O Espírito de Cornélio Pires
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No rio das lágrimas
No casarão do sítio da Mutuca, O velho pede pouso e alguém chasqueia: — “Saia, tratante, e durma na cadeia! Ponha a cabeça tonta na cumbuca!” O mendigo cansado não retruca, Enfrenta a noite e a chuva… Cambaleia… Mais além rola o rio entregue à cheia… E, exposto à sombra, afoga-se Nhô Juca… Ante a morte, o passado se desvenda… Sente-se outro… É o dono da fazenda… Nhô Juca, leve e moço, chora e fala… Mas, súbito, no chão molhado e frio, Repara o rio e vê que é o mesmo rio Onde afogava os velhos da senzala… |
Saudade, às vezes, no Além, Tem novo e estranho sentido… É muito maior que o bem Que se julga haver perdido. Dinheiro lembra no fundo Estrume na plantação, Que só serve para o mundo Quando espalhado no chão. Não mexas com vida alheia, Tem coisa nessa manobra. Cachorro bom de tatu Costuma morrer de cobra. Reencarnação — benefício Que a outro não se compara, É o modo que Deus nos deu Da gente mudar de cara. |
[As poesias destacadas com o texto em cor diversa do negro são devidas à psicografia de Francisco Cândido Xavier, e as outras à de Waldo Vieira.]
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