A Gênese
Versão para cópiaCAPÍTULO VIII
Teorias sobre a Formação da Terra
Teoria da projeção
• Item 1 •
• Item 1 •
De todas as teorias relativas à origem da Terra, a que alcançou mais credibilidade nestes últimos tempos foi a de Buffon, seja pela posição que ele desfrutava no mundo científico, seja porque nada mais se sabia além do que ele disse naquela época.
Vendo que todos os planetas se movem na mesma direção, do ocidente para o oriente, e no mesmo plano, percorrendo órbitas cuja inclinação não passa de 7 graus e meio, Buffon concluiu, dessa uniformidade, que eles devem ter sido postos em movimento pela mesma causa.
Em sua opinião, sendo o Sol uma massa incandescente em fusão, um cometa se teria chocado com ele e, raspando-lhe a superfície, destacou uma porção que, projetada no espaço pela violência do choque, se dividiu em vários fragmentos. Esses fragmentos formaram os planetas, que continuaram a mover-se circularmente, pela combinação das forças centrífuga e centrípeta, no sentido dado pela direção do choque primitivo, isto é, no plano da eclíptica.
Os planetas seriam assim partes da substância incandescente do Sol e, por conseguinte, também teriam sido incandescentes em sua origem. Levaram para se resfriar e consolidar um tempo proporcional aos seus volumes respectivos e, quando a temperatura o permitiu, a vida apareceu na sua superfície.
Em virtude da diminuição gradual do calor central, a Terra chegaria, ao fim de certo tempo, a um estado de resfriamento completo; a massa líquida se congelaria inteiramente e o ar, cada vez mais condensado, acabaria por desaparecer. A diminuição da temperatura, tornando impossível a vida, acarretaria o decréscimo e, depois, o desaparecimento de todos os seres organizados. O resfriamento, tendo começado pelos polos, ganharia pouco a pouco todas as regiões, até mesmo a linha do equador.
Tal é, segundo Buffon, o estado atual da Lua que, menor do que a Terra, seria hoje um mundo extinto, do qual a vida se acha excluída para sempre. O próprio Sol viria a ter, um dia, a mesma sorte. De acordo com os seus cálculos, a Terra teria gasto cerca de 74.000 anos para chegar à sua temperatura atual e dentro de 93.000 anos veria o termo da existência da natureza organizada.
Vendo que todos os planetas se movem na mesma direção, do ocidente para o oriente, e no mesmo plano, percorrendo órbitas cuja inclinação não passa de 7 graus e meio, Buffon concluiu, dessa uniformidade, que eles devem ter sido postos em movimento pela mesma causa.
Em sua opinião, sendo o Sol uma massa incandescente em fusão, um cometa se teria chocado com ele e, raspando-lhe a superfície, destacou uma porção que, projetada no espaço pela violência do choque, se dividiu em vários fragmentos. Esses fragmentos formaram os planetas, que continuaram a mover-se circularmente, pela combinação das forças centrífuga e centrípeta, no sentido dado pela direção do choque primitivo, isto é, no plano da eclíptica.
Os planetas seriam assim partes da substância incandescente do Sol e, por conseguinte, também teriam sido incandescentes em sua origem. Levaram para se resfriar e consolidar um tempo proporcional aos seus volumes respectivos e, quando a temperatura o permitiu, a vida apareceu na sua superfície.
Em virtude da diminuição gradual do calor central, a Terra chegaria, ao fim de certo tempo, a um estado de resfriamento completo; a massa líquida se congelaria inteiramente e o ar, cada vez mais condensado, acabaria por desaparecer. A diminuição da temperatura, tornando impossível a vida, acarretaria o decréscimo e, depois, o desaparecimento de todos os seres organizados. O resfriamento, tendo começado pelos polos, ganharia pouco a pouco todas as regiões, até mesmo a linha do equador.
Tal é, segundo Buffon, o estado atual da Lua que, menor do que a Terra, seria hoje um mundo extinto, do qual a vida se acha excluída para sempre. O próprio Sol viria a ter, um dia, a mesma sorte. De acordo com os seus cálculos, a Terra teria gasto cerca de 74.000 anos para chegar à sua temperatura atual e dentro de 93.000 anos veria o termo da existência da natureza organizada.
Teoria da projeção
• Item 2 •
• Item 2 •
A teoria de Buffon, contraditada pelas novas descobertas da Ciência, está hoje completamente abandonada, pelas seguintes razões:
1º) Durante muito tempo acreditou-se que os cometas eram corpos sólidos, cujo encontro com um planeta podia ocasionar a destruição deste. Nessa hipótese, a suposição de Buffon nada tinha de improvável. Sabe-se agora, porém, que os cometas são formados de uma matéria gasosa que, embora condensada, é bastante rarefeita para que se possam perceber estrelas de grandeza média através de seus núcleos. Nesse estado, oferecendo menos resistência que o Sol, é impossível que num choque violento com este, eles sejam capazes de arremessar ao longe qualquer porção da massa solar.2º) A natureza incandescente do Sol é também uma hipótese que nada, até o presente, confirma, e que as observações, ao contrário, parecem desmentir. Se bem ainda não haja certeza quanto à sua natureza, os poderosos meios de observação de que hoje dispõe a Ciência têm permitido que ele seja melhor estudado. Hoje a Ciência admite, de modo geral, que o Sol é um globo composto de matéria sólida, cercada de uma atmosfera luminosa, ou fotosfera, que não se acha em contato com a sua superfície. [1]
3º) Ao tempo de Buffon, somente se conheciam os seis planetas de que os Antigos eram conhecedores: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno. Descobriram-se depois outros em grande número, três dos quais, principalmente, Juno, Ceres e Palas, têm suas órbitas inclinadas de 1310:34 graus, o que não concorda com a hipótese de um movimento único de projeção. [2]
4º) Após a descoberta da lei da diminuição do calor, por Fourier, reconheceram-se completamente errôneos os cálculos de Buffon sobre o resfriamento da Terra. Na verdade, o nosso planeta não precisou apenas de 74.000 anos para chegar à sua temperatura atual, mas de milhões de anos.
5º) Buffon só levou em conta o calor central da Terra, sem considerar o dos raios solares. Ora, é sabido hoje, mediante dados científicos de rigorosa precisão, baseados na experiência, que, em virtude da espessura da crosta terrestre, o calor interno do globo não contribui, há muito tempo, senão em parcela insignificante, para a temperatura da superfície exterior. As variações que essa temperatura sofre são periódicas e devidas à ação preponderante do calor solar. (Cap. VII, item 25.) Sendo permanente o efeito dessa causa, enquanto o do calor central é nulo, ou quase nulo, a diminuição deste não pode trazer à superfície da Terra sensíveis modificações. Para que a Terra se tornasse inabitável pelo resfriamento geral, seria preciso que o Sol se extinguisse. [3]
1º) Durante muito tempo acreditou-se que os cometas eram corpos sólidos, cujo encontro com um planeta podia ocasionar a destruição deste. Nessa hipótese, a suposição de Buffon nada tinha de improvável. Sabe-se agora, porém, que os cometas são formados de uma matéria gasosa que, embora condensada, é bastante rarefeita para que se possam perceber estrelas de grandeza média através de seus núcleos. Nesse estado, oferecendo menos resistência que o Sol, é impossível que num choque violento com este, eles sejam capazes de arremessar ao longe qualquer porção da massa solar.2º) A natureza incandescente do Sol é também uma hipótese que nada, até o presente, confirma, e que as observações, ao contrário, parecem desmentir. Se bem ainda não haja certeza quanto à sua natureza, os poderosos meios de observação de que hoje dispõe a Ciência têm permitido que ele seja melhor estudado. Hoje a Ciência admite, de modo geral, que o Sol é um globo composto de matéria sólida, cercada de uma atmosfera luminosa, ou fotosfera, que não se acha em contato com a sua superfície. [1]
3º) Ao tempo de Buffon, somente se conheciam os seis planetas de que os Antigos eram conhecedores: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno. Descobriram-se depois outros em grande número, três dos quais, principalmente, Juno, Ceres e Palas, têm suas órbitas inclinadas de 13
4º) Após a descoberta da lei da diminuição do calor, por Fourier, reconheceram-se completamente errôneos os cálculos de Buffon sobre o resfriamento da Terra. Na verdade, o nosso planeta não precisou apenas de 74.000 anos para chegar à sua temperatura atual, mas de milhões de anos.
5º) Buffon só levou em conta o calor central da Terra, sem considerar o dos raios solares. Ora, é sabido hoje, mediante dados científicos de rigorosa precisão, baseados na experiência, que, em virtude da espessura da crosta terrestre, o calor interno do globo não contribui, há muito tempo, senão em parcela insignificante, para a temperatura da superfície exterior. As variações que essa temperatura sofre são periódicas e devidas à ação preponderante do calor solar. (Cap. VII, item 25.) Sendo permanente o efeito dessa causa, enquanto o do calor central é nulo, ou quase nulo, a diminuição deste não pode trazer à superfície da Terra sensíveis modificações. Para que a Terra se tornasse inabitável pelo resfriamento geral, seria preciso que o Sol se extinguisse. [3]
Teoria da condensação
• Item 3 •
• Item 3 •
A teoria da formação da Terra pela condensação da matéria cósmica é a que hoje prevalece na Ciência como a que a observação melhor justifica, a que resolve maior número de dificuldades e que se apoia, mais do que todas as outras, no grande princípio da unidade universal. Foi esta teoria que expomos no capítulo VI, intitulado “Uranografia geral”.
Como se vê, estas duas teorias conduzem ao mesmo resultado: estado primitivo de incandescência do globo; formação de uma crosta sólida pelo resfriamento; existência do fogo central e aparecimento da vida orgânica, logo que a temperatura a tornou possível. Diferem, todavia, em pontos essenciais e é provável que, se Buffon vivesse atualmente, por certo adotaria outras ideias.
A Geologia considera a Terra do ponto em que é possível a observação direta. Seu estado anterior, por escapar à observação, só pode ser hipotético. Ora, entre duas hipóteses, diz o bom-senso que se deve preferir a que a lógica sanciona e que mais se ache de acordo com os fatos observados.
Como se vê, estas duas teorias conduzem ao mesmo resultado: estado primitivo de incandescência do globo; formação de uma crosta sólida pelo resfriamento; existência do fogo central e aparecimento da vida orgânica, logo que a temperatura a tornou possível. Diferem, todavia, em pontos essenciais e é provável que, se Buffon vivesse atualmente, por certo adotaria outras ideias.
A Geologia considera a Terra do ponto em que é possível a observação direta. Seu estado anterior, por escapar à observação, só pode ser hipotético. Ora, entre duas hipóteses, diz o bom-senso que se deve preferir a que a lógica sanciona e que mais se ache de acordo com os fatos observados.
Teoria da incrustação
• Item 4 •
• Item 4 •
Falamos desta teoria apenas para não deixar de mencioná-la. Embora nada tenha de científica, conseguiu, não obstante, certa repercussão nos últimos tempos e seduziu algumas pessoas. Acha-se resumida na carta seguinte:
“Deus, segundo a Bíblia, criou o mundo em seis dias, 4.000 anos antes da Era Cristã. Esta tese é contestada pelos geólogos, firmados no estudo dos fósseis e dos milhares de caracteres incontestáveis de vetustez que fazem remontar a origem da Terra a milhões de anos. Entretanto, a Escritura disse a verdade e os geólogos também. E foi um simples camponês [4] que os pôs de acordo, informando que o nosso planeta não é mais do que um planeta incrustativo, muito moderno, composto de materiais antiquíssimos.
Após o arrebatamento do planeta desconhecido, que chegara à maturidade, ou de harmonia com o que existiu no lugar que hoje ocupamos, a alma da Terra recebeu ordem de reunir seus satélites para formar nosso globo atual, segundo as regras do progresso em tudo e por tudo. Somente quatro desses astros concordaram com a associação que lhes era proposta. Apenas a Lua persistiu na sua autonomia, visto que também os globos têm o seu livre-arbítrio. Para proceder a essa fusão, a alma da Terra dirigiu aos satélites um raio magnético, que pôs em estado cataléptico todo o mobiliário vegetal, animal e hominal que eles possuíam e que trouxeram para a comunidade. A operação teve por únicas testemunhas a alma da Terra e os grandes mensageiros celestes que a ajudaram nessa grande obra, abrindo aqueles globos para lhes dar entranhas comuns. Praticada a soldadura, as águas se escoaram para os vazios que a ausência da Lua deixara. As atmosferas se confundiram e começou o despertar ou a ressurreição dos germens que estavam em catalepsia. O homem foi o último a ser tirado do estado de hipnotismo e se viu cercado da luxuriante vegetação do paraíso terrestre e dos animais que pastavam em paz ao seu derredor. Tudo isto se podia fazer em seis dias, com obreiros tão poderosos como os que Deus encarregara da tarefa. O planeta Ásia trouxe a raça amarela, a de civilização mais antiga; o África, a raça negra; o Europa, a raça branca, e o América, a raça vermelha.
Assim, certos animais, de que apenas os despojos são encontrados, nunca teriam vivido na Terra atual, mas teriam sido transportados de outros mundos extintos pela velhice. Os fósseis que se encontram em climas sob os quais não teriam podido existir neste mundo viviam sem dúvida em zonas muito diferentes nos globos onde nasceram. Na Terra, tais despojos se encontram nos polos, ao passo que os animais viviam no equador dos globos a que pertenciam.”
“Deus, segundo a Bíblia, criou o mundo em seis dias, 4.000 anos antes da Era Cristã. Esta tese é contestada pelos geólogos, firmados no estudo dos fósseis e dos milhares de caracteres incontestáveis de vetustez que fazem remontar a origem da Terra a milhões de anos. Entretanto, a Escritura disse a verdade e os geólogos também. E foi um simples camponês [4] que os pôs de acordo, informando que o nosso planeta não é mais do que um planeta incrustativo, muito moderno, composto de materiais antiquíssimos.
Após o arrebatamento do planeta desconhecido, que chegara à maturidade, ou de harmonia com o que existiu no lugar que hoje ocupamos, a alma da Terra recebeu ordem de reunir seus satélites para formar nosso globo atual, segundo as regras do progresso em tudo e por tudo. Somente quatro desses astros concordaram com a associação que lhes era proposta. Apenas a Lua persistiu na sua autonomia, visto que também os globos têm o seu livre-arbítrio. Para proceder a essa fusão, a alma da Terra dirigiu aos satélites um raio magnético, que pôs em estado cataléptico todo o mobiliário vegetal, animal e hominal que eles possuíam e que trouxeram para a comunidade. A operação teve por únicas testemunhas a alma da Terra e os grandes mensageiros celestes que a ajudaram nessa grande obra, abrindo aqueles globos para lhes dar entranhas comuns. Praticada a soldadura, as águas se escoaram para os vazios que a ausência da Lua deixara. As atmosferas se confundiram e começou o despertar ou a ressurreição dos germens que estavam em catalepsia. O homem foi o último a ser tirado do estado de hipnotismo e se viu cercado da luxuriante vegetação do paraíso terrestre e dos animais que pastavam em paz ao seu derredor. Tudo isto se podia fazer em seis dias, com obreiros tão poderosos como os que Deus encarregara da tarefa. O planeta Ásia trouxe a raça amarela, a de civilização mais antiga; o África, a raça negra; o Europa, a raça branca, e o América, a raça vermelha.
Assim, certos animais, de que apenas os despojos são encontrados, nunca teriam vivido na Terra atual, mas teriam sido transportados de outros mundos extintos pela velhice. Os fósseis que se encontram em climas sob os quais não teriam podido existir neste mundo viviam sem dúvida em zonas muito diferentes nos globos onde nasceram. Na Terra, tais despojos se encontram nos polos, ao passo que os animais viviam no equador dos globos a que pertenciam.”
Teoria da incrustação
• Item 5 •
• Item 5 •
Esta teoria tem contra si os dados mais positivos da ciência experimental, além de deixar intacta a própria questão que ela pretende resolver, a questão da origem. Diz, é certo, como a Terra se teria formado, mas não diz como se formaram os quatro mundos que se reuniram para constituí-la.
Se as coisas se houvessem passado assim, como se explicaria a inexistência absoluta de quaisquer vestígios daquelas imensas soldaduras, não obstante terem ido até as entranhas do globo? Cada um daqueles mundos, o Ásia, o África, o Europa e o América, que se pretende haverem trazido os materiais que lhes eram próprios, teria uma geologia particular, diferente da dos demais, o que não é exato. Ao contrário, vê-se, primeiramente, que o núcleo granítico é uniforme, de composição homogênea em todas as partes do globo, sem solução de continuidade. Depois, as camadas geológicas se apresentam com a mesma formação, idênticas quanto à constituição, superpostas, em toda parte, na mesma ordem, contínuas, sem interrupção, de um lado a outro dos mares, da Europa à Ásia, à África, à América, e reciprocamente. Essas camadas que dão testemunho das transformações do globo atestam que tais transformações se operaram em toda a sua superfície e não apenas numa porção desta; mostram os períodos de aparecimento, existência e desaparecimento das mesmas espécies animais e vegetais, nas diferentes partes do mundo; mostram a fauna e a flora desses períodos recuados a marcharem simultaneamente por toda parte, sob a influência de uma temperatura uniforme, e a mudar de caráter por toda parte à medida que a temperatura se modifica. Semelhante estado de coisas não se concilia com a formação da Terra pela associação de muitos mundos diferentes.
Além disso, é de perguntar-se o que teria sido feito do mar, que ocupa o vazio deixado pela Lua, se esta não se houvesse recusado a reunir-se às suas irmãs. O que aconteceria à Terra atual se um dia a Lua tivesse a veleidade de vir tomar o seu lugar, expulsando deste o mar?
Se as coisas se houvessem passado assim, como se explicaria a inexistência absoluta de quaisquer vestígios daquelas imensas soldaduras, não obstante terem ido até as entranhas do globo? Cada um daqueles mundos, o Ásia, o África, o Europa e o América, que se pretende haverem trazido os materiais que lhes eram próprios, teria uma geologia particular, diferente da dos demais, o que não é exato. Ao contrário, vê-se, primeiramente, que o núcleo granítico é uniforme, de composição homogênea em todas as partes do globo, sem solução de continuidade. Depois, as camadas geológicas se apresentam com a mesma formação, idênticas quanto à constituição, superpostas, em toda parte, na mesma ordem, contínuas, sem interrupção, de um lado a outro dos mares, da Europa à Ásia, à África, à América, e reciprocamente. Essas camadas que dão testemunho das transformações do globo atestam que tais transformações se operaram em toda a sua superfície e não apenas numa porção desta; mostram os períodos de aparecimento, existência e desaparecimento das mesmas espécies animais e vegetais, nas diferentes partes do mundo; mostram a fauna e a flora desses períodos recuados a marcharem simultaneamente por toda parte, sob a influência de uma temperatura uniforme, e a mudar de caráter por toda parte à medida que a temperatura se modifica. Semelhante estado de coisas não se concilia com a formação da Terra pela associação de muitos mundos diferentes.
Além disso, é de perguntar-se o que teria sido feito do mar, que ocupa o vazio deixado pela Lua, se esta não se houvesse recusado a reunir-se às suas irmãs. O que aconteceria à Terra atual se um dia a Lua tivesse a veleidade de vir tomar o seu lugar, expulsando deste o mar?
Teoria da incrustação
• Item 6 •
• Item 6 •
Esse sistema seduziu algumas pessoas, porque parecia explicar a presença das diferentes raças de homens na Terra e a localização delas. Mas, considerando-se que essas raças puderam proliferar em mundos distintos, por que não seriam capazes de desenvolver-se em pontos diversos do mesmo globo? É querer resolver uma dificuldade por meio de outra dificuldade maior. Efetivamente, quaisquer que fossem a rapidez e a destreza com que a operação se praticasse, aquela junção não se teria podido realizar sem violentos abalos. Quanto mais rápida ela fosse, tanto mais desastrosos haviam de ser os cataclismos. Parece, pois, impossível que seres simplesmente mergulhados em sono cataléptico hajam podido resistir-lhes, para, em seguida, despertarem tranquilamente. Se fossem apenas germens, em que consistiriam? Como é que seres inteiramente formados se reduziriam ao estado de germens? Restaria sempre a questão de saber-se como esses germens novamente se desenvolveram. Ainda aí, teríamos a Terra a formar-se por processo miraculoso, processo, porém, menos poético e menos grandioso do que o da Gênese bíblica, ao passo que as leis naturais dão, da sua formação, uma explicação muito mais completa e, sobretudo, muito mais racional, deduzida da observação. [5] [6]
Alma da Terra
• Item 7 •
• Item 7 •
A alma da Terra desempenhou papel primordial na teoria da incrustação. Vejamos se esta ideia tem melhor fundamento.
O desenvolvimento orgânico está sempre em relação com o desenvolvimento do princípio espiritual. O organismo se completa à medida que se multiplicam as faculdades da alma. A escala orgânica acompanha constantemente, em todos os seres, a progressão da inteligência, desde o pólipo até o homem, e nem podia ser de outro modo, visto que a alma precisa de um instrumento apropriado à importância das funções que lhe cabe desempenhar. De que serviria à ostra possuir a inteligência do macaco, sem os órgãos necessários à sua manifestação? Se, portanto, a Terra fosse um ser animado, servindo de corpo a uma alma especial, essa alma, por efeito mesmo da sua constituição, teria de ser ainda mais rudimentar do que a do pólipo, já que a Terra não tem sequer a vitalidade da planta, ao passo que, pelo papel que atribuíram a essa alma, fizeram dela um ser dotado de razão e do mais completo livre-arbítrio, um Espírito superior, em suma, o que não é racional, porque Espírito algum se achou menos bem aquinhoado, nem mais aprisionado. Ampliada nesse sentido, a ideia da alma da Terra deve, então, ser arrolada entre as concepções sistemáticas e quiméricas.
Por alma da Terra pode-se entender, mais racionalmente, a coletividade dos Espíritos encarregados da elaboração e da direção de seus elementos constitutivos, o que já supõe certo grau de desenvolvimento intelectual. Ou, melhor ainda: alma da Terra é o Espírito a quem está confiada a alta direção dos destinos morais e do progresso de seus habitantes, missão que não pode ser confiada senão a um ser eminentemente superior em saber e em sabedoria. Em tal caso, esse Espírito não é, propriamente falando, a alma da Terra, porquanto não se acha encarnado nela, nem subordinado ao seu estado material. É um chefe preposto ao seu governo, como um general é o elemento mais indicado para o comando de um exército.
Um Espírito, incumbido de missão tão importante qual a do governo de um mundo, não poderia ter caprichos, ou então Deus seria muito imprevidente por confiar a execução de suas leis a seres capazes de transgredi-las, a seu bel-prazer. Ora, segundo a doutrina da incrustação, a má vontade da alma da Lua é que dera causa a que a Terra ficasse incompleta. Há ideias que se refutam por si mesmas. (Revista Espírita, setembro de 1868.)
[1]N. de A. K.: Completa dissertação, à altura da ciência moderna, sobre a natureza do Sol e dos cometas se encontra na obra Estudos e leituras sobre a Astronomia, de Camille Flammarion. Livraria Gauthier-Villard, 55, quai des Augustins, Paris.
[2] N. do T.: Na verdade são planetoides, isto é, pequenos corpos celestes que gravitam em torno do Sol. Juno, Ceres e Palas, bem como centenas de outros planetoides, estão localizados entre as órbitas dos planetas Júpiter e Marte.
[3]N. de A. K.: Para mais esclarecimentos sobre este assunto e sobre a lei da diminuição do calor, veja-se a obra: Cartas sobre as revoluções do globo, pelo Dr. Bertrand, ex-aluno da Escola Politécnica de Paris, carta II. – Esta obra, à altura da Ciência moderna, escrita com simplicidade e sem espírito de sistema, encerra um estudo geológico de grande interesse.
[4]N. de A. K.: Michel de Figagnères (Var), autor de Chave da vida.
[5]N. de A. K.: Quando tal sistema se liga a toda uma cosmogonia, é de perguntar-se sobre que base racional pode o resto assentar. A concordância que, por meio desse sistema, se pretende estabelecer entre a Gênese bíblica e a Ciência é inteiramente ilusória, pois que a própria Ciência o contradiz. O autor da carta acima, homem de grande saber, seduzido, um instante, por essa teoria, logo lhe descobriu os lados vulneráveis e não tardou a combatê-la com as armas da Ciência.
[6]N. da E.: Ver “Nota Explicativa”, p. 509.
O desenvolvimento orgânico está sempre em relação com o desenvolvimento do princípio espiritual. O organismo se completa à medida que se multiplicam as faculdades da alma. A escala orgânica acompanha constantemente, em todos os seres, a progressão da inteligência, desde o pólipo até o homem, e nem podia ser de outro modo, visto que a alma precisa de um instrumento apropriado à importância das funções que lhe cabe desempenhar. De que serviria à ostra possuir a inteligência do macaco, sem os órgãos necessários à sua manifestação? Se, portanto, a Terra fosse um ser animado, servindo de corpo a uma alma especial, essa alma, por efeito mesmo da sua constituição, teria de ser ainda mais rudimentar do que a do pólipo, já que a Terra não tem sequer a vitalidade da planta, ao passo que, pelo papel que atribuíram a essa alma, fizeram dela um ser dotado de razão e do mais completo livre-arbítrio, um Espírito superior, em suma, o que não é racional, porque Espírito algum se achou menos bem aquinhoado, nem mais aprisionado. Ampliada nesse sentido, a ideia da alma da Terra deve, então, ser arrolada entre as concepções sistemáticas e quiméricas.
Por alma da Terra pode-se entender, mais racionalmente, a coletividade dos Espíritos encarregados da elaboração e da direção de seus elementos constitutivos, o que já supõe certo grau de desenvolvimento intelectual. Ou, melhor ainda: alma da Terra é o Espírito a quem está confiada a alta direção dos destinos morais e do progresso de seus habitantes, missão que não pode ser confiada senão a um ser eminentemente superior em saber e em sabedoria. Em tal caso, esse Espírito não é, propriamente falando, a alma da Terra, porquanto não se acha encarnado nela, nem subordinado ao seu estado material. É um chefe preposto ao seu governo, como um general é o elemento mais indicado para o comando de um exército.
Um Espírito, incumbido de missão tão importante qual a do governo de um mundo, não poderia ter caprichos, ou então Deus seria muito imprevidente por confiar a execução de suas leis a seres capazes de transgredi-las, a seu bel-prazer. Ora, segundo a doutrina da incrustação, a má vontade da alma da Lua é que dera causa a que a Terra ficasse incompleta. Há ideias que se refutam por si mesmas. (Revista Espírita, setembro de 1868.)
[1]N. de A. K.: Completa dissertação, à altura da ciência moderna, sobre a natureza do Sol e dos cometas se encontra na obra Estudos e leituras sobre a Astronomia, de Camille Flammarion. Livraria Gauthier-Villard, 55, quai des Augustins, Paris.
[2] N. do T.: Na verdade são planetoides, isto é, pequenos corpos celestes que gravitam em torno do Sol. Juno, Ceres e Palas, bem como centenas de outros planetoides, estão localizados entre as órbitas dos planetas Júpiter e Marte.
[3]N. de A. K.: Para mais esclarecimentos sobre este assunto e sobre a lei da diminuição do calor, veja-se a obra: Cartas sobre as revoluções do globo, pelo Dr. Bertrand, ex-aluno da Escola Politécnica de Paris, carta II. – Esta obra, à altura da Ciência moderna, escrita com simplicidade e sem espírito de sistema, encerra um estudo geológico de grande interesse.
[4]N. de A. K.: Michel de Figagnères (Var), autor de Chave da vida.
[5]N. de A. K.: Quando tal sistema se liga a toda uma cosmogonia, é de perguntar-se sobre que base racional pode o resto assentar. A concordância que, por meio desse sistema, se pretende estabelecer entre a Gênese bíblica e a Ciência é inteiramente ilusória, pois que a própria Ciência o contradiz. O autor da carta acima, homem de grande saber, seduzido, um instante, por essa teoria, logo lhe descobriu os lados vulneráveis e não tardou a combatê-la com as armas da Ciência.
[6]N. da E.: Ver “Nota Explicativa”, p. 509.