Conversa Firme
Versão para cópiaMissão e dívida
Recebi a sua carta, Meu caro Joaquim Pilar, A respeito de missão Tenho uma história a contar. Renasceu Juca Cirino Em Roça de Sapecados, Para fazer um refúgio De apoio aos necessitados. Muito jovem, registrou Num círculo de oração, Que havia voltado à Terra Para estar nessa missão. O Espírito Mensageiro Disse a ele: “Irmão Cirino, Atenda à sua tarefa, O seu encargo é divino”. Juca logo prometeu Que teria empenho nisso, Faria o lar de socorro, No campo do compromisso. Comentou o revelado, Falando em plano graúdo, Mas a legou que primeiro Precisaria de estudo. Ganhou anel e diploma, Subiu a grande lugar, Entretanto, acrescentou Que deveria casar. Em seguida ao matrimônio Cirino ganhou dois filhos; Na ideia do missionário Eram novos empecilhos. Agora, dizia ele, Para viver, a contento, Necessitava encontrar Mais força de rendimento. Cirino clamava em choro: Era a cobrança de esfola, Era a esposa adoentada, Era menino na escola; Eram notas do armazém Com pagamento à vista, As despesas da farmácia, As prestações ao dentista; O pagamento da casa A preço que desatina, O carro para conserto, O preço da gasolina; Era a pia arrebentada, E os defeitos do chuveiro, A casa, de ponta a ponta, Exigia mais dinheiro. Se alguém indagasse dele Pelo futuro da obra, Respondia que esperava Finança e tempo de sobra. Quando os filhos se casaram, Moços de anseios corretos, Agora, Juca, mais livre Passou a prender-se aos netos. Procurando novos ganhos Lutava dias inteiros, Dizia necessitar De apoio firme aos herdeiros… O tempo corria sempre, Qual fonte que se desata, Cirino tinha a cabeça Toda vestida de prata. Quase aos oitenta janeiros, Relembrava os tempos idos E seguia prometendo Um lar para os desvalidos. Um dia, chegou a morte E chamou Juca à razão… Cirino rogou mais tempo No entanto, pediu em vão. Falou nos planos do lar, Não desejava descanso, Mas disse a morte: “seu tempo Fechou-se para balanço. “Agora, meu caro irmão, É a mudança definida, Seu plano de caridade Deve aguardar outra vida.” E Cirino lá se foi… É isso, caro Joaquim, Quem não faz seu próprio tempo Acha cuidados sem fim. E quem foge ao prometido, Caminha sempre sem paz… Onde está o devedor, O débito vai atrás. |
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