Colheita do Bem

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Capítulo LIX

O Evangelho é também um lar de corações


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27/09/1950


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, renovando-lhes as forças no grande caminho da evolução e da redenção.

Você disse bem, meu filho, em se referindo à fé por maior tesouro das almas que se amam e se associam na Terra nas empresas dignificantes do trabalho e da elevação.

, dentro do qual encontramos um grande apostolado e uma grande família-apostolado na obra de autoaperfeiçoamento com serviço incessante em nós mesmos, e família em todos aqueles suscetíveis de receber-nos a colaboração.

Não se abatam à frente da ventania… O sopro da tempestade interior é semelhante ao furacão que agita a paisagem. A convulsão momentânea da natureza nos oferece a ideia de que tudo sofre arrasamento, entretanto, grande e invencível dominador é o sol, que volta a brilhar quando a tormenta se desfaz. Vale mais vivermos à claridade da luz sublime de nossas obrigações bem cumpridas que cultivarmos nuvens escuras, à maneira de uma lavoura de sombras, para respirarmos dentro delas.

Há um caminho aberto às nossas almas com a aquisição dos conhecimentos com que Jesus nos sustenta os Espíritos. Depois de nos alimentarmos por muito tempo em determinado setor, sem que outros nos partilhem a experiência, somos para esses outros pessoas irreconhecíveis. Não desfaleçamos, porém, porque assim acontece. De modo geral, as preocupações comuns fogem ao cálice do serviço e do entendimento e sem essa medicação de vida eterna a alma encarnada, por mais nobre, experimenta uma certa incompreensão e uma certa impassibilidade que se mostram em moldes duros e frios, de difícil superação.

Vocês hoje dispõem de recursos mais sólidos para julgarem o meu coração nestas cartas de quase três lustros consecutivos. Vocês observaram como me procurei impessoalizar e como que fugi do reduto doméstico. De ano a ano, o amigo velho se fazia menos tocado pela coroa familiar, com avançadas nuances de universalismo.

Aquilo que nos parecia assunto obrigatório em outro tempo como que desapareceu de minha memória e de minhas letras, e o professor de assuntos primários da vida, a rigor, parecia haver ultrapassado o pai. Entretanto, agora, vocês podem funcionar por meus julgadores, mais aptos à apreciação clara e simples. Com esse enunciado, não exteriorizo opiniões acerca de personalidade alguma, ainda mesmo em se tratando dos corações que nos são mais queridos. Desejo apenas destacar essa necessidade de nossa alma se fazer “mar largo” para que não convertamos a beleza de cada dia no doloroso trabalho de conservar um museu de reminiscências inquietantes, cuja manutenção não nos aproveita. Se temos de esperar por alguém, é bom que a expectativa não nos mate as melhores oportunidades com a lâmina envenenada e fria da aflição. Vale aguardar trabalhando, imaginando, sonhando, agindo, lutando, sofrendo e amando por ideais e realizações sempre mais altas. Observam, presentemente, com imensa vantagem para vocês, o drama angustioso de milhares de companheiros desencarnados que dariam tudo para voltar à carne e aí aprender a arte do desprendimento espiritual. O que hoje é para vocês motivo de dor imanifesta constitui verdadeiro prêmio!

Bem-aventurados os que encontram a estrada de libertação íntima na Esfera carnal mesmo, ainda que para isso sejam obrigados a receber os golpes vibrados por mãos amadas e incompreensivas. Vocês sentirão, quanto eu, maiores energias para a excursão afetiva mais vasta, por esses domínios infinitos que o mundo nos apresenta… Para incorporar essa lição ao meu patrimônio, muitas vezes repeti o estudo da palavra do divino Mestre: “E aquele que abandonar pai e mãe…” () Porque a chave sublime do ensinamento não está em “desprezar” ou “esquecer”, mas em amar, ajudando sempre que pudermos e em tudo o que nos for possível, com o aproveitamento incessante das oportunidades de demonstrar o carinho e o entendimento àqueles que amamos e que ainda não podemos amar.

O roteiro é de trânsito difícil, mas vocês compreendem hoje melhor que ontem e, naturalmente, amanhã estarão mais livres de qualquer nuvem que hoje. De mim mesmo, afianço a vocês que não me sentarei à margem do caminho para lamentar. Há um grande mundo de mães e pais sem filhos, e de filhos sem mães e pais, de irmãos que perderam os irmãos, de amigos que ficaram sozinhos, de almas dilaceradas, cujas feridas passam ocultas aos olhos mais experimentados, e para eles me inclinarei sempre que a luta me estenda o seu convite para formar na fileira imensurável dos anônimos soldados do bem.

Já que a ternura de vocês ainda me prende à esfera de serviço humano, propriamente considerado, ao lado de vocês posso desdobrar-me e encontrar o amor e semeá-lo através de mil modos, e se há um sentimento marcante em meu coração, com respeito aos problemas que examinamos sem fixação de nomes e lugares, esse sentimento é o da compaixão, não vaidosa, mas sincera e construtiva de quem, amando, não aguarda senão uma brecha de boa vontade e luz para penetrar a fortaleza das almas e tudo dar para que o bem se concretize, porque o tempo é vivo e a oportunidade não retorna dentro das mesmas condições.

Para um dia claro que perdemos é natural que esperemos outro dia, mas a alvorada pode ser descerrada sob o temporal, sob a neve, sob a ventania… Nesse sentido, a paisagem espiritual que estudamos faz-se digna de muita piedade. Que Jesus nos abençoe e ajude a todos, cada qual de nós em sua luta, em seus deveres e em seu lugar.

Com alegria cumprimento a vocês pelo 27 desta noite. Ele brilha hoje por abençoada flor imperecível entre alguns espinhos transitórios. O Céu intensifique o sagrado perfume da bendita união de vocês e dos netos, uns com os outros, com o Evangelho por clima abençoado de preocupações e atividades normais.

Estamos satisfeitos partilhando-lhes o contentamento e espero que a alegria de vocês nunca esmoreça no caminho das edificações que nos cabem. Jesus resplandece no Alto sobre a nossa fronte, aquecendo-nos os corações, e que ao calor desse maravilhoso sol divino possamos marchar para a eternidade do amor e da luz, com trabalho e bom-ânimo, em nossos degraus de aperfeiçoamento, cada dia, são os votos do papai que os reúne num grande e carinhoso abraço,




A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier


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