem vontade firme de arcarem com a responsabilidade total que uma religião lhes acarreta, procuram adaptá-la a suas conveniências e ao seu comodismo; e assim aceitam a parte que lhes convém na religião e desprezam a outra. Por exemplo: vemos católicos que aceitam o catolicismo, mas excluem dele a parte da confissão; outros que excluem dele as missas; e outros que não aceitam seus sacerdotes. No Espiritismo acontece o mesmo: há espíritas que só aceitam a parte científica do Espiritismo; outros que desprezam a mediunidade, olhando-a com grande desconfiança. E lá também espíritas que misturam as religiões, tais como aqueles que frequentam a Igreja, aceitando e praticando certos ritos católicos, tais como: batizarem-se e casarem-se na 1grejas chegando alguns ao absurdo de mandarem dizer missas pelos seus desencarnados. Isto não é aceitar, e muito menos praticar uma determinada religião; mas sim é uma demonstração de grande comodismo, de muito preconceito e de muita preocupação pelas conveniências sociais. Os que assim agem, aceitam a oferta e não o altar; o ouro do templo, e não o templo: é evidente que semelhantes indivíduos são hipócritas, que torcem as religiões segundo suas necessidades do momento.
Quando a humanidade ensaiava os primeiros passos no caminho da espiritualidade, a religião tinha de, necessariamente, revestir-se de um aspecto material. Assim, vemos todos os povos primitivos santificarem as coisas materiais, e procurarem adquirir bens à custa de ofertas materiais à divindade.
Não só ofereciam coisas materiais, como também julgavam que somente em determinados lugares consagrados, é que se podia prestar culto ao Senhor.
Moisés, condutor do povo hebreu, ainda muito próximo da animalidade, dá ao seu povo normas materiais, por cujo meio começaria a dirigir-se a Deus. Com o decorrer do tempo, o povo se esclareceria, e passaria a adorar a Deus em espírito e verdade, abolindo do culto todos os traços de práticas materiais.
Entretanto, os sacerdotes encarregados de educarem religiosamente o povo, não acompanharam a evolução da inteligência humana e, por todos os modos, procuraram manter o povo nos princípios materiais da religião, o que acontece até hoje, não só por comodismo, como, principalmente, para acumularem riquezas e desfrutarem do poder.
Aqui Jesus condena a hipocrisia do clero, que torce a religião de conformidade com suas conveniências, procurando tirar dela o máximo proveito material.
Essas práticas absurdas de quererem os homens alcançar os favores divinos por meio de oferendas materiais, persistem até nossos dias. As coisas divinas não se vendem, não se trocam, e não se compram; e também não são privilégio de nenhuma religião e de nenhum indivíduo. As coisas divinas são adquiridas por meio de um trabalho perseverante para aperfeiçoarmos nossa alma, pelo amor ao próximo, e pela pureza de pensamentos, palavras e atos.
23 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e haveis deixado as coisas que são mais importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas eram as que vós devíeis praticar, sem que entretanto omitísseis aquelas outras.
Ávidos das coisas materiais, os sacerdotes, não só os antigos como também os modernos, não ensinam aos povos a prática da justiça, da misericórdia e da fé, isto é, não ensinam a observância dos preceitos divinos. E tratam apenas de aumentar seu patrimônio terreno, usando para isso da religião. O resultado é viver o povo imerso na ignorância das coisas divinas, e, por conseguinte, afastado de Deus.
Nos tempos atuais, vem o Espiritismo, o Consolador prometido, esclarecer os povos no que toca às coisas divinas, deixando de lado as coisas materiais, porque os que pregam o Espiritismo e trabalham por ele, não precisam viver dele.
24 Condutores cegos, que coais um mosquito, e engolir um camelo.
Há os que professam hipocritamente uma religião, dando excessivo apreço às coisas de somenos importância, tais como: pompas, o aparato exterior, as fórmulas vãs, mas fecham os olhos quanto à observância das leis divinas, à reforma íntima do caráter, que é o que mais importa.
25 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; porque alimpais o que está por fora do copo e do prato; e por dentro estais cheios de rapinas e de imundícies.
26 Fariseu cego: purifica primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo.
27 Ai de vós escribas e fariseus hipócritas; porque sois semelhantes aos sepulcros caiados que parecem por fora formosos aos homens, e por dentro estão cheios de ossos de mortos, e de toda a asquerosidade.
28 Assim também vós outros por fora vos mostrais na verdade justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e iniquidade.
Aqui Jesus profliga a desarmonia reinante entre o exterior e o interior, isto é, entre o que os sacerdotes aparentam ser e o que trazem no Intimo. Essa desarmonia também se nota na maioria dos adeptos de qualquer doutrina religiosa. Dessa desarmonia se origina a hipocrisia, um dos defeitos da alma, que Jesus combateu acerrimamente. No afã de parecerem justos aos olhos dos homens, tratam só do exterior, isto é, observam apenas a parte material da religião cumprindo todas as formalidades prescritas. Todavia, não cumprem a parte moral, que trata da reforma Intima das suas abas. Aos olhos dos homens podem parecer justos; aos olhos de Deus, não. Encobrem assim a falta de virtude e à avidez com que buscam os bens terrenos, com que se entregam aos gozos inferiores, aos vícios, às vinganças, à maledicência, desrespeitando a Deus e ao próximo.
Os médiuns deverão ter o máximo cuidado de cultivarem a harmonia entre o exterior e o interior, a fim de não merecerem estas mesmas censuras de Jesus. Os médiuns são os sacerdotes do Espiritismo. Por isso deverão cumprir a parte material da doutrina, e não se esquecerem da parte moral, que é o cumprimento das virtudes; assim darão o bom exemplo. Há necessidade de educarem o eu interior, isto é, o coração, para fazê-lo sentir com sinceridade, não só os preceitos do Evangelho, como também o sofrimento do próximo, para levar-lhe o amparo; e não se esquecerem de que os pensamentos deverão ser sempre puros; as palavras, honestas; e os atos, bons. Não basta ser assíduo às sessões e aos trabalhos espirituais, que constituem o exterior; é absolutamente necessária a reforma íntima, a melhoria do caráter, e o viver de acordo com o que ensina a Doutrina Espírita trazendo-se assim limpo também o interior.
Rapinas são os pensamentos de cobiça, de ambição, de inveja, de ódio, e quaisquer pensamentos malévolos. Imundicias são os pensamentos de vícios e de gozõs inferiores. Esses pensamentos que constituem o interior, o hipócrita os encobre com a falsa piedade e com a meticulosa observância da religião diante do público. Deus não leva em conta a observância exterior; mas sim a observância interior, que consiste em cada um vigiar e trabalhar para ter o coração puro e a consciência tranquila.
É bom notar que não é somente entre os sacerdotes que se encontram túmulos caiados. Em todas as religiões e em todas as classes sociais eles existem, e simbolizam os homens justos na aparência, porém, cuja hipocrisia esconde o mal, que dissimuladamente praticam, e os vícios nos quais se comprazem.
29 Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que edificais os sepulcros dos profetas, e adornais os monumentos dos justos.
Periodicamente baixaram à terra missionários encarregados de instruírem o povo nas leis divinas, promovendo-lhe o progresso espiritual. O primeiro obstáculo com o qual defrontaram foi o endurecimento do povo, que a princípio não aceitou os ensinamentos deles.
Todos os ensinamentos novos encontram sérios adversários, não só porque a humanidade se compraz no comodismo que aqueles ensinamentos vieram quebrar, como também porque há grupos organizados, os quais exploram habilmente a ignorância, o endurecimento e o comodismo do povo.
Assim, contrariado em seus hábitos viciosos, e instigado por seus condutores, ordinariamente o povo acabou sacrificando os que lhe vieram trazer ensinamentos superiores. Contudo, a evolução continua, e as lições novas abrem caminho até serem aceitas.
30 E dizeis: Se nós houvéramos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus companheiros no sangue dos profetas;
31 E assim dais testemunho contra vós mesmos, de que sois filhos daqueles que mataram os profetas.
32 Acabai pois de encher a medida de vossos pais.
33 Serpentes, raça de víboras, como escapareis vós de serdes condenados ao inferno?
Na realidade, como já compreendia os ensinamentos que os profetas do passado tinham trazido, o clero já não instigaria o povo a matá-los. Todavia, Jesus faz ver aos sacerdotes o erro em que incidiam não seguindo os ensinamentos recebidos, pois, uma vez que os entendiam e ensinavam, deveriam seguilos. Ë verdade que não sacrificavam mais os profetas; porém, a todos os momentos, agiam ao contrário do que os missionários do Senhor tinham ensinado. Agora, o erro não tinha desculpas, porque estava sendo cometido com pleno conhecimento de causa. Dessa maneira, acompanhavam seus pais nos mesmos erros do passado, senão contra os profetas, pelo menos contra os mandamentos divinos. Assim agiam pior do que seus antepassados. Estes sacrificavam os profetas, movidos pela ignorância; seus descendentes praticavam o mal todos os dias, apesar de saberem que estavam desrespeitando as leis de Deus. Portanto, não poderiam salvar-se dos sofrimentos que atraíam para si, não só no presente como também nas encarnações futuras.
Analisando-se o panorama religioso atual, nota-se a mesma coisa. Se o clero e o povo de hoje não sacrificam Jesus, vivem, contudo, tão afastados de seus exemplos e ensinamentos, repetindo os erros que os profetas e Jesus vieram combater.
34 Por isso eis que estou eu que vos envio profetas e sábios e escribas, e deles matareis e crucificareis a uns, e deles açóitareis a outros nas vossas sinagogas, e os perseguireis de cidade em cidade.
35 Para que venha sobre vós todo o sangue dos justos, que se tem derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem vós destes a morte entre o templo e o altar.
36 Em verdade vos digo. que todas estas coisas. virão a cair sobre esta geração.
Jesus, zelando pelo progresso espiritual dos espíritos, que se encarnam aqui na terra, tem enviado continuamente elevados espíritos, que trouxeram proveitosas lições à humanidade. E porque conclamassem os rebeldes e os endurecidos ao cumprimento de seus deveres; e porque verberassem os vícios dos homens, eram os abnegados apóstolos, missionários e instrutores, cruelmente perseguidos. E como a humanidade, uma vez esclarecida, é plenamente responsável pelos seus atos, terá de prestar contas de todos os crimes, que cometeu contra os mensageiros do Senhor.
37 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos, do modo que uma galinha recolhe debaixo das asas os seus pintos, e tu o não quiseste!
38 Eis aí vos ficará deserta a vossa casa.
39 Porque eu vos declaro que desde agora, não me tornareis a ver até que digais: Bendito seja o que vem em nome do Senhor.
Jerusalém, tomada em sentido particular, simboliza o povo hebreu, cuja principal missão consistia em trabalhar pela espiritualização da humanidade.
Povo mais adiantado em espiritualidade, cumpria-lhe receber em primeiro lugar os ensinamentos divinos, assimilá-los, praticá-los e depois espalhá-los pelo mundo. Por isso, desde Moisés até os apóstolos, vemos a longa série de missionários que se encarnaram naquela nação, quase que ininterruptamente, trazendo sempre revelações e guiando o povo para um estágio espiritual superior. Mas, os missionários não eram ouvidos, e acabavam sendo massacrados, em virtude de contrariarem o interesse material dos poderosos e dos que viviam do altar.
Jerusalém, tomada em sentido geral, simboliza a humanidade, à qual, periodicamente. Jesus tem mandado missionários para instruí-la nas leis divinas e para espiritualizá-la. Esses missionários se encarnaram em todos os países; porém eles, em sua maioria, foram sacrificados, por causa do grande apego da humanidade às conveniências mundanas, à vida profana, aos vícios e às paixões inferiores, e, sobretudo, por irem de encontro aos grupos religiosos que exploram os povos.
Ao verificar os crimes cometidos contra seus emissários Jesus predíz grandes sofrimentos para a humanidade, até o dia em que se convença do caminho errado que tomou e procure, com humildade, viver mais dignamente de conformidade com as leis divinas.