Cartas do Alto

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Capítulo LVIII

A obra do Evangelho


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Muitos daqueles que se entregam atualmente aos postulados científicos do Espiritismo condenam os estudiosos das ilações de ordem moral e religiosa, às quais a Doutrina inevitavelmente conduz com as suas expressões fenomênicas, demonstrando as realidades espirituais.

Mesmo aqui no Brasil, onde Ismael fixou as bases luminosas do seu programa, observam-se movimentos sub-reptícios tendentes a nulificar a ação do Evangelho, eliminando as feições religiosas e consoladoras da Doutrina.

Que se crie uma ciência nova sobre a argamassa dos fenômenos espíritas, que se amplie a metapsíquica, com os seus compêndios de complicada terminologia é natural, mas que se olvide que o moderno Espiritismo tem de ser a confirmação do Cristianismo, em sua primitiva pureza, restaurando as forças coletivas para a prática do bem, é inadmissível.

As ciências terrenas têm um valor sobremaneira relativo diante das leis transcendentes que regem o mecanismo dos destinos. O homem físico tem atingido a cumeadas evolutivas, mas o homem moral se ressente de graves lacunas e grandes defeitos. Para o primeiro, a Terra está cheia de novas comodidades e de eficazes tratamentos. Para o segundo, porém, só existe um caminho de progresso — o do instituto cristão.

Na compreensão exata do Evangelho está hoje guardada a solução de todas as c:rises que assoberbam os humanos. O critério de civilização ou de cultura, sob o ponto de vista mundano, não resolve os sérios enigmas que preocupam a mentalidade geral, porquanto, moralmente falando, o homem está cheio de necessidades. A mensagem do Cristo, ainda hoje, é obscura e desconhecida no ambiente de quase todas as nacionalidades, não obstante as igrejas de todos os matizes, isoladas dos verdadeiros característicos do Cristianismo. Muitos povos esperam ainda a palavra do Mestre para que aproximem as suas leis do Código da Fraternidade e do Amor.

No domínio das coisas espirituais, o homem ainda oscila entre a civilização e a barbaria. Daí se infere a necessidade de se esclarecer o entendimento humano no que se refere aos seus deveres divinos.

Todos os programas dos ideais espiritualistas têm de se basear na melhoria do homem. O Espiritismo terá de reviver o Cristianismo ou terá de perecer — as suas questões científicas são acessórios necessários à sua evolução como doutrina, mas não significam a sua vitalidade essencial. Os que malsinam a obra evangélica, tachando-a de inútil e descabida, não aprenderam as grandes verdades da vida, despidos do senso das realidades atuais.

É necessário que os espíritas se convençam de que toda a obra doutrinária, sem o concurso da parte moral do Espiritismo, passará como meteoro. Se nas vossas atividades consuetudinárias tendes visto fracassarem inúmeras edificações rotuladas com a nossa fé consoladora, semelhantes desastres são o fruto de injustificáveis irreflexões. Antes de criar os espíritas conscientes dos seus deveres de fraternidade, de humildade e de amor, tendes levantado as obras espíritas vazias das consciências esclarecidas, inaptas a orientá-las no labirinto das atividades modernas. Criar instituições sem afinar as mentes que as nortearão nos ambientes da coletividade, de acordo com os seus objetivos sagrados, é meio caminho andado para a sua própria falência.

Convencei-vos de que a atualidade necessita do esforço comum de todos à sombra da bandeira da tolerância e da unificação para que se dissemine a lição do Evangelho em todo o planeta. Antes dos cérebros, faz-se mister iluminar-se os corações. O Espiritismo marchará com o Cristo ou se desviará de suas finalidades sagradas. Ou os homens realizam o Evangelho ou a sua civilização terá de desaparecer.




Reformador — Março de 1976.


Segundo consta do original, a recepção da mensagem data de 24/03/1936, há exatos 40 anos daquela edição de Reformador. Verificamos que, posteriormente, também foi publicada na revista O Espírita, órgão de divulgação do Centro Espírita Fonte de Esperança, do Distrito Federal, GO, na edição de julho / dezembro de 2005, as páginas 13-14. Disponível em . Acesso em 2 abril 2017.



Bittencourt Sampaio
Francisco Cândido Xavier


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