Jesus e o Evangelho (Série Psicologica Joanna de Ângelis Livro 11)

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A Avareza - Ev. Cap. XVI - Item 11

A Avareza - Ev. Cap. XVI - Item 11

(. . .) Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma. . .


Lucas 12:20

Diante do Cosmo abundante e generoso, com infinitas possibilidades de progresso e de engrandecimento de valores, somente o ser humano se expressa com mesquinhez e avareza, preocupado com a posse efêmera, que lhe pareceria garantir a perenidade da vida e a segurança existencial.

A falsa conduta social de acumular para deter é remanescente do instinto primário, que se assegura da possibilidade de retenção da presa para o repasto futuro, sem dar-se conta da variedade de recursos que se encontram em torno e servirão para a preservação da vida.

Essa força, quase incoercível porque ancestral, fincada no ego, responde pelos conflitos sociais e econômicos, políticos e psicológicos, que arrastam multidões ao desespero, escravizando os sentimentos e as aspirações pela posse, que se expande na área da afetividade como herança patriarcal de que tudo quanto se encontra à sua volta é-lhe de propriedade. Nesse sentido, a família, os amigos, os objetos são sempre seus, sem que, por sua vez, se permita doar aos outros. Tal condicionamento leva o indivíduo, na sua masculinidade, à prepotência sobre o feminino frágil e pecador, responsável pela sua perda do Éden mitológico.

Jesus-Homem, à luz da Psicologia Profunda, arrebentou esse pressuposto de dominação patriarcal, realizando a superior androginia figurativa, quando harmonizou o Seu animus com a Sua anima, em perfeita identidade de conteúdos, o que Lhe permitiu transitar pelos diferentes comportamentos emocionais, mantendo a mesma qualidade de conduta.

Jamais Lhe aconteceu a predominância essencial de um conteúdo psicológico em detrimento do outro, que sempre se encarrega de contrabalançar a atitude, destacando o ser essencial e não o seu exterior.

Essa dualidade será sempre vivida em tal elevação, que Ele superou o ambiente em que viveu, destacando-se pela qualidade de valores adotados e propostos, sem jamais desvincular-se do programa que veio trazer ao mundo, revolucionando as mentes e preparando-as para o advento da Nova Era.

Nessa conduta, desvelou Deus todo amor, sem a terrível herança patriarcal, que O transformava em um monstro esquecido da própria criação, na qual a dualidade é fundamental para a unidade.

Eliminou a futura conceituação teológica de que Deus oferecera o sangue do Seu filho para aplacar a própria fúria, desse modo salvando a Humanidade que, a partir daí, estaria justificada do seu erro ancestral. O ser humano, que se teria afastado de Deus pela desobediência, somente se reconciliaria com Ele mediante Cristo, que seria a ponte do sacrifício em favor da redenção de todos os homens. . . e mulheres.

No estudo neotestamentário, em que um homem Lhe pede que recomende ao seu irmão para com ele dividir a herança que era motivo de litígio entre os dois, o Mestre lhe respondeu, interrogando: - O homem! Quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas? Em seguida, após uma breve reflexão, acrescentou: - Tende o cuidado de preservar-vos de toda a avareza, porquanto, seja qual for a abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que possui.

Para que ficasse inolvidável a lição, narrou então a parábola do rico que era dono de terras, que cuidava de ampliar a fortuna até o excesso, e quando já não mais tinha onde armazenar os haveres, propôs-se a dormir e a gozar, a desfrutar de todos osbens até a exaustão, esquecido de que naquela noite o Senhor da Vida lhe tomaria a alma. . .

Ressuma, nessa história, o patriarcado da consciência, na simbologia do juiz, que querem imputar a Jesus como figura masculina ancestral desencadeada, que era predominante no comportamento jurídico e social da época.

Jesus jamais veio para julgar e condenar, dividir e justificar.

Isso significaria destruir o sentido profundo da Sua mensagem, tornando-O trágico em Sua construção de amor. Nessa postura psicológica do patriarcado remanescente, seria olvidada a realidade do feminino, mesmo que inconscientemente, evitando a harmonia integrada, que responde pelo ser perfeitamente identificado com a vida, sem injunções caprichosas ou fragmentações dominantes.

Nunca o Homem-Jesus foi dominado, segundo a Psicologia Profunda, por representações inconscientes arquetípicas. Os Seus arquétipos procediam de outras imagens ancestrais representativas de Paramos vibratórios superiores que transcendem ao entendimento comum, portanto, sem dominações fragmentadas.

Dessa forma, Ele não era juiz, não impunha a lei, vivia-a e sofria-a, ensinando submissão aos códigos, mesmo quando injustos, com o objetivo de estimular cada ser a ascender aos patamares superiores do pensamento e da consciência, libertando-se de qualquer retenção no egoísmo ou na inferioridade competitiva existente nos escalões inferiores da transitoriedade carnal.

A questão da riqueza assumiu na Boa-nova uma postura relevante, porque verdadeiramente ricos não são os possuidores de coisas e volumes da ambição, mas aqueles que se fizeram pobres do espírito de avareza, de paixões inferiores, de angústias, enriquecendo-se no Reino dos Céus que se inicia na Terra, com os dons da renúncia, da abnegação, do amor que se engrandece até a postura da caridade.

Essa busca ininterrupta, a que se deve entregar o ser humano, é o desafio psicológico do autoencontro, da descoberta da realidade espiritual, do sentido profundo da existência além do campo das formas objetivas e sensuais. Assim somente se pode entender o significado essencial da Boa-nova que Ele veio trazer ao mundo, para que o mundo se libertasse da sua sombra coletiva e o ser humano iluminasse o seu lado escuro com a claridade da consciência lúcida, elevandose a níveis cósmicos mais felizes e completos.

A missão inteligente do ser humano na Terra é a de promover o próprio como o progresso geral, e aí reside o fim providencial da riqueza, que estimula a criatividade com fins nobres e a dignificação espiritual, mediante a ampliação do pensamento que se desveste das couraças do mito para realizar obras em favor do seu crescimento emocional e moral.

Através da postura do amor surge a compreensão de como aplicar-se a riqueza, multiplicando-a em obras que favoreçam todos os seres com oportunidades de desenvolvimento dos valores internos, alterando as paisagens íntimas através das conquistas que lhes são apresentadas.

A caridade então assume novas características, dignificando aquele que necessita, por facultar-lhe conquistar com dignidade o pão e o lar, a educação e a saúde por meio do próprio esforço que investe no trabalho honrado, e que lhe é facultado pelo possuidor de riquezas. Essa forma de aplicar a sã virtude da caridade faz que mais se autoenriqueça o administrador, do que apenas amealhando nos cofres da usura e da avareza, nos quais perde totalmente o significado conforme é atribuído pela sociedade aos bens materiais.

O transcurso de uma existência corporal é sempre de rápida expressão de tempo e de lugar, porquanto o carro orgânico passa com muita velocidade, quando se consideram a dimensão do futuro e a intemporaridade do presente.

Viver-se esse presente — tempo - como presente - dádiva - em um constante serviço de construção interior, exercendo a ação de enriquecimento geral, é o dever que cabe aos possuidores de riquezas, que as tornarão abençoadas pelos contributos que espalharem em torno dos seus recursos.

Mais importantes, porém, do que esses bens amoedados e acumulados em arcas ou bancos, são aqueles de ordem emocional e espiritual, moral e social: a inteligência que sabe administrar a existência corporal; a memória que se encarrega dearquivar as experiências, as tendências para o bem, o bom, o belo, o eterno; os sentimentos do dever defluentes da consciência que atua em consonância com as Soberanas Leis da Vida.

São esses tesouros, sem dúvida, mais preciosos do que os materiais, que podem transformá-los em valiosos empreendimentos salvadores de vidas, como a instrução, a educação, a libertação dos vícios em razão do amparo no campo da saúde e do trabalho, propiciando felicidade em toda parte.

A fortuna, seja como for que se manifeste, é alta responsabilidade de que o seu detentor terá que prestar contas, inicialmente a si mesmo, pelo açodar da consciência responsável quando desperta e impõe a culpa pelo seu mau emprego, e diante da Consciência Cósmica, da qual ninguém se evade por presunção, capricho ou infantilidade emocional. . .

Na pobreza ou na riqueza, o ser adquire experiências valiosas que lhe devem constituir patrimônio de crescimento no rumo do Infinito, nessa marcha inexorável pela busca de Deus, ampliando a capacidade de servir e de amar, porquanto, de um para outro momento, pode soar-lhe uma voz, que dirá:

—Que insensato és! Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma. . . e que sentido terá tudo quanto foi ou não armazenado, senão quando aplicado com elevação e sabedoria?




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