Opinião espírita

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Capítulo LI

Privações do corpo e provações da alma


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O Evangelho segundo o Espiritismo—

O homem, não raro, nas horas difíceis, lança mão de recursos extremos e, por vezes, ilógicos, para diminuir o sofrimento próprio ou alheio, qual acontece nas provas desesperadoras, no sentido de suprimir agonias morais ou curar doenças insidiosas. Daí nasce o contrassenso dos ofícios religiosos remunerados de que se alastram antigos e piedosos enganos, como sejam:

a recitação mecânica de fórmulas cabalísticas;

os sacrifícios inúteis visando prioridade e concessões;

as promessas esdrúxulas;

os votos inoportunos;

as penitências estranhas;

os auto-castigos em que a vaidade leva o rótulo da fé;

os jejuns e as mortificações a expressarem suicídios parciais;

o uso de amuletos;

o apego a talismãs;

o culto improdutivo do remorso sem qualquer esforço de corrigenda na restauração do caminho errado…


Contudo, ao espírita-cristão compete despojar-se de semelhantes conceitos acerca do Criador e da Criação, cristalizados na mente humana através de numerosas reencarnações.

Para nós, não mais existe a crença cega.

Em razão disso, não mais nos acomodamos à ideia do milagre como sendo prerrogativa em favor de alguém sem merecimento qualquer.

De igual modo, urge compreender os mecanismos das Leis Divinas, dispensando-se, ante os lances atormentados da existência terrestre, toda a atitude ilusória ou espetacular.

Omissão não resolve. E em matéria de comportamento moral na renovação da vida, abstenção do serviço no bem de todos, é deserção vestida de alegações simplesmente acomodatícias, dentro da qual o crente não apenas foge das responsabilidades que lhe cabem, como também ainda exige presunçosamente que Deus se transforme em escravo de suas extravagâncias.

Situa-nos a Doutrina Espírita diante de nós mesmos.

Estamos espiritualmente hoje onde nos colocamos ontem. Respiraremos amanhã no lugar para onde nos dirigimos.

Usemos a oração para compreender as nossas necessidades, solucionando-as à luz do trabalho sem o propósito de ilaquear os poderes divinos.

A Lei é equânime, justa, insubornável.

A criatura — gota igual às demais no oceano imenso da Humanidade Universal — não é cliente de privilégios.

Eis porque, ao invés de procurar, espontaneamente, penitências improdutivas para nós, é imperioso buscar voluntariamente o auxílio eficiente aos semelhantes.

Espiritismo é sublime manancial de energia espiritual.

Haurindo forças, acatemos sem revolta aquilo que a Vida nos oferece, trazendo paz na consciência e entendimento no coração.

O mundo atual prescinde de quantos se transformam em ascetas e eremitas de qualquer condição.

Até a penalogia moderna procura imprimir utilidade às horas dos presidiários, valorizando-lhes a reeducação em colônias agrícolas e em outras organizações coletivas, à busca de regeneração moral e social.

E a própria psiquiatria, presentemente, institui a laborterapia para que os enfermos da alma se recuperem, pela atividade edificante.

Para o espírita, portanto, a Vida e o Universo surgem ajustados à lógica e esclarecidos na verdade.

Apelemos para os recursos da prece, a fim de que sejamos sustentados em nossos próprios deveres, reconhecendo, porém, que Deus não é vendedor de graças ou doador de obséquios, em regime de exceção, e sim o Criador Incriado, perfeito em todos os seu atributos de justiça e de amor.




(Psicografia de Waldo Vieira)



André Luiz
Francisco Cândido Xavier

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