Na Era do Espírito
Versão para cópiaDefeitos e desculpas
Os antecedentes da mensagem ora estudada são relatados pelo médium Francisco Cândido Xavier em carta que nos enviou. Vejamo-los:
“Visitavam-nos amigos diversos que solicitavam francamente alguma opinião do Mundo Espiritual sobre as tarefas a que vêm sendo convocados na Seara Espírita. E perguntas como estas, foram repetidas por vários deles:
— Sei que não presto, como vou trabalhar na causa do Bem? — Quem sou eu para poder ajudar, se conheço os meus defeitos? — Que fazer com as imperfeições que carrego, se for servir à mediunidade? — Como aceitar encargos espíritas, se conheço as falhas que trago?
Nesse ambiente, falávamos da grandeza espiritual da nossa doutrina de amor e luz que nos concede a todos trabalho e bênção, quando a reunião começou. Aberto ao acaso O Evangelho Segundo o Espiritismo, () a lição que caiu foi a do capítulo XX, item 2, que se refere aos trabalhadores da última hora. Ao término da reunião o nosso Emmanuel escreveu a página que lhe envio.”
Chamados para servir, quantos de nós temos alegado, até agora, insuficiência, falha, defeito ou incapacidade, tentando justificar a própria omissão?
Curioso pensar, porém, que o Evangelho do Senhor não nos convida para exercer o ministério dos anjos e sim nos solicita engajamento para desempenhar o papel de servidores.
Neste sentido importa recordar os elementos imperfeitos da própria Terra, convocados para a organização sócio-planetária conquanto as deficiências com que se caracterizam. Enumeremos alguns.
A pedra é agressiva e capaz de ferir, mas suportando corte e ajustamento é a base da moradia e da estrada nobre em que os homens edificam intercâmbio e segurança.
O solo em si é matéria primitiva concentrada, todavia, em se deixando tratar convenientemente, é celeiro de produção intensiva.
Certos fios metálicos atirados ao léu são resíduos para a sucata, no entanto, se ligados ao serviço elétrico fazem-se de imediato condutores de luz e força.
Os bichos-da-seda não são agradáveis ao olhar, mas se atendem aos programas de trabalho do sericicultor dão origem a tecidos valiosos.
O ouro é a garantia simbólica das riquezas de cúpula da organização social, entretanto, o esterco é o agente que assegura a vitalidade e o perfume das rosas.
Chamados para servir! — Eis a indicação do Mais Alto no rumo de quantos amadurecem nas experiências do mundo, buscando a compreensão do Bem.
Se escutaste semelhante convite, não alegues inutilidade ou imperfeição para cobrir a própria fuga.
O Senhor nos conhece claramente a condição de Espíritos ainda incompletos, mas se nos dispusermos a lhe ouvir a palavra, disciplinando-nos para o valor da utilidade, estaremos logo no clima do progresso em plenitude de melhoria e de elevação.
Nos termos da Doutrina Espírita, do demônio nasce o homem e do homem nasce o anjo. Estamos todos no rumo da angelitude. Nossa humanidade (nossa natureza humana) caracteriza-se pela imperfeição, pelo predomínio dos instintos, pelos resíduos da animalidade ainda atuantes em nossa constituição psicossomática. Mas esses resíduos vão sendo eliminados na lapidação das vidas sucessivas. E como somos conscientes do processo de lapidação a que estamos sujeitos, podemos e devemos ajudar esse processo.
Basta um olhar atento ao nosso redor para verificarmos a realidade dessa concepção. As criaturas humanas estão dispostas numa escala progressiva que vai do bandido ao santo. O malfeitor de hoje será o cidadão honesto do futuro. E este, por sua vez, será o santo de amanhã, dependendo esse amanhã, em grande parte, do esforço evolutivo do interessado. Porque o ser consciente apressa ou retarda a sua própria evolução.
O chamado para o serviço do bem é a oportunidade que Deus oferece à criatura imperfeita para acelerar a sua caminhada rumo à perfeição. Quem não aproveita a oportunidade divina, apegando-se por comodismo ou displicência aos seus defeitos, desculpando-se com as imperfeições naturais que ainda carrega, furta-se ao cumprimento do dever espiritual. Mas as leis da evolução não o deixarão parado por muito tempo. Por isso ensinou Jesus: “Quem se apegar à sua vida perdê-la-á, mas quem a perder por amor a mim salvá-la-á”.
O comodista será sacudido e alijado do seu comodismo, mais hoje, mais amanhã, pela vergasta da dor. O sofrimento é tão grande na Terra porque maior é o comodismo dos homens. A seara continua imensa e os trabalhadores ainda são tão poucos! Não somos anjos para ser perfeitos e puros, mas trazemos em nós as potencialidades da angelitude. Se não acelerarmos a nossa, lapidação pelo serviço, o lapidário oculto — e que está oculto em nós mesmos — agirá como convém para completar a sua obra.
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