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Capítulo VIII

Caridade e razão


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TEMA — Raciocinar para conversar com proveito.


Indiscutivelmente estamos ainda muito longe da educação racional. Conquanto necessitados de ponderação, agimos, via de regra, sob o impulso de alavancas emotivas acionadas por sugestões exteriores.

De modo geral, muito antes que nos decidamos a discernir, assimilamos ideias que nos são desfechadas por informações e exibições que nem sempre se vinculam à verdade e passamos a esposar opiniões que, comumente, nos induzem a desastres morais no comboio da existência.

Habitua-te a essa realidade e não te entregues às impressões tumultuárias que porventura te visitem o coração. Com isso, não te queremos pedir para que te transformes em palmatória de corrigenda ou para que apresentes ouvidos de pedra à frente das semelhantes. Às vezes, há muito mais caridade na atenção que no conselho. Fraternalmente, escuta o que se te diga e observa o que vês, sem escandalizar os interlocutores ou ferir os companheiros de romagem terrestre, opondo-lhes censuras ou contraditas que apenas lhes agravariam as dificuldades e os problemas. Ao invés disso, aprendamos a filtrar aquilo que nos alcance o campo íntimo, aproveitando os elementos que se façam úteis aos outros e a nós mesmos, e esquecendo tudo — mas realmente tudo — o que não nos sirva à construção do melhor.

Conversação, na essência, é permuta de almas. Através da palavra, damos e recebemos. Isso, porém, não se refere a doações e recepções teóricas. Entendendo-nos uns com os outros, fornecemos e adquirimos determinados recursos de espírito, que influirão em nossa conduta e a nossa conduta forma a corrente de planos, coisas, encontros e realizações que nos determinarão o destino. Escolha de hoje no livre-arbítrio será consequência amanhã. Causa de agora será resultado depois.

Cultivemos harmonia, à frente de tudo e de todos; no entanto é preciso que essa atitude de entendimento não exclua de nossa personalidade o otimismo irradiante, a sinceridade construtiva, o reconforto da intimidade e a alegria de viver. Em suma, diante de todos e de tudo, deixemos que a caridade nos ilumine o crivo da razão, a fim de que não venhamos a perder os melhores valores do tempo e da vida, por ausência de equilíbrio ou falta de amor.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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