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Capítulo XVI

Evolução do amor


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O Doutor Leonel de Souza

Dono de terra e dinheiro,

Trazia a cabeça em fogo,

Hora a hora, dia inteiro.


Tinha uma filha somente,

A jovem Ana Maria,

Que lhe dera ao coração

A presença da alegria.


Ela, porém, namorava

O jovem Joaquim Mutamba,

Sempre juntos, noite a noite,

Lembravam corda e caçamba.


Sabendo que os dois se amavam

Com manifesta loucura,

O pai ficou alarmado

E disse à filha, insegura:


— “Ana Maria, você

Não mais procure Joaquim,

Considere o seu romance

Um caso que chega ao fim.


Largue, filha, enquanto é tempo,

Esse Joaquim do pé torto,

Um varredor de cinema

Não tem onde cair morto…”


A filha pediu, no entanto:

— “Pai, rogo à sua bondade,

Quero casar com Joaquim,

Já temos intimidade!…”


O velho esmurrou a mesa,

Dando mostra de machão,

E asseverou, irritado:

— “Não aceito, não e não!…”


O pai buscou, no outro dia,

Um famoso pistoleiro…

Queria um tiro no moço,

Pagaria bom dinheiro.


O pistoleiro, maldoso,

Que era pobre, muito pobre,

Comunicou ao cliente:

— “Sinto fome do seu cobre…”


Semana passa semana,

E o pistoleiro com jeito,

Derrubou Joaquim, a tiros,

Num crime duro e perfeito.


Ninguém viu a cena triste…

No povo, apenas mumunhas.

Buscou a polícia, em vão,

Informes e testemunhas.


Ana Maria chorou

Por muitos e muitos dias,

Parecia torturada

Por íntimas agonias…


O pai cercou-a de mimos,

Sentindo arrependimento

E a moça continuava

Toda entregue ao sofrimento…


Notei com grande surpresa

Que ela trazia de lado,

Em todo passo do dia,

Mutamba desencarnado.


Quatro anos se passaram…

Veio o estouro de repente;

A jovem Ana Maria

Teve um novo pretendente.


Era um rapaz educado,

Um competente engenheiro…

O pai fez o casamento

Gastando muito dinheiro.


Morrer não fora vantagem,

De coração renovado,

A moça trouxera à luz

O primeiro namorado.


Decorridos onze meses

Surgiu a reviravolta…

Um pequenino nasceu…

Era Mutamba, de volta.


Tudo era festa em família,

Felicidade, alegria…

O genro e o sogro, contentes,

Beijavam Ana Maria.


O pequenino ante o seio

Sugava o leite com gana

E eu ficava refletindo

Nas tricas da vida humana.


O avô, vendo o neto ativo

Parecendo esfomeado,

Exclamava, todo dia:

— “Eta, menino danado!…”


.Jair Presente




.Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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