Conversa Firme

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Capítulo XVI

Missão e dívida


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Recebi a sua carta,

Meu caro Joaquim Pilar,

A respeito de missão

Tenho uma história a contar.


Renasceu Juca Cirino

Em Roça de Sapecados,

Para fazer um refúgio

De apoio aos necessitados.


Muito jovem, registrou

Num círculo de oração,

Que havia voltado à Terra

Para estar nessa missão.


O Espírito Mensageiro

Disse a ele: “Irmão Cirino,

Atenda à sua tarefa,

O seu encargo é divino”.


Juca logo prometeu

Que teria empenho nisso,

Faria o lar de socorro,

No campo do compromisso.


Comentou o revelado,

Falando em plano graúdo,

Mas a legou que primeiro

Precisaria de estudo.


Ganhou anel e diploma,

Subiu a grande lugar,

Entretanto, acrescentou

Que deveria casar.


Em seguida ao matrimônio

Cirino ganhou dois filhos;

Na ideia do missionário

Eram novos empecilhos.


Agora, dizia ele,

Para viver, a contento,

Necessitava encontrar

Mais força de rendimento.


Cirino clamava em choro:

Era a cobrança de esfola,

Era a esposa adoentada,

Era menino na escola;


Eram notas do armazém

Com pagamento à vista,

As despesas da farmácia,

As prestações ao dentista;


O pagamento da casa

A preço que desatina,

O carro para conserto,

O preço da gasolina;


Era a pia arrebentada,

E os defeitos do chuveiro,

A casa, de ponta a ponta,

Exigia mais dinheiro.


Se alguém indagasse dele

Pelo futuro da obra,

Respondia que esperava

Finança e tempo de sobra.


Quando os filhos se casaram,

Moços de anseios corretos,

Agora, Juca, mais livre

Passou a prender-se aos netos.


Procurando novos ganhos

Lutava dias inteiros,

Dizia necessitar

De apoio firme aos herdeiros…


O tempo corria sempre,

Qual fonte que se desata,

Cirino tinha a cabeça

Toda vestida de prata.


Quase aos oitenta janeiros,

Relembrava os tempos idos

E seguia prometendo

Um lar para os desvalidos.


Um dia, chegou a morte

E chamou Juca à razão…

Cirino rogou mais tempo

No entanto, pediu em vão.


Falou nos planos do lar,

Não desejava descanso,

Mas disse a morte: “seu tempo

Fechou-se para balanço.


“Agora, meu caro irmão,

É a mudança definida,

Seu plano de caridade

Deve aguardar outra vida.”


E Cirino lá se foi…

É isso, caro Joaquim,

Quem não faz seu próprio tempo

Acha cuidados sem fim.


E quem foge ao prometido,

Caminha sempre sem paz…

Onde está o devedor,

O débito vai atrás.




Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier

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