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Capítulo XXVII

Além da Terra


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Depois da morte do corpo:

a frase amiga que houvermos proferido no estímulo ao bem será um trecho harmonioso do cântico de nossa felicidade;

a opinião caridosa que formulamos, acerca dos outros, converter-se-á em recurso de benignidade da justiça divina, no exame de nossos erros;

o pensamento de fraternidade e compreensão, com que nos recordamos do próximo, transformar-se-nos-á em fator de equilíbrio;

o gesto de auxílio aos irmãos do nosso caminho oferecer-nos-á sublime colheita de alegria.


Mas, igualmente, além do túmulo:

a maledicência, a que nos entreguemos, será espinheiro a provocar-nos dilacerações e feridas;

a nossa indiferença para com as amarguras do próximo aparecerá por geleira, dificultando-nos os passos;

a nossa preguiça surgirá como sendo um gerador de penúria espiritual;

a nossa crueldade exibir-nos-á, na tela da consciência, a constante repetição dos quadros infelizes de nossos delitos, compelindo-nos à aflitiva demora em escuras paisagens purgatoriais.


A morte é o retrato da vida.

A verdade revelará na chapa da memória as imagens que estiveres criando, sustentando e movimentando, no campo da existência.

Se desejas ventura e tranquilidade, além das fronteiras de cinza, semeia, enquanto é tempo, a luz e a sabedoria que pretendes recolher, nas sendas da ascensão maior.

Hoje — plantação, segundo a nossa vontade.

Amanhã — seara, conforme a lei.

Se agora cultivamos a sombra, decerto encontraremos, depois, a resposta das trevas.

Se, porém, semeamos o amor e a simpatia, onde nos encontramos, indiscutivelmente, mais tarde, penetraremos, ditosos, nos domínios da luz.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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