Depois da Travessia

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Dedicatória

Ao meu filho Sergio oferto estas mensagens de minha querida mãe Maria Luiza Xavier psicografadas por meu querido tio Chico que me deram força e coragem para continuar vivendo.

Maria Lúcia F. Gonçalves


[Vide a seguir a e a sobre Maria Lúcia F. Gonçalves]



Tua mãe
Francisco Cândido Xavier

Prefácio espiritual

Jesus, bom e divino Mestre,

Derramai sobre nós as vossas bênçãos de misericórdia e de amor! Permiti que todos os Espíritos sofredores que nos assistem possam comungar na doce eucaristia de nossa fé, recuperando-se , edificando-se para o cumprimento de seus sagrados deveres no Plano espiritual!

Senhor, nós confiamos em vossa inesgotável piedade, em vossa bondade infinita!




: João de Deus Macário foi padre na Freguesia de Nova Lima | MG. Desencarnou em 19 de dezembro de 1912. Sob a orientação de Emmanuel, participava dos estudos evangélicos no culto doméstico de Rômulo e Maria, às terças-feiras, com utilização da prancheta. Mensagem recebida por Chico Xavier e Maria Joviano. Rômulo Joviano fez as anotações. [: O presente prefácio espiritual recebido em é a transcrição da . Todos os prefácios nos livros de Francisco Cândido Xavier foram recebidos na conclusão do mesmo, indicação segura de sua data de edição, embora, muitas vezes, houvessem sido publicados posteriormente; a data para catalogação desse livro, portanto, é a mesma das últimas seis mensagens nele transcritas ]



João de Deus Macário n
Francisco Cândido Xavier

Padre João de Deus Macario

Conheci o venerando e virtuoso Padre João de Deus em 1910, era já um sacerdote sexagenário, gasto e alquebrado pelo operoso e edificante paroquiato, na então difícil e trabalhosa freguesia de Vila Nova Lima, do Arcebispado de Mariana. Como seminarista, tive a felicidade de passar as férias de 1910 e 1911 à sombra da virtude que exornava a figura venerável e respeitável de tão distinto sacerdote.

Em abril de 1912, já sacerdote do Altíssimo, tive a suprema ventura de conviver mais intimamente com o boníssimo e virtuoso sacerdote, recebendo dele as mais luminosas e sábias lições de santidade e humildade.

O Pe. João de Deus era o ídolo dos seus paroquianos que viam em sua pessoa um verdadeiro ministro de Deus, sempre afável, atencioso e esmoler, sendo chamado por todos com o carinhoso e expressivo nome de Padrinho Vigário, título a que ele fez jus pela sua conduta ilibada e altruísmo inexcedível.

Como sacerdote e vigário, cheio de zelo e operosidade, percorreu a sua longa carreira sacerdotal à maneira do Divino Mestre, espargindo por toda a parte o vem e a virtude de que o seu grande coração se achava repleto.

A trajetória brilhante de sua passagem por esta Paróquia dificilmente será imitada pelos seus sucessores no paroquiato, pois até hoje ainda perduram nas almas os maravilhosos efeitos da sua abnegada e heroica ação paroquial.

O seu ardente zelo pela salvação das almas não conhecia limites, assim é que muitas vezes deixava a sede da sua modelar paróquia para ir levar a boa-nova da salvação às paróquias limítrofes, colhendo sempre abundantes frutos espirituais e iluminando com os fulgores de sua viva fé os caminhos que conduzem as almas ao seio infinito de Deus.

A vida do virtuoso Pe. João de Deus pode resumir-se em duas palavras, que são o epílogo de uma longa e proveitosa existência, votada à glória de Deus e salvação das almas, CARIDADE e HUMILDADE, como se acham gravadas no mármore que cobre os seus restos mortais, ensinando assim, mesmo depois de morto, às gerações presentes e futuras que a glória eterna será conquistada com a prática dessas duas peregrinas virtudes, ensinadas e praticadas pelo Divino Mestre.

O Pe. João de Deus empregou todos os instantes de sua vida na prática da caridade para com os deserdados da fortuna, por isso, ele podia dizer verdadeiramente, no fim de sua vida, o que dizia o grande apóstolo São Paulo “Combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé, agora só me resta receber a coroa da glória eterna que o justo e misericordioso Juiz me dará no perpétuo e esplendoroso dia da eternidade.” (2tm 4:7) – In memoria eterna erit justus – o justo será lembrado eternamente, a sua lembrança jamais se apagará da memória daqueles que o conheceram e admiraram os seus extraordinários feitos.

No dia 19 de dezembro de 1912 extinguiu-se suavemente aquela luz brilhante que por vários lustros iluminou o horizonte paroquial da então paróquia de Vila Nova de Lima, falecia santamente o Pe. João de Deus no hospital da Companhia do Morro Velho, confortado com os sacramentos da santa igreja, assistido pelos seus colegas de apostolado, entre os quais se achava o santo e querido Monsenhor Horta, que lhe administrou os últimos sacramentos.

O seu enterro, no dia 20 de dezembro, foi um verdadeiro triunfo, uma glorificação, um elogio público das suas grandes virtudes, pois apesar da chuva impertinente que caía, parecendo que a Natureza também chorava o grande morto, houve grande concorrência de fiéis e de sacerdotes que, das paróquias circunvizinhas, vieram prestar suas homenagens ao pranteado sacerdote.

O seu corpo repousa na Matriz de Nova Lima, ao lado do Evangelho, coberto por uma lápide de mármore, onde se lê o seguinte:

“Em santidade e justiça diante do Senhor, morreu assim como viveu. Pe. João de Deus Macario (1/4/1852 — 19/12/1
912) Charitas et humilitas, ejus vita. – Saudade e gratidão dos seus paroquianos.”

O seu singelo túmulo, após 25 anos, continua a ser visitado diariamente pelos seus desolados paroquianos, vendo-se aí um retrato seu, que é osculado com amor e carinho filiais, sempre ornado com flores, preito de gratidão e saudades.

Repousa em paz, heroico lutador do bem, ora por nós junto ao trono do Altíssimo e protege-nos neste longo e amargurado peregrinar para a eternidade!


Nova Lima, 7/7/1937



[Vide os versos de Guerra Junqueiro dedicado ao ]



Vigário Pe. Joaquim Coelho
Francisco Cândido Xavier

Apresentação

Apresentamos para os cultores das letras espirituais mais um volume da psicografia inédita de Chico Xavier.

A sua primeira parte é originária da fase do médium em Pedro Leopoldo, onde, na Fazenda Modelo do Ministério da Agricultura, após o serviço, Chico Xavier frequentou o culto do Evangelho no lar do Grupo Doméstico Arthur Joviano, levado a efeito, semanalmente, pela família de Dr. Rômulo Joviano.

Aqui estão, pois, reunidas as mensagens de Espíritos diversos, tanto esclarecidos e iluminados quanto Lésio Munácio, João de Deus Macário, Casimiro Cunha, Engrácia Ferreira e Helena Maia, bem como também Espíritos de condição infeliz e sofredora como Virgílio Machado, Gustavo Dutra, Pereira, Marie Benson, Abel Macedo e Gomide, sem nos esquecermos daqueles outros de condição evolutiva mediana como Mariquinhas, Joaneco, Júlia Pêgo, Marta Pernambuco e Amélia Amorim.

Já a segunda parte é fruto da última fase da psicografia de Chico Xavier em Uberaba, na qual, nas sessões públicas realizadas no Grupo Espírita da Prece, recebeu o Espírito da própria irmã, D. Luiza Xavier, em diversas oportunidades, a partir de 13 de julho de 1985.

Permeando as comoventes mensagens desses Espíritos sobre a própria sobrevivência além-túmulo, incluímos aqui os originais que Emmanuel, guia de Chico Xavier, grafou sobre o corpo espiritual, para socorrer às indagações do Dr. Christiano Ottoni, médico da cidade de Pedro Leopoldo, que na ocasião não compreendia que pudéssemos ainda ter corpo no mundo espiritual depois da morte na Terra.

Completamos o livro com uma suíte fotográfica para ilustrar as épocas e as personalidades citadas nas mensagens.

Trata-se, portanto, de instrutivo volume, contendo valiosas informações sobre a vida espiritual depois da travessia dos umbrais da morte do corpo físico. Com ele vamos aprender que “nossos erros e virtudes são nossas bagagens que nos desonram ou dignificam”, como nos informa Amélia Amorim ().

Assim sendo, no campo da infelicidade acompanharemos os sofrimentos de Abel Macedo (), que nos diz: “(…) agora, venho fazendo a penosa recapitulação de todas as oportunidades perdidas pela minha própria imprevidência (…), a fim de analisar os rigores do meu futuro”.

Virgílio Machado vai escrever: “A morte é uma viagem que nos é imposta por Deus e para a qual o homem do mundo nunca está preparado. Somente agora vejo que podia ter edificado mais no terreno das ações definitivas” ().

O caluniador Gustavo Dutra lamenta-se: “Pago caro a ambição da vida terrestre… Meu algoz é a minha própria consciência. Sou o triste fantasma da verdade” (24/03/1938). Enquanto o suicida Pereira grafa: “Eu poderia ter lutado mais um pouco. Inconsciente por muito tempo, persegui os meus caluniadores faminto de desforço” ().

O espírito imprevidente de Marie Benson chora: “Dolorosa angústia me domina a alma toda. Sinto verdadeiro arrependimento olhando os últimos dias de minha existência terrestre. Caí no longo caminho das tentações!” (11/05/1938). E mais: “Tomei o errado caminho. Grandes foram os meus martírios morais e só Deus sabe o que sofri na minha desencarnação dolorosa!” ().

Em , o espírito de Gomide vai grafar esta advertência: “Até que descubramos a estrada justa, quantas lágrimas vertidas! Não conhecerão vocês, na existência humana, outra riqueza maior que a de se prepararem para a eternidade com a luz de tão sublimes conhecimentos! Os homens do interesse mundano costumam ser grandes cegos de espírito, que mais tarde defrontam, fatalmente, o abismo onde me despenhei no regresso das lutas materiais”.

Espíritos de condição mediana vão nos ensinar: “Aqui, se muito me desiludi, também muito expiei pela minha prisão nas futilidades da época em matéria de religião e de crença. Aqui venho colher o fruto amargo de minha imprevidência espiritual. Já almas heroicas na crença conhecem a inutilidade de certos preceitos sociais absurdos que impedem a nossa visão espiritual, com respeito à contemplação de horizontes mais vastos. Meu objetivo tem um fim útil: o de despertar no coração dos presentes o desejo cada vez mais intenso de progredir no terreno do conhecimento espiritual. A vida terrena é essa preparação laboriosa para o infinito” — Júlia Amália da Silva Pêgo ().

D. Júlia Pêgo anteriormente escreveu (): “Não há na Terra algo que traduza a intensidade dos sentimentos purificados nas grandes verdades que a morte nos oferece dentro de suas sagradas revelações. A ventura real é compreendermos a solução dos problemas da vida dentro da solidariedade e da fraternidade salvadoras. Do lado de cá avulta ao espírito a necessidade do cumprimento dos deveres cristãos e nos vem um desalento por não tê-los cumprido”.

Marta Pernambuco vai descrever: “Logo depois que me reconheci fora do corpo material — e isso depois de tristes padecimentos —, levaram-me a um grande centro espiritual de socorro, onde fui acolhida na Santa Casa de Misericórdia ou na Pro-Matre. Depois fui conduzida a um agrupamento de trabalho espiritual” ().

D. Luiza Xavier, irmã de Chico Xavier, que a vida inteira foi católica, é surpreendida não aceitando a morte e após alguns dias sendo levada num voo com a duração de 40 minutos para um grande instituto dentro de uma organização católica no Além. Aprendemos com ela que “(…) As mágoas revelam peso nocivo à vida íntima”. No Plano onde se encontra, há curiosidades, como, por exemplo, “certos perfumes de flores naturais que valem por preciosos alimentos” ().

A visão dos Espíritos iluminados é bem mais ampla. Helena Maia () expressa-se: “As ilusões de menina, os sonhos da juventude não me abandonaram nos primeiros tempos em minha existência além-túmulo. Seres piedosos e compassivos estenderam-me, no Além, seus braços amorosos. (…) Tenho, agora, atribuições e deveres junto de um estabelecimento destinado à manutenção das orfãzinhas terrenas. (…) Para nós, igualmente existem seres e irradiações invisíveis e intangíveis, porquanto o plano de nossos conhecimentos é ainda relativo. (…) Vocês não imaginam como trabalhamos neste outro lado da vida! O nosso meio representa mais uma continuação do planeta. (…) Aqui ainda necessitamos de alimentos e muitas outras coisas características da natureza humana. (…) temos aqui as escolas de mensageiros. (…) Nossos chefes espirituais colocam-se em contato com seus mentores das alturas através de processos espirituais como letras e sinais luminosos no éter atmosférico, muito acima da mesquinhez das possibilidades de visão e entendimentos humanos”.

Já Engrácia Ferreira () nos ensina: “O que subsiste é a fé em Deus, o amor praticado e sentido, o bem que se plantou pelos caminhos escabrosos, cujas sementeiras medram e se desenvolvem nas claridades do mundo espiritual. Há um complexo de emoções sublimadas que constituem o estado contínuo das almas de consciência retilínea. A palavra amiga, o sorriso confortador, a gota de remédio, o pedaço de pão são células da árvore do bem, cuja sombra frondosa vos guarda no Céu, distante do calor dissolvente das paixões terrestres. Continuo trabalhando em favor dos menos favorecidos. Tenho aqui operado agora numa grande e abençoada escola, onde são recebidos os que desencarnam na cegueira da vida terrestre. A nossa escola recebe os cegos pacientes e generosos, os que foram crentes e cheios de fé, dotando-lhes novamente com os sagrados dons da vista. Observamos cenas comovedoras de risos e lágrimas misturados às mais santificadas emoções!

É ainda com Helena Maia () que aprendemos: “Reconhecerão a sublimidade do ministério espiritual e observarão como é enorme a ventura de quem sabe semear no coração os princípios do Cristo!

Amélia Amorim () vai dizer: “Vimos de longe, de séculos remotíssimos, em quedas e levantamentos incessantes! Todo bem é uma claridade que não morrerá! Um dia nossos olhos se abrem para a eternidade e, então, a nossa visão espiritual atinge o mais longo alcance. Os laços, os elos sacrossantos que nos unem, ecoam de muito longe e as dores do pretérito devem estimular nossas esperanças no porvir”.

Mas é de Lésio Munácio (), personagem do romance “50 anos depois”, e que em última romagem terrestre foi o benfeitor Batuíra, que recebemos a palavra mais elevada: “A nossa diferença é a de cursos, mas na essência somos discípulos de um Mestre só. Os alunos são a mesma caravana de todos os tempos. O mestre é Jesus. Estudamos há muitos séculos. Todavia, em nosso coração houve sempre volumosa pretensão e pouco mérito real. Enquanto adquirimos novos valores no Infinito, alguns companheiros buscam novas expressões de progresso espiritual que a carne lhes pode oferecer. A lei manifesta as suas luzes concedendo-nos a dor, o trabalho e a experiência. Vos trago o coração e bem sabeis que no coração está sintetizado o próprio Infinito”.

Meus amigos, conforme atesta o Espírito de Mariquinhas, em , “Há um tempo de reflexão que nunca chega tarde!” Que este Depois da travessia possa cumprir o papel de induzir-nos o espírito distraído nas aparências mundanas a uma mais ampla reflexão sobre a nossa imortalidade, patenteando-se-nos a real significação das palavras de Jesus, nosso Senhor e Mestre: “A cada um será dado segundo as próprias obras”.


Pedro Leopoldo, 2 de novembro de 2012.

Vinha de Luz Editora da Casa de Chico Xavier de Pedro Leopoldo.



Geraldo Lemos Neto
Francisco Cândido Xavier

Sobre João de Deus Macário

Nova Lima, 12 | 07 | 1937


Ilmo. Sr. Dr. Rômulo Joviano Pedro Leopoldo

Prezado Sr.,

Dando cumprimento às instruções que recebi por carta do Sr. General Aurélio de Amorim, anexo à presente o retrato do virtuoso , e bem assim alguns dados da vida deste pai da caridade.

Sem motivo para mais, aqui, com prazer, aguarda as suas ordens,

(…)



Vê-se no original reproduzido na página anterior a seguinte anotação na letra de Rômulo Joviano-“Respondida em 17/7/1937”.



Francisco Augusto Anacleto
Francisco Cândido Xavier

Referências bibliográficas

HARLEY, John. O voo da garça — Chico Xavier em Pedro Leopoldo | 1910-1959. 2. ed. Belo Horizonte: Vinha de Luz, 2010.

LEÃO, Geraldo; NETO, Geraldo Lemos (Orgs.). Pedro Leopoldo vista por Chico Xavier | 1910-1959 — 49 anos da presença do maior médium de todos os tempos. Belo Horizonte: Vinha de Luz, 2011.

NETO, Geraldo Lemos. Acervo fotográfico e documental da Casa de Chico Xavier. Pedro Leopoldo: 2012, Rua Pedro José da Silva, 67.

XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda Amorim (Org.). Sementeira de luz. Pelo Espírito Neio Lúcio. 4. ed. Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2012.

XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda Amorim; NETO, Geraldo Lemos (Orgs.). Deus conosco. Pelo espírito Emmanuel. 3. ed. Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.

XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda Amorim (Org.). Sementeira de paz. Pelo Espírito Neio Lúcio. Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.

Idem: Colheita do bem. Pelo Espírito Neio Lúcio. Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.

Idem: Militares no Além. Por Espíritos diversos. Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.


Algumas notas explicativas, fotografias e legendas que compõem este volume, foram compulsadas das obras referenciadas.



Francisco Cândido Xavier

Sobre o uso da prancheta

Conforme o leitor verificará ao longo deste livro, algumas mensagens foram recebidas com o auxílio da prancheta, por indicação do próprio Emmanuel, que, na qualidade de orientador das tarefas psicográficas que deram origem à extensa bibliografia do médium Chico Xavier, solicitou a inclusão da pontuação ao alfabeto existente, aprimorando sobremaneira a recepção das mensagens, proporcionando a integralidade de seu entendimento. Nesse trabalho, revezavam-se com Chico Rômulo e Maria — na maioria das vezes —, ora impondo as mãos, ora anotando.

A título de informação, e de conformidade com o Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, de João Teixeira de Paula, a prancheta é conceituada como segue:


“(…) Peça móvel em que há um indicador (ou ponteiro). Que percorre mediunicamente o alfabeto (em forma de quadrante), os algarismos de 0 a 9 e as palavras SIM e NÃO ali colocados e por meio dos quais se obtém comunicações espiríticas. Um autor, que naturalmente muito lidou com a prancheta, assim a descreve: “Por meio da prancheta obtém-se extensas comunicações, sem demasiada fadiga para o médium. A prancheta deve ser, de preferência, de madeira lisa ou polida, com as dimensões de cerca de dezoito por dezoito centímetros. Num dos bordos haverá um cartão resistente para designar as letras e os algarismos inscritos no quadro. Esse quadro é constituído por uma folha de papel resistente, com as dimensões de quarenta e cinco por trinta, no qual se inscrevem, em duas linhas, as letras do alfabeto suficientemente distanciadas umas das outras. Uma terceira linha é reservada para os algarismos de zero a dez. Por baixo dessa terceira linha são inscritas as palavras “sim” e “não”, à direita do quadro. A prancheta só necessita de um médium e de uma única mão — e é assim que se obtém os melhores resultados, conquanto certos experimentadores não consigam utilizá-la senão com duas pessoas que pousem a mão perto uma da outra. O quadro é colocado em cima de uma mesa: o médium pousa a mão estendida na parte inferior direita do alfabeto. É indiferente pôr uma ou outra mão. É nessa atitude que se aguarda que a prancheta se mova. (…) quando a prancheta está prestes a mover-se, o médium sente, geralmente, um formigamento no braço, no pulso ou nos dedos. O aparelho, então, dirige-se para as letras suscetíveis de formar palavras e, depois, frases. A prancheta necessita de muito pouco fluido e o médium não sente a menor fadiga. (…) O uso assíduo da prancheta é um bom caminho para a mediunidade de incorporação. (…) Prancheta, no sentido espirítico, é galicismo, pois provém do nome de seu inventor, Planchette, espírita francês que, em 1853, teve a feliz ideia da invenção do dispositivo mediúnico.”


Organizadora



PRANCHETA. In: PAULA, João Teixeira de. Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1970. p. 71-73. Texto constante da obra (VINHA DE LUZ, 3. ed., 2010), às p. 49-50.



Wanda Amorim Joviano
Francisco Cândido Xavier

Sobre Júlia Pêgo de Amorim

Entre as grandes provações que afligem a humanidade, a prova da cegueira é uma das mais dolorosas. O cego possui apenas o mundo interior e um tato altamente desenvolvido, uma das compensações dadas por Deus que é vedada aos videntes. Os cegos sentem o aroma das flores e dos frutos, a brisa do mar e o calor do sol, sentem as diferentes sensações que a natureza oferece, porém não podem contemplar a constelação estelar, nem um raio de luar, o mundo das cores e das formas a não ser pelo contato e pela sensibilidade grandemente desenvolvidos.

O cego, porém, no seu mundo, é feliz, um ser humano como outro qualquer. O que é necessário é que os videntes transformem a piedade em ajuda prática, encarando-os como criaturas capacitadas para viver e ser feliz, tanto quanto o vidente.

No Brasil, quatro extraordinárias mulheres dedicaram-se ao bem-estar dos cegos, de alma e coração, realizando trabalho pioneiro pelo alfabeto Braille, transcrevendo para esse sistema inúmeros livros, alfabetizando cegos e videntes, qual verdadeiras sacerdotisas do bem. Foram elas: D. Engrácia Ferreira, D. Júlia Pêgo de Amorim, D. Benedita Mello e D. Balbina de Moraes, pioneiríssimas na transcrição do livro espírita em Braille. É de D. Júlia Pêgo de Amorim que vamos falar nesta despretensiosa minibiografia.

D. Júlia Pêgo de Amorim nasceu no Rio de Janeiro, quando ainda capital do Império, no dia 15 de setembro de 1879, sendo primogênita do Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior e de D. Júlia Amália da Silva Pêgo. Em 1894, terminava o curso primário, sendo matriculada na antiga Escola Normal do Distrito Federal, onde diplomou-se em professora primária no ano de 1898, quando foi designada professora-adjunta para a Escola Basílio da Gama. Posteriormente, ocupou o cargo de diretora de Música da Escola Normal. Estagiou na Escola Benjamin Constant e foi nomeada diretora da Escola de São Cristóvão, então 6° Distrito Escolar. Contraiu núpcias com o Dr. Aurélio de Amorim no dia 28 de outubro de 1899. O seu esposo era oficial do Exército, gozando grande prestígio na política do Rio de Janeiro. Concorreu às eleições e foi eleito deputado federal pelo seu Estado natal, o Amazonas. Desse matrimônio, nasceram seis filhos: Maria, Aurélia, Armando, Aramis, Mário e Iacy. Visando o conforto e o bem-estar da grande amada, Dr. Aurélio alugou o antigo solar do Barão do Amparo, no Alto da Boa Vista.

Notando a ausência de escolas naquela localidade, D. Júlia empenhou-se junto à Prefeitura Municipal para que ali se fundasse uma. De acordo com o jovem esposo, cedeu uma das salas do solar para que funcionasse a primeira escola do Alto da Boa Vista e da qual foi nomeada diretora.

Diante da afluência de alunos, a Prefeitura do Distrito Federal fez construir, mais tarde, a Escola Primária Menezes Vieira, ainda hoje existente no populoso bairro. Em 1915, é nomeada diretora da Escola José de Alencar, próxima do Largo do Machado, dirigindo esse estabelecimento de ensino até 22 de outubro de 1919, quando foi jubilada no cargo de catedrática. Sempre pensando em ser útil, tornou-se, mais tarde, o expoente máximo da dedicação aos cegos.

No dia 21 de abril de 1937, desencarna, no Rio de Janeiro, sua tia D. Engrácia Ferreira, veterana cultora do Braille, que, em vida, manteve permanente campanha para o bem-estar dos cegos. D. Engrácia foi abnegada seareira espírita, pioneira da transcrição do livro espírita para o Braille. Por várias vezes, animou a sua sobrinha para essa meritória tarefa. Menos de um mês da sua desencarnação, no dia 6 de maio de 1937, comunica-se por intermédio de Chico Xavier, dando uma mensagem dirigida à D. Júlia Pêgo de Amorim, na cidade de Pedro Leopoldo (MG). Onze dias depois, Chico Xavier recebe a segunda mensagem pelo sistema Braille, cuja mensagem foi publicada no “Reformador” do mês de junho de 1938, às páginas 172-175. Em 16 de novembro de 1938, transmite a terceira mensagem dirigida à D. Júlia, sugerindo que transpusesse para o Braille determinado dicionário de Português e, nesse mesmo ano, veio a quarta mensagem, dando provas incontestes de sua identidade. D. Engrácia Ferreira deixou várias obras transcritas para o Braille e uma por terminar.

D. Júlia Pêgo de Amorim, pegando certo dia nas páginas escritas dessa obra inacabada, imaginou terminá-la e o seu desejo se materializou de tal forma que aprendeu sozinha o alfabeto Braille, copiando letra por letra. Certificando-se de que estava certo, prosseguiu e tirou a prova, solicitando a um cego que lesse o que estava escrito. Satisfeita com o resultado, em pouco tempo estava senhora do assunto, transformando-se numa verdadeira missionária.

Em 1938, reuniu em sua casa pessoas interessadas nessa obra de altruísmo e começou a praticar e a ensinar o Braille. Em fevereiro de 1939, atendendo ao apelo espiritual de sua tia, resolveu iniciar a transcrição do Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, primeira edição (1938), da Civilização Brasileira S/A Editora, de autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, cuja transcrição levou quatro anos de intermitentes trabalhos, dando, ao todo, 64 volumes. Em setembro de 1943, Chico Xavier recebe a quinta mensagem do Espírito de Engrácia Ferreira, agradecendo à sobrinha o atendimento de seu apelo e o valioso trabalho em prol dos cegos. D. Júlia Pêgo de Amorim iniciou um curso gratuito de Braille, no centro da cidade, visando, com esse curso, maior número de colaboradores para a grande tarefa. Fez um apelo através do rádio e foi procurada pelo confrade Manoel Jorge Gaio, fundador da Instituição Marieta Gaio, que se ofereceu para auxiliar financeiramente a obra. Com esse incentivo, pôde dar início à transcrição do aludido dicionário, recebendo, algum tempo depois, a colaboração das senhoras Maria Pêgo Santos, Maria Amorim Joviano e Zulmira Feital Cavalcante de Freitas. Graças à inestimável colaboração dessas valorosas senhoras, concluiu a obra em menor tempo. Em 14 de julho de 1943, ofertou o dicionário, pronto e encadernado, ao Instituto Benjamin Constant. Entre a grande bibliografia transcrita estão: O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec (3 volumes), doados à Federação Espírita Brasileira, Pequenas mensagens, de Emmanuel (3 volumes), Voltei, de Irmão Jacob (3 volumes), Catecismo espírita (1 volume), Agenda cristã, de André Luiz (1 volume), todos doados à Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (Spleb). Além de livros importantes como A moreninha, A vida de Helen Keller, A ilha de John Bull, Música ao longe, Contos policiais, Jornal e pensamentos de cada dia (de Elisabeth Leseur), Manual de análise léxica e sintática, Estatutos da Associação dos Servidores Públicos e muitos outros, todos doados às grandes instituições de cegos do Brasil. Sua obra em Braille sobe a mais de 90 volumes.

D. Júlia Pêgo de Amorim, inteiramente integrada na campanha do bem-estar dos cegos, tomou parte ativa na fundação de várias instituições especializadas nesse sentido, como a Sociedade dos Amigos Cegos 1nstituição das Cegas Helen Keller e outras, inclusive fazendo parte de várias diretorias, patrocinando inúmeras campanhas pró-sedes próprias, promovidas por damas da melhor sociedade do Rio de Janeiro, que ela arregimentava. Recebeu inúmeras condecorações pelos serviços prestados aos cegos.

No dia 11 de novembro de 1952, perdeu o seu idolatrado esposo, amigo incondicional de todas as horas, Dr. Aurélio de Amorim, então reformado no posto de general do Exército. Foi convidada pelo Marechal Mário Travassos para a Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille, da qual se fez verdadeiro baluarte, sendo eleita para o seu conselho deliberativo, exercendo vários cargos. Pronunciou inúmeras conferências públicas, tanto na parte espírita quanto na profana, inclusive na Associação Brasileira do Instituto Benjamin Constant. No dia 18 de fevereiro de 1965, foi agraciada com o diploma de Honra ao Mérito por proposta do Conselho Nacional para o Bem-estar dos Cegos.

D. Júlia Pêgo de Amorim, mulher extraordinária, exemplo de esposa, de mãe de família, de mestre e de espírita jamais esmoreceu em sua caminhada luminosa, criando um conceito novo na sociedade de que o cego não precisa de esmola, necessita de educação e preparação para que possa viver uma vida digna e feliz como todos os seus irmãos em humanidade. A sua desencarnação ocorreu no Rio de Janeiro, aos 29 de novembro de 1974, aos 95 anos de idade, dos quais 37 anos dedicados à Doutrina Espírita e ao Braille. Deixou exemplos dignificantes do quanto vale estender o Evangelho de Jesus, separando a letra que mata do espírito que vivifica, ficando a fé raciocinada que só a Doutrina Espírita nos faz compreender.




Original sem dados tipográficos.



Antônio de Souza, Lucena
Francisco Cândido Xavier

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II Timóteo 4:7

Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.

2tm 4:7
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