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Capítulo XII

Notas da vida


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Sem conhecimento dos interessados, o psicólogo de certa organização, que se subdivide em diversos setores comerciais, recebia consulentes no salão da recepcionista, quando um cavalheiro bem apessoado entrou na sala, informando que desejava obter uma colocação na firma e, para isso, exibia vários títulos de competência, ao que o amigo, que não aparentava qualquer ligação com a casa, disse-lhe com otimismo:

— Quer dizer que o senhor tem vasto conhecimento de aparelhos eletrodomésticos…

— Sim, tenho — confirmou o postulante — mas detesto o trabalho e sei que os salários atualmente rastejam no chão…

O interlocutor acentuou, sem alardear superioridade:

— Ao que me parece, o senhor não encontrará a oportunidade que procura. Sei que a firma, no momento, não dispõe de vagas.

Logo após retirar-se o candidato, uma jovem penetrou o recinto e comunicou ao amigo, que se instalara na cadeira de recepção, que pretendia solicitar um lugar de balconista.

O observador, que ali estava para sondar as disposições dos candidatos, considerou sorridente:

— Decerto, a senhora possui grande experiência de contato com o público…

A moça articulou um gesto de desagrado e acrescentou:

— Experiência não me falta, entretanto, para mim é um sacrifício contatar com o público, sempre a esnobar exigências. O balcão é intolerável, principalmente quando se sabe que o salário é de miséria.

O companheiro, erguido à condição de recepcionista, objetou:

— É pena. Pelo que sei, a firma não está admitindo novos auxiliares. Ainda assim, a senhora poderá voltar para informações mais seguras.

A jovem fixou um gesto de aborrecimento e saiu.

Em seguida, um homem robusto apareceu, esclarecendo que iria solicitar da casa um emprego nas tarefas da limpeza…

O suposto chefe exprimiu-se com satisfação:

— É um prazer encontrar alguém que se mostra feliz ante a possibilidade de cooperar nas atividades da limpeza…

O recém-chegado, porém, falou com veemência:

— O senhor está enganado. Pedirei trabalho aqui não por gosto e sim por necessidade, embora saiba que os salários aqui são de fome…

O psicólogo replicou sem alterar-se:

— Respeito os seus pontos de vista, no entanto, segundo suponho, a firma não dispõe de vagas, agora. Oportunamente, o senhor verificará isso.

O candidato despediu-se.

Aproximamo-nos do observador e notamo-lo a falar para um colega presente:

— Veja você: onde a empresa que contratará um especialista que detesta o trabalho, uma jovem de face trancada que não suporta o público e um empregado para limpeza que sente nojo do que faz?

Registramos as nossas ilações e concluímos:

— Quem quiser a felicidade de se engajar em serviço respeitável, que procure amar a sua própria tarefa, que saiba cultivar a paciência incansável e que aprenda a sorrir.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

ANTE A CARIDADE

Emmanuel

Provavelmente não nos será difícil exercer a caridade do plano exterior, canalizando o supérfluo,em benefício do companheiro necessitado.

A moeda generosa, o agasalho para o corpo e o pão dividido, tanto quanto a visitação direta aos irmãos sofredores constrangidos à comunhão com a enfermidade e a penúria, constituem expressões de bondade edificante que não nos cabe esquecer em tempo algum.

Entretanto, não,olvidemos a difícil caridade do mundo interno.

Saibamos oferecer o prato invisível da tolerância aos que se deixaram vencer pela irritação ou pela cólera.

Distribuamos a água pura da humildade aos que se fizerem vítimas da vaidade e do orgulho.

Temos amigos e parentes na furna do ódio ou da ilusão que devemos buscar, sem alarde, com os nossos melhores testemunhos de carinho. Possuímos afeições e laços valiosos que desceram a escuros chavascais do desequilíbrio, que não podemos relegar ao abandono.

Há muita gente que padece fome em pleno banquete da vida material e sofre sede, à frente de preciosos mananciais terrestres.

Aprendamos a ajudá-los com o nosso trabalho e com a nossa fé.

Todos sabem dar.

Raros, porém, sabem dar de si mesmos.

Não te esqueças do auxílio em forma de segurança e de estímulo que podes oferecer aos que te cercam, através das demonstrações do dever bem cumprido, da solidariedade, da cooperação e da paciência.

Cultivando pequenos sacrifícios, amealhamos o tesouro do amor.

Jesus é o nosso Divino Modelo.

Depois de dar-se à terra na Manjedoura, socorreu a Humanidade na solução de aflitivos problemas, completando a lição da caridade, oferecendo-se ao mundo, nas tribulações da cruz – o excelso ensinamento do qual, ainda hoje, estamos recebendo a luz imperecível na laboriosa romagem da própria libertação.



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