Convivência

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Capítulo XV

Dupla beneficência


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A caridade, na forma externa, é suficientemente conhecida.

Toda organização assistencial é uma bênção de Deus, atenuando a penúria e o sofrimento onde surja.

Existe, porém, a beneficência mais íntima, que se comunica, de alma para alma, nas bases do silêncio e da compreensão.


A caridade mais íntima socorre a pessoa em necessidade sem aparecer; fala-lhe aos recessos do espírito sem palavras articuladas; apoia-lhe a vida sem mostrar-se; e ilumina-lhe o coração, sem ofuscar-lhe o entendimento.


Experimenta semelhante trabalho e observarás quanta alegria se te exteriorizará da existência.


Se conheces a necessidade de alguém, não esperes que esse alguém se coloque de joelhos a suplicar-te favor e estende-lhe o auxílio de que possas dispor; na hipótese de te faltarem recursos para isso, encontrarás os meios de sugerir a companheiros outros para que o façam, sem que a tua influência se mostre.


Quando te convenças de que essa ou aquela criatura te requisita atenção para determinado assunto, ainda mesmo que disponhas de tempo escasso, podes dedicar-lhe alguns momentos, nos quais a tua palavra lhe signifique o apreço que te merece.


Nos problemas de natureza familiar, descobrirás, sem dificuldade, a trilha mental, no instante justo, através da qual consigas transitar, restaurando a harmonia doméstica, sem esperar agradecimentos.


Ante o amigo que se suponha em erro, saberás despertar-lhe as qualidades superiores que, porventura, estejam adormecidas, afastando-lhe os pensamentos de quaisquer sombras.


Perante uma criatura querida que te haja desfechado essa ou aquela ofensa, reconhecerás que estará ela em momento difícil e que te cabe esquecer o contratempo havido, já que em lugar desse ou daquele ofensor, poderíamos estar nós com os desacertos e precipitações que ainda nos caracterizam.


Não nos esqueçamos da beneficência externa que nos irmana uns aos outros, através da assistência recíproca, nas experiências do cotidiano, mas atendamos à beneficência mais íntima, que ampara sem mostrar-se, erguendo sentimentos e levantando almas para a elevação de hoje, que perdurará nas alegrias do hoje e sempre.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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