Parnaso de além-túmulo
Versão para cópiaPedro de Alcântara
O último imperador deixou alguns sonetos, que, bem o sabemos, há quem diga não serem da sua lavra. Ignoramos porque D. Pedro II, alma boníssima, vibrátil, e espírito culto, não pudesse fazer o que fizeram e fazem tantos outros patrícios nossos, a ponto de ser correntio o conceito de que todo brasileiro é poeta aos 20 anos. De qualquer forma, entretanto, o que se não poderá negar é a estreita afinidade destes sonetos com os que, de D. Pedro, conhecemos.
MEU BRASILLonge do meu Brasil, triste e saudoso, Bastas vezes sentia, mal desperto, Com o coração pulsando estar já perto Do pátrio lar risonho e bonançoso. E deplorava o rumo escuro e incerto, Do meu desterro amargo e desditoso, Desalentado e fraco, sem repouso, O coração em úlceras aberto. Enviava, a chorar, na aura fagueira Minhas recordações em terna prece Ao torrão que adorara a vida inteira; Até que a acerba dor, enfim, pudesse Arrebatar-me à vida verdadeira, Onde a luz da verdade resplandece. |
NO EXÍLIOPode o céu do desterro ser tão belo, Quanto o céu do país em que nascemos; Nada faz com que o nosso desprezemos, Acalentando o sonho de revê-lo. Todo o nosso ideal pomos no anelo De regressar, e voando sobre extremos, Com o pensamento ansioso percorremos Nosso amado rincão, lindo ou singelo. Jaz no desterro a plaga da amargura, De acerba pena ao pobre penitente, De amaro pranto da alma torturada; A alegria no exílio é desventura, É a saudade na ânsia mais pungente De retornar à pátria idolatrada. |
ROGATIVAMagnânimo Senhor que os orbes cria, Povoando o Universo ilimitado, Que dá pão ao faminto e ao desgraçado, E ao sofredor os raios da alegria, Se, de novo, no mundo, desterrado, Necessitar viver inda algum dia. Que regresse ditoso ao solo amado Da generosa pátria que eu queria; Se é mister retornar a um novo exílio. Seja o Brasil, lá onde eu desejara Ter vertido o meu pranto derradeiro. Que, novamente viva sob o brilho, Da mesma luz gloriosa que eu amara, Na alcandorada terra do Cruzeiro. |
SONETONo exílio é que a alma vive da lembrança, Numa doce saudade enternecida, Tendo chorosa a vista que se cansa De procurar a pátria estremecida; Com dolorosas lágrimas avança, Do sonho que teceu e amou na vida, Para a morte, onde tem sua esperança, Na celeste ventura prometida. E Deus, que os orbes cria, generoso, Na vastidão dos céus iluminados, Concede a paz ao triste e ao desditoso Na clara luz dos mundos elevados, Onde, do amor, reserva o eterno gozo Para as almas dos pobres desterrados. |
PÁGINA DE GRATIDÃOTangendo as cordas da harpa da saudade, Venho ao Brasil buscar a essência pura Do amor da pátria minha, da doçura Da flor cheia do aroma da amizade. Prende-me o coração a suavidade Desse arroubo de afeto e de ternura Dalma do povo meu, que de ventura E de alegria o espírito me invade. Do misterioso aquém da morte, eu vejo, Sentindo, essa onda intensa e luminosa Da afeição, que idealiza o meu desejo: E tendo a gratidão por companheira. Volvo ao pátrio torrão de alma saudosa. Amando mais a Terra Brasileira. |
ORAÇÃO DO CRUZEIRO(No cinquentenário da Abolição) Luminosas estrelas do Cruzeiro, Iluminai a terra da Esperança, Na doce proteção de um povo inteiro Onde a mão de Jesus desce e descansa. Símbolo sacrossanto de aliança De paz e amor do Eterno Pegureiro, Guardai as claridades da Bonança Na vastidão do solo brasileiro. Constelação da Cruz, cheia de graças, Transfundi numa só todas as raças, No país da esperança e da bondade. Que o Brasil, sob a luz da tua glória, Possa escrever, no mundo, a grande história Das epopeias da Fraternidade. |
BANDEIRA DO BRASILBandeira do Brasil, símbolo da bonança, Enquanto a guerra estruge indômita e sombria, Sê nos planos de luta o sinal de harmonia, Espalhando no mundo as bênçãos da Esperança. Assinalas, na Terra, o país da Alegria, Onde toda a existência é um hino de abastança, Guardas contigo a luz da bem-aventurança, És o florão da paz, marcando um novo dia. Nasceste sob a luz de um bem, alto e fecundo, Nunca te conspurcaste aos embates do mundo, Buscando iluminar as lutas, ao vivê-las… É por isso que Deus, que te ampara e equilibra, Deu-te um corpo auri-verde onde a paz canta e vibra, E um coração azul, esmaltado de estrelas. |
BRASIL DO BEMEis que o campo de sombra se esfacela No doloroso e amargo cativeiro Da guerra que ameaça o mundo inteiro Qual furacão no auge da procela. Mas na amplidão do solo brasileiro Outra expressão de vida se revela Nalma cariciosa, heroica e bela, Que se engrandece ao brilho do Cruzeiro. Grande Brasil do Bem e da Abastança, Deus te guarde os tesouros da esperança, Desde as luzes dos céus à luz dos ninhos! Segue à frente do mundo aflito e errante E alça o pendão pacífico e triunfante. Como a doce promessa nos caminhos!.. |
BRASILSopra o vento do ódio e da vingança, Aniquilando a Paz do mundo inteiro, Embora o Amor Divino do Cordeiro Seja a fonte da Bem-aventurança. Mas a terra ditosa da Esperança Vive nas claridades do Cruzeiro, Onde o Evangelho é o Doce Mensageiro Das bênçãos da Verdade e da Bonança. Meu Brasil, guarda a luz dessa vitória, Que é o mais belo florão de tua glória Nos caminhos da espiritualidade. Ama a Deus. Faze o bem. Todo o problema Está na compreensão clara e suprema Do Trabalho, do Amor e da Verdade. |
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Mateus 13:14
E neles se cumpre a profecia d?Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis.
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