Cruz das Almas
Versão para cópiaIrmã Vera Cruz
Leitor amigo:
Efetivamente, a Divina Providência criou as religiões ou as convicções religiosas, à feição de inúmeros caminhos para a Verdade.
O Amor, porém, é a luz que as ilumina.
Nas páginas deste livro, compreendemos que a Irmã Vera Cruz encontrou sob o amparo de , o Iluminado da Úmbria, a estrada que escolheu para as tarefas da própria elevação.
Edificados com os seus exemplos de humildade e trabalho, caridade e fé, roguemos a Jesus a todos nos acolha e nos abençoe.
Uberaba, 18 de Abril de 1980.
Introdução
Ao assumir, espontaneamente, o compromisso de transformar em livro as mensagens que o médium Xavier recebeu do Espírito de Vera Cruz Leitão Bertoni, praticamente todas com alusões ao universo franciscano, longe estávamos de supor que a tarefa viria a se nos afigurar muito acima de nossos recursos pessoais, por dois motivos: 1º) não poderíamos, num trabalho prevalentemente destinado ao coração, nos estender em considerações detalhadas, subordinando nosso esforço a um título como, por exemplo: “Espiritismo: chave para a exata compreensão do Franciscanismo”; 2º) por outro lado, ao nos reportar, ao que tudo indica, a uma franciscana reencarnada — possivelmente irmã da Ordem das Clarissas ou ligada à Ordem Terceira, em diversas existências pregressas —, deixar de nos referir a pelo menos alguns lances da vida e da obra daquele que tem sido considerado o Cristo da Idade Média — Francisco de Assis.
Ficamos, como se vê, num impasse.
Depois de muito meditar, dividindo o livro em duas partes, a primeira contendo as mensagens de Vera Cruz e suas respectivas análises, além dos índices, e a parte segunda com os Apêndices A e B, optamos pelo seguinte esquema: síntese biográfica do divino Poverello, nesta Introdução, contendo: as prováveis referências à sua iluminada missão, nas Obras Completas de Allan Kardec; os passos onde os Espíritos, através do médium Francisco Cândido Xavier, mencionam-lhe o nome, inclusive o livro onde se encontram transcritos os trechos antológicos da confortadora mensagem de Francisco de Assis, recebida pelo médium de Emmanuel, há quase seis lustros; transcrição, constituindo em capítulo próprio — uma espécie de exórdio —, da referida mensagem do Espírito de Francisco, por considerar que faltava a sua inclusão na obra mediúnica de Chico Xavier, não havendo melhor oportunidade para fazê-lo do que agora; tanto quanto possível, ao longo do estudo das mensagens do Espírito de Vera Cruz, resolvemos fazer aproximações com passagens dos escritos de Francisco de Assis, bem assim relembrando fatos de sua vida admirável, registrados nas biografias e legendas, crônicas e escritos congêneres, sempre nos prendendo ao lado moral, sem qualquer preocupação de ordem histórica, tentando seguir o método adotado por Allan Kardec ao estudar a vida de Jesus.
Entremos, portanto, na súmula biográfica do mais humilde de todos os filhos de Deus, que vieram à Terra, depois do Cristo.
“A vida de Francisco Bernardone (o verdadeiro nome foi Giovanni, mas o pai, rico mercador que frequentemente visitava a França, chamou o filho de “Francesco”, isto é, francês)” — di-lo G.D. Leoni — “é bastante conhecida; nem tem muito interesse para a leitura dos “Fioretti”. Todavia, eis as datas fundamentais: nasce em Assis (26 de setembro de 1182), na região italiana da Úmbria; passa a juventude na alegre companhia de amigos, até que uma doença o faz refletir sobre a fraqueza humana (1206): no mesmo ano outros sinais premonitores convertem definitivamente o jovem, que renuncia aos bens paternos e torna-se “esposo da obediência e da pobreza”; e se dedica à pobreza, à meditação, ao apostolado. Alguns companheiros o seguem (1209): Bernardo de Quintavalle, Pietro Cattani, Egídio de Assis e outros oito, que constituem o primeiro núcleo da nova Ordem, chamada dos Frades Menores, à qual se acrescenta pouco depois (1
212) a Ordem das Clarissas, fundada por Santa Clara. O papa Inocêncio III aprova “solo verbo” a regra franciscana, que será confirmada por Honório III (1223). À vida contemplativa o Santo substitui agora a vida ativa: organiza a Ordem, manda os primeiros missionários à França, Alemanha, Hungria, Espanha, Tunísia, Marrocos (onde se imolam os primeiros mártires) e ele mesmo embarca para o Oriente (1219-1220), indo evangelizar o Egito e visitando a Palestina. Volta à Itália, reorganiza a Ordem regular, institui a Ordem Terceira (1221), percorre a Península, pregando a humildade e a austeridade num ambiente cada vez mais corrupto e agitado. Mas o grande esforço das viagens e as rígidas penitências enfraquecem o corpo do Santo: começam o sofrimento e a glorificação terrena. Em 1224 recebe os Estigmas; um ano depois dita o “Cântico das Criaturas”; sofre com alegria, aconselha com piedade, morre serenamente, ao pôr do sol do dia 4 de outubro de 1226, com quarenta e quatro anos.”
Sobre o ano de nascimento e o dia de desencarnação de Francisco, os autores, respectivamente, ora apontam como sendo 1181, ora como sendo 1182, e 3 de outubro para uns, e 4 de outubro para outros.
De qualquer forma, Irmã Vera Cruz será talvez o primeiro trabalho, prematuro, não resta dúvida, comemorativo do 800º Aniversário de Nascimento do chamado Pai Seráfico, podendo, ainda, a nosso ver, tanto o médium Chico Xavier quanto a Autora Espiritual deste livro, passarem a ser considerados elementos pertencentes à IV Ordem Franciscana, à maneira do que se deu com o célebre escritor Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), se levarmos em consideração o que, disse, com muita propriedade, Mesquita Pimentel: “[A IV Ordem Franciscana] não é uma ordem no sentido canônico do termo. Não constitui uma associação, não tem regra, não impõe aos seus membros o uso de nenhum hábito… e a entrada para ela não obedece a nenhum ritual nem comporta nenhuma “profissão” explícita. Para fazer parte dela não é preciso ser piedoso, não é preciso, sequer, ser cristão. Duas condições apenas são requeridas: sentir vivo interesse pelos ideais franciscanos e mostrar esse interesse na publicação de algum escrito original.”
Percorrendo as Obras Completas de Allan Kardec, em português, e não encontrando qualquer referência a Francisco de Assis, resolvemos fazer um levantamento de todos os apóstolos e contemporâneos do Cristo; pais da Igreja; fundadores de religiões; teólogos e pastores protestantes que se comunicaram através dos canais mediúnicos, cujas mensagens foram objeto de estudo por parte do Codificador, bem como os que foram citados por ele, com relativo destaque.
No Apêndice A, o leitor encontrará a súmula da aludida e modesta pesquisa.
Na extensa e fecunda Obra Mediúnica de Francisco Cândido Xavier — percorrendo 181 livros, que vão do Parnaso de Além-Túmulo (1
932) a Livro de Respostas (1
980) —, encontramos excelente material constituído de estudos sobre alguns representantes do hagiológio católico, comunicados mediúnicos de teólogos e pastores protestantes, material esse que aparece resumido no Apêndice B, para onde remetemos o leitor interessado no assunto.
Um fato curioso a ser assinalado, é que consultando cerca de uma centena de trabalhos, incluindo artigos de jornais, reportagens em revistas e livros sobre Francisco de Assis, alguns deles famosos como, por exemplo, o de René Fulöp-Miller ; o do citado Chesterton ; as diversas traduções de “I Fioretti” ; os de Mario Von Galli ; Tomás de Celano ; São Boaventura ; e um que foi impresso, em agosto de 1977, pela Tipografia Porziuncola Santa Maria de los Angeles (Asis) , em nenhum deles encontramos qualquer nota desairosa contra o Espiritismo. Pelo contrário, em dois deles, encontramos algo que nos diz respeito.
No primeiro — São Francisco de Assis e o Brasil —, a Autora, depois de afirmar que desde Frei Henrique de Coimbra, “há sempre o rastro de um franciscano dentro da história do Brasil”, e transcrever trechos de cartas de Manoel da Nóbrega, o nosso Emmanuel de hoje , sobre a existência de franciscanos entre os índios carijós, descreve alguns fatos paranormais ocorridos em diversos conventos franciscanos do Brasil.
Na alentada obra que é Nosso Irmão Francisco de Assis , Frei Clarêncio Neotti, O.F.M., no capítulo “São Francisco no Brasil”, afirma: “Nem podemos aqui nos referir às centenas de capelas e vilarejos que tomaram o nome do Santo, e não por acaso. Hoje ainda, ao menos 12 municípios trazem seu nome, 4 dioceses lhe são dedicadas e, no mínimo, 85 paróquias o têm como padroeiro, sem lembrarmos o nome que Francisco deu a conventos masculinos e femininos, curatos, noviciados, colégios, faculdades, educandários, escolas paroquiais, escolas profissionais, asilos, creches, sanatórios, hospitais, firmas comerciais, engenhos, fábricas, ilhas, navios, portos, lanchas, rios, cidades, praças, ruas, centros espíritas, etc.”
Com efeito, confirmamos isso na cidade onde reside o médium Xavier, desde 5 de janeiro de 1959 — Uberaba —: existe um ribeirão com o nome de São Francisco , afluente do Rio Grande, que separa os municípios de Uberaba e Frutal, e aqui viveu um ilustre capuchinho — Frei Eugênio Maria de Gênova (nascido na cidade de Oneglia, Província de Gênova, Itália, a 4 de novembro de 1812, desencarnando em Uberaba, a 14 de junho de 1871, aos 59 anos de idade) —, que foi o fundador da Santa Casa de Misericórdia, segundo José Mendonça , cujo patrono é São Francisco de Assis .
Antes de concluir, pretendemos transcrever ligeiros tópicos de dois livros do distinto escritor espírita e cientista italiano Ernesto Bozzano, os quais indiretamente dizem respeito a Francisco de Assis.
O primeiro deles, retiramos de Pensamento e Vontade :
“Assim é que os santos sempre foram vistos com essa mesma auréola, cuja existência acaba de revelar-se sobre a sua fronte.”
“A revista Light” — prossegue — “reproduz a fotografia em apreço, na qual se verifica que a auréola do arcediago Colley é absolutamente análoga às que aparecem nas fotografias transcendentais.
Conhecem-se, ao demais, várias outras fotografias idênticas, de pessoas que, no momento de as tirar, estavam absorvidas por cogitações profundas.
Justo fora, portanto, inferir que, nestes casos, a auréola corresponde à substância fluídica, ou etérica, desprendida do órgão cerebral, quando intensamente trabalhado pelo pensamento, tal como nas fotografias de cooperação mediúnica e nas aparições de formas transcendentais, essa auréola se forma da substância fluídica desprendida pelo médium, e graças à qual fotografáveis se tornam as imagens criadas pelo pensamento dos assistentes, ou pela vontade dos desencarnados.”
O segundo, retiramo-lo da obra-prima que é Animismo ou Espiritismo? :
“Nos Annales des Sciences Psychiques, ano de 1899, pág. 257, é narrado o caso do engenheiro E. Lacoste que, atacado de grave congestão cerebral, complicada de febre tifóide, permaneceu em estado de inconsciência e de delírio por mais de um mês, dando, durante este tempo, prova de possuir faculdades telepáticas e telestésicas. Entre outros fenômenos que produziu, anunciou um dia a chegada a Marselha (ele residia em Tolosa) de seis caixas com alfaias, esperadas, de há muito, do Brasil e acrescentou que era preciso recusá-las ou apresentar uma reclamação, porquanto uma delas fora substituída, precisamente a que continha os retratos, as capas, os vestuários, assim como diversos outros objetos de valor. Verificou-se que tudo correspondia plenamente à verdade e que na caixa que substituíra a outra apenas havia coisas que nada valiam. Ora, indubitavelmente, o engenheiro Lacoste não se creria depositário inconsciente de faculdades paranormais, se, para testificar-lho, não lhe houvesse sobrevindo uma enfermidade grave.”
Sobre o fenômeno da estigmatização, de que trata o Cap. III do Segundo Livro (Primeira Vida, de Tomás de Celano), consultemos, não apenas as páginas 95-96 de Pensamento e Vontade, de Ernesto Bozzano, mas o Cap. II, item VI, Segunda Parte, Livro Primeiro da obra-prima que é Do Inconsciente ao Consciente, do Dr. D. Gustavo Geley .
Resta-nos esclarecer que os trechos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que colocamos ao final de cada capítulo, se referem às passagens sublinhadas ou colocadas entre dois “x”, pela Autora Espiritual, quando na Terra, ao fazer a leitura daquele admirável código de luz, demonstrando, com efeito, tratar-se de Espírito detentor de cultura religiosa, naturalmente adquirida no pretérito, dono de apurado gosto de escolha.
Não nos sendo possível prosseguir, em respeito à paciência do leitor, que possamos encerrar esta já extensa Introdução, lembrando-nos com Francisco de Assis, em clima de prece, de que em relação não somente a Jesus, mas a Allan Kardec, precisa cada um de nós se transformar em instrumento de sua paz; em pegureiro do amor, onde houver ódio; do perdão, onde houver ofensa; da união, onde houver discórdia; da fé, onde houver a dúvida; da verdade, onde houver erros; da esperança, onde houver desespero; da alegria, onde houver tristeza; que cada um leve a luz, onde houver trevas; que procure mais consolar que ser consolado; mais compreender que ser compreendido; amar do que ser amado, já que sabemos que é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado; e que é nos desenfaixando do corpo físico, através da desencarnação, aguardando o momento propício de retorno à paisagem terrestre, mediante a Reencarnação, que viveremos para sempre na plenitude da Vida Imortal.
Uberaba, 18 de Abril de 1980.
“I Fioretti” de S. Francisco (seguidos do Cântico do Sol), Prefácio e notas de G.D. Leoni, Trad. de Adelino Capistrano, Edições de Ouro, MCMLVI, pp. 11-12.
Pierre Larousse, em seu Grand Dictionnaire Universel (Tome Huitième), registra o ano de 1182; para Wilson João (O Francisco que está em você — Vida de S. Francisco de Assis para o homem de hoje, 3ª adição, Edições Paulinas, São Paulo, 1978, pp. 141-142), o ano é o de 1182 e o dia é 3 de outubro; para o Frei Hugo D. Baggio, O.F.M., (Francisco mostra o caminho, Editora Vozes Ltda., Petrópolis, RJ, 1972, pp. 9 e 18), o ano é 1181 ou 1182, e o dia 3 de outubro; finalmente para Deodato Ferreira Leite (Francisco, Cantor da Paz e da Alegria, 3ª edição. Edições Paulinas, 1977, pp. 13 e 291), o ano de nascimento é o de 1182, e o dia de desencarnação de Francisco é 3 de outubro, sábado.
In Frei Hugo D. Baggio, O.F.M., Francisco mostre o caminho, p. 98.
René Fulöp-Miller, Os Santos Que Abalaram o Mundo — Antão, Agostinho, Francisco, Inácio, Teresa, Trad. de Oscar Mendes, 3ª edição, Livraria José Olympio Editora, Rio, 1950, pp. 167-291.
G. K. Chesterton, São Francisco de Assis, Trad. de J. Carvalho, 4ª edição, Casa Editora Vecchi Ltda., Rio de Janeiro, MCMLXI.
I Fioretti de São Francisco de Assis, Traduzidos por Durval de Morais, 5ª edição, Vozes, 1973; Florinhas do Glorioso São Francisco e Seus Frades, Tradução, Introdução e Notas do P. Aloysio Thomás Gonçalves, Editorial Franciacana, Braga, 1960.
Mário Von Galli, Francisco de Assis: O Santo que Viveu o Futuro, Trad. da Equipe da Loyola, Edições Loyola, São Paulo, s/d.
Tomás de Celano, Vida de São Francisco de Assis, Tradução do original latino por Frei José Carlos C. Pedroso, O.F.M. CAP., 3ª edição, Vozes, 1978.
São Boaventura, Legenda Maior e Legenda Menor (Vida de São Francisco de Assis), Trad. de Fr. Romano Zago, O.F.M., Vozes, 1979.
Valentin Turetta, San Francisco de Asis, Ilustraciones del Profesor G. Biuotto (Traducción española: Ignacio Omaechevarria, ofm, Casa Editrice Franciscana, Assisi.
Sophia A. Lyra, São Francisco de Assis e o Brasil, Livraria José Olympio Editora, Rio, 1978, pp. 3; 37; 44; 76-77 e 101.
Sobre Emmanuel e algumas de suas vides anteriores, inclusive quando tomou o nome de Manoel da Nóbrega, o leitor encontrará informações detalhadas e referências bibliográficas em nossa modesta (Francisco Cândido Xavier/Emmanuel, Organização e Notas de Salvador Gentile e Hércio Marcos Cintra Arantes, 1ª edição, IDE, Araras (SP), 1972), pp. 6-10.
Ildefonso Silveira, Fidélis 5ering, Fernando A. Figueiredo, Constantino Koser, Leonardo Boff, Alberto Beckhauser, Constâncio Nogara, Mateus Hoepers, Paulo Evaristo Arns, Raimundo Vier, Clarêncio Neotti (Coordenador), Nosso Irmão Francisco de Assis, Vozes, 1975, p. 249.
Hildebrando Pontes, História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central, Edição Academia de Letras do Triangulo Mineiro, 1979, p. 344.
José Mendonça, História de Uberaba, Edição Academia de Letras do Triângulo Mineiro — Bolsa de Publicações do Município de Uberaba, 1974, pp. 39; 47 e 51.
Borges Sampaio, Uberaba: História, Fatos e Homens, Edição Academia de Letras do triângulo Mineiro — Bolsa de Publicações do Município de Uberaba, 1971, p. 181.
Ernesto Bozzano, Pensamento e Vontade, Traduzido da versão francesa por M. Quintão, FEB, Rio, 4ª edição, 1970, pp. 43-44.
Ernesto Bozzano, Animismo ou Espiritismo?, Trad. de Guillon Ribeiro, FEB, Rio, 2ª edição, 1951, pp. 19-20.
Dr. D. Guatavo Geley, Del Inconsciente al Consciente, Traducción Española de Quintin Lopes Gomez, Case Editorial Maucci, Barcelona, s/d., PP. 99-100.
No Lar das Bênçãos
Querida Milza, querida irmã, Deus nos proteja.
O Evangelho nos diz que muito pode a oração dos justos. (Tg
Você formulou preces tão sinceras e falou com tanto coração à Bondade de Deus que, certamente, por isso, estou conseguindo escrever.
Querida irmã, estamos aqui; como numa assembleia de cristãos amigos. Recebo espiritualmente o auxílio de todos no calor humano com que fomos recebidas nos dois lados da existência. Agradeço a Deus com lágrimas de alegria.
Meu abraço envolve todo o seu carinho, mas peço-lhe para que nós ambas sejamos portadoras da palavra de esperança ao nosso anjo maternal. Mamãe tem regado a minha ausência com o pranto daquele bendito amor que lhe conhecemos.
Milza querida, diga à mãezinha para renovar-se e viver. A nossa fé é um documento garantido pelo Salvador que se despediu de nós pela ressurreição. Somos corações dele e Jesus, o nosso amado Jesus, jamais nos abandona.
Realmente, querida irmã, os sofrimentos em casa me assustam e surpreendem. Entendo quanto dói a separação quando o nosso corpo se transforma em outra vestimenta — a vestimenta espiritual.
Aquela expectativa de adeus para sempre e aqueles lábios que se fecham quando desejamos comunicar a nossa esperança e o nosso carinho aos amados que ficam, somam por si uma espécie de sofrimento que as palavras terrestres não definem.
Ainda assim, rogo à mãezinha — mas rogo com todas as minhas forças —, para retomar a nossa confiança em Deus, porque a confiança em Deus é esperança e alegria.
Fale, Milza, fale com mamãe para reorganizar a saúde e viver muito, viver tanto quanto Jesus assim permita.
E rogo ao nosso Arnaldo e a todos os nossos entes queridos para não incriminarem os nossos amigos médicos. Não houve qualquer falha na cirurgia e muito menos em qualquer serviço preparatório. Recebi gentilezas e atenções de todos no Hospital benemérito em que Deus me concedeu, pela família, um leito de paz a fim de me recolher ao descanso e à renovação.
Quantas vezes, em nossos julgamentos da Terra, apontamos deficiências onde tudo recebemos de melhor!
Nos dias que antecederam o meu desligamento do corpo, via comigo a nossa irmã Olímpia e os amigos franciscanos. Prepararam-me para corresponder à bondade com que recolhia tantas bênçãos. Meus olhos, conquanto os agentes da operação experimentada, estavam claros e lúcidos.
É verdade que mamãe, Arnaldo e Maurinho, como todos vocês, surgiam em minha expectação, por laços benditos de Deus, de que não desejava me apartar… Entretanto, o corpo, querida irmã, estava gasto.
Não sei, por enquanto, definir a minha situação, mas compreendi na quarta-feira que não mais seria possível a resistência. Falar como desejava, não conseguia.
Sabe você quanto esforço despendem os médicos e a enfermagem para nos liberarem da separação física… Por mais me esforçasse para dizer o que via, a voz parecia sufocada na garganta. Mas lembrava-me da família querida e continuei orando, a suplicar forças a Deus.
Na sexta-feira, percebi as claridades do dia como uma luz a me brilhar no pensamento. A certeza de que sua irmã estava morrendo e vivendo ao mesmo tempo estava em meu coração.
O silêncio para mim, em torno do leito de assistência intensiva, como que me ajudava a ver e a escutar melhor o que se passava…
Uma alegria misteriosa estava comigo. Digo “misteriosa”, porque a separação me infundia aflição e sofrimento.
A noite desceu, mas para mim aquele ambiente hospitalar povoado de indagações e de preces asfixiadas se revestiu, de repente, numa luz que me envolveu, sem que eu nada disso merecesse.
Atribuí tudo às orações de nossa mãe santificada na bondade e na renúncia, e agradeci a Deus haver vivido numa família que me dera tanto carinho e tanto amor…
Pensei no esposo e no filhinho, com saudade, mas com uma saudade misturada de confiança. Concentrei todas as minhas forças na prece e isso me acalmou.
Os olhos pareceram curados, plenamente curados, e vi, ao meu lado, a nossa irmã Olímpia e a nossa tia Ana, a nossa querida tia Aninha, e, junto delas, um benfeitor que me amparava.
Não longe, como sucedia tantas vezes, vi um grupo grande dos irmãos franciscanos que cantavam louvores a Jesus. Eram muitos, porque aos vários irmãos que assinalavam, se acrescentavam outros, e o cântico me veio ao pensamento assim como uma canção de ninar vem até nós, quando crianças, no instante de adormecer.
Quis deter algum fragmento do cântico ou todo ele para trazer a vocês, algum dia, mas unicamente este trecho me ficou na memória de doente que os mensageiros do Divino Mestre passavam a restaurar:
“Louvado sejas, Senhor,
Pela mensagem de paz
Que a tua bênção nos traz,
Ante a fé que nos conduz!…
Mesmo ante as provas do mundo,
Quando a dor nos desconforte,
Pela vida e pela morte,
Louvado seja Jesus!…”
Roguei à irmã Olímpia o consentimento para falar nisso, porque sei que estas notícias levantarão o ânimo da nossa querida mãezinha, em nosso pouso da Liberdade.
Quero dizer a você, querida Milza, que sentia a sua falta e a falta do nosso querido Hélio naqueles momentos de despedida, mas a nossa querida Olímpia me tranquilizava a respeito, afirmando que a viagem de vocês não nos separava uns dos outros.
Rogo a você dizer ao Arnaldo, ao Hélio, à Nilce, à Aparecida e a todos os nossos para não reclamarem sobre o problema de meu tratamento. Repito que recebi todo o amparo e toda a assistência possíveis. Não houve inconveniência de adrenalina, nem carga indébita de anestésicos. O que houve é a necessidade de atendermos às Leis de Deus. Agradeçamos a Deus e estejamos felizes.
Não posso escrever mais. Rogo à mãezinha lembrar-se de , nas orações. Ele é um mensageiro da Vida Superior, apagando-se para auxiliar-nos a todos. Rogo a ele sempre pela felicidade de meu pai e pelo fortalecimento e paz, bom ânimo e alegria de nossa querida mãe.
Um beijo ao Maurinho. Ele, agora, com o carinho da avó, tem quatro mães. Sei que vocês farão por meu filho e por nosso querido Arnaldo tudo o que fizeram por mim.
Querida Milza, que Deus abençoe a você, que Jesus a reanime, que nossa Mãe Celestial a proteja e que o herói das chagas de Cristo, o Iluminado de Assis, esteja com você e com todos os nossos, incluindo todos os que sofrem saudade e separação, angústia e tristeza.
Estou em novo lar, no Lar das Bênçãos do inesquecível , que não mereço, mas das quais preciso, a fim de me refazer, embora a me tornar mais devedora de Jesus e de seus Mensageiros.
Estejam todos tranquilos.
E beijando as mãos de nossa querida mãe em suas mãos queridas de irmã; peço a você, querida Milza, receber todo o carinho e todo o reconhecimento no afetuoso abraço da irmã agradecida
De nossas três entrevistas com a Sra. Milza Leitão de Camargo, em Uberaba, Minas, nos dias 13 de outubro de 1978; 16 de fevereiro e 19 de outubro de 1979, e de um depoimento dela prestado ao casal Dr. Carlos Adalberto de Carvalho Dias e D. Wandir, em Campinas, Estado de São Paulo, registrado em cassete, que nos chegou às mãos no dia 27 de julho de 1979, graças à gentileza do Sr. Ayrton Gouvêa, hoje residente no Plano Espiritual, conseguimos colher material para este e os próximos capítulos, sobre a Autora Espiritual do presente volume.
D. Milza, a destinatária de todas as mensagens, aqui enfeixadas em ordem cronológica, recebidas pelo médium Xavier, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, no período que vai de 1975 a 1978, sempre se emocionou ao se referir à sua irmã Vera Cruz.
Quando obteve a primeira mensagem, eis o que escreveu o Dr. Antônio Emílio Borges, advogado e sobrinho da distinta franciscana reencarnada, em comunicado pessoal, datilografado:
“Vera Cruz, que desde a infância possuía dons mediúnicos de rara precocidade, nasceu em Silvânia, Município de Matão, Estado de São Paulo, aos 3 de maio de 1926, de Antônio Leitão e Ambrosina Teixeira Leitão, e tinha ainda os irmãos nascidos em ordem cronológica: Nilce, Aparecida, Deusdedith, Milza e, finalmente ela, a caçula da família.
O pai era chefe de ferrovia e trabalhava em estações minúsculas, tão pequenas como aquela Silvânia em que Vera Cruz nascera. Naquela época, o lugarejo pouco mais era que uma parada de trens, possuía, ao tempo do nascimento de Vera, além da casa da estação, a do portador, uma farmácia e uma venda. Os habitantes da localidade eram ferroviários e tinham nomes portugueses comuns. (…)
Jamais se ouviu dela qualquer blasfêmia ou inconformismo, insinuação de inveja ou expressão de egoísmo. Era humilde e alegre, resignada e esperançosa e sua fé era tão grande como o Sol da primavera que derretia os gelos da dúvida nos corações alheios. Sempre foi, mesmo sem antes o saber, uma ovelha do rebanho de São Francisco, escolhida pelo grande Mestre, e como ele, Francisco, também desde a infância, teve os grandes olhos míopes para o mundo, internamente voltados para Deus. Mas, além dos grossos óculos, eles brilhavam confiantes e alegres. Hoje, sabemos que ela não precisa mais deles.
Vera casou-se com Arnaldo e teve um filho chamado Mauro. O matrimônio e a maternidade enriqueceram-na; era feliz, tinha uma família e acreditava em Deus. Mas os Espíritos não lhe reservavam alegrias mundanas. E comunicavam-se com ela por meio de sonhos. (…)
Pressentindo que seu tempo na Terra escasseava, escreveu conselhos ao filho, poesias talvez mediúnicas, e deixou que os guias espirituais lhe dirigissem a mão, quando desenhava.
Sempre quando lia o Evangelho, vislumbrava monges franciscanos que lhe passeavam ao redor.
O desenlace encontra pretextos. À sua crescente miopia acrescentou-se uma catarata. Operação simples, da qual até os mais velhos retornam recuperados. Mas Vera sabia que não voltaria. E sutilmente, sem provocar suspeitas, despediu-se da família tranquilizada: desesperar-se por que, se todos os exames pre-operatórios se revelaram satisfatórios?
Vera despediu-se de todos e da vida terrena. Antes de entrar na sala de operação, disse ao esposo:
— Arnaldo, olhe bem para mim, guarde bem minha feição, porque talvez seja esta a última vez que você vá me ver. E submeteu-se à vontade de Deus. Era o dia 19 de maio de 1975. Seu coração não resistiu à anestesia, e durante 11 dias oscilou entre as duas vidas. E, no dia 30 de maio, partiu para o mundo superior.
Angustiada, buscando consolo; Milza vai procurar pelo veterano médium espírita — irmão Chico Xavier —, e conta-lhe do desespero de seus familiares.
E o conforto surge em forma de mensagem, psicografada pelo médium amigo, confirmando mais uma vez a realidade da reencarnação e da sobrevivência do Espírito.
Era o dia 5 de setembro de 1975, em Uberaba.
Após haver recebido a mensagem, o médium Chico Xavier comentou com o doutor Carlos A. Baccelli, (rua José de Alencar, 84 — Uberaba) que o benfeitor que amparara Vera em sua desencarnação, era o seráfico Frei Fabiano de Cristo, e que ele imaginava que ela não mencionara tal fato por humildade. Ainda comentou o médium que o centro ficara todo iluminado durante a mensagem. Isso também foi comprovado pelo médium Dr. Décio Estrêla (R. Coronel Spínola 3696 — São José do Rio Preto), que compartilhava dos trabalhos da mesa.
Mais conformada, Milza passa a frequentar as reuniões do médium Chico Xavier, que são realizadas às sextas-feiras. Após uma delas, Chico Xavier convida Milza para a peregrinação das 15 horas dos sábados, quando se distribuem pães e víveres aos irmãos mais necessitados. Lá chegando, disse-lhe ele que a convidara para ir até lá, porque desde muitos anos fazia ele tal distribuição, sempre recordando os exemplos de São Francisco e que o Espírito da irmã Vera, por várias vezes, o acompanhava, ultimamente. Emocionada, Milza perguntou ao médium Chico Xavier se a irmã estava ali presente, naquele momento, e ele respondeu-lhe afirmativamente. E acrescentou que Vera indicava à irmã que era aquilo que deveriam fazer.”
Vejamos, agora, por itens, o que o capítulo anterior — “No Lar das Bênçãos” — poderá nos fornecer de elementos para análise:
1 — “Você formulou preces tão sinceras…” — A respeito de preces, encontramos em Tomás de Celano o seguinte, referindo-se, naturalmente, a Francisco de Assis:
“Seu porto de segurança era a oração, que não era curta, nem vazia ou presumida; mas demorada, cheia de devoção e tranquila na humildade. (…) Andando, sentado, comendo ou bebendo, estava entregue à oração.”
“Respondeu o Santo: “Por que vos admirais de minha fuga, se não conheceis o motivo? Fugi para a proteção da oração, para livrar um errado. Vi no filho uma coisa verdadeiramente desagradável. Mas agora, pela graça de Cristo, já se afastou todo engano”. O irmão se ajoelhou e, envergonhado, proclamou sua culpa.”
O Capítulo LXII da Primeira Vida mostra como rezava Francisco, não somente as horas canônicas, mas quando viajava a pé.
“E afirmava: “O pregador tem que haurir primeiro na oração, feita em segredo, aquilo que depois vai derramar em palavras sagradas. Tem que se esquentar primeiro por dentro, para não proferir palavras frias”.”
Em Allan Kardec, os e de O Evangelho Segundo o Espiritismo tratam, em profundidade, do assunto.
2 — “Agradeço a Deus com lágrimas de alegria.” — A “perfeita alegria” para Francisco, entre outras coisas, está em vencermos a nós mesmos, “e de bom grado, pelo amor de Deus, suportar as penas, injúrias, opróbrios e misérias”, acrescentando que precisamos nos vangloriar da cruz das atribulações e das aflições, “pois isto é nosso: por isso disse o Apóstolo: Eu não desejo vangloriar-me senão da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (“I Fioretti” Cap. VIII).
3 — Mamãe: Trata-se de D. Ambrosina Teixeira Leitão.
4 — Arnaldo: Irmã Vera Cruz se refere ao marido que deixou no Plano Terrestre, Sr. Arnaldo Bertoni.
5 — “Não houve qualquer falha na cirurgia e muito menos em qualquer serviço preparatório.” — Ponto alto da mensagem, em matéria de autenticidade, uma vez que o médium Xavier desconhecia, por completo, este e todos os demais pormenores, aliás, como se deu com o caso de Anélio, relatado no Capítulo 33 — “” — do livro Presença de Chico Xavier.
6 — “Via comigo a nossa irmã Olímpia e os amigos franciscanos.” — Sugerimos ao leitor analisar o fac-símile do desenho feito por Vera Cruz, [à pág. 42 do livro impresso] que não era desenhista, quando no mundo, a fim de verificar o franciscano que ali aparece, mais tarde, segundo D. Milza, identificado por Frei Zacarias.
O médium, em hipótese alguma, poderia ter conhecimento deste episódio, o que vem confirmar tratar-se o Espírito de alguém com personalidade própria, entranhadamente religiosa.
Se o leitor, por exemplo, estiver a reler as mensagens de Augusto Cezar , Jair Presente e Henrique Emanuel Gregoris , recebidas pelo médium Xavier, há de convir que são Espíritos absolutamente distintos, bons manejadores da gíria, e que o médium, depois de mais de meio século de atividades ininterruptas na sua abençoada missão, não poderia se dar ao luxo, servido de um dicionário, de entregar-se a semelhante prática, mesmo porque em todas as páginas encontramos o sinete da autenticidade, prova inconcussa de que os chamados mortos voltam, com efeito, através da instrumentalidade mediúnica, para induzir os que ficaram no Plano Físico à conformação.
Isto, a nosso ver, é por demais confortador e bem caracteriza a Doutrina Espírita como sendo o Parácleto, Jo
7 — “Meus olhos, conquanto os agentes da operação experimentada, estavam claros e lúcidos.” — Desde que o Espírito, no Plano da matéria densa, tenha tido aceitação ativa e plena do seu destino, tão logo chegue ao Mundo Espiritual, retoma a normalidade das funções de seus órgãos, carmicamente alterados, com vistas ao ressarcimento de dívidas do pretérito ou como mecanismo de defesa para não incorrer em novos erros.
A respeito da prova relacionada com os olhos, consultemos o nº 20 do Cap. VIII de para a releitura da expressiva mensagem de J. B. Vianney, o Cuca D’Ars, transmitida em Paris, no ano de 1863, recolhida por Allan Kardec e publicada em 1864.
Observemos, finalmente, parte da descrição do Espírito da Sra. mãe do pastor da Igreja Batista — Walter Wynn —, feita pelo médium Mr. Vango: “Agora curva-se e coloca um chale sobre os ombros. Tem um olhar penetrante, vivo, mas sofria muito dos olhos nos últimos anos de sua vida. Creio que tenha ficado cega. Diz que o senhor não se achava ao lado dela no momento de sua morte. Vê muito bem, atualmente.”
8 — “A nossa irmã Olímpia e a nossa tia Ana, a nossa querida tia Aninha.” — O Espírito se refere à D. Olímpia Sampaio Pires, genitora do Sr. Hélio Pires de Camargo e sogra de D. Milza, desencarnada aos 85 anos de idade, em Valinhos, Estado de São Paulo, a 4 de agosto de 1972.
Tia Ana: Trata-se de D. Ana Cândida Barros Perche, desencarnada em Matão, Estado de São Paulo.
9 — “Não longe, como sucedia tantas vezes, vi um grupo grande dos irmãos franciscanos que cantavam louvores a Jesus.” — Sublinhamos como sucedia tantas vezes, porque, na verdade, para Vera Cruz era comum a visita dos franciscanos em sua casa, que chegou a ponto de desenhar um deles (cf. item 6, acima), detalhe que o médium desconhecia por completo, tudo indicando tratar-se daquela devota de Francisco de Assis, que ingressara no reino da morte, depois de uma intervenção cirúrgica, conduzida por competentes discípulos de Hipócrates.
10 — “Pela vida e pela morte, / Louvado seja Jesus!…” — Belíssimo trecho do cântico franciscano entoado pelo grupo de irmãos desencarnados, que vem confirmar a alegria reinante no Mundo Espiritual, na faixa daqueles que se encontram em paz com a própria consciência.
11 — “Em nosso pouso da Liberdade.” — “O médium não poderia, jamais — afirma nossa entrevistadora —, saber o endereço de nossa querida mãezinha.”
12 — “A viagem de vocês não nos separava uns dos outros.” — Com efeito, Sr. Hélio e D. Milza se encontravam em Tóquio, quando ocorreu o imprevisto na cirurgia e a posterior desencarnação de Vera Cruz.
13 — Arnaldo, Hélio, Nilce e Aparecida: Respectivamente, marido, cunhado e irmãs da Comunicante — Sr. Arnaldo Bertoni, Sr. Hélio Pires de Camargo, Sra. Nilce Leitão Borges e Sra. Maria Aparecida Leitão Abdala.
14 — “Não houve inconveniência de adrenalina, nem carga indébita de anestésicos. / O que houve é a necessidade de atendermos às Leis de Deus.” — Trecho importantíssimo, do ponto de vista social, uma vez que a maioria dos médicos brasileiros já cogita de pagar uma taxa anual ao “Fundo de Assistência Judiciária” recebendo assistência advocatícia, em demarches jurídicas, naturalmente prevenidos contra eventuais reações de familiares de pacientes na aparência mal sucedidos, do ponto de vista de terapêutica instituída. Tal conduta, que é uma importação de costumes dos países ditos desenvolvidos, reflete o materialismo reinante na sociedade atual, e somente o Espiritismo, combatendo o egoísmo e o orgulho, poderá fazer com que as massas retornem aos braços do Cristo de Deus.
Daí, leitor amigo, o valor incalculável das palavras transmitidas da Vida Mais Alta para todos nós, os reencarnados, e o imperativo de nós todos, unidos, divulgarmos semelhantes ditados mediúnicos e as obras de Allan Kardec, a bem de toda a Humanidade.
15 — Frei Fabiano de Cristo: João Barbosa, que nem sacerdote se fez por falta de estudos, nasceu na aldeia de Soengas, da comarca de Guimarães, Província do Minho, ao norte de Portugal, a 8 de fevereiro de 1676, e desencarnou no Rio de Janeiro (Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca), a 17 de outubro de 1747, aos 71 anos de idade e “43 anos de vida religiosa nos mais humildes serviços da comunidade”, tendo anunciado “a seus confrades o dia e a hora em que partiria para perto do Pai.”
A seu respeito, eis o que diz o Espírito de Humberto de Campos, através do médium Francisco Cândido Xavier : “Anchieta aliou, no mundo, à suprema ternura, essa energia realizadora; mas, aqueles que na história oficial lhe descobrem esses gestos, não lhe notam a suavidade do coração e a profundeza dos sacrifícios, nem sabem que, depois, foi ainda ele a maior expressão de humildade no antigo convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, onde, com o hábito singelo de um frade, adocicou ainda mais as suas concepções de autoridade. A edificadora humildade de um Fabiano de Cristo, aliada a um sentimento de renúncia total de si mesmo, constituía a última pedra que faltava na sua coroa de apóstolo da imortalidade.”
No Apêndice B, ao final do presente volume, o leitor encontrará a relação dos livros onde saíram a lume as páginas de Fabiano, recebidas pelo médium de Emmanuel.
16 — “Estou em novo lar, no Lar das bênçãos do inesquecível São Francisco, que não mereço.” — Consolador saber que na 5ida Verdadeira — a Espiritual — não existe cor religiosa.
Os franciscanos que retornam à Terra, uns que por injunções evolutivas não podem e não devem cuidar apenas de religião, necessitando erguer o ninho doméstico, dentro do clima conjugal, como aconteceu com a Irmã Vera Cruz, tão logo regressam à Espiritualidade, pelas vias da morte; lá se defrontam com os antigos companheiros de ideal, com o doce e abençoado propósito de continuarem trabalhando com Jesus, o Divino Mestre, no socorro às criaturas distanciadas de si mesmas pelo cultivo infeliz do egoísmo e do orgulho.
“A garantia única e séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares.” .
“Entretanto, o que quer que digam, lhes será preciso entrar, como os outros, nesse mundo invisível que ridicularizam, quando seus olhos serão abertos e reconhecerão seu erro.” . — (a) Francisco
O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. (Nota de Elias B.).
Eis o que disse ele, o distinto jornalista Dr. Décio Estrêla, em carta dirigida à D. Milza, datada de 9 de dezembro de 1975: “Quando o querido Chico começou a psicografar, movimentei o meu pensamento para auxiliá-lo e posso registrar, com grande sinceridade, que tudo fiz para fazer alguma vidência a fim de estudar os fenômenos e para que pudesse participar de toda a maravilha espiritual que a oportunidade me facilitara sob a divina bondade de Nosso Pai Celestial. Pude registrar, durante a psicografia, a presença de dois Espíritos femininos, com roupagens de irmãs franciscanas, ladeando uma irmã que, após a mensagem, pude saber que se tratava da querida irmã Vera Cruz, cuja fisionomia não consegui captá-la, porém, posso lhe afirmar que não temos palavras para registrar a policromia de luz que clareava o ambiente do espaço espiritual.” (Nota de Elias B.)
Tomás de Celano, Obra citada, pp. 48; 144 e 180.
Elias Barbosa, Presença de Chico Xavier, 2ª edição revista, IDE, Araras (SP), 1979, pp. 129-131.
Francisco Cândido Xavier, Caio Ramacciotti e Espíritos Diversos, Jovens no Além, GEEM, São Bernardo do Campo (SP), 1975, pp. 59-69; 119-151. — Francisco Cândido Xavier, Augusto Cezar Netto (Espírito),Falou e Disse, GEEM, 1ª edição, 1978.
Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Espíritos Diversos, Enxugando Lágrimas, 2ª edição, IDE, 1979, pp. 112-134; Claramente Vivos, 1ª edição, IDE, 1979, pp. 63-80.
Walter Wynn, Meu Filho Vive no Além, Trad. e Prefácio de Francisco Klors Werneck, Casa Editora o Clarim, Matão (SP), 1972, p. 81.
Veja-se a revista Veja (Nº 601, de 12 de março de 1980; p. 69 — “Morte no Recife — A anestesia, acusada, parece segura”).
Frei Hugo D. Baggio, O.F.M., Francisco mostra o caminho, pp. 63-67.
Francisco Cândido Xavier, Humberto de Campos (Espírito), Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, 1ª Edição, FEB, Rio, 1938. pp. 38-39.
A presente citação e todas as demais colocadas ao final de cada capítulo neste livro, foram extraídas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec (Tradução de Salvador Gentile, 8ª edição — revista e corrigida, IDE, Araras (SP), Fevereiro de 1980).
A caridade de São Francisco não desapareceu
Querida Milza, Deus nos ampare sempre.
Estou reconhecida, feliz. Porque você, minha irmã, ouviu, com os nossos familiares queridos, as notícias da irmã pequenina. Maio passado vai longe. Maio novo se aproxima. Entre nós a separação. Suposta separação que vamos vencendo com fé.
Sinto-me como vocês, à maneira de alguém de lanterna acesa num caminho ainda escuro. Essa lâmpada humilde é a oração. O caminho de sombra é a saudade.
Graças a Deus, querida Milza, vejo a mamãe um tanto mais confortada. Cida, embora sob as impressões fortes que lhe alteram a sensibilidade, igualmente melhorou. Nilce e Deusdedith com o nosso caro Arnaldo e os demais nossos, mais nossos pelo coração, seguem pela vida com mais esperança.
Ver as reações daqueles que amamos, a situar-nos em ponto diferente, é um estudo muito expressivo. A criatura, na Terra, trabalha sob tantas vestimentas, que, em verdade, não é fácil para nós, quando na experiência física, aceitar as realidades da alma, de maneira total.
O Sol e a Terra, a fonte e a flor, o vale e a serra, a infância e a madureza do homem, por si, são milagres, mas a criatura reencarnada permanece sob a hipnose das vestimentas diversas de que se recobre e tantas maravilhas parecem situações de rotina para a existência comum. Entendemos tudo.
Daqui, de outro ângulo da imortalidade, as cores são outras. As cores espirituais ou pontos de vista. Não se aflija se nem todos enxergaram os nossos assuntos, qual você, querida irmã, que me recebeu as palavras com as lentes da fé.
Nossa irmã Olímpia, que tem sido para mim companheira devotada, nos compartilha as aspirações. E conosco trabalhará para que você e nosso estimado Hélio, com todos os corações queridos, nos comunguem as tarefas de renovação às quais nos empenhamos. Não tema dificuldades e problemas.
Agradeço a você, não apenas a confiança que me dispensou aos informes, mas, sobretudo, o amor, o vigilante amor com que o seu carinho se consagrou, de imediato, ao serviço mais amplo da beneficência.
A caridade de São Francisco não desapareceu. É uma inspiração divina em toda a Cristandade.
Almas queridas se lhe devotam aos programas de paz e luz, acolhendo a verdade e procurando o bem.
Aqui, as lições são mais vivas. Novo mundo se desdobra para além da Terra que habitamos apenas por alguns dias.
As chagas do espírito, gravadas em tantos milhares de corações que não aprenderam ainda a viver com a bênção de Jesus, convertem a missão franciscana em vasto território de ação socorrista.
Esse leite e esse pão que você começou a distribuir em nome do Senhor se transformarão em cantina de bênçãos. E a cantina de amanhã se converterá no futuro em lavoura de alegria e serviço, em auxílio de muitos.
Trabalhe, Milza. Não importem as dificuldades e possíveis humilhações. Por amor, Jesus tudo nos deu e de tudo experimentou, no que se refere às aflições da alma, a fim de que sejamos amparados.
Considere com sua irmã pequenina que a força utilizada se faz luz em eletricidade, e em nós o conhecimento do bem é capaz de transformar-se em presença divina, porque onde caridade floresça aí frutificam as bênçãos de Deus.
Por agora, convém atendermos aos alicerces. E nos alicerces de todas as boas obras está o coração d’Aquele que lhes oferece a própria vida.
Com mais tempo, a tarefa em andamento chamará novos obreiros e os novos obreiros serão novos braços para realização de nosso ideal. Aqui, os lares da fé se multiplicam.
A união é mais bela com a liberdade construtiva de crer ou de aceitar os ensinamentos de Jesus na dimensão de entendimento em que se encontre cada qual. As religiões estão redivivas.
O mundo espiritual, nas faixas em que me vejo, não é um continente de mudanças que alarmem. Somos nós mesmos, caminhando com aqueles que pensam por nossas diretrizes, procurando fazer de nós o melhor que pudermos.
Quanto mais crédito trazido da Terra, mais possibilidades de trabalhar. E os créditos aqui obedecem a câmbio diferente. A pessoa recebe pelo que deu a benefício dos outros.
Os investimentos parecem invertidos. Naquilo de que se haja desprendido alguém a favor do próximo, o ganho se faz mais sólido, na Espiritualidade Maior.
Por isso mesmo, rogo a você ajudar-se cada vez mais, ajudando aos outros quanto se faça possível. Espero que o tempo faça a harmonização dos princípios espíritas com os princípios da fé aos quais estávamos nós diariamente ajustadas.
Servir é o culto mais importante do Evangelho. Em razão disso, agradeço a você e aos nossos entes queridos o que vão fazendo em lembrança da servidora quase inútil que posso ser.
Agradeço a compreensão para o nosso querido Arnaldo. O amor que se ilumina é entendimento e apoio. A esposa que fui transformou-se na irmã que hoje sou.
Arnaldo é tão moço ainda nas energias do mundo e devemos abrir para ele todas as oportunidades para que encontre a felicidade que lhe pareça mais justa.
A mulher, querida Milza, é sempre mãe. Quando não conseguimos guardar o companheiro na condição de marido, nos casos em que tenhamos assumido o compromisso do lar, observo que o marido passa a ser para nós um filho do coração que amamos ainda mais.
Isso, depois da experiência física, é o que me ocorreu, embora saiba de pobres companheiras que adoeceram, além da morte, nas paixões possessivas, ilhadas em alucinações que lhes aconselham a permanência em sanatórios de cura espiritual.
Digo isso, simplesmente, para que a nossa querida família dispense o nosso Arnaldo de qualquer obrigação injustificável. Além de tudo, devemos ser gratos, todos nós, a ele, pelo fato de consentir que o Maurinho permanecesse conosco.
Nosso filho tornou-se a flor de nossas melhores esperanças em casa. Rogo a você, à mamãe e às irmãs para que estejamos unidas para auxiliar-lhe a formação. Importa, acima de tudo, que ele aprenda a viver na condição de discípulo do bem, com Jesus a inspirar-lhe o caminho. Nesse sentido, o diálogo em família com função de esclarecer o nosso grupo doméstico, é muito importante.
Querida Milza, abençoe Maurinho por mim. Que ele saiba o nosso amor e a nossa dedicação de sempre.
Agradeço, querida irmã, a todos os corações amados pelo bem que me fizeram à memória, aceitando-me as solicitações.
E aqui devo encerrar esta carta.
A cada um daqueles que Deus nos concedeu por parcela bendita de nossa vida familiar, o meu carinho e o meu reconhecimento de irmã.
E para você, querida Milza, todo o amor na gratidão e na confiança de sua irmã na Terra e companheira na abençoada luz do sempre, sempre sua irmã e companheira reconhecida,
A segunda mensagem de Vera Cruz, que nomeamos com o título de “A Caridade de São Francisco não desapareceu”, foi recebida pelo médium Xavier, na manhã de 24 de abril de 1976, em rápida reunião de passes e vibrações, no Grupo Espírita da Prece.
1 — “Entre nós a separação. Suposta separação que vamos vencendo com fé.” — Para que possamos sentir o que a Autora Espiritual quer nos transmitir, vale a pena consultarmos os últimos capítulos da Segunda Vida , de Tomás de Celano, a partir do Capítulo CLXII, onde se esclarece que também em relação a Francisco, a morte não é mais que “suposta separação”.
2 — Cida: D. Maria Aparecida Leitão Abdala, irmã do Espírito comunicante. (Cf. do Capítulo anterior, acima).
3 — Nilce e Deusdedith: Sra. Nilce Leitão Borges e Deusdedith Leitão, irmãos de Vera Cruz.
4 — Hipnose das vestimentas: Com efeito, pelo fato de carregarmos em nosso inconsciente todas as experiências das vidas anteriores, fruindo a bênção do esquecimento, todos nós, os reencarnados e os desencarnados que continuam fluidicamente ligados ao Plano Físico e ao Extra-físico próximo, somos detentores de grande complexidade do ponto de vista psicológico e espiritual.
A propósito, recordemos aqui ligeiro trecho da resposta à questão 540 de , de Allan Kardec: “Da mesma forma os Espíritos, os mais atrasados, são úteis ao conjunto. Enquanto ensaiam para a vida e antes de terem a plena consciência dos seus atos e seu livre arbítrio, agem sobre certos fenômenos dos quais são agentes inconscientes; eles executam primeiro; mais tarde, quando sua inteligência estiver mais desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do mundo material. Mais tarde, ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. E assim que tudo serve, tudo se coordena na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo que, ele mesmo, começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia da qual vosso espírito limitado não pode ainda entender o conjunto.”
Outro passo importante para que possamos compreender o que o Espírito quis dizer com vestimentas, é o seguinte comentário do Codificador, à — “Qual e o tipo mais perfeito, que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo?” —, com a resposta lapidar — “Vede Jesus.” — : “Jesus é para o homem o modelo da perfeição moral que a Humanidade pode pretender sobre a Terra. Deus no-lo oferece o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão da sua lei, porque ele estava animado de espírito divino e foi o ser mais puro que apareceu sobre a Terra. Se alguns daqueles que pretenderam instruir o homem na lei de Deus, algumas vezes a extraviaram por meio de falsos princípios, foi por se deixarem dominar, eles mesmos, por sentimentos muito terrestres e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com aquelas que regem a vida do corpo. Vários deram como leis divinas o que não eram senão leis humanas criadas para servir às paixões e dominar os homens.”
5 — “Não tema dificuldades e problemas.” — Em Tomás de Celano, encontramos os seguintes passos, bastante expressivos:
“Recebendo o mandato da santa obediência com gáudio e muita alegria, eles se prostraram suplicantes diante de São Francisco. Ele os abraçava e dizia com ternura a cada um: “Põe teus cuidados no Senhor e ele cuidará de ti”. Sempre repetia essas palavras quando transmitia alguma obediência aos irmãos.
“E acrescentou: “Na verdade, digo-te que ninguém pode dizer-se servo de Deus enquanto não passar por tentações e tribulações. (…) É bom que saibam que o Senhor levou em conta a fraqueza de seu espírito, para não morrerem só de susto, antes do combate. Os duros combates só se dão onde há virtude perfeita.”
“Aborrecia-se quando a ciência era procurada com desprezo da virtude, principalmente quando cada um não ficava na vocação que tinha recebido desde o começo. Dizia: “Os meus irmãos que se deixam arrastar pela curiosidade da ciência vão se encontrar de mãos vazias no dia da retribuição. Gostaria que se reforçassem mais com virtudes para que, vindo os tempos de tribulação, tivessem o Senhor consigo na hora da angústia. Porque virá uma tribulação em que os livros não vão servir para nada, e serão jogados nas janelas e nos desvãos”. Não dizia isso porque não gostasse dos estudos das Escrituras, mas para afastar a todos dos estudos supérfluos, pois preferia que fossem bons pela caridade e não sabidos através da curiosidade.
“Pressentia que não custariam a chegar tempos em que sabia que a ciência seria ocasião de ruína, sobrando apenas a base do espírito para os espirituais.
“A um irmão leigo que queria ter um saltério e para isso lhe foi pedir licença deu cinza em vez do saltério. A um de seus companheiros que estava ocupado com pregações apareceu uma vez depois de sua morte, proibiu que continuasse nesse caminho e mandou que seguisse o da simplicidade. Deus é testemunha de que, depois dessa visão, teve tal consolação que, por muitos dias, teve a impressão de que as palavras do pai ainda estavam em seus ouvidos como um orvalho que penetra.”
6 — “A caridade de São Francisco não desapareceu.” — No prefácio — “Uma Explicação” —, que a Equipe do Secretariado Nacional do CEFEPAL escreveu para a tradução do livro de Tomás de Celano, há esta afirmativa: “De nenhum Santo da Idade Média temos tantas biografias contemporâneas como de São Francisco de Assis.”
A nosso ver, esta perene atualidade de Francisco existe motivada pela caridade que ele pregou e viveu, antecipando de praticamente sete séculos o “Fora da Caridade não há salvação” e o “Trabalho, Solidariedade e Tolerância” da Doutrina Espírita.
De fato, a caridade de Francisco não desapareceu e jamais desaparecerá, porque o Espiritismo, sendo a revivescência do Cristianismo Primitivo, há de ser sempre o espelho para o Franciscanismo, e no futuro ocorrerá na Terra o que já se processa “no mundo que se desdobra para além da Terra”, isto é, a missão franciscana se convertendo em território vasto de ação socorrista.
7 — Trabalhe, Milza. Não importem as dificuldades e possíveis humilhações.” — Sobre o Trabalho (não nos esqueçamos do que afirmaram os Espíritos Superiores, a Allan Kardec, nos “Prolegômenos” de O Livro dos Espíritos: “O homem quintessencia o Espírito pelo trabalho e tu sabes que não é senão pelo trabalho do corpo que o Espírito adquire conhecimentos.”), eis o que diz Francisco :
“Eu trabalhava com as minhas mãos, e quero trabalhar; e firmemente quero que todos os irmãos trabalhem em mister honesto. E os que não sabem aprendam, não pela cobiça de receber o preço do trabalho, mas para exemplo e para afugentar a ociosidade.” (Testamento).
“Os irmãos a quem o Senhor deu a graça de trabalharem, trabalhem fiel e devotamente de maneira que afugentem a ociosidade inimiga da alma.” (Regra, Cap. V).
“E dizia: eu quero que todos os meus irmãos trabalhem e se exercitem humildemente nas boas obras, para que aos homens sejamos menos pesados e nem o coração nem a língua vagueiem na ociosidade.” (Speculum Perfectionis).
8 — “Por agora, convém atendermos aos alicerces.” — O Espírito se refere à construção da “Casa de Caridade Irmã Vera Cruz”, em Valinhos (SP).
9 — “O mundo espiritual, nas faixas em que me vejo, não é um continente de mudanças que alarmem. Somos nós mesmos, caminhando com aqueles que pensam por nossas diretrizes, procurando fazer de nós o melhor que pudermos,” — Este assunto das faixas espirituais Allan Kardec o estudou, em profundidade, nas questões que vão de 100 a 113, em .
10 — “Quanto mais crédito trazido da Terra, mais possibilidades de trabalhar. / E os créditos aqui obedecem a câmbio diferente. / A pessoa recebe pelo que deu a benefício dos outros.” — Em traços rápidos, vejamos o que registra Tomás de Celano a respeito desse “câmbio diferente”:
“Não queria ter propriedade nenhuma, para poder possuir tudo no Senhor em maior plenitude.”
“Enquanto viveu na carne, amando principalmente os bens supremos, não se apropriou de nada neste mundo, para possuir com maior plenitude e prazer o conjunto de todos os bens.”
“Colocado no vale de lágrimas, o santo pai desprezou as pobres riquezas dos filhos dos homens e, ambicionando a mais alta glória, dedicou-se de todo coração à pobreza.”
“O santo gostou e se rejubilou de alegria interior, vendo que tinha mantido a fidelidade para com a senhora pobreza até o fim. Porque tinha feito tudo isso por zelo da pobreza, a ponto de não querer ter no fim nem o hábito, que recebeu por empréstimo. Usara na cabeça o capuz de saco para esconder as cicatrizes da doença dos olhos, quando teria necessidade de um gorro de lã cara, que fosse bem macio.”
11 — “Espero que o tempo faça a harmonização dos princípios espíritas com os princípios da fé aos quais estávamos nós diariamente ajustadas.” — Como já afirmamos, na 1ntrodução deste livro, Vera Cruz, não obstante católica fervorosa, lia O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, chegando a afixar no volume que manuseava, com fita durex, a famosa prece de Francisco de Assis.
Portanto, já antes de desencarnar, inconscientemente, tentava ela fazer a harmonização dos princípios espíritas com os propriamente católicos, compreendendo, já desde aquela época, que “servir é o culto mais importante do Evangelho.”
12 — “A mulher, querida Milza, é sempre mãe.” A respeito de se transformar a esposa em irmã, tão logo ocorra a sua desencarnação, chegando a encaminhar nova companheira para o marido que lhe sobrevive no mundo, sugerimos a releitura do Capítulo VI de .
13 — “Isso, depois da experiência física, é o que me ocorreu, embora saiba de pobres companheiras que adoeceram, além da morte, nas paixões possessivas, ilhadas em alucinações que lhes aconselham a permanência em sanatórios de cura espiritual.” — Trecho altamente significativo, dos mais dignos de nossa atenção.
14 — Maurinho: Trata-se do filho único de Vera Cruz, Mauro Antônio Leitão Bertoni, com 10 anos de idade, na época da recepção da mensagem.
15 — “Importa, acima de tudo, que ele aprenda a viver na condição de discípulo do bem, com Jesus a inspirar-lhe o caminho.” — Numa carta que o Dr. Antônio Emílio Borges, sobrinho de Vera Cruz, escreveu à ilustre pediatra Dra. Márcia Camargo Franzesi, sua prima, datada de São Paulo, 30 de junho de 1975, há o seguinte trecho sobre Maurinho, que demonstra, de forma irretorquível, a autenticidade da mensagem sob nossa análise: “Resta-nos o filho dela, que é uma parte daquela que amávamos. Transferindo o amor que tínhamos pela mãe, amaremos o filho, pois ela, que tanto nos amava e ama, saberá que nós o amamos também. Talvez ele cresça e se torne muito diferente dela, mas para os que a amaram, e amam, sobreviverá sempre num gesto ou num olhar dele o tênue vestígio dela, uma sombra muito vaga mas perceptível para nós que a amávamos, e que banhará nossos corações com alegre saudade ao compreendê-la imortalizada nele. Sendo ele a coisa que ela mais amava, ela nos amará ainda mais se o amarmos muito.”
“O Espiritismo vem sancionar a teoria pelo exemplo, em nos mostrando grandes no mundo dos Espíritos aqueles que eram pequenos na Terra, e frequentemente bem pequenos aqueles que nela eram os maiores e os mais poderosos.” — .
“Não há autoridade legítima aos olhos de Deus, senão aquela que se apoia sobre o exemplo que dá do bem; é o que ressalta igualmente das palavras de Jesus.” — .
Tomás de Celano, Vide de São Francisco de Assis, pp. 208-213.
Allan Kardec, , Trad. de Salvador Gentile, 8ª edição — revista e corrigida, IDE, Araras (SP), outubro de 1979, p. 231.
Tomás de Celano, Op. cit., pp. 25; 157; 197-198.
“É assim que foi degradada a Ciência, que devia ensinar Deus à Humanidade.” Assim se expressou o Espírito de Imperator através do médium Williem Stainton Moses (A. Oxon) — Ensinos Espiritualistas, Trad. de Oscar D’Argonnel, 3ª edição, FEB, Rio, 1959. P. 158.
Tomás de Celano, Op. cit, p. 5.
In P. Manuel Alves Correia. O Gênio de Bondade — S. Francisco de Assis, Prefácio do P. João Diogo Crespo, Editorial Franciscana, Braga [1962], p. 59. — Sobre o assunto, assim se expressou o Frei Hugo D. Baggio, O.F.M. (Francisco de todos os tampos, pp. 31-32): “A experiência da pobreza em S. Francisco nos levaria a outra pesquisa de suprema atualidade: o trabalho. Da verdade de ser pobre, nascia nele a necessidade de suprir as necessidades vitais. E o meio que se lhe apresentava era o trabalho. Para ele o trabalho era uma graça e por isso pedia e mandava que todos a quem o Senhor concedera a graça de trabalhar, trabalhassem, não pressionados pela ganância ou pela efemeridade dos resultados materiais do mesmo, mas como participação ao estado de criatura chamada a continuar a construção do mundo, como meio de prover às próprias necessidades, e — importante para todos os tempos — como afugentador do ócio e de preguiça, inimigos mortais do progresso espiritual do homem.”
Tomás de Celano, Op. cit., pp. 34; 77; 123; 208-209.
Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Espíritos Diversos, Entre Duas Vidas, 3ª edição, CEC, Uberaba (MG), 1978, pp. 32-40.
Bendita luz dos protetores franciscanos
Querida Milza, Deus nos proteja e nos abençoe.
As suas preces me buscam. Respondo, confiando em que Jesus nos concederá a solução precisa aos problemas em vista.
Entendo as suas dificuldades que são igualmente minhas. Não conseguimos impor as nossas convicções aos mais queridos. Tenho falado a todos na linguagem do pensamento.
À querida mamãe Ambrosina rogo coragem para viver, superando as saudades que nos marcam os dias.
Em Arnaldo, tento infundir as ideias de libertação, porque seria crueldade em sua irmã exigir no esposo ainda jovem um tipo de vida espiritual, claramente incompatível com os seus impulsos naturais de homem integrado em necessidades que, de minha parte, devo considerar como sendo comuns. Arnaldo é livre e precisa viver com a nobreza que lhe conhecemos, sem atividades inconfessáveis no terreno dos sentimentos próprios.
Em Maurinho, o filhinho que presentemente é mais nosso, procuro incutir fé em Deus e amor ao dever que necessita cultivo, tão cedo quanto possível, na alma sensível de uma criança.
Em todos os nossos, diligencio reacender a confiança na Providência Divina, entretanto, querida irmã, as lutas não são pequenas para mim, diante do impositivo de garantir a tranquilidade no grupo familiar.
A nossa querida Cida se traumatizou, de tal modo, com a nossa separação temporária, que o sofrimento em nossa irmãzinha ultrapassou o nível da saudade para transformar-se em desespero.
Milza, peça. Peça a todos os nossos para que não me suponham transferida prematuramente para a Vida Espiritual. Onde estaria a nossa fé na Sabedoria e na Bondade de Deus, se fôssemos lançar culpas imaginárias num médico amigo, a quem beijo as mãos de benfeitor?
Onde colocamos os princípios de respeito a Jesus que nos presidiram constantemente a vida, em criando opiniões positivamente contrárias à verdade?
Ninguém julgue tenha sido vítima de processos inadequados de anestesia. Ninguém poderia barrar as paradas de meu coração doente senão Deus, e Deus já me havia concedido a graça da aceitação de meus momentos difíceis, iluminando o meu silêncio de luz, daquela bendita luz que os protetores franciscanos mantiveram em minhalma.
Saibamos ser gratos a quem nos deu tanto. Daqui, deste novo mundo em que me vejo, o acatamento às Leis Divinas é mais vivo em nós.
O hospital foi meu refúgio de paz e as mãos abençoadas que me cirurgiaram os olhos foram mãos de um amigo que sofreu comigo quando a inquietação me espreitava a hora final do corpo e que, em pensamento, se uniu a mim, querendo que eu vivesse. Grande amigo e devotado benfeitor! Deus o recompensará pela segurança que me proporcionava e pela esperança com que caminhou espiritualmente comigo, dia por dia, até que a Bondade do Pai me libertasse.
Rogue à Cida que compreenda isso e que me aceite as súplicas de irmã reconhecida. Todas as dificuldades passarão. Confiemos.
Nossa mãe precisa viver, sobrevivendo a tantas provas. Por isso mesmo, espero que os conflitos de ideias desapareçam de todo, para que ela tenha tranquilidade e bom ânimo.
Quanto às nossas tarefas em nosso recanto, continue trabalhando. Não se aflija por solidão que não existe. Lembre-se de que Jesus é Companheiro Invisível mas sempre conosco, representado por todos aqueles que lhe espalham as bênçãos de amor.
Um pão, uma frase de encorajamento, a migalha de recursos materiais e a luz de uma oração representam parcelas de um tesouro que se acumulará sempre nos Créditos Divinos, em auxílio daqueles que às distribuem.
Ajudar será sempre ajudar-nos.
Abençoar os outros é receber novas bênçãos em nós e para nós.
Prossigamos. Os cooperadores que devamos ter, no Plano Físico, se encontram a caminho e o melhor endereço para que nos encontrem será, em qualquer ocasião, o bendito lugar de nosso trabalho na sementeira do Bem.
Agradeço as suas queridas preces da semana que nos resume tantas lembranças e tantas aspirações à Vida Superior.
Hoje, compreendo, mais do que nunca, que a religião mais viva é aquela em que alguém se lembra dos outros, como sendo os nossos próprios irmãos perante Deus.
A caridade é o ponto de encontro, em que Jesus nos toma pelas mãos, guiando-nos para uma vida melhor.
Querida Milza, não se preocupe tanto e trabalhe pelo bem, sempre mais. Isso é o que importa.
Não se impressione quando essa ou aquela notícia de sua irmã venha a demorar, neste correio de orações. Isso não é ausência, é expectativa para que se possa escrever sem prejuízo para ninguém.
Peça à mamãe para que me abençoe, e rogo à Cida auxiliar-me. Venho procurando colaborar em favor de nosso irmão Abdala, e nossa irmã Olímpia continua ajudando-nos sempre.
Querida irmã, receba o abraço de muito carinho, com a alegria e confiança, com a paz e com as saudades de sua irmã e companheira muito reconhecida,
Da terceira mensagem de Vera Cruz, recebida pelo médium Xavier, em reunião pública da noite de 16 de outubro de 1976, destacamos alguns pontos importantes para a nossa meditação em torno da Imortalidade.
1 — “Arnaldo é livre e precisa viver com a nobreza que lhe conhecemos, sem atividades inconfessáveis no terreno dos sentimentos próprios.” — Mais uma vez, a Autora Espiritual volta a bater na mesma tecla, que foi objeto de nosso estudo no do Capítulo anterior.
Para valorizarmos ainda mais as palavras de Vera Cruz, sugerimos a leitura, se possível, do capítulo intitulado “O Império dos mortos”, do livro A Vontade de Viver, de Wilhelm Stekel, cuja primeira edição, na Alemanha, data de 1920, no qual o autor nos demonstra o quanto é grave alguém continuar vivendo na Terra, mas vinculado a figuras mortas, tentando seguir-lhes antigos ditames, e não buscando, por imperativo maior, a necessária renovação.
2 — “A nossa querida Cida se traumatizou,” — Com efeito, D. Maria Aparecida Leitão Abdala, segundo nos afirmou D. Milza, levou longo tempo para se conformar com a desencarnação da irmã, e o médium desconhecia, obviamente, esse importante pormenor.
3 — “Ninguém julgue tenha sido vítima de processos inadequados de anestesia.” — Lembrando-nos de que Vera Cruz nomeia o médico que lhe operou os olhos de amigo e benfeitor, consultemos, acima, o do primeiro Capítulo.
E não nos esqueçamos do respeito com que Francisco se referia aos médicos, ele, também, portador de doença ocular.
Vejamos, em torno do assunto, apenas alguns passos de seu contemporâneo e primeiro biógrafo :
“Quando São Francisco morava em um eremitério perto de Rieti, visitava-o um médico, todos os dias, para cuidar de seus olhos. Certo dia, disse o santo aos frades: “Convidai o médico e dai-lhe um bom almoço”. O guardião respondeu: “Pai, digo ruborizado que tenho vergonha de convidá-lo, tanto somos pobres”. O santo respondeu dizendo: “Por que queres que o diga outra vez?” E o médico, que estava presente, disse: “Também eu, irmãos caríssimos, vou achar que é uma delícia a vossa penúria”. Os frades correram e puseram na mesa toda a provisão de sua despensa, isto é, um pouquinho de pão e não muito vinho. Para comerem um pouco melhor, serviu-lhes a cozinha um pouco de legumes. Nesse meio tempo, a mesa do Senhor teve pena da mesa dos servos. Bateram à porta e eles logo atenderam. Era uma mulher que lhes deu uma cesta cheia de um belo pão, de peixes e de pastéis de camarão, e com mel e uvas por cima. Exultou a mesa dos pobres quando viu isso e, deixando seus alimentos pobres para o dia seguinte, comeram naquele dia os mais preciosos. O médico deu um suspiro e disse: “Irmãos, nem vós quanto deveríeis, nem nós seculares conhecemos a santidade deste homem”.”
“Vou contar rapidamente um fato admirável, de interpretação duvidosa mas de autenticidade garantida. Viajando o pobre de Cristo, São Francisco, de Rieti para Sena, para cuidar dos olhos, atravessava a planície da Rocha de Campília, tendo como companheiro de viagem um médico ligado à Ordem. (…) E pensando que aquelas mulheres fossem realmente pobrezinhas, virou-se para o médico que o acompanhava e disse: “Peço-te, pelo amor de Deus, que me dês alguma coisa para eu dar a essas pobrezinhas”. O homem deu imediatamente. Voou do cavalo e deu moedas para cada uma. Prosseguiram pouco depois o seu caminho mas, voltando-se logo o médico e os frades, não viram sinal das mulheres em toda aquela planície. Muito admirados, juntaram mais esse fato às maravilhas do Senhor, sabendo que não havia mulheres capazes de voar mais rápido que as aves.”
“No tempo da doença da vista, sendo obrigado a permitir que cuidassem dele, chamaram um médico. Ele veio, trouxe um ferro de cauterizar e mandou colocá-lo no fogo até ficar em brasa. O bem-aventurado pai, animando o corpo já abalado de medo, assim falou com o fogo: “Meu irmão fogo, o Altíssimo te fez forte, bonito e útil, para emulares a beleza das outras coisas. Sê camarada comigo, sê delicado, porque eu sempre te amei no Senhor. Rogo ao grande Senhor que te criou, para que abrande um pouco o teu calor, para que queime com suavidade e eu possa aguentar”. (…) O instrumento penetrou crepitando na carne mole e a cauterização se estendeu desde a orelha até o supercílio. (…) E para o médico: “Se ainda não queimou bem, aplica outra vez!” Percebendo a diferença daquele caso, o médico exaltou o milagre: “Eu vos digo, irmãos, que hoje vi uma coisa admirável”. Acho que tinha recuperado a inocência primitiva esse homem que, à sua vontade, amansava o que por si não é manso.”
“Chegava a convidar para o louvor até a própria morte, que todos temem e abominam, e, correndo alegre ao seu encontro, convidava-a com hospitalidade: “Bem-vinda seja minha irmã, a morte!” Ao médico disse: “Irmão médico, diga com coragem que minha morte está próxima, para mim ela é a porta da vida!”.”
4 — “Os cooperadores que devamos ter, no Plano Físico, se encontram a caminho e o melhor endereço para que nos encontrem será, em qualquer ocasião, o bendito lugar de nosso trabalho na sementeira do Bem.” — Oportuno lembrete este para aqueles que estão à frente das instituições de assistência social, quando chegam a se angustiar ante o intempestivo afastamento de determinados irmãos, que resolvem trilhar outros caminhos, alguns deles perseguindo objetivos inferiores. Em clima de preces, que todos possam aguardar a chegada dos novos seareiros, que “se encontram a caminho.”
5 — “A caridade é o ponto de encontro, em que Jesus nos toma pelas mãos, guiando-nos para uma vida melhor.” — Sem dúvida, tanto o “amai-vos uns aos outros” do Cristo, e a carità perfetta de Francisco, quanto o “Fora da Caridade não há salvação” de Kardec, nos induzem à prática da caridade, cabendo-nos ouvir a recomendação de Adolfo, bispo de Argel, transmitida em Bordéus, em 1861: “Possam meus irmãos encarnados crer na voz do amigo que lhes fala e lhes diz: É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio contra as aflições da vida. Oh! quando estiverdes a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar abaixo de vós; vede quanta miséria a aliviar; quantas pobres crianças sem família; quantos velhos que não têm mais uma só mão amiga para os socorrer e lhes fechar os olhos quando a morte os reclame! Quanto bem a fazer! Oh! não vos lamenteis; mas, ao contrário, agradecei a Deus, e prodigalizai a mancheias vossa simpatia, vosso amor, vosso dinheiro a todos aqueles que, deserdados dos bens desse mundo, definham no sofrimento e no isolamento. Colhereis nesse mundo alegrias bem suaves, e mais tarde… só Deus o sabe!…”
6 — “Não se impressione quando essa ou aquela notícia de sua irmã venha a demorar, neste correio de orações. Isso não é ausência, é expectativa para que se possa escrever sem prejuízo para ninguém.” — Muito útil esta recomendação, uma vez que, havendo grande número de entidades espirituais necessitadas de transmitir, com urgência, seus recados aos familiares que ficaram no mundo, as que já deram suas notícias, em oportunidades anteriores, podem ceder o lugar, de bom grado, àquelas primeiras, levando-se em consideração, ainda, que elas mesmas poderão servir de intermediárias para a transmissão de algum comunicado que venha a se lhes afigurar inadiável.
7 — Nosso irmão Abdala: Trata-se de Abdala Melin, desencarnado a 13 de julho de 1975. Sobre ele, eis o que diz o Dr. Antônio Emílio Borges, em comunicado pessoal:
“Quanto ao irmão Abdala, mencionado na mensagem, devemos esclarecer o seguinte: a irmã de Milza, Maria Aparecida, casou-se com Latuf Melin Abdala. Entre os irmãos de Latuf citaremos dois, o primeiro Melin Abdala, desencarnado há muitos anos, e o segundo, conhecido como Abud Abdala Melin, desencarnado dois meses após o passamento de Vera.
À primeira vista, a mensagem parecia obscura: a qual dos dois irmãos se referia Vera, pois se ambos tinham o mesmo sobrenome de Abdala?
Quando ainda cheia de dúvidas, Milza mostrou a mensagem a Latuf, este esclareceu aquele aparente equívoco, que revela conhecerem os Espíritos coisas que a maioria dos encarnados ignoram.
Por um equívoco, o nome de Abud foi omitido pelo escrivão, que o registrou apenas como Abdala Melin, que eram os dois sobrenomes da família colocados em sentido contrário. Assim, o segundo sobrenome da família ficaria sendo o prenome do registrado.
Inconformada com tal engano, a família apelidou-o de Abud, apelido pelo qual ele ficou conhecido durante toda a sua vida terrena. Semelhante fato era conhecido apenas pelos pais (já falecidos) de Abud, e de seus irmãos. Maria Aparecida, a esposa de Latuf, desconhecia-o também.
Assim, não resta qualquer dúvida de que a mensagem se refere ao segundo irmão.”
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações; enquanto que um se compraz em seu horizonte limitado, o outro, que compreende alguma coisa de melhor, se esforça para dele se libertar e sempre o consegue quando tem vontade firme.” — .
“À fé é preciso uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer; para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender.” — .
Wilhelm Stekel, A Vontade de Viver, Tradução supervisionada por F.M.J., Editora Mestre Jou, São Paulo, 1966, pp. 111-115.
Tomás de Celano, Vida de São Francisco de Assis, pp. 116-117; 142; 182-183; 184; 209-210.
Allan Kardec, , Cap. XIII, nº 11, Trad. de Salvador Gentile, 8ª edição revista e corrigida, 1980, pp. 176-177.
Em torno da casa da caridade
Querida Milza, Deus nos abençoe.
Estamos muito felizes com a Casa de Caridade, mas estudem o caso do registro oficial com tempo. Não convém fazer da instituição uma aventura, e sim um lar de nossos irmãos necessitados.
Estamos ao lado do Maurinho; faremos tudo para auxiliar nas melhoras.
Querida irmã, abrace mãezinha e a todos os nossos. O trabalho junto ao filhinho não me permitiu escrever uma longa carta.
Querida Milza, muito grata a você por seu amor. Com você, o carinho, o imenso carinho e a imensa gratidão de sua irmã reconhecida,
Da quarta mensagem de Vera Cruz, na realidade um bilhete, que nos veio através do lápis de Chico Xavier, no dia 19 de março de 1977, eis o que conseguimos recolher:
1 — “Estamos muito felizes com a Casa de Caridade, mas estudem o caso do registro oficial com tempo.” — Quando Francisco percebeu que o número de seus seguidores aumentava, resolveu submeter seu modo de viver à Igreja de Roma, a fim de tornar oficial a Ordem (aliás, ordem é um modo de dizer porque a própria Ordem Terceira, no início, foi nomeada por “Sodalício Leigo de Penitentes”), que se acabava de fundar.
Por quê? Exatamente pelo seguinte:
“Sob a sua proteção, não haverá de ocorrer mal na Ordem,” — diz Francisco — “nem passará impune pela vinha do Senhor o filho de Belial. Ela mesma, que é santa, emulará a glória de nossa pobreza, e não permitirá que os elogios da humildade sejam ofuscados pelas nuvens da soberba. Conservará entre nós ilesos os vínculos da caridade e da paz, censurando os dissidentes com rigor. A santa observância da pureza evangélica florescerá continuamente diante dela e não permitirá que perca o perfume da vida por uma hora sequer.” Essa foi toda a intenção do santo de Deus quando se decidiu por essa recomendação. Aí está um documento santíssimo da previdência do homem de Deus para garantir sua obra nos tempos futuros.”
Sugerindo à D. Milza cuidar da oficialização do ex-Pão dos Pobres São Francisco e hoje Casa de Caridade “Irmã Vera Cruz”, a Autora Espiritual, mais uma vez, dá mostras de sua absoluta identificação com aquele que, no dizer de Dante Alighieri, nascera no Berço do Sol.
Na mesma noite em que houve a transmissão da mensagem, D. Milza colocara uma folha de papel com o seguinte apontamento, na rima de papéis de pedidos de orientação espiritual: “Se houver oportunidade e Jesus permitir, peço à minha irmã Vera Cruz mensagem esclarecedora para nossa pequena obra Casa de Caridade “Irmã Vera Cruz”. / Que Jesus nos ilumine. / (a) Milza. / 18-3-1977.”
A resposta do Dr. Bezerra de Menezes, logo abaixo, veio vazada nestes termos, através do médium Xavier:
“Filha, Jesus nos abençoe.
Vera Cruz continuará auxiliando os seus esforços na obra de amor e paz, caridade e bênção a que se dedicou e auxiliará o seu trabalho para o registro necessário.
Confiemos no amparo de Jesus, hoje e sempre. (a) Bezerra.”
A Casa de Caridade “Irmã Vera Cruz”, com C.G.C. 49.426.760/0001-54, funcionando desde o início à Rua Ana L. A. Camargo, 65 — Caixa Postal, 55 Fone
“A Casa de Caridade Irmã Vera Cruz está construindo a sua sede própria. A obra está localizada à Rua José Von Zuben, no Bairro Santo Antônio, contando com 300 m2 de construção, com várias dependências, dentre elas um gabinete dentário, uma sala para refeições, cozinha, sala para trabalhos manuais e escritório.
A diretoria, composta pela Sra. Milza Leitão de Camargo (presidente); pela pediatra Dra. Márcia Camargo Franzesi (vice-presidente); Renan Finhoudt (tesoureiro), e Elizete Conte (secretária), está lutando com todas as forças para que o prédio possa ser inaugurado neste ano, em comemoração ao Ano Internacional da Criança.
A Casa de Caridade, quando estiver pronta, terá como finalidade dar alimentos às crianças necessitadas. “Nós pretendemos tentar combater a desnutrição, ajudar as crianças que necessitam de cuidados médicos e dentários, e também tentar tirá-las da rua, ensinando-lhes a fazer trabalhos, tanto os meninos, quanto as meninas”, é o que nos afirma a Sra. Milza.”
2 — “Estamos ao lado do Maurinho; faremos tudo para auxiliar nas melhoras.” — Não obstante o caso de Maurinho, na época, não se relacionasse com qualquer quadro patológico grave, façamos uma verificação sobre as doenças em geral, em relação a Francisco :
“Mas o bom Deus lembrou-se em sua misericórdia de mim e de muitos outros, e se opôs frontalmente a ele quando já tinha chegado à Espanha, impedindo-lhe de continuar o caminho por uma doença que o fez voltar atrás.”
“Tendo chegado [em Celle, perto de Cortona], e estando lá havia algum tempo, seu ventre se intumesceu, incharam-se as pernas e os pés, e o estômago piorou cada vez mais, mal podendo reter algum alimento. Pediu, então, a Frei Elias, que o fizesse levar para Assis. O bom filho atendeu o que lhe pedia o bondoso pai, preparou tudo e levou-o para onde desejava. Alegrou-se a cidade com a chegada do bem-aventurado pai, e todos louvavam a Deus. Toda a multidão do povo sabia que o santo de Deus ia morrer logo, e foi por isso que se alegrou tanto.”
“Tinha muita compaixão para com os doentes e muita solicitude pelas suas necessidades. Quando seculares piedosos lhe mandavam remédios, embora precisasse mais que os outros, dava a outros doentes. Assumia os sofrimentos de todos os que padeciam, dizendo-lhes palavras de compaixão quando não podia ajudar de outra maneira. Chegava até a comer nos dias de jejum, para que os doentes não ficassem com vergonha de comer. E não se envergonhava de pedir publicamente, pela cidade, carne para um irmão doente.”
“Direis a todos os instantes da vossa vida: Meu pai, que a vossa vontade seja feita e não a minha; se vos apraz me experimentar pela dor e pelas tribulações, sede bendito, porque é para o meu bem, eu o sei, que vossa mão pesa sobre mim. Se vos convém, Senhor, ter piedade de vossa criatura fraca, se dais ao seu coração as alegrias permitidas, sede bendito ainda; mas fazei que o amor divino não dormite em sua alma e que, sem cessar, eleve aos vossos pés a voz do seu reconhecimento!…” — .
“Mães, abraçai, pois, o filho que vos causa desgosto, e dizei-vos: Um de nós dois foi culpado. Merecei as alegrias divinas que Deus atribui à maternidade, ensinando a essa criança que ela está sobre a Terra para se aperfeiçoar, amar e bendizer.” — .
Tomás de Celano, Op. cit., p. 105.
Dante Alighieri, A Divina Comédia, Par., c. XI, v. 54.
Folha de Valinhos, 13 de Outubro de 1979, p. 9.
Tomás de Celano, Op. cit., pp. 40; 68; 186-187.
Tijolo a tijolo, a casa se levanta
Querida Milza, Deus nos abençoe.
Sei que você veio ao encontro de uma palavra sobre as tarefas que abraçou, em nome da beneficência, e quero dizer a você que estamos juntas sempre.
Às vezes, você tem sede de companhia para que o trabalho se desenvolva mais rápido, no entanto, peço a sua calma. Tijolo a tijolo, a casa se levanta. As sementes é que são as bases do jardim.
Não sofra se a solidão espiritual vem conversar com você. A solidão só é boa para pensarmos em Deus e no serviço que Deus nos concede.
A obra começada está florescendo. Não receie. Muitos trabalhadores virão.
Sempre que possível, relegue as discussões e as opiniões para segundo ou último lugar, e coloquemos a caridade na frente.
Uma pessoa em acessos de dor não entende o Evangelho, assim como a fome não deixava que os ouvintes do Senhor o compreendessem no monte. Jesus entendeu isso muito bem e mandou que pães fossem distribuídos. Atendido o estômago, o coração estaria em condições de prestar-lhe a atenção devida.
Trabalhemos, querida irmã, por minorar os sofrimentos alheios. As lições serão ditas depois.
Lembre-se de que você já conseguiu acalmar a nossa querida mãe Ambrosina e pacificar as queridas irmãs Cida e Nilce.
Quanto ao Arnaldo, seria absurdo exigir de um homem tão moço qual está o companheiro que Deus me concedeu por marido, uma atitude incompatível com a natureza. Arnaldo é um homem e fez por mim quanto pode para me ver feliz. Agora, se procura distrair-se, isso é um direito dele que eu mesma estimaria defender se fosse necessário. Não devemos exigir de ninguém um comportamento impossível, nas situações em que este comportamento se faz necessário.
Olhem por mim o nosso Maurinho. Meu filho, sim, precisa muito do cuidado de todos. Acompanhei-lhe o tratamento difícil e contínuo, fazendo o que posso para vê-lo mais forte.
Milza, continue. Você e eu somos filhas espirituais das obras franciscanas. Você fez também aquele meu voto de viver para servir.
Deus a recompense pelas alegrias que me proporciona, e sigamos para diante com o passo vagaroso mas seguro. Abençoe meu filho por mim, e rogue à mamãe não me esquecer nas orações.
A prece, em qualquer ocasião, é uma luz que nos beneficia.
O irmão Bertoni, avô de nosso caro Arnaldo, está velando por ele. Confiemos em Deus.
Nossa irmã Olímpia está aqui comigo, e nós duas envolvemos você num só abraço.
Fique tranquila e trabalhe sem pressa. Basta não parar com o bem e o bem caminhará por si mesmo. Primeiramente, escoramos o bem e, depois, querida irmã, é o bem que nos escora.
Deus nos ampare sempre, e receba o coração reconhecido de sua irmã sempre agradecida,
A quinta mensagem de Vera Cruz veio, exatamente, no dia 5 de novembro de 1977, confortadora quanto as demais de sua lavra, e ostentando as mesmas características de estilo, demonstrando-nos tratar-se, com efeito, de autêntica filha espiritual das obras franciscanas.
1 — “A solidão só é boa para pensarmos em Deus e no serviço que Deus nos concede.” — Para as pessoas que convivem bem consigo mesmas, isto é, que não fazem exigências descabidas a si mesmas, aceitando-se como são, sem qualquer dúvida, a solidão costuma ser aproveitada para pensarem em Deus e no serviço que Deus nos concede.
Há quem chegue a nos sugerir, principalmente àqueles que estiverem na idade média da vida, a descoberta de uma para-atividade — uma tarefa de ordem intelectual, o aperfeiçoamento em determinado setor diferente do nosso labor profissional —, a fim de que quando chegar a época da aposentadoria, possamos enfrentar com naturalidade os momentos de solidão que forçosamente hão de chegar.
2 — “Não receie. Muitos trabalhadores virão.” Para que possamos sentir o impacto desta curta e vigorosa afirmativa, percorramos as poucas mas densas páginas das Memórias de Amália Domingo Soler.
A distinta poetisa do Espiritismo quando se sentia angustiada e procurava o médium Eudaldo para que por seu intermédio recebesse uma palavra de encorajamento dos Amigos da Vida Maior, costumava ouvir do Espírito do Padre Germano:
“— Amália, não te impacientes! Pensas que correndo se chega mais depressa e te equivocas, porque hás padecido deste defeito em muitas de tuas existências, e agora há chegado o momento de refrear os impulsos de teu espírito. Amália! Não hás terminado teu labor nesta existência; ainda tens que lutar e chorar muito, porque encontrarás em teu caminho muitos espinhos, todavia, vencerás, e como o peso dos anos já te acovarda, por isso venho eu a dar-te forças. Segue, segue, Amália, que ainda hás de perder o pouco que te sobra!”
3 — “As lições serão ditas depois.” — Afirmativa das mais sérias, que muitos espíritas negligenciam, alguns deles chegando a transformar o Centro Espírita em simples culto de estudo, em todas as sessões públicas, deixando de ler nem mesmo um só trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, para se deterem em porfiadas e longas discussões em torno de itens de interesse puramente teórico. Que “as lições sejam ditas depois.” Antes, que surja o consolo para quantos busquem os recintos de nossas casas espíritas, através da palavra de Jesus, veiculada por Allan Kardec.
4 — “Não devemos exigir de ninguém um comportamento impossível, nas situações em que este comportamento se faz necessário.” — Recomendação das mais oportunas, não somente para as mães colocarem em prática em relação aos filhos, mas, e sobretudo, para os cônjuges se entreajudarem tanto quanto lhes seja possível.
5 — “Olhem por mim o nosso Maurinho.” Em carta de 9 de dezembro de 1975, que o jornalista Dr. Décio Estrêla, de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, enviou à D. Milza, há esta passagem sobre Maurinho: “Irmã Milza, como já nos referimos, o Espírito que chegou ao lar da irmã Vera Cruz, vestido com um corpo por ela proporcionado, pertence a Deus como cada um de nós. Se o Pai cuida dos pássaros que voam pelos ares; cuida dos animais que vivem pelos campos; que provê os micróbios, dando-lhes as substâncias nutritivas ao desenvolvimento orgânico deles, como acreditar que o menino se ache órfão? (….) Ninguém é órfão da misericórdia do Pai de Amor e de Bondade.” Sobre os órfãos, consultemos o de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.
6 — “Milza, continue. Você e eu somos filhas espirituais das obras franciscanas. / Você fez também aquele meu voto de viver para servir.” — Quantos de nós, também, não fizemos semelhantes votos de “viver para servir”, o que significa viver para o combate permanente do egoísmo e do orgulho em nós mesmos, e prosseguimos agindo de forma até certo ponto irresponsável?
7 — Irmão Bertoni: Trata-se do avô do Sr. Arnaldo — Ângelo Bertoni, que nasceu em Piemonte, na 1tália, a 27 de maio de 1854, e desencarnou em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, em dezembro de 1952, aos 98 anos de idade.
8 — “Nossa irmã Olímpia está aqui comigo, e nós duas envolvemos você num só abraço.” — Sobre D. Olímpia Sampaio Pires, eis o que nos escreveu D. Milza, em carta de 2 de novembro de 1978:
“Dona Olímpia foi a velhinha mais santa e bondosa que conheci na face da Terra. Viveu em Santa Lúcia, em companhia de um filho de criação chamado José, que tinha por ela grande carinho. Era como se fosse seu próprio filho. Agora que ambos estão do outro lado da vida, posso dizer-lhe que eram amigos inseparáveis, por causa do problema de ambos. Dona Olímpia não enxergava, e por isso dependia completamente da companhia dele. Por sua vez, ele que era um tanto retardado mentalmente, encontrava nela todo o apoio de que necessitava para viver, Por esse motivo, ambos não se separavam, sentindo-se amparados, cada qual a seu modo. José veio a falecer, vindo dona Olímpia residir em Valinhos, onde morou numa chacrinha que a fazia muito feliz, pela tranquilidade que gozava em companhia de pessoas amigas que a auxiliavam. Dona Olímpia também veio a falecer tempos depois, passando a dar mensagens por intermédio de minha irmã Vera Cruz, que muito a estimava.
Certo dia, meu marido me disse: Milza, eu só queria saber se minha mãe se encontrou com o José. Se encontrou, sei que estarão felizes.
No final da semana, quando fomos a São Paulo, onde Vera Cruz residia, fazer nossa visita costumeira aos nossos familiares, Vera me falou: Milza, tive um sonho que deve ser uma mensagem para o Hélio. Sonhei que dona Olímpia me levou a um hospital, e me disse que lá todas as pessoas ficavam curadas, até mesmo uma meninazinha que brincava no parque e que tivera a perna amputada, já estava brincando, completamente restabelecida.
Vera esteve muito tempo nesse hospital da Espiritualidade, conversando com dona Olímpia.
Quando Vera acordou, lembrou-se apenas do que dona Olímpia falara enquanto estavam sentadas em frente uma da outra, fora do corpo físico. De nada mais se lembrava.
A meu ver, foi uma grande prova de que dona Olímpia estava preparando minha irmã Vera para a sua próxima desencarnação, e que viria ampará-la, no momento oportuno. Isso foi uma grande oportunidade que o Plano Espiritual permitiu à dona Olímpia, deixando que Vera Cruz fosse levada até lá para dar notícias ao seu filho Hélio, que muito se preocupava com esse pensamento, receioso de que a senhora sua mãe e o irmão de criação estivessem separados, na vida verdadeira que é a espiritual.
Dona Olímpia foi a pessoa mais humilde e caridosa que conheci até hoje. Eu tinha por ela grande respeito e consideração.”
9 — “Primeiramente, escoramos o bem e, depois, querida irmã, é o bem que nos escora.” — Sendo o próprio Deus a caridade a derramar-se sobre todas as coisas e sobre todas as criaturas, aqueles que se apoiarem no bem, com efeito, estarão imersos na caridade e, por conseguinte, em absoluta comunhão com Deus no trato com o próximo.
“Mas, uma vez que eu estou aqui, numa assembleia onde se trata, antes de tudo, de estudos, eu vos direi que aqueles que estão privados da vista deveriam se considerar como os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse que seria preciso arrancar vosso olho, se ele fosse mau, e que valeria mais que ele fosse lançado ao fogo do que ser causa de vossa perdição. Ah! quantos há sobre a vossa Terra, que maldirão um dia nas trevas terem visto a luz! Oh! sim, são felizes estes que, na expiação, são atingidos na vista: seu olho não será motivo de escândalo e de queda, podem viver inteiramente a vida das almas; podem ver mais que vós que vedes claro…” — .
“No recolhimento e na solidão, estais com Deus; para vós não mais mistérios, eles se vos revelam.” — .
Para Melanie Klein (O Sentimento de Solidão — Nosso Mundo Adulto e Outros Ensaios, Tradução, Prefácio e Notas de Paulo Dias Corrêa, Imago Editora Ltda., Rio, 1971, pp. 133-156), o estado de solidão resulta do anseio onipresente de um estado interno perfeito inatingível, chegando por concluir: “Quanto mais rígido o superego, maior o sentimento de solidão, porque suas rigorosas exigências aumentam as ansiedades depressivas e paranóides.”
Theodor Bern Spoerri, Compêndio de Psiquiatria, Trad. de Samuel Penna A. Reis, Livraria Atheneu S/A, Rio-São Paulo, 2ª edição, 1974, pp. 32-33; 8ª edição revista e ampliada, 1979, pp. 60-61.
Amália Domingo Soler, Memorias de la Insigne Poetisa del Espiritismo, Editorial Victor Hugo, Buenos Aires, 1966, p. 75.
Palavras de confiança em Deus
Querida Milza, Deus nos abençoe.
Estas palavras são de confiança em Deus e fé na execução de nossas tarefas. Não hesite e prossiga.
Os nossos queridos amigos Dr. Adolfo Capelato e Mercedes são companheiros de base e Deus no-los conservará, a fim de que o nosso núcleo de paz e amor continue a se levantar para servir sempre mais.
Muito amor para a querida mamãe Ambrosina e para o nosso filho do coração, com lembranças a todos os que Deus nos confiou ao carinho.
Para você, querida irmã, um grande abraço da irmã reconhecida de sempre,
O bilhete que constitui a mensagem anterior — “Palavras de Confiança em Deus” — foi recebido na sessão pública da noite de 14 de outubro de 1978, juntamente com várias outras mensagens consoladoras dirigidas aos familiares presentes dos respectivos autores espirituais, e representou para D. Milza um bálsamo consolador, tanto quanto as mensagens anteriores.
1 — “Fé na execução de nossas tarefas.” — D. Milza confessou-nos que necessitava de semelhantes palavras, uma vez que se encontrava, na ocasião, até certo ponto angustiada com os percalços naturais encontrados na construção da Casa de Caridade. Ninguém senão ela, D. Milza, precisava ouvir essas palavras, porque de si para si chegava a perguntar, vezes sem conta, se o que lhe faltava era, na verdade, a fé.
2 — “Não hesite e prossiga.” — Verdadeira injeção de ânimo para quem se sentia, no recesso do próprio ser, presa de angústia ante as tarefas iniciadas a esperar por conclusão.
Numa das entrevistas que D. Milza nos concedeu, explicou-nos ela que Vera, certa vez, recebera um passe, na casa de velha amiga da infância, a qual, apesar de católica fervorosa, estava estudando o Espiritismo.
Durante o trabalho de passes, Vera Cruz viu uma paisagem de céu belíssimo com um franciscano à sua frente. “Se vi isso” — afirmou Vera — “é porque eu vou morrer logo.”
D. Milza procurou tranquilizá-la, todavia, somente com a leitura que fez de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, conseguiu ela se acalmar.
Daí por diante, passou a registrar a presença dos franciscanos desencarnados, dentro de casa, muitas vezes reunidos numa espécie de assembleia, da qual emanava luz, alegria e paz.
Como dissemos na 1ntrodução, compulsamos o exemplar do citado livro do Codificador que pertenceu à ilustre franciscana reencarnada, e o leitor poderá verificar alguns fac-símiles [Obs. Os fac-símiles, embora, muito interessantes, existentes na versão impressa, não foram copiados para essa versão digital] que colhemos desse volume, onde Vera, com fita durex, pregava impressos da Prece de Francisco, fixando, ainda, do próprio punho, qual fazia nos livros sobre a vida do Poverello, trechos dos escritos deixados por ele.
Naquela mesma noite da recepção do bilhete mediúnico, atendendo à solicitação escrita de D. Milza, Dr. Bezerra de Menezes, pelo médium Xavier, transmitiu-lhe a seguinte orientação:
“Filha, Jesus nos abençoe.
Nossa irmã Vera Cruz se regozija com o seu nobre trabalho na caridade, e pede a Jesus a proteja e abençoe, sempre. (a) Bezerra.”
3 — Dr. Adolfo Capelato e Mercedes: Companheiros da primeira hora, na construção da Casa de Caridade.
Para terminar o presente capítulo, transcrevamos a parte final da resposta à de O Livro dos Espíritos, sobre a esmola, de autoria do Espírito de São Vicente de Paulo:
“Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnação ou erraticidade está sempre colocado entre um superior que o guia e o aperfeiçoa, e um inferior diante do qual tem os mesmos deveres a cumprir. Portanto, sede caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar de vossa bolsa o óbolo que dais friamente àquele que ousa vo-lo pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos dos vossos semelhantes; em lugar de menosprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sede dóceis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores, assim como em relação aos seres mais ínfimos da criação, e tereis obedecido à lei de Deus.”
“Em princípio, o homem que exalta a si mesmo, que eleva uma estátua à sua própria virtude, aniquila, só por esse fato, todo o mérito efetivo que possa ter. Mas, que direi daquele em que todo o valor está em parecer o que não é? Quero admitir que o homem que faz o bem sente no fundo do coração uma satisfação íntima, mas desde que essa satisfação se exteriorize para recolher elogios, degenera em amor-próprio.” — .
“Os Espíritos que a semelhança dos gostos, a identidade de progresso moral e a afeição levam a se reunirem, formam famílias; esses mesmos Espíritos em suas migrações terrestres, se procuram para se agruparem como o fazem no espaço; daí nascem as famílias unidas e homogêneas; e se, em suas peregrinações, estão momentaneamente separados, reencontram-se mais tarde, felizes com os novos progressos. Mas como não devem trabalhar unicamente para si, Deus permite que Espíritos menos avançados venham se encarnar entre eles para aí haurir conselhos e bons exemplos, no interesse do seu adiantamento; eles causam, por vezes, perturbações, mas aí está a prova, aí está a tarefa. Acolhei-os, pois, como irmãos; vinde em sua ajuda e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará de haver salvo do naufrágio os que a seu turno, poderão salvá-la de outros.” — .
A planta da fé viva
Querida Milza, Deus nos abençoe.
Compreendo as suas dificuldades. Os alicerces de uma construção representam aquele setor mais difícil da obra a realizar em que todos os ângulos do serviço se fazem indagações que só o tempo conjugado ao trabalho consegue responder. Ainda assim, peço-lhe coragem e desprendimento de você mesma.
Aqui estão conosco o Eduardinho e a Norma, companheiros das primeiras horas que nos emprestam os próprios corações para que nos apoiemos com segurança.
Não tema. Os seus recursos mediúnicos estão desabrochando com vigor, de vez que a planta da fé viva em seu espírito sensível, jaz adubada por seu amor ao próximo. Não disponho de autoridade para formular indicações e conselhos, mas espero que você não recue, buscando, constantemente, o lugar dos obreiros fiéis do bem.
Acontece que a nossa casa de caridade, em Valinhos, já não é um simples ideal, porque tudo vai tomando forma e concretização, com o seu devotamento à Causa do Bem.
Rogo a você dizer à querida mãezinha Ambrosina, à nossa Cida e ao nosso Arnaldo que vamos prosseguindo nas diretrizes do começo. Observará você que não nos faltará o socorro do Senhor.
Espero que a nossa Cida venha igualmente trabalhar conosco. Decerto, existem aqueles companheiros, aí no mundo, dedicados especificamente à teorização dos fatos, no entanto, outros surgem para os fatos em si ou com a certeza de que o Senhor nos sustentará.
Vamos seguindo para diante. Rogo a você explicar aos nossos amigos que o nosso objetivo não é separar e sim unir sempre.
Por isso mesmo é que em nossa edificação predomina o espírito cristão por excelência, porque a dor não tem opinião religiosa, e o nosso refúgio se encaminha para a comunhão fraternal de todos os que amem a Jesus e queiram transportá-lo para as suas próprias vidas.
Aqui, na Espiritualidade, os caminhos são múltiplos e nem poderia ser de outro modo. Unamos os nossos companheiros quanto se nos faça possível, para entretecer a força de que carecemos para projetar Jesus no campo das consciências.
Agradeço quanto vem fazendo por nosso Maurinho, que hoje possui diversas mães ao invés de apenas uma. Graças a Deus o nosso Arnaldo nos compreende, e tudo segue bem.
Entendo que o filho que o Senhor me confiou é uma pérola preciosa, mas precisamos saber que há filhos de outras mães, em posições mais graves, conclamando-nos ao serviço do bem, e não podemos esquecer-nos disso.
Objeções tê-las-emos e muitas, mas peço a você para que saibamos dissolvê-las em amor genuíno, qual nos ensinou o admirável Amigo de Assis.
Desejo a todos os nossos muita saúde e paz, na caminhada do bem.
Diga à mãezinha e à Cida, especialmente, que não estamos a distanciar-nos da família, e sim ampliando-a na pauta dos ensinamentos de Jesus. Em nossas preces, trocaremos ideias sobre as tarefas em andamento, sem nos esquecermos dos problemas de nossa Márcia.
Rogo ao Senhor reunir-nos os corações em Sua Paz. Agradeço ao nosso Eduardo e à nossa querida Norma a disposição espontânea com que nos deram cobertura ao presente encontro, e rogando a Jesus fortalecer-nos no caminho voluntariamente escolhido para a nossa marcha, peço-lhe receber todo o coração de sua irmã reconhecida,
O autor destes apontamentos estava presente quando Vera Cruz transmitiu a mensagem a que demos o título de “A Planta da Fé Viva, a sétima da série, ao final da sessão pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 16 de fevereiro de 1979, em Uberaba, Minas.
1 — Eduardinho e Norma: Trata-se, respectivamente, do filho de D. Milza e sobrinho de Vera Cruz, e D. Norma Burin, amiga da família, ambos presentes durante a recepção da página mediúnica.
2 — “Os seus recursos mediúnicos estão desabrochando com vigor.” — De fato, D. Milza vinha, ultimamente, recebendo, de forma um tanto frenética, páginas e páginas atribuídas a Frei Zacharias e à irmã Vera Cruz, ostentando referências muito íntimas que chegavam a lhe despertar angústia por julgar fosse tudo aquilo fruto do seu próprio inconsciente.
O presente tópico da irmã desencarnada, trouxe-lhe conforto e alegria, vindo a compreender a necessidade da disciplina e do equilíbrio, antes de pensar na divulgação de qualquer das suas produções medianímicas, achando, aliás, absolutamente indispensável que todas sejam consideradas simples exercícios de médium iniciante.
Semelhantes ponderações são, a nosso ver, bastante justas, porque a maioria dos médiuns, tão logo recebem dos Espíritos desenfieixados do corpo físico ou dos que ainda permanecem no mundo, qualquer comunicado, se apressam em dar-lhe publicidade, de forma intempestiva e contrária ao critério de Allan Kardec, que sempre foi o de tudo passar pelo crivo da razão.
Já que estamos lavrando a seara franciscana, lembremo-nos de que ele mesmo, Francisco, adotou o método da universalidade dos ensinos, método esse adotado por Allan Kardec, seis séculos depois.
Vejamos, leitor amigo, a confirmação do que afirmamos, transcrevendo parte do Capítulo XVI de “I Fioretti” :
“O humilde servo de Cristo, S. Francisco, pouco tempo depois da sua conversão, havendo já agrupado muitos companheiros, recebidos na Ordem, caiu em grande cisma, e em grande dúvida sobre o que devia fazer; sobre se devia entregar-se apenas à oração, ou algumas vezes à prédica: e sobre isso desejava muito saber a vontade de Deus; e como a santa humildade, que nele havia, não o deixava alimentar presunção sobre si mesmo, nem sobre as suas orações, pensou em procurar a divina vontade com as orações dos demais: por isso, chamou Irmão Masseo, e disse-lhe assim: Vai à Irmã Clara, e dize-lhe de minha parte que ela, com algumas das mais espirituais companheiras dirijam-se devotamente a Deus, para que Ele se digne mostrar-me o que será melhor; ou que eu me dedique à prédica, ou apenas à oração. E depois vai a Irmão Silvestre, e dá-lhe o mesmo recado. (…) Irmão Masseo partiu, e de acordo com as ordens de S. Francisco, deu o recado primeiro a Santa Clara, e depois a Irmão Silvestre. O qual, recebida a embaixada, incontinenti se pôs em oração, e orando teve a divina resposta, e, voltando-se para Irmão Masseo, disse assim: Deus diz que deves informar S. Francisco de que não o chamou a este estado somente por sua pessoa, mas a fim de que colha os frutos das almas, e de que muitas por ele sejam salvas. Obtida essa resposta, Irmão Masseo dirigiu-se a Santa Clara, a fim de saber o que obtivera de Deus; e ela respondeu que ela, e a outra companheira, tinham alcançado de Deus aquela mesma resposta que lhe dera Irmão Silvestre. Assim, voltou Irmão Silvestre a São Francisco; e S. Francisco o recebeu com grande caridade, lavando-lhe os pés, aprontando-lhe a refeição, e depois de comer, S. Francisco chamou Irmão Masseo à selva; e aí, diante dele se ajoelhou, tirou o capuz, fazendo cruz com os braços, e pediu-lhe: Que ordena que eu faça o meu Senhor Jesus Cristo? Irmão Masseo respondeu: Cristo respondeu, e revelou, a Irmão Silvestre, a Irmã Clara e sua companheira, que a sua vontade é que vás pelo mundo a pregar, porquanto ele não te escolheu por ti somente, mas também para salvação dos demais. E então S. Francisco, tendo ouvido esta resposta, e conhecida por ela a vontade de Jesus Cristo, se ergueu com seu imenso fervor, e disse: Vamos, em nome de Deus; e toma por companheiros 1rmão Masseo, e Irmão Ângelo, homens santos.”
3 — “Decerto, existem aqueles companheiros, aí no mundo, dedicados especificamente à teorização dos fatos, no entanto, outros surgem para os fatos em si ou com a certeza de que o Senhor nos sustentará.” — A propósito, não nos esqueçamos de que Allan Kardec sempre ficava em guarda quanto aos irmãos entusiasmados demais, certo de que eles poderiam largar as tarefas de um momento para outro, com a mesma rapidez com que, entusiasmados, as abraçaram, anteriormente.
4 — “Rogo a você explicar aos nossos amigos que o nosso objetivo não é separar e sim unir sempre.” — A este respeito, vejamos o que disse Allan Kardec: “Numa palavra, o Espiritismo nada impõe a ninguém. Não se destina aos que têm fé, e a quem esta fé é suficiente, mas à numerosa classe dos inseguros e dos incrédulos. Não os afasta da Igreja, porquanto já estão dela moralmente afastados, de modo total ou parcial. Mas os leva a fazer três quartos do caminho para nela entrarem; cabe à Igreja fazer o resto.”
A este trecho, o Professor J. Herculano Pires, hoje residente no Plano Espiritual, acrescentou a seguinte nota: “Algumas pessoas estranham esta passagem. Kardec apenas argumenta que o Espiritismo restitui a crença aos incrédulos e com isso os reaproxima da Igreja, o que é inegável. Sua frase final é bem clara: c’est à elle de faire le reste. Cabe a ela corresponder às aspirações religiosas dos conversos, de acordo com as suas disposições íntimas. Caso contrário eles tomarão outro caminho. A restituição da crença é o que interessa ao Espiritismo e não fazer prosélitos.”
5 — “Agradeço quanto vem fazendo por nosso Maurinho, que hoje possui diversas mães ao invés de apenas uma.” — A fim de que possamos comprovar que as mães sempre se preocupam com os filhos, sendo raras aquelas que chamam um filho de ex-filho (“agora, ele é dele mesmo”), qual faz a psicoterapeuta octogenária Barry Stevens, ou céptica quanto aquela Mrs. Carr a que se refere o médium de voz direta independente Leslie Flint, em sua obra Em Busca da Vida Após a Morte, vejamos em O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, onde se encontram as mensagens de pais e mães a se referirem aos próprios filhos, sendo justo considerar que um ex-membro da Sociedade Espírita de Paris e colocado por Kardec entre os Espíritos Felizes — , desencarnado a 21 de abril de 1862, evocado quando seu corpo ainda se encontrava na câmara mortuária (Cap. II da 2ª Parte), chega a afirmar: “Desejara poder falar a meus filhos, ensinar-lhes aquilo mesmo que sempre desdenharam acreditar. (…) Adeus; falai; coragem, confiança, e oxalá meus filhos possam converter-se a uma crença sacrossanta.”
Outro Espírito, , antigo funcionário desencarnado em Antuérpia, em 1863, com oitenta anos de idade, faz a seguinte recomendação: “Dizei-o a meu filho tantas vezes quantas bastam para que se instrua e creia, porque, do contrário, a nossa separação continuará aqui.”
O Espírito da , desencarnada em Antibes, a 3 de fevereiro de 1865, que depois de desencarnada chegou a fazer previsões sobre a excelsa missão do Codificador, diz que à Terra viria, em Espírito, incumbida que estava de uma missão junto de seus filhinhos, concluindo assim a mensagem que endereçou aos filhos: “Voltarei, meus filhos, mas é preciso consolar a filha que de mim tanto precisa agora. Adeus, até breve. Eu vo-lo suplico por vós: crede na bondade divina. Até sempre.”
No Cap. III, da 2ª Parte — Espíritos em Condições Medianas —, expressivas são as palavras de , sobre os filhos (), e as dirigidas a eles ().
Eis o que afirmou, ao ser evocada no dia seguinte ao de sua desencarnação, o Espírito da , que partira aos trinta e cinco anos de idade, após cruel enfermidade: “Confortai meu pobre marido e velai por meus filhos. Eu segui logo para junto deles, depois que desencarnei. (…) Hoje, compreendo a bondade e a justiça de Deus, conquanto me não encontre suficientemente adiantada para despreocupar-me das coisas da vida; meus filhos principalmente me atraem, não mais para amimá-los, porém para velar por eles, inculcando-lhes o caminho que o Espiritismo traça neste momento. Sim, meus bons amigos, eu tenho ainda graves preocupações, entre as quais avulta aquela da qual depende o futuro dos meus filhos.”
Que o próprio leitor, finalmente, possa reler a comunicação de , na 2ª Parte — Cap. VIII (Expiações Terrestres) —, industrial que desencarnou em circunstâncias consideradas trágicas, em abril de 1864, e “que seria quase feliz” se não houvesse visto quase inconsoláveis a esposa e os filhos, e tristes os amigos.
6 — “Objeções tê-las-emos e muitas, mas peço a você para que saibamos dissolvê-las em amor genuíno, qual nos ensinou o admirável Amigo de Assis.” — Vejamos, mais uma vez, o que diz Tomás de Celano, a respeito de Francisco:
“Como era bonito, atraente e de aspecto glorioso na inocência de sua vida, na simplicidade das palavras, na pureza do coração, no amor de Deus, na caridade fraterna, na obediência ardorosa, no trato afetuoso, no aspecto angelical! Tinha maneiras simples, era sereno e de trato amável, muito oportuno quando dava conselhos, sempre fiel a suas obrigações, prudente nos julgamentos, eficiente no trabalho e em tudo cheio de elegância. Sereno na inteligência, delicado, sóbrio, contemplativo, constante na oração e fervoroso em todas as coisas. Firme nas resoluções, equilibrado, perseverante e sempre o mesmo. Rápido para perdoar e demorado para se irar, tinha a inteligência pronta, uma memória luminosa, era sutil ao falar, sério em suas opções e sempre simples. Era rigoroso consigo mesmo, paciente com os outros, discreto com todos.”
Lembremo-nos, ainda, do que registrou o médium inglês Leslie Flint, em sua obra anteriormente citada :
“Minhas ansiedades tomaram asas e lembrei-me de um aviso que me fora dado, há muito tempo, por um daqueles que me guiam e ajudam do outro lado da vida: “Você nunca terá tudo o que quiser”, disse ele, “mas durante todo o tempo em que servir com fé, será provido com tudo o que precisar.” Lembrei-me de quantas vezes a ajuda viera inesperadamente de alguma parte, exatamente quando era mais necessária e quando já estava prestes a me aproximar da descrença.
7 — Nossa Márcia: Trata-se da pediatra e sobrinha de Vera Cruz, filha do Sr. Hélio e de D. Milza, também já dedicada mãe de família, Dra. Márcia Camargo Franzesi.
A 20 de outubro de 1979, quando de sua última visita a Uberaba, D. Milza recebeu o seguinte recado de Vera Cruz, por intermédio do Espírito de Laurinho, servindo-se do lápis do médium Xavier :
“A querida irmã Vera Cruz abraça a querida irmã de sempre, Milza, e pede-lhe transmitir muito carinho à mãezinha Ambrosina, a quem pede a bênção.”
“A igualdade diante da dor é uma sublime previdência de Deus, que quer que seus filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal argumentando com a ignorância dos seus efeitos.” — .
“Meus irmãos, distanciai-vos, pois, daqueles que vos chamam para vos apresentar as dificuldades do caminho, e segui aqueles que vos conduzem à sombra da árvore da vida.” .
“I Fioretti” de São Francisco (seguidos do “Cântico do Sol”), pp. 79-81.
Allan Kardec, O Espiritismo em Sua Mais Simples Expressão, in Iniciação Espírita, Traduções de Joaquim da Silva Sampaio Lobo e Cairbar Schutel, Revisão, apresentação e notas de J. Herculano Pires, Edicel, São Paulo, s/d., p. 22.
Barry Stevens, Não Apresse o Rio (ele corre sozinho), Trad. de George Schlesinger, Summus Editorial Ltda. São Paulo, 2ª edição, 1978, pp. 98 e 349.
Leslie Flint, Em Busca da Vida Após a Morte, Trad. de Alcides Nogueira Pinto, Editora Três, s/d., p. 177.
Allan Kardec, O Céu e o Inferno, Trad. de Manuel Jurtiniano Quintão, 23ª edição (popular), FEB. Rio. 1976, pp. 177-178; 197; 211-214; 253-254; 258-259; 401-404.
Tomás de Celeno, Vida de São Francisco de Assis, p. 54.
Leslie Flint, Em Busca da Vida Após a Morte, p. 113.
Priscilla P. S. Basile, Francisco Cândido Xavier e Espírito de Laurinho, Gaveta de Esperança, IDE, Araras (SP), 1ª edição. 1980. p. 137.
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Tiago 5:16
Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis: a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.
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João 14:1
NÃO se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
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