Crônicas de Além-Túmulo

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Capítulo XXVII

A maior mensagem


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Muita gente boa poderá supor na Terra que o homem, atravessando as águas escuras do , encontrará na outra margem o poço maravilhoso da Sabedoria. Um homem de bons costumes, que andasse aí na Terra vendendo pastéis, depois dos banhos prodigiosos da morte voltaria aos cenários da vida sentenciando em todos os problemas que ensandecem o cérebro da Humanidade.

Mas, não é assim.

Cada indivíduo conserva, no Além, a posição evolutiva que o caracterizava na Terra. Cada entidade comunicante é, portanto, o homem desencarnado, ressalvando-se, todavia, a posição elevada dos Espíritos missionários que, de vez em quando, pousam no mundo abnegadamente, sem lhe reparar a miséria e a estreita relatividade.

Arrebatados, assim, para o império das sombras, não estamos vagueando em paisagens lunares, ou no Céu dos teólogos. O nosso mundo é de perfeita transição.

Já Raymond [], na 1nglaterra, com o apoio da autoridade científica de Sir Oliver Lodge, falou ao mundo terrestre das nossas paisagens bizarras, repletas de coisas semelhantes às coisas da nossa vida e das nossas atividades no planeta. Seus arroubos descritivos não comoveram o espírito cristalizado da ciência oficial, e provocaram exclamações pejorativas de muitos filósofos espiritualistas.

De minha parte, porém, já não quero fazer passar os olhos curiosos dos meus leitores sob o Arco de Esopo, movimentando as minhas criações do Tonel de Diógenes. Agora, mais que nunca, reconheço que cada qual compreende como pode, aí no mundo, e não me animo a provocar o riso despreocupado dos meus semelhantes, desejando somente levar-lhes o coração para as questões nobres e úteis da vida.

Para contar-lhes, assim, o que fiquei conhecendo daqui como a Maior Mensagem existente da Terra, devo dizer-lhes que, no casarão dos Espaços onde nos encontramos agasalhados, existe o Grande Salão dos 1nvisíveis. É aí que nos reunimos, muitas vezes, em amável “tête-à-tête” reconfortando-nos após as lutas terrestres, e recebendo frequentemente as opiniões esclarecidas dos mestres da Espiritualidade. Aparelhos delicadíssimos, de uma radiotelefonia mais avançada, nos colocam em contato com entidades angélicas, tal como os políticos do Rio de Janeiro podem ouvir o governo de Tóquio, trocando entre si as impressões de um momento, sem se afastarem de suas cidades respectivas.

No dia a que me reporto, encontrávamo-nos ali, em animada palestra. Escritores franceses, ingleses, asiáticos e americanos, discutíamos os progressos da Terra. Não há mais aqui a barreira dos idiomas. Cada qual pode falar à vontade, porque o pensamento já é por si mesmo uma espécie de Volapuque universal.

— “O que mais me admira na atualidade do mundo — exclamava um dos companheiros — é a obra perfeita da engenharia moderna. Na América do Norte cuida-se da captação da energia elétrica existente na força das ondas marítimas, dentro do mecanismo de poderosas turbinas e, talvez, antes que o homem penetre o segredo do aproveitamento das forças atômicas, para repousar as suas atividades na eletricidade atmosférica, já terá construído formidáveis usinas captadoras da energia dos ventos, a mais de duzentos metros de altura. A mecânica da aviação progride a cada minuto e o homem está prestes a adotar os mais avançados sistemas de locomoção aérea, com os futuros aparelhos de voo individual.”

— “Todavia, atalhou outro, temos de considerar igualmente o elevado plano evolutivo das criaturas, nos laboratórios. O [químico] alemão Todtenhaupt demonstrou [em 1904] a maneira de se transformar a caseína do leite em lã artificial [fracassou porque o produto não era flexível]. Os tecnologistas descobriram todos os meios de se copiar perfeitamente a Natureza, e os produtos sintéticos fazem, por toda a parte, as comodidades da civilização. Os raios 10 devassaram a organização de todos os corpos, provando que todas as matérias, na crosta terrestre, são cristalinas, facilitando o exame de suas disposições atômicas e moleculares. Essas revoluções, no campo imenso das indústrias modernas, hão-de fatalmente determinar profundas modificações na vida atormentada dos homens.”

Eu ouvia, interessado, esses argumentos, sem poder participar com veemência dos problemas debatidos, em virtude de trazer muito pouca bagagem do nosso pobre Brasil, com exceção das ideias políticas, quando outro amigo interveio:

— “Muito me têm preocupado as questões de Medicina e é com assombro que vejo a evolução dos processos terapêuticos no orbe terráqueo. Os hormônios, as vitaminas e as glândulas, tão desconhecidos ali, antigamente, são objeto de toda uma revolução científica. Ainda agora os hospitais de Moscou realizam, com êxito, as mais extraordinárias transfusões de sangue cadavérico. Os médicos moscovitas descobriram os recursos de conservar o sangue retirado de um cadáver, no instante imediato à morte, por mais de 20 a 30 dias, aplicando-o com felicidade a outros organismos enfermos. Os processos de saneamento e de higiene não ficam aquém dessas conquistas. Há tempos saneou-se, na 1tália, a região das Lagoas Pontinas e, onde havia pântanos e focos microbianos, florescem hoje cidades prestigiosas e progressistas.”

E, nesse diapasão, todos os escritores desencarnados manifestaram seus pensamentos otimistas Falou-se da física, da bacteriologia, dos processos pedagógicos, da industrialização, do nacional-socialismo de Hitler e dos princípios democráticos de Roosevelt.

Mas, quando a palestra atingia o fim de seu curso, uma voz, cuja origem não poderíamos determinar exclamou em nosso meio com melancólica imponência:

— “Todas as conquistas e todas as comodidades da civilização terrestre da atualidade são questões secundárias nos ciclos eternos da vida… A mão invisível e poderosa que destruiu o orgulho impenitente de Babilônia e de Persépolis, que aniquilou os poderes de Roma e de Cartago, pode reduzir o mundo ocidental a um punhado de cinzas!…

“As plataformas políticas, os laboratórios científicos, os diplomas de novos conhecimentos, são segundos valores em todos os caminhos evolutivos, porque, sem o amor, que é a fraternidade universal, todas as portas da evolução estarão fechadas. Pode Einstein devassar novos segredos na teoria das relatividades; Segismund Freud poderá descobrir novas causas dos padecimentos humanos com a perseverança e a paciência de suas análises; a tecnologia pode modificar visceralmente a estrutura das indústrias do planeta; Hitler, Mussolini, Roosevelt e Trotsky podem aventar novas sistematizações da política, renovando as concepções do Estado; mas a Maior Mensagem no mundo ainda é o Evangelho. Sem o amor de Jesus-Cristo, todos os povos estão condenados a morrer, com todo o peso de suas conquistas e de suas glórias, porque somente o amor pode salvar o mundo que se aniquila… Podereis todos vós descer à face escura e triste da Terra, proclamando a vossa imortalidade, porém, nada fareis de útil se não entregardes ao espírito humano essa chave maravilhosa, para que se abram as portas imensas da paz, no coração amargurado dos homens!…”

Diante dessa voz suave e terrível, todos nós silenciáramos.

Ao longe, muito ao longe, por um esforço pronunciado de nossa ação, divisávamos a Terra longínqua… Furacões destruidores pareciam envolve-la. Suas atmosferas estavam enegrecidas, pejadas de nuvens de fumo e de poeira sangrenta. Um secreto pavor dominou nossas almas e guardamos, então, no íntimo, aquela voz profética e ameaçadora: — “A mão invisível e poderosa que destruiu o orgulho impenitente de Babilônia e de Persépolis, pode reduzir a Civilização Ocidental a um punhado de cinzas…”


(.Irmão X)


17 de abril de 1937.



Humberto de Campos
Francisco Cândido Xavier


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