O Espírito de Cornélio Pires

Versão para cópia
Capítulo VIII
Ilustração tribal

No rio das lágrimas


Temas Relacionados:

No casarão do sítio da Mutuca,

O velho pede pouso e alguém chasqueia:

— “Saia, tratante, e durma na cadeia!

Ponha a cabeça tonta na cumbuca!”


O mendigo cansado não retruca,

Enfrenta a noite e a chuva… Cambaleia…

Mais além rola o rio entregue à cheia…

E, exposto à sombra, afoga-se Nhô Juca…


Ante a morte, o passado se desvenda…

Sente-se outro… É o dono da fazenda…

Nhô Juca, leve e moço, chora e fala…


Mas, súbito, no chão molhado e frio,

Repara o rio e vê que é o mesmo rio

Onde afogava os velhos da senzala…


Saudade, às vezes, no Além,

Tem novo e estranho sentido…

É muito maior que o bem

Que se julga haver perdido.


Dinheiro lembra no fundo

Estrume na plantação,

Que só serve para o mundo

Quando espalhado no chão.


Não mexas com vida alheia,

Tem coisa nessa manobra.

Cachorro bom de tatu

Costuma morrer de cobra.


Reencarnação — benefício

Que a outro não se compara,

É o modo que Deus nos deu

Da gente mudar de cara.




[As poesias destacadas com o texto em cor diversa do negro são devidas à psicografia de Francisco Cândido Xavier, e as outras à de Waldo Vieira.]



Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier

Este texto está incorreto?