Novo Mundo
Versão para cópiaChico Xavier, uma lição de amor
(“Tribuna de Brasília” — Brasília — DF, de 08 a 14 de janeiro de 1984).
Lição de Humanidade
Enquanto a moderna civilização alcança o apogeu no campo da Ciência e da Tecnologia, o homem vive tempos sombrios.
Na procura obstinada de um universo fecundo e valores emocionais, éticos e morais tenta, avidamente, encontrar sua âncora-símbolo da esperança.
Nesse momento crucial, o perfil dos verdadeiros iluminados e profetas se destaca e ganha força — não pretendem recrutar adeptos nos grupos, cada vez maiores, de desesperados e desiludidos — seria fácil conquistar suas mentes. Nem pretendem utilizar, em benefício próprio, a candura dos que neles creem, que redundaria num acréscimo incomensurável de poder.
O exemplo de suas vidas irreprocháveis é um raio fulgurante, cuja centelha penetra o âmago dos corações e desperta consciências, mantendo ardente a chama das virtudes teologais — fé, esperança e caridade — inerentes a todos os grandes espíritos ecumênicos.
Transcendendo sua obra densa e fértil, Francisco Cândido Xavier é, sem sombra de dúvida, uma destas insuperáveis lições de humanidade.
Desde o início, sua trajetória no Planeta Terra foi marcada por acontecimentos, na maioria adversos e, ainda assim, aceitos com humilde devoção — Chico Xavier foi “escolhido” como o mensageiro do amor.
Cumpre sua missão com rigorosa e total dedicação. Sobre sua imensa alma simples fluem, das mãos do Criador, a mais pura fragrância, a luz mais brilhante, a melodia de cânticos celestiais que, em magistral orquestração, estruturam e definem sua força, tão possante quanto harmônica, aparentemente difícil de caber em seu frágil corpo físico, através do qual, se consuma a Vontade Suprema do Construtor do Universo.
Chico Xavier une, no tempo e no espaço, a espécie humana e proporciona essa sutil comunicação com nossos irmãos e irmãs, com nossos ancestrais.
Devemos compreender como ele é, não como gostaríamos que fosse — para ele, o óbvio é, muitas vezes, falso enquanto que o inesperado é, muitas vezes, verdadeiro.
Nenhum sistema religioso, filosófico ou político possui todas as respostas que justifiquem a existência, aqui ou além.
Chico Xavier preenche, em grande parte, esse vazio de autoconhecimento e toca nosso sentimento de admiração e respeito.
São muitas as etapas do desenvolvimento gradual da consciência.
Em eras remotas, discutia-se o fato de que a mulher, tal como o homem, também possuísse uma alma, ou se era uma simples borboleta que esvoaçava, apenas por um dia…
Perguntado sobre o assunto, Chico respondeu:
“— Homem nenhum na Terra, até agora, impediu que a mulher fosse detentora do privilégio e da glória de ser mãe e que, através dela, se gerasse a vida.
“Conhecemos santos, heróis, homens de grande inteligência, cujos nomes se projetaram na História. Mas nenhum deles existiria se não fosse a mulher — é tão importante essa sublime tarefa feminina que, quando a Divina Providência, em seus Desígnios insondáveis e profundos, enviou Seu Filho à Terra, para resgatar a humanidade, não escolheu Tibério, Augusto ou outros Césares, nem os grandes filósofos gregos, ou os grandes conquistadores.
“Escolheu uma jovem virtuosa, chamada Maria de Nazaré, em cuja personalidade todos nós reverenciamos aquela que foi Mãe de Jesus, que se transformou no símbolo da Mãe da Humanidade, para todos que se consideram cristãos, que abrangem milhões de criaturas. Como poderia isso acontecer se todos os seres humanos, sem exceção, independente de sexo, raça ou religião, são iguais perante Deus, que os fez à Sua Imagem e Semelhança?
“Naturalmente, homens e mulheres abrigam em seus corpos aquele sopro Divino que denominamos alma.”
“Em algum lugar, entre a imensidão e a eternidade está o nosso lar — a Terra é um lugar, mas de maneira nenhuma o único lugar. Intelectualmente, permanecemos numa ilhota dentro de um oceano ilimitado de inexplicabilidades.” (T. S. Huxley, 1887)
“Por ventura compreendemos a expansão da Terra? Onde é o caminho da Morada de Luz, E onde é o local da escuridão?” (O Livro de Jó)
Obra fecunda
As barreiras da mente são grossas muralhas, construídas pela razão e pela lógica objetiva, que funcionam como forças antagônicas, que se opõem à germinação e ao desenvolvimento das percepções extrasensoriais. Mas, através de Chico Xavier, exemplo clamoroso da fenomenologia paranormal, emerge um mar desconhecido feito de energias e vibrações, espesso, subjetivo e poderoso, que pressiona e chega à tona, rompendo as barreiras da mente.
Mesmo para pessoas de crenças diferentes da sua, Chico Xavier não é um mortal comum — irradia luz e paz sem falar em seus incontestáveis dons de clarividência, telepatia e psicografia.
Talvez seja difícil separar o homem Chico, do médium vivo mais famoso do Brasil, que pode apresentar à posteridade uma obra rara — até outubro de 1982 produziu duzentos e vinte e um livros psicografados, já editados, num total de onze milhões de exemplares vendidos.
Seus livros compreendem gêneros literários os mais diversos e foram traduzidos para várias línguas entre as quais, Espanhol, Esperanto, Francês, Inglês, Grego e Checo.
Existem algumas obras publicadas em Braile. Entretanto, a vultosa renda proveniente de direitos autorais, mais donativos e heranças que recebe, são integralmente doados a numerosas instituições de caridade, hospitais beneficentes ou centros de assistência social, no Brasil e no Exterior.
Chico Xavier vive, exclusivamente, de sua magra aposentadoria, referente a seu cargo de funcionário público do Ministério da Agricultura.
A cidade mineira de Uberaba, onde vive atualmente, tornou-se o maior centro de peregrinação espírita do Brasil.
Nas famosas noites de sexta-feira há seção de atendimento ao público, demonstrando um interesse permanente por seus semelhantes.
Chico recebe como se fosse imune ao cansaço, mantendo até o fim, a mesma brandura e o mesmo sorriso, milhares de pessoas que desejam vê-lo de perto ou consultá-lo.
Muitos vencem longas distâncias, outros chegam em caravanas e todos permanecem, por horas intermináveis, em filas quilométricas, esperando um número de chamada para o atendimento.
Ele atende todos, mostrando possuir quase ao infinito, uma das mais difíceis virtudes: a paciência.
Sua humildade transcende o humano — quando, ao completar setenta anos alguns amigos mais íntimos e nomes famosos das artes e da política quiseram sugerir seu nome ao Nobel da Paz, como presente de aniversário, com o endosso de dez milhões de brasileiros. Chico sorriu, desconversou e continuou entregue à sua missão de caridade e amor ao próximo.
“Oceano de Pura Consciência”
O reconhecimento do valor de Chico Xavier não reside apenas nos oitenta e três títulos de cidadania recebidos no Brasil — atuou junto às vítimas do fogo selvagem, contribuindo, com seu auxílio, à construção e na manutenção do Hospital do Pênfigo; merece especial atenção seu trabalho na Casa Transitória, da Federação Espírita do Estado de São Paulo, destinada a velhos desamparados, à recuperação de adultos e ao auxílio de crianças carentes; são inúmeros os hospitais psiquiátricos e casas de saúde orientados pelas obras de André Luiz, psicografadas por Chico; trabalhou intensamente na recuperação dos presidiários, organizando grupos de voluntários para orientar os detentos no regresso à sociedade, quase sempre relutantes; atende aos pobres distribuindo donativos que abrangem desde roupas e utilidades domésticas, até os gêneros de primeira necessidade; percorre as ruas de terra vermelha e barracos inacabados, distribuindo aos favelados bens materiais e conforto espiritual, entre centenas de outros gestos despojados e comoventes que possuem força suficiente para reanimar os mais aflitos.
Dimensionar a obra de Chico, através de sua longa jornada, seria pretender explicar os mundos insondáveis e profundos do médium.
A natureza, sinônimo da manifestação de Deus, não revela seus segredos de uma só vez.
A fama em nada mudou sua personalidade simples, nem alterou a magnitude de seus dons — Chico é a própria integração do homem na universalidade Cósmica e vive, simultaneamente, em duas dimensões — poderíamos dizer que Chico Xavier é um “oceano de pura consciência” e situa-se além do espaço e do tempo.
“Enquanto este planeta gira, de acordo com a lei imutável da gravidade, de um começo tão simples, for mas infindáveis, as mais belas e perfeitas, evoluíram e ainda estão evoluindo.” (Charles Darwin)
“Quanto mais vivermos, com mais experiência partimos”. (Chico Xavier)
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