Agência de Notícias

Versão para cópia
Capítulo XI

Um caso de obsessão


Dos casos que tenho visto,

O de Antonico Vicente

É uma história como tantas

Para educar muita gente.


Dono de imensa fortuna,

Era um sovina acabado,

Quem lhe pedisse um favor

Saía desanimado.


A mendigo que rogasse

A esmola de algum vintém,

Sarcástico, respondia:

— “Espera o ano que vem”


Um dia, chegou, no entanto,

Em que Antonico mudado,

Apareceu, de repente,

Plenamente obsedado.


Cantava, chorava e ria,

Falava em estranhas crises,

Transformara-se num pouso

De espíritos infelizes.


Conduzido a um centro amigo,

A fim de obter socorro,

Ele chegou a clamar:

— “Não aguento!… Sei que morro!”


Depois de preces e passes,

Veio o Guia acalentá-lo…

Antonico, de improviso,

Melhorou quase de estalo.


Por quatro meses de bênção,

Voltou a ser folgazão,

Largou as más influências,

Curou-se da obsessão.


Era, porém, sempre o mesmo…

Nada de agir para o bem

Fosse qual fosse o pedido,

Não amparava a ninguém.


Findos dez meses de paz,

Disse-lhe o guia: “Antonico,

Não deixe de trabalhar,

Recorda que és forte e rico.”


— “Que fazer?” — perguntou ele…

Disse o Guia — alma sincera —

“Socorre aos necessitados

A caridade te espera.


Abandona a sovinice!…

Meu amigo, escuta e pensa.

Auxilia as boas obras

Sem aguardar recompensa.


O tempo segue e não para !…

Atende, meu companheiro,

Distribui na caridade

Um tanto de teu dinheiro!…”


Mas, ouvindo esses conselhos,

Antonico, sem razão,

Xingou a beneficência

E entrou em perturbação.


Por muitos anos, bradou:

— “A ninguém darei meu cobre…”

Antonico alimentava

O medo de ficar pobre.


E gritou até morrer

No Sítio de João do Zorro,

Comendo barro e clamando:

— “Não aguento! Sei que eu morro!…”


.Jair Presente




.Jair Presente
Francisco Cândido Xavier

Este texto está incorreto?